domingo, janeiro 25, 2009

Eleição de Patriarca Ortodoxo russo 2


A revolução comunista de Outubro de 1917 na Rússia provocou uma reviravolta total em todas as áreas da vida política, económica e social, tendo sérias repercussões também no campo religioso. A tomada do poder pelos bolcheviques (comunistas) em São Petersburgo deu início a perseguições nunca vistas contra todas as confissões religiosas existentes no Império Russo. O ateísmo foi proclamado doutrina oficial do novo Estado e os poucos templos poupados pela barbárie foram transformados em armazéns, pocilgas, escritórios, ou, num número ínfimo de casos, ficaram de portas abertas para “provar” que o regime comunista respeitava a Constituição por ele aprovada.
Esta nova política anticlerical e anti-religiosa, conduzida por Vladimir Lénine, o primeiro dirigente da União Soviética, baseava-se no pensamento de Karl Marx e de Frederich Engels sobre o fenómeno religioso.
Karl Marx prestou uma grande atenção à religião nas suas obras. Isso devia-se ao facto da influência de que gozava a religião na Alemanha daquela época. Os princípios fundamentais da crítica marxista da religião foram expostos numa das suas primeiras obras “Introdução à crítica da filosofia do direito de Hegel”, embora Marx e Engels tenham abordado esse tema mais tarde.
“A religião não faz o homem, mas, ao contrário, o homem faz a religião: este é o fundamento da crítica irreligiosa. A religião é a autoconsciência e o autosentimento do homem que ainda não se encontrou ou que já se perdeu”(3) – escreve Karl Marx na obra citada.
Aqui, Marx não vai além da crítica da religião feita por Feueurbach que via em Deus um ideal do homem elevado ao céu e no amor por Deus, na adoração de Deus, ou seja, na religião, via uma forma indirecta e abstracta de amor fraternal entre os homens. Mas se em Feueurbach trata-se do homem abstracto, extra-histórico, na obra de Marx, o homem está mergulhado na história e é fruto de uma ou outra situação económica: “...Mas o homem não é um ser abstracto, isolado do mundo. O homem é o mundo dos homens, o Estado, a sociedade. Este Estado, esta sociedade, engendram a religião, criam uma consciência invertida do mundo, porque eles são um mundo invertido... É a realização fantástica da essência humana, porque a essência humana carece de realidade concreta. Por conseguinte, a luta contra a religião é, indirectamente, a luta contra aquele mundo que tem na religião o seu aroma espiritual” (4).
O filósofo alemão não teve oportunidade de ver a forma como os seus seguidores concretizaram as suas ideias sobre a religião na Rússia, mas o facto é que os bolcheviques russos levaram à letra a seguinte frase de Marx: “A verdadeira felicidade do povo implica que a religião seja suprimida, enquanto felicidade ilusória do povo”.

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