segunda-feira, setembro 29, 2008

Resultados esperados nas eleições na Bielorrússia


Em conformidade com os dados oficiais prévios, a oposição bielorrussa não elegeu nenhum dos 110 deputados do Parlamento do país. Lídia Ermochina, dirigente da Comissão Eleitoral Central da Bielorrússia, atribuiu isso ao facto de "os eleitores recearem perder o que têm".
Não há dúvida que essa é uma razão que levou parte significativa do eleitorado bielorrusso a votar no regime existente, mas é difícil acreditar que essa seja a única razão que tenha levado a que a oposição bielorrussa não tenha eleito sequer um candidato seu.
É preciso ter em conta que, em regimes como na Bielorrússia ou Rússia, a oposição tem um acesso muito restrito aos órgãos de comunicação social, principalmente à televisão, e as campanhas eleitorais são realizadas em condições muito desiguais. Alguns dos mais importantes dirigentes da oposição bielorrussa saíram da prisão nas vésperas do escrutínio.
Não se pode deixar de chamar a atenção para o facto de 25% dos eleitores inscritos nas listas terem votado antecipadamente. A votação antecipada, que teve início no dia 23 de Setembro, é um fenómeno aberrante em democracia se não for bem controlada. Ora os observadores internacionais não acompanham esse processo, podendo ter sido utilizado pelas autoridades para distorcer a vontade dos eleitores.
Em relação aos observadores, é de assinalar também que, na sua esmagadora maioria, eles chegam um ou dois dias antes do escrutínio, não monitorizando de forma séria a campanha eleitoral.
É também de realçar o facto de a oposição bielorrussa estar muito dividida. Embora ela abranja sectores políticos tão diferentes como liberais, sociais-democratas e comunistas, não soube tomar uma decisão una face ao boicote ou não do acto eleitoral.
O Presidente da Bielorrússia, Alexandre Lukachenko, consegue manter o apoio de parte significativa da população significativamente graças aos êxitos económicos baseados no baixo preço dos combustíveis russos, mas sabe que a factura a pagar por isso é a submissão ao Kremlin. Por isso, tenta aproximar-se da União Europeia e dos Estados Unidos para equilibrar o fiel da balança.
Adepto de Hitler e Estaline, o dirigente Lukachenko tentará agora aproveitar ao máximo as contradições entre a Rússia e o Ocidente, que aumentaram bruscamente após a guerra na Geórgia, para se manter no poder. Dizendo-se partidário da união da Rússia e Bielorrússia, tem feito muito para que isso não aconteça, pois essa aliança poderá transformá-lo num dirigente de nível regional. Mas Moscovo também sabe com quem trata, por isso continua a utilizar bem a alavanca dos preços dos combustíveis a vender a Minsk.
A oposição a Lukachenko está convencida de que o Ocidente irá sacrificá-la a ela e o futuro democrático e pluralista do país em nome da aproximação da Bielorrússia à UE e aos EUA, receio com fundamento. É a chamada "política real".

12 comentários:

Anónimo disse...

Ora aì esta um político que governa (bem) para si próprio. Ao menos este não entra em jogos perigosos como o Sr.Sackashvili que quase acabam numa guerra mundial.

Anónimo disse...

Mais um bandido perigoso que está no poder. Como é possivel que a oposição não consiga um misero lugar? Nem Hitler e Estaline conseguiram melhor, igual só na coreia do norte.

Corrupção, corrupção e medo, é a resposta para tal votação.

O que dizem os "democratas" que por aqui passeiam a sua demagogia?

PauerBoy disse...

Estes resultados, são o reflexo turvo do espelho politico/social de um pais governado por um regime autoritário, antidemocrático que pratica constantemente graves atropelos aos direitos humanos, e que vive geograficamente mal, entre a UE e a Rússia Fed. Corro o risco de me tornar repetitivo, mas pergunto novamente, - Para quando uma politica de defesa única e séria na UE ? A Belarus faz actualmente fronteira física com 3 Paises da UE.

