sábado, janeiro 24, 2009

Eleição de Patriarca Ortodoxo russo 1


Amanhã, dia 25, o Concílio local da Igreja Ortodoxa Russa, irá começar a eleição do seu Patriarca, que deverá estar concluída no dia 27. Para assinalar este acontecimento, que irei seguir com toda a atenção, publico aqui por partes um artigo que escrevi, no ano passado, sobre as relações entre o regime comunista soviético e a Igreja Ortodoxa Russa.

"A Igreja do Estado
Em toda a História da Humanidade, a Rússia foi palco da maior tentativa de pôr fim à religião como fenómeno social. O regime comunista, que governou esse país entre 1917 e 1991, levando à letra uma das máximas de Karl Mark de que “a religião é o ópio do povo”, declarou o ateísmo como ideologia oficial, sendo o anticlericalismo uma das componentes mais importantes nessa campanha.
Mas antes de abordar este tema, é de salientar que o autor deste trabalho decidiu concentrar as suas atenções na política do regime comunista em relação à Igreja Ortodoxa, que é de longe a confissão dominante na Rússia. Além disso, os problemas que os judeus, budistas, católicos, protestantes tiveram com as autoridades soviéticas foram, com pequenas diferenças, idênticos aos dos ortodoxos.
Por isso, convém realizar uma pequena excursão na História da Rússia para se compreender o papel da Igreja Ortodoxa Russa neste país.
Reza a lenda que foi o Apóstolo André o primeiro a pregar a doutrina de Cristo nos territórios que mais tarde vieram a fazer parte da Rússia, mas considera-se que o Cristianismo de rito bizantino se tornou religião oficial da Rus de Kiev pelas mãos do príncipe Vladimir em 988.
Tal como aconteceu em muitos outros países europeus, a Igreja Ortodoxa Russa pretendeu não só à direcção espiritual, mas também a ter uma palavra de peso na vida política, o que provocou sérios conflitos com o poder secular.
Isto tornou-se tanto mais evidente depois da Igreja Ortodoxa Russa se ter emancipado em relação ao Patriarcado de Constantinopla e se transformar numa igreja autocéfala, dirigida por um Patriarca. A 26 de Janeiro de 1589, Jeremias, Patriarca ortodoxo de Constantinopla, nomeia o metropolita Iov primeiro Patriarca de Moscovo e de toda a Rússia.
Desse modo e tendo em conta que Constantinopla caíra nas mãos das tropas turcas em 1453, Moscovo começa a pretender ao lugar de “Terceira Roma”, ou seja, a centro do Cristianismo, e o seu chefe espiritual, o Patriarca, a exigir a obediência dos grão-príncípes e, depois, dos czares russos. Todas as decisões das “Zemskii sobor” (espécie de Cortes), por exemplo, começavam com as palavras: “Por benção do nosso pai, o Patriarca...”.
As pretensões do poder espiritual provocavam sérios conflitos com o poder laico, que só terminaram quando o Imperador Pedro I (1672-1725), pretendendo transformar a Igreja Ortodoxa num instrumento obediente da sua política, substituiu o instituto de Patriarcado pelo Santo Sínodo.
O novo órgão civil, que, no fundo, não passava de um ministério para controlar a Igreja Ortodoxa, passou a ser dirigido por um Procurador.
Esta situação manteve-se até 28 de Outubro de 1917, quando o Concílio Ortodoxo Russo voltou a restabelecer o cargo de Patriarca, para o qual nomeou Nikon (1865-1925), Metropolita de Moscovo e de Kolomna (1).
No que respeita às restantes confissões religiosas (islamismo, judaísmo, budismo, protestantismo e catolicismo) dos súbditos dos Czares russos, elas eram toleradas entre a população não russa do Império. Os russos estavam categoricamente proibidos de se converter da Ortodoxia a outra confissão religiosa. Por exemplo, o pensador e filósofo russo Piotr Tchaadaev (1794-1856) foi internado num manicómio por se ter convertido ao Catolicismo (2)."

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