Os russos que têm disponibilidade financeira dão preferência a automóveis estrangeiros, mesmo que usados, em relação aos "Lada" e "Volga". Mas como é preciso salvar as fábricas onde são produzidos veículos russos, porque nelas trabalham dezenas de milhar de trabalhadores e delas dependem cidades inteiras, o Governo de Vladimir Putin decidiu aumentar as taxas sobre a importação de carros estrangeiros.
Esta contradição deu origem a um dos primeiros conflitos sociais após o início da crise financeira mundial.
A polícia dispersou hoje em Vladivostoque uma manifestação interdita contra o aumento das taxas sobre a importação de viaturas estrangeiras e pela redução do preço da gasolina, tendo detido numerosos participantes da manifestação.
Segundo as agências russas, cerca mil descontentes com o aumento das taxas juntaram-se na praça central de Vladivostoque, cidade do Extremo Oriente russo. A polícia exigiu que os participantes na manifestação não autorizada dispersassem e acabou por carregar quando a ordem não foi cumprida.
Dmitri Iukhnovitch, repórter da agência Interfax no local, declarou à rádio Eco de Moscovo que "a polícia agiu com muita dureza tanto contra os manifestantes, como contra os jornalistas. A polícia de choque OMON tirou máquinas fotográficas e câmaras de filmar aos jornalistas, espancou com cacetetes e a pontapé, dezenas de pessoas foram detidas".
A manifestação tinha por objectivo fazer o Governo russo anular a decisão proteccionista que visa duplicar as taxas de importação sobre os veículos ligeiros e triplicar sobre os pesados, bem como reduzir o preço dos combustíveis.
A decisão do Governo desencadeou uma onda de protestos em várias cidades do Extremo Oriente russo, porque mais de 90% das viaturas nesse território são automóveis japoneses usados.
Segundo as agências russas, cerca mil descontentes com o aumento das taxas juntaram-se na praça central de Vladivostoque, cidade do Extremo Oriente russo. A polícia exigiu que os participantes na manifestação não autorizada dispersassem e acabou por carregar quando a ordem não foi cumprida.
Dmitri Iukhnovitch, repórter da agência Interfax no local, declarou à rádio Eco de Moscovo que "a polícia agiu com muita dureza tanto contra os manifestantes, como contra os jornalistas. A polícia de choque OMON tirou máquinas fotográficas e câmaras de filmar aos jornalistas, espancou com cacetetes e a pontapé, dezenas de pessoas foram detidas".
A manifestação tinha por objectivo fazer o Governo russo anular a decisão proteccionista que visa duplicar as taxas de importação sobre os veículos ligeiros e triplicar sobre os pesados, bem como reduzir o preço dos combustíveis.
A decisão do Governo desencadeou uma onda de protestos em várias cidades do Extremo Oriente russo, porque mais de 90% das viaturas nesse território são automóveis japoneses usados.
Isso faz com que o aumento da taxa de importação ponha em risco um grande número de empregos ligados a esse negócio.
Quanto ao preço dos combustíveis, a situação é espantosa. Num país muito rico em petróleo, o preço da gasolina e do gasóleo aproxima-se a passos largos dos valores praticados em Portugal e nem sequer desce quando caem os preços mundiais dos hidrocarbonetos. Os consumidores russos estão a pagar os prejuízos que as petrolíferas sofrem com a quebra das exportações.
Além das reivindicações de carácter económico, os manifestantes em Vladivostoque exigiram também a demissão do governo de Vladimir Putin que, na semana passada, apelou aos russos a preferirem os automóveis nacionais aos estrangeiros.
Manifestações de automobilistas descontentes realizaram-se em mais de 30 cidades do país.
Segundo a agência Interfax, alguns condutores foram multados por buzinarem e terem palavras de ordem coladas nos vidros dos carros.
Em Moscovo, a manifestação de protesto juntou mais de cem automobilistas, sendo várias vezes mais numerosa a quantidade de polícias presentes no local.
"A nova taxa fará o preço dos automóveis usados subir de 05 para 14 mil euros. Se isso fosse feito na Alemanha, meio país sairia à rua", declarou Serguei Kanaev, dirigente da Federação dos Automibilistas da Rússia.
