Artigo escrito para Lusa
A decisão do Kremlin de reconhecer a independência da Ossétia do Sul e da Abkházia está a ser recebida de forma diferente no interior da própria Rússia, embora a maioria dos comentários sejam favoráveis à decisão do Presidente Medvedev.
“Depois do reconhecimento da independência da Abkházia e Ossétia do Sul, o respeito pela Rússia aumentará incomparavelmente”, declarou à Lusa Alexei Ostrovski, dirigente do Comité da Duma (câmara baixa) do Parlamento russo para as Relações com os Países da CEI.
“Todos os Estados compreenderam que a Rússia pode e irá defender os seus cidadãos, embora parte da comunidade internacional, hipnotizada pelos médias ocidentais, não irá compreender a nossa decisão, muitos habitantes do planeta não irão sentir amor pelo nosso país”, acrescentou.
“A posição de todos os ramos do poder na Rússia está mais consolidada do que nunca”, concluiu.
Gleb Pavlovski, politólogo pró-Kremlin, declarou que o reconhecimento permite criar um sistema novo, mais firme de segurança no Cúcaso.
“Esse passo foi para a Rússia uma medida inevitável. Isto não é de forma alguma uma demonstração da nossa força e uma pretensão ao território da Geórgia, que não discutimos e não pomos em causa. A Rússia simplesmente esgotou todas as possibilidades de outro modelo de regularização”, explicou o analista político à Lusa.
“O reconhecimento da independência da Ossétia do Sul e da Abkházia pela direcção russa põe em dúvida a integridade territorial da Rússia”, considera Ussam Baissaev, membro da Memorial, organização de defesa dos direitos humanos.
“O que aconteceu hoje dá bases políticas, jurídicas para, no futuro, a República da Tchetchénia exigir a independência”, acrescentou.
Segundo Baissaev, de origem tchetchena, “esta decisão de Medvedev era esperada pela maioria dos habitantes da Tchetchénia. Se a Ossétia do Sul e a Abkházia têm direito à autodeterminação, os tchetchenos também têm”.
“Eu apoio decididamente o documento hoje assinado pelo Presidente da Rússia. Estou convencido que se trata de uma decisão completamente sábia e correcta”, considera Ramzan Kadirov, presidente pró-russo da Tchetchénia.
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7 comentários:
Até o bairro da esquina pode pedir independencia.à China pode se beneficiar muito bem dessa desição, basta ver as coisas não apenas da visão ocidental que tenta jogar um erro na responsabilidade no outro para livarar à cara.
Divergências? Pela leitura do post parece que está toda a gente de acordo em que foi uma boa opção... embora cada um interprete os factos como melhor lhe convém, como seria de esperar. O comentador de origem techtchena considera o facto positivo porque abre caminho para a independência da Tchétchénia. Era inevitável. Não discuto a legitimidade da independência da Tchétchénia mas duvido que os russos vão nisso.
Com isto abriram uma caixa de Pandora e vão criar muitos postos de trabalho para vendedores de armas e incentivadores de movimentos independentistas pró-russos ou pró-ocidentais conforme convenha a um ou a outro dos blocos. No meio disto tudo, se o Cáucaso já não deveria ser uma região saudável para uma pessoa normal viver, parece que vai ficar pior. Espero que o Cáucaso não se torne nos Balcãs do princípio do seculo XXI.
Quando a Rússia se manifestar sobre a sua posição em relação ao conflito na Tchetchénia, então aí é que vamos ficar a conhecer as suas reais motivações relativamente ao facto de ter reconhecido a independência dos dois estados separatistas (georgianos).
As motivações são geoestratégicas, evidentemente! Os ossetinos nunca quiseram ser parte integrante da Geórgia e por isso Moscovo as acolheu. Nada de novo, portanto. Mas a Rússia não pode perder o Caucaso, por isso independências no seu território está fora de questão, seria retroceder ao séc. XVI quando Kasan era sede de um Canato independente. Quanto à Chechénia, que agora muita gente diz que deveria ser independente... mas quem é que quer um Califado Islâmico no Cáucaso, como é proposto pela actual liderança chechena no exílio? Acaso se esquecem vocês que os chechenos foram grandes exportadores de terroristas para o Médio Oriente e Afeganistão? Que foi na "escola chechena" que se treinaram alguns dos actuais líderes insurgentes islamistas? Condecer a independência à Chechénia seria um gravíssimo erro geoestratégico e mesmo civilizacional, com graves consequências para toda a Europa e para boa parte do Mundo.
Nem de propósito, vem hoje publicado no Financial Times, um artigo assinado pelo Presidente D. Medvelev, explicando porque razão assinou o Decreto que reconhece a independência dos dois estados.
Deixo abaixo o link do artigo, aproveitando para destacar este pequeno parágrafo:
«...western countries rushed to recognise Kosovo’s illegal declaration of independence from Serbia. We argued consistently that it would be impossible, after that, to tell the Abkhazians and Ossetians (and dozens of other groups around the world) that what was good for the Kosovo Albanians was not good for them. In international relations, you cannot have one rule for some and another rule for others.»
http://www.ft.com/cms/s/0/9c7ad792-7395-11dd-8a66-0000779fd18c.html?nclick_check=1
"pippo" coloca, talvez sem querer, uma questão muito pertinente sobre o futuro destas regiões reconhecidas independentes, mas economicamente dependentes. Transformar-se-ão necessariamente em "protectorados", vindo a ser utilizados quer no bom, quer no mau sentido. Neste último caso, ficarão à mercê de países menos escrupulosos que deles se servirão para promover todo o tipo de corrupção, inclusive acoitar os "centros de decisão" de organizações terroristas.
Fernanda, um Califado Caucasiano seria, simultâneamente, um narco-Estado e um Estado terrorista. Foi nisso que a Chechénia se tornou entre 1996 e 1999.
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