segunda-feira, setembro 01, 2008

Kremlin tem que “pôr em dia” a língua francesa


Ao comentar a cimeira da União Europeia, realizada ontem em Bruxelas, Vladimir Putin, primeiro-ministro do Governo russo, não escondeu dos jornalistas a alegria que sentiu ao constatar que Nicolas Sarkozy empregou a palavra “regime” para definir as autoridades da Geórgia.
“Prestei atenção ao facto de que temos uma base para a continuação do diálogo com os parceiros europeus. Acompanhei atentamente a conferência de imprensa da cimeira. Sarkozy, ao carcterizar o sistema político da Geórgia, utilizou a expressão “regime de Saakachvili”, declarou Putin.
“Isto mostra que não é um Estado democrático, mas um regime de poder pessoal, cuja natureza é preciso rever. É claro nele não há, nem pode haver nada de democrático”, acrescentou.
Ora alguma imprensa russa da oposição ao Kremlin veio chamar a atenção para o facto de os tradutores do francês terem enganado o Presidente Putin.
A palavra “regime” soa da mesma forma em russo e francês, mas têm uma carga bem diferente.
Em russo, essa palavra é utilizada para definir formas de governo autoritárias, ditatoriais.
“A palavra “regime” em francês, tal como foi empregue pelo Presidente da França, Nicolas Sarkozy, não tem um significado fortemente negativo. Por outras palavras, se Sarkozy pronunciou a frase “régime de monsieur Saakachvili”, tinha apenas e só em vista “o regime político” ou “sistema político de governar uma nação”, constata o diário electrónico Newsru.com.
“Os franceses podem falar de “regime de Gaulle”, mas os russos, quando falam em “regime”, têm em vista Hitler e Saakachvili”, sublinha o jornal.
Além disso, as palavras do Presidente Putin apenas vêem uma vez confirmar um dos objectivos da política russa no Cáucaso, que outros dirigentes russos dizem não pretender: derrubar o Presidente Saakachvili na Geórgia.
Não é a primeira vez que as traduções atraiçoam os dirigentes russos.
No dia 18 de Agosto, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia desmentiu a notícia difundida pelas autoridades francesas de que Nicolas Sarkozy “teria prevenido o Presidente D.A. Medvedev das consequências pesadas” para as relações entre a Rússia e a União Europeia” se Moscovo não começasse a retirar as tropas da Geórgia.
“Esse tema nem sequer soou na conversa telefónica entre os presidentes”, lê-se numa nota publicada hoje na capital russa.
No dia 21 do mesmo mês, problemas de tradução voltaram a revelar-se nas relações entre o Kremlin e o Palcácio de Eliseu.
“A Rússia não chegou a acordo sobre a subsitituição das forças de manutenção da paz russa por forças da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, mas apenas manifestou estar pronta para interacção”, afirma o centro de imprensa do Kremlin.Desse modo, Moscovo vem desmentir o texto publicado pela presidência francesa de que Nicolas Sarkozy e Dmitri Medvedev tinham “concordado com a urgência da entrada em funcionamento de um mecanismo internacional controlado pela OSCE que substitua as patrulhas russas na zona de segurança a sul da Ossétia".“Durante a conversa telefónica de Dmitri Medvedev e de Nicolas Sarkozy, não se falou da substituição das forças russas de manutenção da paz na zona de segurança por forças da OSCE”, sublinha-se no comunicado publicado pelo Kremlin.
Esperemos que até ao dia 08 de Setembro, quando Nicolas Sarkozy virá a Moscovo acompanhado de Durão Barroso e Javier Solana, os dirigentes russos ponham “o francês em dia”.

12 comentários:

Anónimo disse...

Aplausos. Eu defendo a idéia do atual presidente da UE, Nicolas Sarkozy, a voar mais para Moscovo, para aprender russo. Lembrem-se do discurso de Medvedev: "...a unipolaridade é inaceitável..." nestes dias de hoje.

Fui apanhado por uma inesperada e brutal rouquidão, mas volto logo mais, pois os dedos estão bem para escrever.

Fernanda Valente disse...

Penso que se o presidente francês quisesse enfatizar o tipo de regime na Geórgia, teria dito "régime démocratique de Saakachvili" ou "régime autocratique de Saakachvili".
Ao deixar em aberto a caracterização do regime georgiano, através da expressão utilizada, e partindo do princípio de que Sarkozy terá à sua disposição todo um apoio logístico (assessores de imprensa, tradutores, consultores culturais)que, necessariamente, o iria alertar para essas ammbiguidades linguísticas, o seu objectivo terá mesmo sido o de causar o efeito que causou na pessoa de Putin.

Anónimo disse...

Poisé, isto das traduções tem o seu quê, mas de facto, também não faria mal aos franceses aprenderem russo, pois há muitos franceses que o dominam na perfeição. Já agora, caro José Milhases, será que ainda não vê que nos seus posts só se vislumbra um anti rússia( ou regime russo) e um, cada vez mais, pró norte-americana? Será que é admissivel o que a Geórgia fez na òssetia do Sul?
Alexandra

Anónimo disse...

Caro José Milhazes,

Já fiz esta pergunta mas não obtive resposta. Porque seu posicionamento deixa sempre transparecer, ser Anti-Rússia?

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caros leitores anónimos e não anónimos, vou responder só mais uma vez para quem não leu o que escrevi antes. Não tenho nada contra a Rússia e os russos, mas posso não estar de acordo com a direcção política russa. O que tem haver a ignorância no campo da língua francesa e a russofobia?
Cara Alexandra, só pessoas que lêem com pouca atenção o que escrevo podem afirmar que eu acho admissível o que a Geórgia fez na Ossétia do Sul.