Anónimo disse...

Defesa única e séria da UE contra qual ameaça? Historicamente, a Rússia não tem o hábito de atacar a Europa Ocidental...

Anónimo disse...

A democracia funcionou na Bielorrúsia.
Ou têm dúvidas?

Anónimo disse...

Era uma vez um grande líder que vivia no maior país daquele mundo. Este grande líder tinha caracteristicas especiais, havia sido um agente do KGB se calhar com algumas mortes no curriculum, possuia uma grande frieza de caracter, muito apropriado ao seu país, e um sonho que há já muito acalentava. Sonhava um dia ser aceite como igual e repeitado pelos seus arqui-rivais do Ocidente. Não é que lhe faltasse amigos neste vasto mundo. O seu melhor amigo o líder de um país vizinho era um bocado xoné, e vivia um pouco fixado no passado, o outro seu amigo que vivia num outro continente era um bocado belicoso e não perdia uma oportunidade para ameaçar uns e outros e fazer discursos longos e muito chatos, depois havia um outro que apenas queria lançar as mãos a umas centrais nucleares ainda que para fins estritamente civis, era obcecado por essa ideia. Diga-se, que realmente, todos os seus amigos eram um pouco agressivos,e ele estava um pouco cansado deles. O que queria verdadeiramente era fazer parte da nata dos dirigentes mundiais, poder fazer asneiras como o Bush durante anos a fios, sem grandes consequencias para a sua pessoa, um intocável, era isso que ele queria ser. Mas apesar de ser um dirigente de um grande país isso não o ajudava a atingir o seu objectivo, por isso decidiu um dia por em pratica um plano ousado para conseguir atingi-lo. Começou por acrescentar mais umas mortes ás já referidas, eliminado uns tipos que lhe tinham feito frente, anexou uns territórios a um dos seus vizinhos, e depois a outro com o argumento de era necessário proteger os seus cidadãos nessas regiões. Depois arranjou um aliado estratégico, de peso, que sabia ter ainda mais ressentimento do que ele contra o Ocidente. Prestou auxilio tecnologico, e apoiou esse seu novo amigo, porque saberia que um dia ele iria ajuda-lo na concretização do seu sonho. Mas como as coisas avançavam muito devagar e eu já estou cansado de escrever, para abreviar,um dia cansou-se e lançou uma guerra mundial com os seus amigos,e acabou por limpar o sebo a alguns daqueles dirigentes que tanto invejava e por perder alguns daqueles amigos que não lhe faziam tanta falta assim. Moral da história: Não podemos renegar a nossa natureza, nem desejar aquilo que já não existe. Boa noite

Anónimo disse...

http://revolucionaria.wordpress.com/

Anónimo disse...

Oh meu caro, nos Estados-Unidos também já começaram a votar para as eleições de 4 de Novembro.

E além do mais não vai para lá nenhuma organização para verificar se as eleições são livres e democráticas, principalmente no Estado da Florida.

Deixem os povos aprenderem por si próprios!

Anónimo disse...

o sr sergio tem uma imaginação fertil

Anónimo disse...