Além das reivindicações de carácter económico, os manifestantes em Vladivostoque exigiram também a demissão do governo de Vladimir Putin que, na semana passada, apelou aos russos a preferirem os automóveis nacionais aos estrangeiros.
Manifestações de automobilistas descontentes realizaram-se em mais de 30 cidades do país.
Segundo a agência Interfax, alguns condutores foram multados por buzinarem e terem palavras de ordem coladas nos vidros dos carros.
Em Moscovo, a manifestação de protesto juntou mais de cem automobilistas, sendo várias vezes mais numerosa a quantidade de polícias presentes no local.
"A nova taxa fará o preço dos automóveis usados subir de 05 para 14 mil euros. Se isso fosse feito na Alemanha, meio país sairia à rua", declarou Serguei Kanaev, dirigente da Federação dos Automibilistas da Rússia.
Embora não se possa falar de manifestações de grande envergadura, pois o número de polícias mobilizados para a segurança foi bem maior do que os descontentes, estes protestos são um sinal de que o descontentamento social aumenta no país.
21 comentários:
Será que Putin e sua currióla andam de Lada?
No dia que ele começar a andar de Zhiguli ele terá autoridade moral para aconselhar o povo a preferir os lindos e maravilhosos carros nacionais.
Gilberto, é impossível não estar de acordo consigo. O problema reside em que se continua no "olha para o que eu digo, mas não para o que faço".
Aqui no Brasil, nos tempos da Perestroika, foram importados alguns Lada e, se não me falha a memória, alguns Niva. Como a URSS caiu logo depois, eles logo pararam no ferro-velho pela ausência de peças de reposição. Eu, por exemplo, tenho um vizinho que tem um Lada, ou pelo menos tem a estrutura de um, porque suas peças são todas adaptadas de outros carros, pelo menos a lataria dele está inteira.
O Brasil, ao contrário da Rússia, não possui uma indústria automoblística ruim porque ele sequer possui uma. As grandes montadoras que aqui existem são todas estrangeiras - a Volkswagen foi a primeira, seguida pela GM, Ford, Fiat e depois por quase todas as outras grandes. Elas foram instaladas a partir do fim dos anos 50 pelo governo Kubitschek, em um período em que o processo de industrialização nacional atingiu
uma velocidade muito grande.
Não questiono essa medida, mas que o Estado brasileiro poderia ter ao lado disso, dado apoio para a construção de uma estrutura de produção automobilítica própria, sim, ele poderia - houve até uma fábrica nacional, a Gurgel, que faliu por puro desinteresse do Estado em apoiá-la.
O caso russo é, obviamente, diferente; sua indústria automobística nasce nos tempos do Socialismo e sempre se mostrou ineficiente, mas pelo menos era nacional e o Estado soviético não gastou dinheiro apoiando indústrias estrangeiras que no fim das contas remetiam para os países de origem. Em troca de carros razoáveis o Brasil ajudou a financiar o desenvolvimento da Alemanha, da Itália e dos EUA, ainda que tivesse recursos humanos e naturais de fazer isso por si próprio.
A medida protecionista de Putin, no entanto, é uma faca de dois gumes: Se o Estado russo tiver algum plano para desenvolver a indústria automoblística local, sobretaxar os importados é uma boa idéia, do contrário, pode ser um tiro no próprio pé. Ainda assim, com o preço dos hidrocarbonetos desabando, não dá pra saber até quando a Rússia vá ter condições para importar tanta coisa sem abalar a própria estabilidade econômica por conta de um desequilíbrio na balança comercial.
A verdade é que a Rússia precisa desenvolver sua indústria nacional; o protecionismo pelo protecionismo, claro, não resolve nada e a própria história russa prova isso, mas se por detrás disso o Estado russo tiver algum projeto, ele simplesmente estará fazendo o que os países desenvolvidos em algum momento fizeram para desenvolver sua indústria nacional.
Caro Hugo Albuquerque, era preciso pensar na modernização quando havia muito dinheiro do petróleo e o gás. Claro que o Governo russo tem de apoiar a indústria automobilística, pois, como já disse, há cidades inteiras que dependem dela.