Anónimo disse...

Sr. José Milhazes, com todo o respeito pelas opiniões de todos aqueles que aqui fazem comentários neste blog, cada um faz a interpretação que mais lhe interessa. Por isso, não deve procupar-se muito. Aproveito para lhe dar os meus parabens, já que nunca o fiz, por este seu espaço, que eu acredito, ser um bocadinho de todos nós leitores. Pela informação acerca da Europa de Leste aqui prestada e que em lingua Portuguesa é dificil encontrar noutro lado, sendo uma mais valia inestimável, na minha opinião, e seguramente de muitos mais. Grande abraço

Fernanda Valente disse...

Concordo e subscrevo o comentário de Sérgio sobre este blogue e o seu autor.
No espaço da blogosfera portuguesa (salvo raras excepções) em que os blogues mais visitados são meras extensões dos partidos políticos e em que é praticamente impossível exercer o direito ao contraditório nas caixas de comentários, sem se ser insultado ou votado à indiferença, este blogue destaca-se pela diferença; pelo nível de formação que apresenta o seu autor e respectivos comentadores.
Só pelo facto de podermos receber notícias fresquinhas vindas lá dos lados do Cáucaso e zonas adjacentes, já é para nós um privilégio.

Anónimo disse...

Cuidado, a analise não esta completamente correcta. O termo "régime de Gaulle" ou eventualmente "régime de Sarkozy", passa implicitamente a imagem de um certo autoritarismo, mesmo na língua francesa. (http://dictionnaire.tv5.org/dictionnaires.asp?Action=1&mot=regime&che=1)
é a isso que se refere a primeira definição de "régime": "sistema politico". Com sentido objectivo, é certo, mas também uma certa carga subjectiva.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Nuno, Sarkozy disse: le regime do Sr. Saakachvili".

Anónimo disse...

Tenho a concordar com os colegas Sérgio e Fernanda Valente, e que sinceramente prezo pela sempre coerência dos comentários e também parabenizo o José Milhazes por proporcionar um espaço onde há liberdade de expressão. Porém, não deixo de ressalvar que existe uma tendência Anti-Rússia, na maioria dos comentários que são postados aqui, salvo alguns posicionamentos imparciais. Infelizmente não se pode separar o País do Governo, por exemplo se os Estados Unidos for criticado, e quem o fizer, afirmar que critica o governo, o que vai mudar, pois são os governantes que conduzem a nação. O pior é que a mídia ajuda,pois poucas são as pessoas que realmente estão interessadas no que acontece no mundo, então se a notícia veículada e as opiniões, são como a maioria das que são postadas aqui, significa que as pessoas que desconhecem ou não tem oportunidade e meios de conhecerem plenamente o assunto ou o fato, vão acreditar na mídia e pronto. Vejo isso a 40 anos, tive a oportunidade de conviver no meio de duas formas políticas, ou dois regimes e hoje fico ouvindo e vendo os absurdos e mentiras que não manipulados pelos meios de imprensa, e como as gerações mais novas acreditam. Neste blog li citações de como os Russos são Traiçoeiros, Complexados ou sonho em ver tanques Americanos desfilando na Praça Vermelha. É clara a tendência da Rússia ser tratada e considerada como Vilã, e parece que se apagam todos os assassinatos cometidos pelos Estados Unidos nos últimos 60 anos. Foram 130 guerras ou invasões promovidas por este país. Em boa parte delas a NATO esteve envolvida. Agora me respondam, se atacar o Iraque foi justificável para derrubar um Ditador, porque nada se fez contra Franco? Quant0s milhares de pessoas foram assassinadas durante a Ditadura deste homem, fica um nome famoso para relembrar, Garcia Lorca,uma das primeiras vítimas famosas. Os Estados Unidos restabeleceram relações diplomáticas com Franco e nenhum Governo Europeu fez nada para derrubar o seu "REGIME". Quanto a Portugal, infelizmente Salazar, apesar do não reconhecimento oficial apoiou Franco, sob seu Governo, Portugal foi um dos Países fundadores da NATO e também foi ele que conduziu a Guerra Colonial onde milhares de cidadãos de Angola, Moçambique e Guiné foram mortos e isto a apenas 40 e poucos anos. Porque os males e ações negativas dos países Europeus se tornam esquecidos? Porque as ações brutais de invasão e confisco de soberanias realizadas pelos Estados Unidos não são debatidas e combatidas no Conselho de Segurança? Porque a primeira premissa é acusar e exigir da Rússia? Porque é a Rússia que pressiona a Europa, quando inúmeras bases Americanas inundam a Europa? O posicionamento das potências Européias já gerou sentimentos que levaram a duas Guerras Mundiais, Hitler pode ter sido um louco, mas a humilhação que se fez passar a Alemanha com o Tratado de Versalhes é muito parecido com o que a União Européia e os Estados Unidos promoveram contra a Rússia nos últimos 18 anos.

Anónimo disse...

"a humilhação que se fez passar a Alemanha com o Tratado de Versalhes é muito parecido com o que a União Européia e os Estados Unidos promoveram contra a Rússia nos últimos 18 anos."

Precisamente! Acho que boa parte do que se está a passar actualmente, e que a postura actual do Kremlin, derivam em boa parte da humilhação dos anos Yeltsin e do desrespeito a que foi votada a Rússia no campo internacional. Quando um país e um povo são humilhados e atingem "o fundo", os sentimentos negativos que se geram são perigosos, e nesta fase a Rússia está mais preocupada em ser temida do que em ser amada.
Putin i ego druzhok devem ter lido "O Príncipe".

Anónimo disse...

pois pois