Já que o Sr. José Milhazes anda ocupado, e já que tenho uma imaginação fértil aqui fica a minha visão de qual deverá ser a repartição de poder no mundo nos próximos anos. Em primeiro, pelo menos espero, teremos a UE alargada até ás fronteiras da Rússia, incluindo países como a Ucrânia, os países do Caucaso e Turquia. Interessante será ver até que ponto a parceria EURO-MED irá vingar, parceria essa que eu considero importante para todos os países envolvidos, assegurando aos do Sul um maior desenvolvimento, á UE uma diversificação nas suas fontes de recursos, e uma maior coordenação em toda esta zona que se deverá traduzir-se em uma segurança reforçada. Depois teremos os EUA, com uma economia menor que aquela que já teve, com ambições regionais, e aqui é que acho que se devem concentrar sob pena de até esta influencia perderam. A área de actuação normal dos EUA na América do Norte deve ser o seu principal objectivo, reforçando a sua esfera de influencia sobre o Canada e México, e deverão reflectir sobre algumas das decisões que tomaram nos últimos anos. Penso que a influencia dos EUA já não abarcará os países do UNASUL, ideia que será de dificil digestão para eles, mas penso que ainda poderão abarcar a América Central, assim o queiram. Resta-nos então a Àsia, a África Negra e a Rússia. Na Ásia penso que existirão dois polos principais em volta dos quais os outros países se organizarão. Um deles a China e o outro a India. A India pelas últimas noticias prepara-se para ser o aliado de confiança na zona dos EUA, e tenderá a agregar países em seu redor que tenham em primeiro lugar uma relação forte com os EUA, e em segundo um tipo de regime democrático como a maior democracia do mundo, podendo mesmo usar das relações anglófonas com muitos dos países da região, constituindo assim um arco desde o Afeganistão, até ao japão, incluindo a maioria da ASEAN e Austrália. A China pelo contrário com um regime autoritário deverá constituir um grupo a partir do actual Grupo de Xangai, faltando saber se a Rússia entrará nessa parceria privilegiada com a China, parecendo-me que sim se a UE lhe negar essa posição, podendo juntar-se ao grupo o Irão. A África continuará a ser o elo mais fraco, existindo no entanto a SADC que poderá se as coisas correrm bem imprimr a essa zona uma maior integração. O Médio Oriente com excepção dos países referidos continuarão a serem muito importantes em termos de abastecimento mundial para entrarem nestas disputas pelo poder a nivel regional.

Anónimo disse...

Qual a democracia palhaça dos EUA em que o pessoal é obrigado a "escolher" entre 2 partidos quase, quase iguais?
Qual a democracia das democracias em que os media são controlados por quem controla o poder?
Quem ousa dizer que tem liberdade de escolha?
O que pensamos e o que desejamos é criteriosamente moldado numa fábrica de sonhos legitimados e sobre os quais niguem tem palavra.

Acabem com a palhaçada e verifiquem que tudo isto não tem nada a ver com o respeito pelas pessoas, mas sim com a ganância de uns poucos.

E deixem de chamar a russia inimiga da Europa. O inimigo da Europa é tão só os EUA que vivem na ânsia de impedir que os europeus finalmente se juntem e decidam por si o que fazer

Anónimo disse...

Caros amigos para vossa reflexão, transcrevo este artigo da autoria de Antonio Martins, esperando que o sr. José M. não se importe.

ESPECIAL
Para compreender a crise financeira
Mercados internacionais de crédito entraram em colapso e há risco real de uma corrida devastadora aos bancos. Por que o pacote de 700 bilhões de dólares, nos EUA, chegou tarde e é inadequado. Quais as causas da crise, e sua relação com o capitalismo financeirizado e as desigualdades. Há alternativas?

Antonio Martins

(06/10/2008)

Segunda-feira, 6 de outubro. No momento em que esta nota é redigida, há uma onda de pânico percorrendo o sistema financeiro em todo o mundo. A crise iniciada há pouco mais de um ano, no setor de empréstimos hipotecários dos Estados Unidos, viveu dois repiques, nos últimos dias. Entre 15 e 16 de setembro, a falência de grandes instituições financeiras norte-americanas [1] deixou claro que a devastação não iria ficar restrita ao setor imobiliário. No início de outubro, começou a disseminar-se a sensação de que o pacote de 700 bilhões de dólares montado pela Casa Branca para tentar o resgate produziria efeitos muito limitados. Concebido segundo a lógica dos próprios mercados (o secretário do Tesouro, Henry Paulson, é um ex-executivo-chefe do banco de investimentos Goldman Sachs), o conjunto de medidas socorre com dinheiro público as instituições financeiras mais afetadas, mas não assegura que os recursos irriguem a economia, muito menos protege as famílias endividadas.