Na Rússia, entre a herança do comunismo, há coisas muito pesadas como as cidades que dependem de uma ou de duas empresas. Há 70 cidades russas assim. Se fechar uma fábrica, a cidade deixa de ter meios de subsistência. Daí a necessidade de diversificar a economia, que devia ter sido iniciada há muito.
José Milhazes,
De fato, Putin poderia ter aproveitado o momento da alta do petróleo e do gás para diversificar a economia, mas nunca é tarde e sempre é necessário fazê-lo.
É claro que essa medida é de natureza truculenta e está mais conectada à questão do impacto imediato da queda dos hidrocarbnetos na balança comercial do que a um plano que tenha em vista o médio prazo. Ainda assim, se bem utizado pode ser útil.
Se a alta dos hidrocarbonetos que se mostrava há pouco também gerava recursos que poderiam ser usados para a diversificação da indústria nacional russa, por outro lado ela estimulava a estagnação da mesma pela comodidade que implicava usar tais recursos para simplesmente importar produtos de boa qualidade - e é bom lembrar que esse fenômeno é frequente em países superavitários em hidorcarbonetos ao longo da história.
A crise mundial, portanto, traz novos problemas, mas também traz novas possibilidades, que se bem trabalhadas pode inclusive corrigir o modelo de desenvolvimento de muitos países - assim como a crise de 29 colaborou no Brasil para falir a Oligarquia rural que atrasava a industrialização nacional e possibilitar que tal processo finalmente pudesse ir adiante.
Quanto ao caso das indústrias russas manterem cidades inteiras creio que, apesar da singularidade do caso, ainda assim ele se repete pelo mundo em menor grau; veja só a situação de estados americanos como o Michigan, que viu suas fábricas automobilísticas simplesmente irem embora e junto com isso a constatação de um violento processo de estagnação econômica da região e desagregação social. Se o Governo dos EUA tivesse intervido na situação, a história poderia ser outra.
Sinceramente, não vejo nada para criticar na medida. As importações não foram proibidas, apenas mais taxadas. O mesmo deve acontecer em todos os lados durante a crise. Quem quer estrangeiro, paga mais. É justo!
O problema maior, é que uma Lada sai da fábrica já meio avariada, após fazer não sei quantos km entre a cidade de Zhyguli até o Vladivostok, o carro necessita de uma reparação aqui e ali...
Uma boa "Toyota" após 5 anos do uso no Japão é usada na Rússia por mais 10 - 15 anos, é vendida para o campo e ainda trabalha lá com as dificuldades uns 5 anos...
Com uma fortíssioma disparidade entre o preço & qualidade, quem vai querer andar de Lada & Volga?
p.s.
para que seja anotado: são palavras das pessoas que vivem em Vladivostok, a cidade onde 95% do parque automóvel são carros usados do Japão & Coreia.
Comunidade Vladivostok no LiveJournal:
http://community.livejournal.com/vladivostok
Polícia prende não apenas os manifestantes, mas os jornalistas também, até qualquer pessoa com a câmara de vídeo. O Canal de TV "Primorye" informa que entre os jornalistas presos estão: equipas de canal de TV "Rossija", NTV, 1º Canal, TVC, NHK (Japão), josrnaistas do "Izvestiia" e agência "Interfax".
http://drugoi.livejournal.com/2803783.html
p.s. nas fotos se vé que a polície de intervenção rápida em Vladivostok é o "Zubr" da cidade de .... Moscovo, parece que o regime não confia no OMON local...
- Chamem a ambulância. Aqui a pessoa passa mal, - alguém falou com OMON.
- Facharam as goelas, todos, grunhos, - gritou o polícia. – Aqui não há pessoas. Pessoas estão em casa, enquanto vocês aqui – animais e grunhos.
http://dv.kp.ru/daily/24218/420571
n.b. Jornal "Komsomolskaya Pravda" é o jornal do regime, não é da oposição.
Estes automobilistas fizeram o que nós cá em Portugal deveríamos fazer em relação ás gasolineiras.
Cumpts
Manuel Santos
Hugo Albuquerque disse:
"(...) o Estado brasileiro poderia ter dado apoio para a produção automobilítica própria (...) houve até uma fábrica nacional, a Gurgel, que faliu por puro desinteresse do Estado em apoiá-la."
