quinta-feira, agosto 14, 2008

Contra-respostas e mais respostas


O Presidente da Síria, Bashar Assad, que chega hoje à Rússia para uma visita oficial, mostrou-se aberto à instalação de uma base militar e de mísseis russos no território do seu país.
Numa entrevista ao diário russo Gazeta, Bashar Assad apoiou a operação militar de Moscovo na Geórgia e afirmou esperar que “a Rússia não se aproxime mais do Ocidente e da parceria com países da NATO”.
“Consideramos que o que a Rússia fez visava defender os seus interesses”, declarou Assad.
O dirigente sírio reconheceu que o Kremlin ainda não fez proposta alguma no sentido de utilizar o território da Síria para responder à instalação de elementos do sistema antimíssil norte-americano no Leste da Europa, mas sublinhou que está aberto ao diálogo.
“A nossa posição consiste em que estamos prontos a cooperar com a Rússia em tudo o que poderá reforçar a sua segurança” , sublinhou.
A imprensa russa admite a possibilidade do Kremlin vir a instalar sistemas de defesa antimíssil Izkander na Síria.
Bashar Assad admite ceder também portos marítimos sírios para instalar bases militares russas. Moscovo herdou da União Soviética um estaleiro naval instalado no porto sírio de Tartus.
“Os navios russos entram nos nossos portos. Há possibilidade de desenvolver a cooperação nesta esfera, estamos abertos a propostas” , acrescentou.
O Presidente sírio revelou que, no encontro com o seu homólogo russo, Dmitri Medvedev, irá levantar a questão do “papel desempenhado por Israel nessa guerra (na Geórgia).
Moscovo acusou Israel de ter fornecido armamentos e ter treinado as forças armadas georgianas.

29 comentários:

Fernanda Valente disse...

Convinha que a UE tomasse desde já uma posição aberta (oficiosa, na medida em que o Tratado de Lisboa ainda não foi ratificado, não lhe dando poderes para posições oficiais) no conflito, quanto mais não fosse para tentar minimizar os estragos provocados pelos apoios internacionais claramente pró-georgianos, com destaque para os EU e instituições que controla, como a Nato, por ex.
Se o Tratado estivesse em vigor, provavelmente a instação dos anti-mísseis na Polónia pelos EU, não se teria verificado. Foi a partir desse momento decisório que se começou a gerar o conflito.
Como se constata por este post, abriu-se um precedente perigoso que poderá ser o início da demarcação de posições políticas de apoio à Rússia contra o poder hegemónico norte-americano.
A Rússia vai sair reforçada desta contenda; iremos assistir nos próximos dias a outros apoios de peso, de países geo-estratégicamente bem posicionados e ao início da "reedição" daquela que todos nós pretendíamos enterrada "guerra fria", isto, na melhor das hipóteses.

Anónimo disse...

Cara Fernanda,

Mais uma vez seus comentários são extremamente pertinentes. Infelizmente a Guerra Fria só não retornaria se os Americanos não tivessem suas aspirações de controle mundial, cobertos pela capa da sua hipócrita democracia, pobre democracia que vive o mundo já que seus valores estão por demais distorcidos. O apoio Sírio, Venezuelano e Cubano são apenas alguns sinais da imensa insatisfação que vivem muitos países. Muitos não se levantam contra em virtude da presença de bases em seus territórios, já outros pronunciam-se a favor pela dependência econômica dos Estados Unidos. Até hoje os Americanos ocupam o Iraque, país invadido por falsas acusações da CIA, no caso da produção de armas químicas e biológicas, escondendo o verdadeiro motivo que era confiscar o petróleo Iraquiano que os Americanos tanto precisam para manter seu país funcionando. Toda e qualquer nação que possua recursos naturais e minerais serão alvo dos americanos. Não sou a favor de outra Guerra Fria, mas são vinte anos em que os dirigentes americanos ameaçam, intimidam e atacam nações que sejam suas opositoras. não se engane, apesar do modelo de império ser diferente, trata-se de mais uma nação querendo a mesma Hegemonia Romana.

Fernanda Valente disse...

