A Rua Arbat de Moscovo é um dos primeiros locais visitados por qualquer estrangeiro ou nacional que se desloca à capital russa. O objectivo principal é comprar alguma relíquia da era soviética, que pode ir da farda de um general até um busto de Lénine ou Estaline, levar alguma matrioska ou encomendar o seu retrato aos numerosos pintores aí instalados.
Porém, as autoridades moscovitas decidiram encerrar todas as bancas e quiosques de recordações, bem como retirar os pintores, a partir de sexta-feira, a pretexto de fazer regressar à rua Arbat as livrarias e alfarrabistas que enchiam aquela artéria em tempos passados.
Os vendedores de recordações e os pintores de rua não se apressam a retirar, talvez porque ainda esperem algum milagre e as autoridades mudem de ideias.
“Ouvi alguma coisa sobre isso, mas nada de concreto. Enquanto pudermos, vamos vendendo. Depois se verá o que fazer à vida”, declarou à Lusa um dos vendedores.
Ao longo da rua Arbat estão instaladas cerca de 15 bancas, onde, além de toda a quinquilharia tradicional russa, se podem adquirir matrioskas com o desenho de Figo, Cristiano Ronaldo ou outros craques do desporto, da música e da política.
“Matrioska Figo dez euros”, reclama o seu produto um vendedor numa linguagem que mistura espanhol, italiano e português.
“Posso desenhar ou pintar o seu retrato, faço um bom preço”, convida um pintor de rua que já trabalha na Arbat há muitos anos.
Iúri Lujkov, Presidente da Câmara de Moscovo, considerou necessário “acabar com o comércio vulgar de matrioskas” e trazer para o local “quiosques e bancas de livros novos e usados”.
As obras de reconstrução desta tão conhecida artéria pedonal de Moscovo já começaram e deverão estender-se por todo o ano que vem.
A Rua Arbat surgiu entre os séculos XIV e XV e deve o seu nome, segundo os historiadores russos, à palavra árabe “rabad”, que significa arredores.
A partir de meados do século XVIII, a artéria transforma-se numa das mais aristocráticas de Moscovo, pois situa-se bem perto do Kremlin.
A Rua Arbat ficou imortalizada em romances e canções, sendo os mais conhecidos o romance “Os putos da Arbat”, de Anatoli Ribakov, e os poemas de Bulat Okujava.
No estrangeiro, a Rua Arbat tornou-se famosa durante a perestroika, política de abertura de Mikhail Gorbatchov iniciada em 1985, pois era uma espécie de Hyde Park russo, onde pintores proibidos começaram a expor e vender os seus quadros, músicos de rock a interpretar canções clandestinas, oradores das mais diversas tendências políticas começaram a discursar sem medo.
Desse período, ainda resta a parede de Victor Tsoi, onde se encontram e deixam as suas mensagens os apreciadores deste irreverente cantor de rock e actor, que morreu jovem.
Nos últimos anos, o nível cultural das representações baixou claramente, o que veio também degradar o aspecto dessa histórica artéria.
No Verão, aos fim da tarde ou princípio da noite, perto do edifício do Teatro Vakhtang, podem-se ver grupos de pessoas amontoadas em torno de estudantes de teatro que contam anedotas de gosto duvidoso em troca de uns rublos.
Resta esperar para ver se as livrarias e alfarrabistas irão mesmo regressar à Arbat ou apenas se trata de um pretexto para transformar esta rua pedonal em mais duas filas de lojas de produtos de luxo.
“Trata-se de um local muito apetecido para o comércio e, por isso, corremos o risco de sairmos daqui e não aparecerem as livrarias. As boutiques dão mais lucro do que a leitura”, declara à Lusa um dos mais antigos retratistas da Arbat.
Moscovo está transformada num autêntico estaleiro de construção, estando muitos dos edifícios que faziam o rosto da capital russa a desaparecer e a serem substituídos por construções de betão e vidro.
As regras da modernização da cidade é que são muito pouco claras. Na semana passada, a imprensa russa denunciou uma empresa de construção que está a escavar por debaixo da Praça Vermelha a fim de construir parques de estacionamento subterrâneos.
Não obstante as obras estarem a decorrer sob um dos edifícios mais guardados da Rússia, o Kremlin, residência oficial do Presidente do país, careciam de licenciamento.