O problema da Gurgel não foi falta de apoio, pelo contrário, apoio não lhe faltou. O problema é que eles torravam dinheiro público fabricando lixo. Os fabricantes nacionais russos pelo menos vendem seus lixos a um preço razoável. A Gurgel vendia lixo a preço de ouro.
À parte às fracassadas tentativas de se ter uma marca automobilística nacional, construiu-se aqui um respeitável parque de autopeças. Empresas como COFAP, Metal Leve e outras, foram vendidas às multinacionais nos governos Itamar Franco e FHC. Este último, aliás, foi um maldito colonizado e representou a desgraça para a empresa nacional.
Quem esteve em Moscou nos últimos anos, entende que houve um abuso na importação de carros importados. Por outro lado, o governo teve a preocupação de condicionar aos exportadores a produção de parte de seus veículos na Rússia, para que pudessem exportar pagando imposto menor. Há uma grande quantidade de veículos de marca estrangeira fabricados na Rússia: FORD, Renault, Hyundai, Kia, etc.
Meu caro Anônimo,
"Apoio" implica em ter uma política estratégica efetiva para uma determinada área. O Estado brasileiro soube muito bem desenvolver áreas como a prospecção de petróleo ou as telecomunicações como também fez das tripas coração para montar uma infra-estrutura capaz de recepcionar as montadoras estrangeiras; no entanto, ele desdenhou sim a importância de se montar uma estrutura própria de produção automobilística. A Gurgel, obviamente, tinha um custo benefício desfavorável - do contrário não teria quebrado -, então que se interviesse ou que se elaborasse uma parceria para desenvolvê-la, mas nada disso aconteceu.
Caro Milhazes. É que essa coisa de governos dizendo o que o cidadão deve fazer, se instrometendo até em suas preferencias, me cheira muito mal.
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Anónimo,
Os Ladas não são baratos. Um Lada novo novo está na mesma faixa de preço de um Renault popular novo. [não sei exatamente, mas é caro sim]
Todos os países em desenvolvimento devem proteger sua indústria, os países desenvolvidos assim o fizeram, muito embora hoje defendam o livre comércio para todos, não foi dessa forma que conseguiram se industrializar.
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No Brasil, o governo Fernando Henrique (1994/2002) promoveu uma abertura desastrada, que eliminou inúmeras indústria nacionais, a pretexto de modernizar a economia. O nacionalismo econômico existe e todos os países agem dessa forma.
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Já tive um Lada durante cinco anos, fiz com ele inúmeras viagens, uma delas de três meses ao Nordeste e Norte brasileiros (sou de São Paulo), mais de 15.000 quilometros rodados e o carro teve um ótimo desempenho, muito melhor que um Fiat ou um Volks nacionais. O Lada Laika possui linhas clássicas, alta resitência e era vendido a um preço muito acessível.
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Muito embora defenda o nacionalismo econômico, também penso no meu bolso.
Está-se para aqui a discutir sobre a Rússia como de um país terceiro mundista se trata-se. Vamos lá ver se consegui-mos desfazer alguns destes equívocos para que as pessoas que nunca lá estiveram fiquem devidamente esclarecidas.
Ponto um; a URSS a par dos EUA era uma super potência, embora houvessem áreas de desenvolvimento que estivesse mais atrasada, mas noutras mantinha supremacia que ainda hoje a Rússia como herdeira mantém. Indesmentível!
Ponto dois; para se atingir este nível de desenvolvimento tem que se dispor de boas universidades afim formar técnicos altamente qualificados e por ultimo a existência de estruturas industriais para pôr em prática esses conhecimentos. Era a realidade!
O grande problema que se põe neste momento à Rússia e ao seu desenvolvimento é que os sectores industrial e tecnológico não só estagnaram como sofreram um enorme retrocesso durante o ocaso da URSS, nas eras Yeltsin, e Putin. SE se disser que a Rússia a partir de 1992 até à chegada de Putin esteve a saque ainda é pouco, é inimaginável o que se passou lá dentro. ( leiam por favor Madrugada Sombria de David Satter ) “Não se assustem que não é comunista”. Os grandes constrangimentos que se põem hoje à Rússia não são tanto de ordem «económica» mas mais de recuperação na área do ensino e formação de técnicos ( está em voga os filhos das elites irem estudar para universidades estrangeiras ) recuperar o atraso tecnológico das suas industrias e o seu poderio militar, só que isso custa muito dinheiro. E exige sacrifícios do povo, parece que Putin fez a opção de perder a Rússia, para não perder votos.