Quando me refiro à instalação de anti-mísseis na Polónia pelos EU, pretendo referir-me concretamente ao acordo preliminar que acaba de ser celebrado entre estes dois países, para a instalação de um sistema de defesa anti-missil na Polónia. As negociações continuam e a instalação está prevista para 2011.
Afinal a situação ainda é mais grave do que à partida era suposto:
indirectamente a Rússia está a exercer pressão para que isso não aconteça, retaliando e "furando" todo e qualquer acordo que venha a ser feito para a sua retirada das zonas em conflito.
Uma boa altura para a UE entrar em acção e começar por puxar as orelhas aos senhores dirigentes polacos...

Anónimo disse...

Eu diria que quem semeia ventos colhe tempestades... Tanto os EUA, como a Europa têm-se mostrado verdadeiros ingénuos na forma de tratar desta situação de conflito... Agora, a situação começa a ser clara, se a Nato se pode expandir, a Rússia também, se uns para perto das suas fronteiras, os outros também, neste caso para perto das de Israel o que vai dar ao mesmo...
Pouca habilidade, Rússia 1 - EUA e UE 0....
aproveito para sugerir algumas contas... em: http://porquemedizem.blogspot.com/2008/08/ajuda-do-guterres.html#links

Fernanda Valente disse...

wandard:

«...escondendo o verdadeiro motivo que era confiscar o petróleo Iraquiano que os Americanos tanto precisam para manter seu país funcionando»

Obrigada pelas suas apreciações aos meus comentários.
Penso que a sua afirmação que acabo de destacar, é uma visão algo redutora da intervenção dos EU no Iraque.
No xadrez da política portuguesa, só o partido comunista normalmente se refere à guerra do Iraque nesses termos. Mas, na minha opinião, esta incursão militar norte-americana teve uma maior amplitude no plano dos objectivos a atingir, do que a que aqui manifesta.
Funcionou sobretudo como uma espécie de guerra preventiva em relação a eventuais futuras alianças que se estariam a desenhar no horizonte dos países produtores de petróleo. Os EU pretenderam cortar o mal pela raiz, partindo do princípio que a raiz do problema era justamente o Iraque.

Anónimo disse...

Os polacos sempre arrumaram encrencas. Agora metem-se no meio das disputas entre a Rússia e os EUA. O resultado esta a vista: misseis e contra-misseis numa zona (ainda) pacifica do mundo, a Europa. Querem depois que os europeus apoiem a NATO e as instituições europeias???

quink644 disse...

Não deixem de fazer as continhas...

Marco the all seing disse...

O imperialismo americano não serve para justificar esta actuação. É evidente que a Síria tem tantos interesses, seja o crónica ameaça israelita, quer seja a sua intenção de domínio regional, quer seja a prespectiva turca de entrada na EU..
Torna-se preocupante esta oposição que se levanta nesta região já de si bastante instável.
Espera-se moderação de parte a parte e mais uma vez espera-se (por quanto mais tempo?) por uma posição europeia forte e conjunta - só assim poderá ter algum peso

MSantos disse...

Caro José Milhazes, uma pequena correção: o Iskander é um míssil ofensivo e não um sistema anti-míssil. Sobre o melhor comentário que já vi sobre toda esta situação, aconselho-lhe: http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1156625.html
Cumpts

MSantos disse...

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/opinion/columnistas/pt/desarrollo/1156625.html

MSantos disse...

As minhas desculpas: é o artigo de Domingos Amaral, "O regresso da Rússia" no "Diário Económico" online

Anónimo disse...

Bem, chego a pensar e até mesmo constatar...

A queda do muro de Berlim pôs fim à URSS e ao comunismo como regime de economia, todavia é nítido que a guerra fria não acabou!!!!

Houve sim um período de congelamento, onde não houve quase nenhum atrito direto entre os envolvidos....

Esse período serviu também, ao meu ver, para que os Estado mudassem de lado e se reestruturassem, afinal a guerra fria gerava enormes tensões e nenhuma economia, por mais forte que fosse, iria suportar muito mais tempo naquele regime...

Digo que o período de congelamento, onde os átomos estão vibrando com menos velocidade e tensão´, já passou...

Hoje estamos de volta... ninguém menciona expressamente, por óbvio, se atentarmos para a real natureza do qu está acontecendo, torna-se evidente que é um novo tipo de guerra fria...