Deu-se então um colapso nos mercados bancários, que perdura até o momento. Apavoradas com a onda de falências, as instituições financeiras bloquearam a concessão de empréstimos – inclusive entre si mesmas. Este movimento, por sua vez, multiplicou a sensação de insegurança, corroendo o próprio sentido da palavra crédito, base de todo o sistema. A crise alastrou-se dos Estados Unidos para a Europa. Em dois dias, cinco importantes bancos do Velho Continente naufragaram [2].

Muito rapidamente, o terremoto financeiro começou a atingir também a chamada “economia real”. Por falta de financiamento, as vendas de veículos caíram 27% (comparadas com o ano anterior) em setembro, recuando para o nível mais baixo nos últimos 15 anos. Em 3 de outubro, a General Motors brasileira colocou em férias compulsórias os trabalhadores de duas de suas fábricas (que produzem para exportação), num sinal dos enormes riscos de contágio internacional. Diante do risco de recessão profunda, até os preços do petróleo cederam, caindo neste 6/10 a 90 dólares por barril – uma baixa de 10% em apenas uma semana. A tempestade afeta também o setor público. Ao longo da semana, os governantes de diversos condados norte-americanos mostraram-se intranqüilos diante da falta de caixa. O governador da poderosa Califórnia, Arnold Schwazenegger, anunciou em 2 de outubro que não poderia fazer frente ao pagamento de policiais e bombeiros se não obtivesse, do governo federal, um empréstimo imediato de ao menos 7 bilhões de dólares.
Desconfiados da solidez dos bancos, os correntistas podem sacar seus depósitos, o que provocaria nova onda de quebras e devastaria a confiança na própria moeda. Em tempos de globalização, seria “a mãe de todas as corridas contra os bancos”

Nos últimos dias, alastrou-se o pavor de algo nunca visto, desde 1929: desconfiados da solidez dos bancos, os correntistas poderiam sacar seus depósitos, o que provocaria nova onda de quebras e devastaria a confiança na própria moeda. Em tempos de globalização, seria “a mãe de todas as corridas contra os bancos”, segundo a descreveu o economista Nouriel Roubini, que se tornou conhecido por prever há meses, com notável precisão, todos os desdobramentos da crise atual.

Os primeiros sinais deste enorme desastre já estão visíveis. Em 2 de outubro, o Banco Central (BC) da Irlanda sentiu-se forçado a tranqüilizar o público, anunciando aumento no seguro estatal sobre 100% dos depósitos confiados a seis bancos. Na noite de domingo, foi a vez de o governo alemão tomar atitude semelhante. Mas as medidas foram tomadas de modo descoordenado, porque terminou sem resultados concretos, no fim-de-semana, uma reunião dos “quatro grandes” europeus [3], convocada pelo presidente francês, para buscar ações comuns contra a crise. Teme-se, por isso, que as iniciativas da Irlanda e Alemanha provoquem pressão contra os bancos dos demais países europeus, onde não há a mesma garantia. Além disso, suspeita-se que as autoridades estejam passando um cheque sem fundos. Na Irlanda, o valor total do seguro oferecido pelo BC equivale a mais do dobro do PIB do país...

Também neste caso, os riscos de contágio internacional são enormes. Roubini chama atenção, em especial, para as linhas de crédito no valor de quase 1 trilhão de dólares entre os bancos norte-americanos e instituições de outros países. É por meio deste canal, hoje bloqueado, que o risco de quebradeira bancária se espalha pelo mundo. Mesmo em países menos próximos do epicentro da crise, como o Brasil, as conseqüências já são sentidas. Na semana passada, o Banco Central viu-se obrigado a estimular os grandes bancos, por meio de duas resoluções sucessivas, a comprar as carteiras de crédito dos médios e pequenos – que já enfrentam dificuldades para captar recursos.