Quantos à qualidade dos carros fabricados na Rússia, é verdade que são de qualidade inferior dos importados mas isso é secundário porque aqui nas sociedades de consumo convenceram as pessoas, os que tinham posses e os que não tinham que o popó lhes dava estatuto e hoje o resultado está à vista. O Irão e a Índia países que só agora começaram a despertar também fabricam carros à muito. Resumindo o povo prefere um carro à porta que o filho na universidade.
E esse foi um dos grandes erros (ou jogada falhada) de Putin, para satisfazer a gula consumista dos Russos , autorizou a importação desregrada de bens de consumo porque o que era nacional não tinha valor. Orientou a economia Russa apenas no sentido do consumo e baseada na venda das matérias primas. A crise e o mercado trocaram-lhe as voltas. Resultado; a população já o começa a contestar nas ruas.
Na actual crise a Rússia era o país que melhor podia aguentar o choque. É praticamente auto suficiente em quase tudo.
Tinha apenas que recuperar do atraso tecnológico e industrial por que passou nos últimos anos, reorientar os investimentos para deixar de ser um grande importador de produtos manufacturados para se tornar exportador desses mesmos produtos. Tem muitas boas condições para isso.
Cin.naroda
Tanto o Hugo Albuquerque, o Jacob e outr anônimo Brasileiro estão certos, e o que acontece na Rússia não vejo motivos para maiores alarde, a grande diferença está em algo que admiro, que é o povo protestar e infelizmente no Brasil, não vemos estas mobilizações. Porém as medidas do governo russo estão corretas. O que aconteceu com a Gurgel foi um bom exemplo da política que os últimos governos adotaram em eliminar determinadas empresas nacionais, como a Engesa, Engex, Amadeo Rossi, Sharp etc.... É certo que os carros da Gurgel não eram baratos, assim como ainda eram mais caros os Puma, Miura etc... A Gurgel faliu no processo de desenvolvimento de um carro inteiramente nacional e evidente que isto feria os interesses das multinacionais aqui instaladas, a Engesa foi obrigada a fechar na época do desenvolvimento do Osório, exatamente porque as encomendas para o oreinte médio feriam os interesses dos Estados Unidos, coincidência ou mais uma teoria da conspiração?
Caro José Milhazes, concordo com o Sr. que a economia tem de ser diversificada e a indústria modernizada, mas gostaria de ler uma consideração de sua parte com relação a esta retórica que gosta sempre de externar. O que os Estados Unidos e a Nato fizeram desde o fim da União Soviética com a Rússia, permitiram a este país que ele pudesse seguir nesta direção? Foi permitida à Rússia tentar se reestruturar sem que não Houvesse a constante pressão em suas fronteiras e em suas áreas de influência.
A resposta correta e consciente é não, que não pode sequer haver negação pois já estão registradas como fatos históricos.
Wandard,
Então estamos de acordo em muitos pontos. A verdade é que o o nacional-desenvolvimentismo que se inicia nos anos 30 com Vargas nos tirou do atraso de um economia agro-exportadora e quase colonial, mesmo com a ausência de Democracia, ao menos vimos um avanço em relação à tragicômica República Velha.
Acho que o grande desastre começou quando o nosso JK deu início a uma política dependentista que inflou a nossa dívida e depois foi agravada pelos militares com sua ditadurazinha fascistóide.
O fato é que mesmo que nos funestos anos da ditadura militar o Estado tenha desenvolvido várias áreas da economia, por outro lado, bem sabemos o quanto ela estava condicionada aos interesses estrangeiros, em especial americanos, sem os quais o golpe de 64 não teria acontecido.
