segunda-feira, janeiro 26, 2009

Eleição de Patriarca Ortodoxo 3


Do ponto de vista puramente político e jurídico, o Poder Soviético ia ao encontro das expectativas das mais amplas camadas da sociedade russa: “Paz aos povos”, “Terra aos camponeses”, “Fábricas aos operários”. Em relação à religião, a lei prometia a liberdade de consciência, de religião e de culto.
O artigo 13 do Capítulo V da primeira Constituição Soviética, aprovada em 1918, reza : “A fim de garantir aos trabalhadores a liberdade de consciência real, a igreja é separada do Estado e a escola da igreja. Todos os cidadãos têm a liberdade de realizar propaganda religiosa e anti-religiosa”(5).
Na realidade, os cidadãos soviéticos só tinham liberdade de realizar ou ouvir propaganda anti-religiosa. Vladimir Lénine, o primeiro dirigente da Rússia Soviética, escreveu a propósito: “O partido do proletariado exige que o Estado declare a religião um assunto pessoal, mas está longe de considerar “assunto pessoal” a questão da luta contra o ópio do povo, da luta contra as superstições religiosas, etc.”(6).
Além disso, ele considerava que os crentes deviam ser expulsos do Partido Comunista da Rússia. “Eu sou pela exclusão do partido dos que participam em cerimónias (religiosas)” – escrevia Lénine ao Bureau da Organização do Comité Central do Partido Comunista a 30 de Maio de 1919 (7).
O alto clero, como representante das classes exploradoras e com grande “potencialidade contra-revolucionária”, foi um dos primeiros alvos a neutralizar pelas novas autoridades comunistas.
O recém-eleito Patriarca Nikon não escondia a sua oposição ao novo poder. Protestando contra o decreto do Conselho dos Comissários do Povo sobre a separação da Igreja e do Estado e contra a Paz de Brest (acordo de paz assinado entre a Rússia Soviética e a Alemanha, segundo o qual os comunistas entregaram parcelas significativas das regiões ocidentais do país aos alemães em troca da suspensão do avanço das tropas germânicas), o Patriarca Tikhon escreveu a 18 de Janeiro de 1918: “Loucos, reconsiderai, ponham fim às desavenças sangrentas... às cruelíssimas perseguições lançadas contra a Santa Igreja de Cristo: os sacramentos que abençoam o nascimento do homem ou que santificam a união conjugal da família cristã são abertamente considerados inúteis, os templos sagrados são sujeitos ou à destruição por armas mortíferas (os templos sagrados do Kremlin de Moscovo) ou à pilhagem e profanação (o Templo do Salvador em Petrogrado), as moradas sagradas veneradas pelo povo crente (como os mosteiros Alexandre Nevski e Potchaevski) são ocupadas pelos dirigentes ateus do século da escuridão...”(8).
No dia seguinte, Tikhon vai mais longe no seu combate contra os bolcheviques: “Com o poder que Deus nos deu, nós excomungamo-vos” (9).
No primeiro aniversário da revolução comunista, a 07 de Novembro de 1918, Tikhon envia uma mensagem ao Conselho dos Comissários do Povo: “... Depois de terem tomado o poder e de apelado ao povo para acreditar em vós, que promessas lhe fizeram e como as cumpriram? Em verdade vos digo, vós deste-lhe uma pedra em vez de pão e uma serpente em vez de peixe... Ao povo, esgotado por uma guerra sangrenta, vós prometesteis a paz sem anexações e contribuições... Em vez de “anexações e contribuições”, a nossa grande Pátria foi conquistada, humilhada, despedaçada e vós levais para a Alemanha o ouro que não acumulasteis para pagar o tributo que foi lançado sobre ela... Festejai o aniversário da vossa chegada ao poder com a libertação dos presos, o fim do derramamento de sangue, da violência, da destruição...”(10).

Sem comentários: