Por outro lado, quando estudantes russos desejaram entrar na casa do poeta para lhe prestarem a sua última homenagem, Iúlia Stroganova mandou chamar a polícia. Sendo ela e o marido padrinhos de casamento de Georges d’Anthés com Ekaterina Gontcharova, cunhada de Puschkin, optaram por ficar do lado do oficial francês e da sua esposa depois do duelo. Por exemplo, esforçaram-se por difundir boatos sobre a posição do czar face ao duelo: “Os Nesselrodi [influente família nobre russo de origem alemã] e os Stroganov esforçaram-se por difundir em toda a capital a notícia de que o czar tinha condenado Puschkin e olhado com condescendência para as acções do assassino”.
A posição de Idália é que foi sempre clara: demonstrou solidariedade com Georges d’Anthés. Quando este se encontrava detido a aguardar a expulsão da Rússia, devido ao assassinato do poeta, a neta da Marquesa de Alorna escrevia-lhe para a prisão: “Meu pobre amigo, quando penso na tua detenção, o meu coração começa a bater mais forte. Não sei o que daria para estar um pouco com o senhor a fim de conversar; parece-me que tudo o que se passa é um sonho, mas um sonho mau, para não dizer pesadelo, visto que fiquei privada de vos ver... Adeus, meu maravilhoso e querido prisioneiro, não perco a esperança de vos ver antes da vossa partida. Todo o meu coração é vosso”.
O oficial francês respondeu a Idália, enviando-lhe um anel e uma bracelete, o que a levou a escrever-lhe mais uma missiva: “Você possui o dom de me fazer chorar, mas, desta vez, as lágrimas aliviam-me, porque a sua prenda tocou-me profundamente, nunca mais sairão da minha mão; mas estou ofendida convosco, meu amigo, porque pensa que basta partir para que eu o esqueça? Isso mostra que me conhece mal, porque, se amo, faço-o fortemente e para sempre”.
Idália alegra-se com os fracassos na divulgação das obras do poeta, publicadas após o duelo mortal: “O grande afinco na difusão das obras do defunto dimunuiu muito; em vez de terem rendido quinhentos mil rublos, não renderam sequer duzentos mil”.
E nem sequer o andar dos anos fez Idália mudar de sentimentos. Quando idosa, e a residir em Odessa, cidade situada no Sul do Império Russo, continuava a manter vivo o ódio ao poeta. Piotr Barteniov encontrou-se então com ela e registou: “Bastou-lhe saber que escrevo sobre Puschkin para ela não desejar conhecer-me. Ela odiava Puschkin... É ridículo e vergonhoso que, ainda hoje, anciã, não tenha vergonha de amaldiçoar Puschkin. Diz que se sente ofendida por terem erigido uma estátua de Puschkin em Odessa e que tenciona cuspir nela...”.
FIM
A posição de Idália é que foi sempre clara: demonstrou solidariedade com Georges d’Anthés. Quando este se encontrava detido a aguardar a expulsão da Rússia, devido ao assassinato do poeta, a neta da Marquesa de Alorna escrevia-lhe para a prisão: “Meu pobre amigo, quando penso na tua detenção, o meu coração começa a bater mais forte. Não sei o que daria para estar um pouco com o senhor a fim de conversar; parece-me que tudo o que se passa é um sonho, mas um sonho mau, para não dizer pesadelo, visto que fiquei privada de vos ver... Adeus, meu maravilhoso e querido prisioneiro, não perco a esperança de vos ver antes da vossa partida. Todo o meu coração é vosso”.
O oficial francês respondeu a Idália, enviando-lhe um anel e uma bracelete, o que a levou a escrever-lhe mais uma missiva: “Você possui o dom de me fazer chorar, mas, desta vez, as lágrimas aliviam-me, porque a sua prenda tocou-me profundamente, nunca mais sairão da minha mão; mas estou ofendida convosco, meu amigo, porque pensa que basta partir para que eu o esqueça? Isso mostra que me conhece mal, porque, se amo, faço-o fortemente e para sempre”.
Idália alegra-se com os fracassos na divulgação das obras do poeta, publicadas após o duelo mortal: “O grande afinco na difusão das obras do defunto dimunuiu muito; em vez de terem rendido quinhentos mil rublos, não renderam sequer duzentos mil”.
E nem sequer o andar dos anos fez Idália mudar de sentimentos. Quando idosa, e a residir em Odessa, cidade situada no Sul do Império Russo, continuava a manter vivo o ódio ao poeta. Piotr Barteniov encontrou-se então com ela e registou: “Bastou-lhe saber que escrevo sobre Puschkin para ela não desejar conhecer-me. Ela odiava Puschkin... É ridículo e vergonhoso que, ainda hoje, anciã, não tenha vergonha de amaldiçoar Puschkin. Diz que se sente ofendida por terem erigido uma estátua de Puschkin em Odessa e que tenciona cuspir nela...”.
FIM
9 comentários:
OK. Afinal ela gostava era do francês. Que grande novidade. Isto desde a Mariana Alcoforado que as lusas se perdem pelos gauleses...
Resumindo: as portuguesas têm má reputação na Rússia desde então depois de um ódio deste tamanho pelo poeta nacional. Informarei as minhas amigas para evitarem contactos e a verdade é que uma delas já se escaldou com um russo, ou seja, mais apropriadamente, já se congelou...
Obrigada JM, gostei muito de saber desta história, embora seja desmoralizante no dia de S. Valentim. hahahaha
Caro ABC, tenho em carteira para publicação outras histórias com um desfecho diferente. Temos portugueses que serviram a Rússia de forma muito digna e foram recompensados por isso. Já não falo do médico Ribeiro Sanches, autor da primeira obra sobre banhos russos. Mas há mais.
Mas eu não disse que a Dona Idália se portou mal. Eu digo é que a reputação é má, e as reputações constroem imagens, muitas vezes negativas, que permanecem.
Por falar nisso, essa da greve de sexo é de estalo. Eu bem digo que por aí só se pensa com o ...
E como é a juventude russa a confirmar, já nem é imagem, é facto.
Esqueceram-se é que o governo pode arranjar alternativas à greve para os afectados, como se diz, percursos alternativos.
Que grande pandilha!
hahaha
Tudo isto faz lembrar os lúcidos retratos queirosianos da sociedade portuguesa "fin de siécle".
O mais grave de tudo, aparte o desenvolvimento técnico e outra mentalidade social, os incompetentes e escroques continuam a ascender a altos cargos e a concentrar em si a riqueza.
Paralelamente continuam a existir as moças casadoiras e prendadas e a sua habitual inclinação para homens maduros muito bem na vida, dadas as suas "qualidades"
:o)
Em resumo: não evoluimos nada!
Cumpts
Manuel Santos
Caro MSantos, bem visto, não posso deixar de estar de acordo. Afinal, a história não pára de repetir-se.
Mas há histórias um pouco diferentes, em que o valor acaba por triunfar. Dos portugueses que se destacaram na Rússia podemos referir Gomes Freire de Andrade, que liderou forças russas contra os Otomanos e conquistou Oshakov, por exemplo.
Caro Pippo, o general Gomes Freire de Andrade veio também depois com Napoleão e perdeu. Acontece. Há muitos outros casos de sucesso...
Nada como uma boa intriga luso-russa para diminuir a produtividade da minha empresa! :D
Existem algumas obras literárias, teatrais ou cinematográficas que versem sobre esta história? Dava um excelente romance!
Caro Miguel, há peças de teatro sobre o tema Puschkin e Idália, episódios de filmes e estudos históricos.
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