Foi aí que o modelo fraturou-se, empresas nacionais só eram ajudadas quando não ofereciam perigo ao interesse estrangeiro - daí a estagnação da indústria automobilística realmente nacional - ao mesmo tempo que o Estado metia-se em dívidas vultuosas para construir a infra-estrutura das montadoras estrangeiras.
Quando a dívida explodiu, não foram nossos "parceiros" que nos ajudaram a pagá-la, muito pelo contrário.
Os anos FHC, dadas as devidas proporções, representou algo parecido com os anos Ieltsin para a Rússia e as coisas só não foram piores por conta do PT e dos movimentos sociais em geral - que se não conseguiram evitar, ao menos freiaram o desastre total.
Quanto às mobilizações populares, é real, russos e europeus de um modo geral protestam de verdade, em quanto nós, não raro, somos demasiadamente complacentes com tudo; ainda assim, acho que nos últimos anos as coisas tenham se agravado um pouco e de fato parece haver um refluxo cá nos trópicos - não consigo imaginar manisfestações como as Diretas Já nos dias de hoje.
Veja só que formidável paradoxo: O Governo Lula representa um inequívoco avanço depois da paralisia que os anos FHC representaram, ainda assim, é durante esse governo que ocorre um arrefecimento dos movimentos sociais, ora engolidos pela estrutura oficialesca ou postos em segundo plano por um PT que, sem embargo, se afastou do povo e se tornou um partido como os demais -ainda que a melhor do que eles, ao menos por enquanto.
O Brasil, no entanto, acabou seguindo um caminho oposto ao da Rússia: Nosso presidente é um homem de firmes convicções democráticas e foi uma das mentes que ajudou a derrotar nossa funesta ditadura além de ser, paradoxalmente, um reformista moderado que frustou muitas expectativas; o Putin deles é um homem do ancient régime, um déspota esclarecido, que, no entanto, toma medidas corajosas que nosso Lula jamais tomaria - tanto para o bem quanto para o mal.
Até agora Putin tinha feito a Rússia andar mais do que Lula fez o Brasil, entretanto, o futuro parece sorrir mais para Lula.
Corrigindo: No parágrafo 7, não sei porquêm escrevi "em quanto" no lugar de "enquanto" - não olhem para mim com essa cara, nem eu entendi.
E, concluindo, concordo, meu caro Wandard, também não vejo essa medida como algo errado em si, apenas espero que as forças policiais ajam dentro da lei e que o governo russo conecte essa sobretaxação à alguma política de modernização e incentivo ao parque industrial de seu país, ainda que eu suspeite que ela tenha sido tomada no intuito de preservar a balança comercial de um colapso.
Caro Hugo,
A taxação tem um claro objetivo protecionista, que com certeza visa que o dinheiro fique dentro do país e não vá para o estrangeiro. É certo que os anos da URSS, condenaram a Rússia ao atraso quanto à diversificação do seu parque insdustrial e também ao acesso de tecnologias que eram de certa forma com circulação limitada entre os Estados Unidos e seus então aliados, se você bem se lembrar, tudo chegava ao Brasil com elevado atraso e muito caro. Portanto o bloqueio não era só para os Russos. Mesmo com a ditadura, a capacidade inventiva e empreendedora de muitos brasileiros, gerou empresas como a Gurgel, Cofap, Sharp, Gradiente, CCE, Hoffman, Engesa, Avibrás, Helibrás, Engex, Rossi, Taurus etc... e várias outras que mesmo se utilizando de componentes importados em seus produtos, representaram uma tentativa de independência, e note que mesmo a ditadura sendo nociva em diversos pontos, não impediu o desenvolvimento destas companhias, mas ironicamente a maioria delas passou para a propriedade estrangeira ou deixou de existir, exatamente nas mãos dos governos civis. Só para relembrar, Collor acabou com o nosso Programa Nuclear, FHC além de dizimar as estatais a preço de banana, cedeu a Base de Alcântara aos Estados Unidos, quer dizer alugou por um valor irrisório, e assinou um termo que limita o uso do dinheiro recebido, que não pode ser empregado no desenvolvimento aeronáutico ou aeroespacial e ainda concede de forma absurda concessões aos Estados Unidos em pleno território nacional, neste caso nem o governo