Em conseqüência de tantas tensões, as bolsas de valores da Ásia e Europa estão vivendo, hoje (6/10), mais um dia de quedas abruptas. Na primeira sessão após a aprovação do pacote de resgate norte-americano, Tóquio perdeu 4,2% e Hong Kong, 3,4%. Quedas entre 7% e 9% ocorreram também em Londres, Paris e Frankfurt. Em Moscou, a bolsa despencou 19%. Em todos estes casos, as quedas foram puxadas pelo desabamento das ações de bancos importantes. Em São Paulo, onde o pregão ainda está em andamento, os negócios foram interrompidos duas vezes, quando quedas drásticas acionaram as regras que mandam suspender os negócios em caso de instabilidade extrema. Apesar da intervenção do Banco Central, o dólar acumulava alta de mais de 5% às 13h, subindo a R$ 2,13.
Até o momento, tem prevalecido, entre os governos, uma postura um tanto curiosa: eles abandonam às pressas o discurso da excelência dos mercados, apenas para... desviar rios de dinheiro público às instituições dominantes destes mesmos mercados

A esta altura, todas as análises sérias coincidem em que não é possível prever nem a duração, nem a profundidade, nem as conseqüências da crise. Nos próximos meses, vai se abrir um período de fortes turbulências: econômicas, sociais e políticas. As montanhas de dinheiro despejadas pelos bancos centrais sepultaram, em poucas semanas, um dogma cultuado pelos teóricos neoliberais durante três décadas. Como argumentar, agora, que os mercados são capazes de se auto-regular, e que toda intervenção estatal sobre eles é contra-producente?

Mas, há uma imensa distância entre a queda do dogma e a construção de políticas de sentido inverso. Até o momento, tem prevalecido, entre os governos, uma postura um tanto curiosa: eles abandonam às pressas o discurso da excelência dos mercados, apenas para... desviar rios de dinheiro público às instituições dominantes destes mesmos mercados.

O pacote de 700 bilhões de dólares costurado pela Casa Branca é o exemplo mais acabado deste viés. Nouriel Roubini considerou-o não apenas “injusto”, mas também “ineficaz e ineficiente”. Injusto porque socializa prejuízos, oferecendo dinheiro às instituições financeiras (ao permitir que o Estado assuma seus “títulos podres”) sem assumir, em troca, parte de seu capital. Ineficaz porque, ao não oferecer ajuda às famílias endividadas — e ameaçadas de perder seus imóveis —, deixa intocada a causa do problema (o empobrecimento e perda de capacidade aquisitiva da população), atuando apenas sobre seus efeitos superficiais. Ineficiente porque nada assegura (como estão demonstrando os fatos dos últimos dias) que os bancos, recapitalizados em meio à crise, disponham-se a reabrir as torneiras de crédito que poderiam irrigar a economia. Num artigo para o Financial Times (reproduzido pela Folha de São Paulo), até mesmo o mega-investidor George Soros defendeu ponto-de-vista muito semelhantes, e chegou a desenhar as bases de um plano alternativo.

Outras análises vão além. Num texto publicado há alguns meses no Le Monde Diplomatique, o economista francês François Chesnais chama atenção para algo mais profundo por trás da financeirização e do culto à auto-suficiência dos mercados. Ele mostra que as décadas neoliberais foram marcadas por um enorme aumento na acumulação capitalista e nas desigualdades internacionais. Fenômenos como a automação, a deslocalização das empresas (para países e regiões onde os salários e direitos sociais são mais deprimidos) e a emergência da China e Índia como grandes centros produtivos rebaixaram o poder relativo de compra dos salários. O movimento aprofundou-se quando o mundo empresarial passou a ser regido pela chamada “ditadura dos acionistas”, que leva os administradores a perseguir taxas de lucros cada vez mais altas. O resultado é um enorme abismo entre a a capacidade de produção da economia e o poder de compra das sociedades. Na base da crise financeira estaria, portanto, uma crise de superprodução semelhante às que foram estudadas por Marx, no século retrasado. Ao liquidar os mecanismos de regulação dos mercados e redistribuição de renda introduzidos após a crise de 1929, o capitalismo neoliberal teria reinvocado o fantasma.
Wallerstein vê nos sistemas públicos de Saúde, Educação e Previdência algo que pode ser multiplicado, e que gera relações sociais anti-sistêmicas. Se todos tivermos direito a uma vida digna, quem se preocupará em acumular dinheiro?