Porém, as autoridades moscovitas decidiram encerrar todas as bancas e quiosques de recordações, bem como retirar os pintores, a partir de sexta-feira, a pretexto de fazer regressar à rua Arbat as livrarias e alfarrabistas que enchiam aquela artéria em tempos passados.
Os vendedores de recordações e os pintores de rua não se apressam a retirar, talvez porque ainda esperem algum milagre e as autoridades mudem de ideias.
“Ouvi alguma coisa sobre isso, mas nada de concreto. Enquanto pudermos, vamos vendendo. Depois se verá o que fazer à vida”, declarou à Lusa um dos vendedores.
Ao longo da rua Arbat estão instaladas cerca de 15 bancas, onde, além de toda a quinquilharia tradicional russa, se podem adquirir matrioskas com o desenho de Figo, Cristiano Ronaldo ou outros craques do desporto, da música e da política.
“Matrioska Figo dez euros”, reclama o seu produto um vendedor numa linguagem que mistura espanhol, italiano e português.
“Posso desenhar ou pintar o seu retrato, faço um bom preço”, convida um pintor de rua que já trabalha na Arbat há muitos anos.
Iúri Lujkov, Presidente da Câmara de Moscovo, considerou necessário “acabar com o comércio vulgar de matrioskas” e trazer para o local “quiosques e bancas de livros novos e usados”.
As obras de reconstrução desta tão conhecida artéria pedonal de Moscovo já começaram e deverão estender-se por todo o ano que vem.
A Rua Arbat surgiu entre os séculos XIV e XV e deve o seu nome, segundo os historiadores russos, à palavra árabe “rabad”, que significa arredores.
A partir de meados do século XVIII, a artéria transforma-se numa das mais aristocráticas de Moscovo, pois situa-se bem perto do Kremlin.
A Rua Arbat ficou imortalizada em romances e canções, sendo os mais conhecidos o romance “Os putos da Arbat”, de Anatoli Ribakov, e os poemas de Bulat Okujava.
No estrangeiro, a Rua Arbat tornou-se famosa durante a perestroika, política de abertura de Mikhail Gorbatchov iniciada em 1985, pois era uma espécie de Hyde Park russo, onde pintores proibidos começaram a expor e vender os seus quadros, músicos de rock a interpretar canções clandestinas, oradores das mais diversas tendências políticas começaram a discursar sem medo.
Desse período, ainda resta a parede de Victor Tsoi, onde se encontram e deixam as suas mensagens os apreciadores deste irreverente cantor de rock e actor, que morreu jovem.
Nos últimos anos, o nível cultural das representações baixou claramente, o que veio também degradar o aspecto dessa histórica artéria.
No Verão, aos fim da tarde ou princípio da noite, perto do edifício do Teatro Vakhtang, podem-se ver grupos de pessoas amontoadas em torno de estudantes de teatro que contam anedotas de gosto duvidoso em troca de uns rublos.
Resta esperar para ver se as livrarias e alfarrabistas irão mesmo regressar à Arbat ou apenas se trata de um pretexto para transformar esta rua pedonal em mais duas filas de lojas de produtos de luxo.
“Trata-se de um local muito apetecido para o comércio e, por isso, corremos o risco de sairmos daqui e não aparecerem as livrarias. As boutiques dão mais lucro do que a leitura”, declara à Lusa um dos mais antigos retratistas da Arbat.
Moscovo está transformada num autêntico estaleiro de construção, estando muitos dos edifícios que faziam o rosto da capital russa a desaparecer e a serem substituídos por construções de betão e vidro.
As regras da modernização da cidade é que são muito pouco claras. Na semana passada, a imprensa russa denunciou uma empresa de construção que está a escavar por debaixo da Praça Vermelha a fim de construir parques de estacionamento subterrâneos.
Não obstante as obras estarem a decorrer sob um dos edifícios mais guardados da Rússia, o Kremlin, residência oficial do Presidente do país, careciam de licenciamento.
2 comentários:
Apenas para elogiar o valor da sua prosa e por ser um exemplo do que é o bom jornalismo.
Parabéns.
Que pena. Gostei muito dessa rua quando vivi temporaamente em Moscovo, em 2002. Parecia-me uma via muito animada, mas pelo que conta degradou-se. Espero que a especulação não leve a melhor. Não precisamos de um novo GUM ou de mais um centro comercial como aquele ao pé de Aleksandrovsky Sad.
E já agora, aproveiro para lhe agradecer as suas reportagens. A par das do Evgeny Moravich, são do melhor que podemos ver na televisão portuguesa.
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