militar que teve um vínculo tão próximo permitiu tal invasão. Outro detalhe que vale ser comentado foi ao sucateamento das nossas Forças Armadas, até chegarem o limite de comprometimento total de nossas defesas, mais um processo para atender à "Agenda Externa dos Estados Unidos para a América Latina", que antes da queda da União Soviética era Agenda Externa para o Terceiro Mundo, entre uma das etapas se encontrava o "Estatuto do Desarmamento" e em outra a "Eliminação da Indústria Militar", mais outra etapa eu já citei que era a instalação da Base de Alcântara. O que aconteceu com o Brasil de forma forçada mas invisível aos olhos da nação, pois bem sabemos o quanto nosso povo é desligado, praticamente foi o que viveu a Rússia com o fim da URSS, não falo aqui do colapso econômico ou ideológico, ou o caos social, pois não passamos por isso nos anos 90, mas sim oportunismo dos Estados Unidos e da Otan, correndo para abocanhar toda a área de influência do antigo espaço soviético, desmontando a estrutura militar russa, em troca de empréstimos que o urso agonizante necessitava na condição de uma nação na UTI. Já comentei isto antes, mas nunca me cansarei sde ser repetitivo enquanto a retórica quanto a falta de intenção de modernizar o país continuar, pois não deram chance, humilharam o país e o transformaram em piada, basta relembrar as guerras dos balcãs, quem se recorda da situação que os paraquedistas russos enfrentaram no Aeroporto de Pristina, retidos sem suprimentos enquanto a Otan negava o acesso ao corredor aéreo à Russia para ajudá-los, ou os eventos no Conselho de Segurança, contra a Invasão do Iraque em que a opinião da Rússia foi desconsiderada por diversas vezes, por fim só para resumir veio a última do Bush com o escudo anti-mísseis. É lamentável, mas é a realidade. A situação da Rússia hoje é consequência de muitas atitudes, mas no contexto atual a culpa não é somente dos Russos.
Abraços a todos e um Feliz Natal.
Wandard,
Sim, sim continuamos a concordar na maior parte dos pontos. Eu só acho que a ditadura militar brasileira falhou em desenvolver as empresas nacionais com maior solidez e falhou no que toca à macroeconomia. Isso abriu as portas do país para, usando a terminologia do professor Carlos Lessa, os fernanhotos fazerem a festa - o que implicou na nossa desgraça.
Aliás, isso apenas acentua as semelhanças entre o Brasil e a Rússia: São dois países estabelecidos em territórios continentais, mas com baixa densidade populacional; possuem desigualdades regionais acentuadas; ambos, na segunda metade do século XX, viram-se dominados por projetos não-democráticos de construir um país forte que, no entanto, caiu por terra dando lugar a presidentes americanófilos e ignomiosos - Ieltsin e os dois Fernanhotos - que destruíram tudo que viram pela frente nos anos 90.
As coisas mudam, no entanto, quando ocorre a sucessão: O Brasil escolheu um caminho totalmente diverso da Rússia, pois como eu disse na minha postagem anterior, Lula e Putin tratam-se de escolhas dialmentralmente opostas que se coincidem apenas no ponto em que significam um avanço diante da paralisia de seus antecessores.
Claro, o papel dos Estados Unidos nisso tudo é flagrante. No Brasil ele vem desde o golpe de 64, que, diga-se de passagem, foi assegurado pela tétrica operação Brother Sam que poderia ter nos convertido em uma outra Coréia ou em um outro Vietnã. O papel americano, ressalte-se, se faz presente até os dias atuais, mesmo que Lula o venha diminuindo na base da diplomacia. Isso, claro, sem falar nas gloriosas bases que eles possuem na Colômbia - e depois há quem fale em perigo Venezuelano...
Na Rússia o que há é um cerco e nada tem a ver com Democracia, mas sim com hidrocarbonetos. O caso recente da Geórgia, armada pelos americanos e treinada por eles e por seus aliados é emblemático; Gorby foi fraco e tolo em acreditar neles e Ieltsin quase arruinou a Rússia com isso. Putin e Medvedev ao menos os afastaram de perto.
Como ficará o mundo, com a decadência americana? Só o tempo dirá.
Abraços e um Feliz Natal
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