Marx via nas crises financeiras os momentos dramáticos em que o proletariado reuniria forças para conquistar o poder e iniciar a construção do socialismo. Tal perspectiva parece distante, 125 anos após sua morte. A China, que se converteu na grande fábrica do mundo, é governada por um partido comunista. Mas, longe de ameaçarem o capitalismo, tanto os dirigentes quanto o proletariado chinês empenham-se em conquistar um lugar ao sol, na luta por poder e riqueza que a lógica do sistema estimula permanentemente.

Ao invés de disputar poder e riqueza com os capitalistas, não será possível desafiar sua lógica? O sociólogo Immanuel Wallerstein, uma espécie de profeta do declínio norte-americano, defendeu esta hipótese corajosamente no Fórum Social Mundial de 2003 - quando George Bush preparava-se para invadir o Iraque e muitos acreditavam na perenidade do poder imperial dos EUA. Em outro artigo, publicado recentemente no Le Monde Diplomatique Brasil, Wallerstein sugere que a crise tornará o futuro imediato turbulento e perigoso. Mas destaca que certas conquistas sociais das últimas décadas criaram uma perspectiva de democracia ampliada, algo que pode servir de inspiração para caminhar politicamente em meio às tempestades. Refere-se à noção segundo a qual os direitos sociais são um valor mais importante que os lucros e a acumulação privada de riquezas. Vê nos sistemas públicos (e, em muitos países, igualitários) de Saúde, Educação e Previdência algo que pode ser multiplicado, e que gera relações sociais anti-sistêmicas. Se a lógica da garantia universal a uma vida digna puder ser ampliada incessantemente; se todos tivermos direito, por exemplo, a viajar pelo mundo, a sermos produtores culturais independentes e a terapias (anti-)psicanalíticas, quem se preocupará em acumular dinheiro?

O neoliberalismo foi possível porque, no pós-II Guerra, certos pensadores atreveram-se a desafiar os paradigmas reinantes e a pensar uma contra-utopia. Num tempo em que o capitalismo, sob ameaça, estava disposto a fazer grandes concessões, intelectuais como o austríaco Friederich Hayek articularam, na chamada Sociedade Mont Pelerin, a reafirmação dos valores do sistema [4]. Seus objetivos parecem hoje desprezíveis, mas sua coragem foi admirável. Eles demonstraram que há espaço, em todas as épocas, para enfrentar as certezas em vigor e pensar futuros alternativos. Não será o momento de construir um novo pós-capitalismo?


[1] Em 12/9, o banco de investimentos Lehman Brothers quebrou, depois que as autoridades monetárias recusaram-se a resgatá-lo. No mesmo dia, o Merrill Lynch anunciou sua venda para o Bank of America. Em 15/9, a mega-seguradora AIG (a maior do mundo, até há alguns meses) anunciou que estava insolvente, sendo nacionalizada no dia seguinte com aporte estatal de US$ 85 bilhões

[2] O Fortis foi semi-nacionalizado pelos governos da Holanda, Bélgica e Luxemburgo. O Dexia recebeu uma injeção de 6,4 bilhões de euros, patrocinada pelos governos da França e Bélgica. O Reino Unido nacionalizou o Bradford & Bingley (especialista em hipotecas), vendendo parte de seus ativos para o espanhol Santander. O Hypo Real Estate segundo maior banco hipotecário alemão entrou numa operação de resgate cujo custo podia chegar a 50 bilhões de euros, mas cujo sucesso ainda não estava assegurado, em 5/9. A Islândia nacionalizou o Glitnir, seu terceiro maior banco

[3] Alemanha, França, Reino Unido e Itália, os membros europeus do G-8

[4] Sobre a contra-utopia hayekiana, ler, no Le Monde Diplomatique, “Pensando o Impensável” , de Serge Halimi