Por um lado os EUA querem instalar escudos e radares na Europa afirmando que seira para se proteger do Irã e da Coréia do Norte... Sobretudo se aproximam das fronteiras russsas, criam tensões na região, aproximam-se de países ex-soviéticos que não gostam de Moscou, fazem uma espécie de dominação branca pelos filme de Hollywood de modo a induzir uma espécie de russofobia, como citou o nobre colega Wandard ("todo herói é americano e todo vilão é russo"), etc...

De outro a Rússia denuncia o pacto de Forças Convencionais da Europa, apóia países separatistas (bem como os EUA fizeram), barganha com a UE através do seu gás, vendem armas a países diversos (ex. Índia, Venezuela, etc) e se aproximam de países estratégicos a fim de provocar os americanos e a OTAN...

Acho que o relógio do fim do mundo pode começar a se aproximar das 12:00 hrs!!!

Países como Síria, Irã, Coréia do Norte, Índia, Venezuela e até mesmo China (que já se declarou contrário ao Escudo Antimísseis), entre outros, não hesitariam em posicionar-se ao lado da Rússia numa eventual 3ª Guerra...

Na minha opinião pessoal até mesmo o Japão subsidiaria tecnologia contra os americanos... será que realmente eles esqueceram o episódio da bomba nuclear????

Bom brasileiros vamos botar nossa barba de molho porque ão sei o que será do futuro... temos água (recurso já escasso), o Amazonas (com todas as suas riquezas anturais, inclusive medicinais) e petróleo (a todo momento a Petrobrás anuncia um novo poço encontrado)!!!

Acho que o Brasil deveria começar a se fortificar, senão...

"As Forças Armadas são os braços da nação", que diverso do nosso hino nãó é anda forte...

Já era!!!!

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro MSSantos, tem razão, o sistema Izkander é ofensivo. Peço desculpa, não fiz serviço militar.

Anónimo disse...

Fernanda concordo com você, o jogo no Iraque envolve muito mais que o petróleo, tanto que o Afeganistão não tem recursos naturais e minerais que atraiam os americanos, mas é estratégicamente bem localizado para a entrada na Ásia Central. Apesar disso o joguete ammericano não conseguiu abocanhar o Irã, e provavelmente pelo desenrolar dos acontecimentos e com cada vez mais aumento do poderio militar Russo e a clara mudança de postura que Moscou adotou, assistiremos a uma constante medição de forças entre as duas Superpotências daqui para frente. Rogério o Brasil não vai se armar, acredite. Desde a ascensão do governo civil com José Sarney, o Brasil passou a cumprir logo após o desmantelamento da União Soviética, quase todos os termos da Agenda Americana para a América Latina: Cancelamento do Programa Nuclear - Fernando Collor. Aluguel da Base de Alcântara - Fernando Henrique Cardoso - Estatuto do Desarmamento - Fernando Henrique Cardoso. As Forças Armadas estão sucateadas, só a título de informação a última interceptação de invasão de espaço aéreo ocorreu durante a Guerra das Malvinas e foi um Bombardeiro Vulcan Inglês, atualmente ocorrem mais de 3000 invasões por mês e nenhuma interceptação, todas as aeronaves operacionais praticamente se destinam ao transporte dos renomados e democraticamente eleitos políticos que enriquecem do erário. O programa do VLS - Veículo Lançador de Satélite está paralisado desde o "ACIDENTE?", e o tão badalado Projeto FX, para compra de uma enorme esquadrilha de 12 caças, rsrsrs, já completou 12 anos (2 mandatos de Fernando Henrique e 1 de Lula).

Anónimo disse...

Por que será os vizinhos da Russia a odeiam? Por que será, não é? A Russia não tem o direito de impor a sua "esfera de influencia" em nenhum país!!!
Sorte aos poloneses e tchecos!


Augusto

Anónimo disse...

Ao cara que falou que os polacos sempre arrumaram encrencas, digo que um pais que já foi invadido pela Russia dezenas de vezes, deve ter seus motivos e medos. E sabe que não deve confiar na Europa como auxilio, vide a segunda guerra. Acho engraçado portugueses se meterem a dar opinioes como os paises do Leste devem se comportar em relaçao à Russia sem terem sofrido ocupaçao desse país por décadas.


César Leite

Anónimo disse...

