segunda-feira, novembro 24, 2008

"RÚSSIA" de Alexandre Blok (1880-1921)


Publico aqui o poema "Rússia", escrito por um dos maiores poetas russos do séc. XX, Alexandre Blok. A tradução é do meu saudoso amigo José Sampaio Marinho.

Esvoaçam três tirantes,
Como nos anos dourados,
Cravam-se as rodas chiantes
Nos sulcos enrodilhados...

Rússia, Rússia que lamento,
As tuas isbás sem cor,
As tuas canções ao vento
São pra mim prantos de amor!

Ter pena de ti não quero,
E carrego a minha vida...
Dá a qualquer feiticeiro
Tua beleza bandida!

Se te engana e te atraiçoa,
Não te perderás nos passos,
Só o cuidado enevoa
Esses teus formosos traços...

E então? É mais um cuidado –
Uma lágrima no rio,
E és a mesma – bosque, prado,
Xale de bordado frio...

E o impossível acontece,
O caminho longo é leve,
Quando na lonjura desce
Dos olhos o brilho breve,
Quando em tristeza fenece
A canção do almocreve...

9 comentários:

Anónimo disse...

E existe um outro que começa assim:
"Chorny Vecher, Byeli Sneg..."

Chama-se Os Doze. Muito bom, e eu nem gosto especialmente de poesia.

Anónimo disse...

Lindo!
Muita gente não sabe que o poema nacional da Rússia é ONEGIN de Pushkin, uma tragédia de amor. Vejam bem que o nosso é OS LUSÍADAS. Afinal, quem é romântico, quem é?

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro leitor anónimo, não quero fazer passar-me por mais patriota, mas nos Lusíadas há de tudo: tragédias de amor, heroísmo,etc., etc.
Mas o Evgueni Oneguin também é uma grande obra!

Anónimo disse...

Claro que para os elementos que estudaram no Instituto Estatal de Língua russa A. S. Pushkin, existe uma certa aversão atávica a este autor, merecida ou imerecidamente...

Aleksander Blok foi mais um dos desiludidos com o comunismo que se suicidou, a par do Mayakovsky. Pelo menos acabou com a própria vida sem esperar pelas purgas dos anos 30...

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Pippo, Alexandre Blok não se suicidou, mas morreu de doença, porque os bolcheviques não lhe deram autorização para se ir tratar ao estrangeiro.

Anónimo disse...

Ops, então devo ter lido mal. Tenho um livro (bilingue) de poemas russos e quer-me parecer que ele se tinha suicidado...

Anónimo disse...

Bem, acabei de ler na net. O homem morreu mesmo de doença... Vou ver o livro lá em casa, para ver se li mal.

Anónimo disse...

Caro JM:
eu não disse mal dos Lusíadas, aliás mais amoroso que Camões é impossível ser. Eu disse foi que o poema nacional russo é um poema de amor, não de conquista. Disse e mantenho. Debaixo do gelo, a alma russa é um vulcão pronto a explodir e estou a falar de sentimentos.
Agradeço-lhe o post de hoje sobre Pushkin.
Já agora, existe uma adaptação cinematográfica linda, inglesa, com Ralph Fiennes no papel principal. Se não viram, aconselho vivamente.

Rafael Ferrer disse...

http://obliterante.blogspot.com/

Experimental prose, hallucinated poetry, colective psychosis revealing texts