Senhor Cesar Leite,
certamente que deve ser brasileiro. Eu, como português e europeu, fiquei muito agastado com o que os polacos fizeram quando receberam os primeiros subsídios da Europa: encomendas militares aos EUA. Pois é, a Europa é boa para pagar os subsídios, mas quando se trata de comprar caças prefere-se os americanos. Além disso, meter mais lenha para a fogueira nunca foi boa política. E quanto a ter ou não experiência de leste, também já tenho a minha quota parte. Cumprimentos.

Anónimo disse...

nuno bento,

te informa bem antes de falar besteira...a compra dos F16 foi em 2003 e a Polonia entrou na UE em 2004.


http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2003/030418_poloniamt.shtml


César Leite

Anónimo disse...

HAHAHAHA..esses portugueses querendo dar lição de boa vizinhança sendo que vivem aprontando pra cima dos espanhóis.

Anónimo disse...

Pergunto aos portugas, se a Rússia inventar de invadir a Estônia ou Letônia com argumento de proteger a populaçao russa das "agressões bálticas" (uma estratégia muito antiga, e bastante usada pela Alemanha Nazista, por exemplo), Portugal (ou outro país europeu) vai defender esse canto da Europa?
Infelizmente, o único país que pode dar algum tipo de proteção é os EUA, nenhum país da Europa pode fazer isso por todos estarem com o "rabo energético" preso na Rússia.

César Leite

Anónimo disse...

usar diplomacia com a Rússia é como falar de direitos humanos com um serial killer

beto

Anónimo disse...

É verdade Wandard...é uma pena que o Brasil não mostre seu valor... como já disse... nós somos o punico país do BRIC a não possuir um sistema de defesa considgno.... Um dos motivos da Rússia ser temida é este... apesar dela ter poder de barganha sabemos bem que a economia ão anda lá muito bem... bom só pra constar 1 dólar equivale cerca de 25 rublos, dependendo do dia (este foi o último valor que vi da moeda russa e já tem 1 ano)...

Bom, se o Brasil não quer se armar... Chavez está fazendo... e como? ... Comprando materiais bélicos russos (aviões, helecópteros, fuzis AKs e aviões Suhkoi!!!)....

Fernanda Valente disse...

Ao anónimo das 4:34:

«esses portugueses querendo dar lição de boa vizinhança sendo que vivem aprontando pra cima dos espanhóis»

Por favor explique-se...

Anónimo disse...

Sr. César Leite,

se a Polonia comprou os caças, ja sabia como os iria pagar.

é que na Europa pagamos o que compramos.

Cumprimentos.

Anónimo disse...

Na minha óptica, os EUA seguem uma geopolítica correcta sob o ponto de vista da protecção dos seus interesses. E quais são os seus interesses? São garantir o controlo de rotas de fluxos energéticos e comerciais, ou seja, de certo modo o mesmo que nós fizemos no séc. XVI no Atlântico e na Ásia.
A melhor maneira de conseguir esse acesso e controlo é estabelecendo regimes "amigos" em zonas estratégicas. A invasão do Iraque não se destinou, por isso, a garantir o petróleo iraquiano (para isso bastaria entrar em acordo com o Saddam) mas sim a garantir a instalação de um governo "amigo" que permitisse a instalação de bases norte-americanas no território. É que, convenhamos, vai sendo cada vez mais difícil conviver com os sauditas, que são fanáticos religiosos. O Iraque, estratégicamente colocado bem no meio do Médio Oriente, prmite aceder (e ameaçar) todos os países da região à excepção do Líbano. É, por isso, a base de operações perfeita.
A Geórgia está mais ou menos na mesma situação, com um bónus: é que não só permite o acesso ao petróleo e gás do Cáspio/Ásia Central como permite impedir o acesso à Rússia a esses mesmos recursos e ao restante Médio Oriente. É por isso o país perfeito para ser apoiado pelos EUA contra a Rússia.
Quanto à Polónia, é verdade que viveu sob a opressão soviética, mas tinha mais liberdade do que, por exemplo, a Hungria. Por outro lado, se é verdade que sofreu muitas invasões russas, também o contrário é verdade. E de invasão em invasão, a alemã, em 1939, foi a pior, o que não impede que hoje em dia os dois países sejam "amigos". Portanto, em termos de História nada justifica, na verdade, tanta inimizade.
Seja como for, o facto, no meio disto tudo, é que os EUA e a NATO são a prioridade em termos de pol. externa destes países da Europa de Leste.A sua prioridade vai para a defesa contra a Rússia, e por isso é que estes países pediram a adesão à NATO antes de a pedirem à UE. E isso é natural: é que os interesses geoestratégicos dos EUA são coincidentes com os destes países (manter a Rússia afastada), e os EUA, como país unificado, terão sempre umna política externa mais coerente e expedita que uma UE, aglomerado de diversos países, com interesses e História diversas e que, pior que isso, nem sequer tem uma identidade cultural comum.

Anónimo disse...

interessante matéria


Crise da Geórgia provoca mudanças na Polônia
Nicholas Kulish


As ruas movimentadas do centro da cada vez mais rica Varsóvia, onde circulam cada vez mais carros novos entre as lojas de marcas ocidentais, parecem estar a um mundo de distância da pobre capital georgiana, Tbilisi, onde os moradores assustados tiveram este mês de encarar a possibilidade de ver tanques russos descendo a avenida Rustaveli, no centro da cidade.
Mas os acontecimentos no Cáucaso e as ameaças de ataque proferidas por um general russo depois que o governo polonês fechou acordo para a instalação de uma base norte-americana de defesa contra mísseis no território do país geraram preocupação entre os poloneses. Cada vez mais próspera e confiante, a Polônia se integrou ao Ocidente, e especificamente aos Estados Unidos, ainda que na posição de aliada, e não vassala.

Quando Estados Unidos e Polônia assinaram formalmente o acordo, na quarta-feira, apesar das vociferantes objeções de Moscou, pesquisas do Dziennik, um diário de Varsóvia, demonstravam que nos últimos 30 dias houve uma notável virada na opinião pública, que deixou de se opor à instalação da base e passou a apoiá-la.

"Antes da invasão da Geórgia, eu me opunha à instalação do sistema de defesa contra mísseis na Polônia", disse o estudante Julian Datmenko, 26, em um passeio pelo parque Saski no começo da semana. "Mas agora, depois do que aconteceu lá, não lamento a decisão".

A Polônia, onde o sindicato Solidariedade causou a primeira rachadura no antigo bloco soviético, vem desenvolvendo nova confiança em sua força como líder da Nova Europa, composta por países que viveram um dia à sombra da União Soviética. Mas desde a crise da Geórgia, o maior dos membros pós-comunistas da União Européia vem agindo para cimentar seu relacionamento com os Estados Unidos, mais propenso a agir, de preferência às vacilantes burocracias da Europa e da Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan).

A invasão russa à Geórgia lembrou os poloneses uma vez mais quanto às rápidas e perigosas divisões que podem surgir na Europa Oriental. A Polônia vem lutando para demonstrar que não pretende ficar do lado oposto da linha tênue que ainda marca as fronteiras da guerra fria, um período que pode ter sido rapidamente esquecido no Ocidente depois da queda do Muro de Berlim mas continua muito vivo aqui.

Nas bancas de jornais, as capas da revista Wprost, uma publicação de inclinações direitistas, mostram Vladimir Putin, o primeiro-ministro da Rússia, em uma ilustração que lhe dá um bigodinho e penteado instantaneamente reconhecíveis, o que torna a manchete "Adolf Putin" redundante. A edição polonesa da revista Newsweek mostra o falastrão e muitas vezes nada diplomático presidente polonês Lech Kaczynski sentado na cabine de pilotagem de um avião, com a manchete "é preciso ser duro com a Rússia".

Redek Sikorski, o ministro do Exterior polonês e o principal responsável pelo acordo de defesa contra mísseis, no governo, disse em entrevista esta semana que "tratados são ótimos, mas a história da Polônia nos colocou muitas vezes lutando sozinhos, depois que nossos aliados nos abandonaram".

Não é uma mentalidade de guerra fria que propele os poloneses, afirma Sikorski, mas sim a mentalidade da Segunda Guerra Mundial, na qual, a despeito de sua aliança com a França e o Reino Unido, a Polônia teve de enfrentar sozinha a Alemanha nazista, e saiu derrotada.

Foi "o momento que definiu o século 20, para nós", disse Sikorski. "depois, fomos apunhalados nas costas pela União Soviética, e isso determinou o nosso destino por 50 anos".

Como resultado, a política externa polonesa é caracterizada pela desconfiança não só quanto às ambições russas mas também quanto às garantias vazias que os aliados do país oferecem. A luta solitária da Geórgia contra as forças armadas esmagadoras da Rússia serviu como lição prática ¿um lembrete desnecessário, no caso dos poloneses- de que contar com a ajuda dos amigos é algo incerto.

"Estamos determinados, desta vez, a ter alianças sustentadas por realidades concretas, por capacidades de ação", disse Sikorski, apontando que, apesar de ser membro da Otan, a única presença da aliança no país até o momento é um centro de conferências cuja construção nem mesmo foi concluída.

Essa linha de raciocínio estratégico aparentemente se havia tornado obsoleta. Ainda em dezembro, os poloneses celebraram a remoção das barreiras de fronteira com a Alemanha e outros vizinhos europeus, um novo e poderoso símbolo da adesão do país ao clube do Ocidente.

A economia vem criando empregos novos e propiciando salários mais altos, o que permite que os poloneses hoje desfrutem de um padrão de vida que, embora ainda inferior ao da França ou Alemanha, supera em muito o que os cidadãos comuns do país poderiam imaginar na era comunista.

Em Varsóvia, ainda existe uma certa sensação de distanciamento quanto a crises, se bem que não de absoluta segurança.

¿Há um certo clima de segurança; fomos admitidos à aliança atlântica já há algum tempo, e provamos ser um aliado confiável, um integrante respeitável¿, disse Marek Ostrowski, editor de internacional da revista semanal ¿Polityka¿. Ele disse que, entre os poloneses, a sensação é de que ¿o verão é bom e as pessoas enfim não se sentem ameaçadas¿.

Ao assinar o acordo que permite mísseis norte-americanos no país, a Polônia está sendo fiel tanto ao seu passado torturado quanto ao seu presente como nova potência européia. Os mísseis virão, mas nos termos definidos pelos poloneses, com a presença de uma bateria de mísseis antiaéreos convencionais Patriot operados por soldados norte-americanos, o que representará prova tangível de aliança e elevará o risco e custo de um confronto, caso a Rússia decida agir ousadamente contra outro antigo país satélite.


http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI3121996-EI8142,00.html



augusto

Anónimo disse...

A notícia é interessante, apenas peca por um erro: não foi a Geórgia que foi invadida; a Geórgia invadiu!

Anónimo disse...

É legitima a preocupaçao da Polonia, acho que eles estao com medo que a historia se repita. Mas a situaçao na Europa é completamente diferente daquilo que foi na guerra fria. Ja nao ha dois blocos, de um lado temos apenas a Russia que esta longe da estrutura militar que teve a URSS, do outro temos a NATO que se vem expandindo cada vez mais para leste. Uma nota importante e que vai de encontro as preocupaçoes dos russos, provavelmente este escudo anti-misseis, nao se destina a proteger de possiveis ataques do Irao ou da Coreia, mas pode ser mais uma forma de intimidar a Russia; que se opos fortemente à sua instalaçao pela proximidade ás suas fronteiras e por mais uma base militar America, mas de nada adiantou. Agora pergunto sera que EUA tb iriam gostar de um dispositivo militar russo indentico, na Venezuela ou em Cuba por exemplo.
Quanto à questao da guerra no caucaso, se a Georgia fosse ja membro da NATO, a Russia nunca ía ter esta intervençao militar tao musculada.
P.S Os russos nao sao nenhuns santos, mas tb nao os podemos ter sempre como os viloes, espero muito sinceramente que Obama ganhe as proximas eleiçoes nos EUA para arrefecer os animos, e limpar esta grande trapalhada que o senhor Bush andou a fazer.
Rui Carneiro

MSantos disse...

Caro Rui: indo ao encontro do que disse, vi ontem uma reportagem da CNN sobre a Polónia, onde entrevistavam 2 idosos num banco de jardim em que estes diziam que não gostavam da Rússia e o Kremlin não era de confiança mas que era de loucos hostilizá-los e cercá-los como a NATO pretende. Seria mais sensato establecer laços de comércio e amizade, apesar da desconfiança. Quando o repórter lhes afirmou que em caso de invasão russa, se a Polónia estivesse na NATO, o ocidente viria em seu socorro, os velhotes riram-se ás gargalhadas. Isto diz tudo