sexta-feira, maio 22, 2009

Relações entre Rússia e UE batem no fundo


A Cimeira de Khabarovsk nada trouxe de concreto no incremento das relações entre Moscovo e Bruxelas, a não ser a promessa de continuação do diálogo, o que já não é pouco nos tempos actuais.

Voltaram a vir à tona as divergências no campo da energia. A UE insiste na necessidade da Rússia ratificar a Carta Energética, o Presidente Dmitri Medvedev responde "jamais!" e exige a elaboração de um novo documento. O problema já é antigo: a Europa quer ter acesso aos oleodutos e gasodutos russos, que continuam a ser monopólio de Estado, e Moscovo quer ter acesso ao mercado retalhista do gás no Velho Continente, bem como à aquisição de activos financeiros, o que é visto com desconfiança por Bruxelas.

A "guerra do gás" entre a Rússia e a Ucrânia esteve também no centro das atenções. Medvedev considera que a responsabilidade não é só do país fornecedor de combustível, mas também do país de trânsito e insinua que Kiev não tem dinheiro para comprar o gás necessário para encher os seus reservatórios, que, no próximo Inverno, irão fornecer a Europa. Trata-se de qualquer coisa como quatro mil milhões de dólares.

Por isso, o Kremlin afirma que, se a UE quer receber gás, tem de ajudar a Ucrânia a pagar a factura.

Iakov Urinson, antigo ministro da Economia da Rússia, chama a atenção para o facto de Moscovo estar a "puxar demasiadamente a corda" no diálogo com a UE, recordando que "no primeiro trimestre deste ano, os fornecimentos de gás russo à Europa diminuiram em 40%, mas que o consumo geral desceu apenas em 3-5%".

O Kremlin exige também a elaboração de um Tratado de Segurança Europeia que substitua o Acordo de Helsínquia de 1975, mas a UE, antes da cimeira, considerava que não vale a pena mexer nisso. Porém, durante a reunião de Khabarovski, Javier Solana aceitou pensar nessa possibilidade, sublinhando que o novo documento deverá conservar o "espírito de Helsínquia".

Trata-se de uma questão complexa, pois Moscovo pretende fixar no papel as novas realidades políticas e geográficas na Europa, que continuam a ser muito confusas. Irá defender o reconhecimento da independência da Abkházia e Ossétia do Sul em relação à Geórgia e talvez troque isso pelo reconhecimento do Kosovo. Mas isto é apenas uma suposição, pois, durante a cimeira, Geórgia e Kosovo foram dois pomos de discórdia.

O Kremlin também não olha com bons olhos para a "Parceria Oriental", organização que reúne alguns países do antigo "campo soviético" (Bielorrússia, Ucrânia, Moldávia, Geórgia, Arménia e Azerbaijão) e que visa incrementar a cooperação com a UE, pois continua a achar que ninguém deve entrar na sua zona de influência, vendo nessa organização mais uma tentativa de isolar a Rússia.

As relações entre Moscovo e a UE degradaram-se seriamente em Agosto do ano passado, devido à guerra entre a Rússia e a Geórgia, e não conseguem voltar à normalidade.

27 comentários:

PortugueseMan disse...

...Iakov Urinson, antigo ministro da Economia da Rússia, chama a atenção para o facto de Moscovo estar a "puxar demasiadamente a corda" no diálogo com a UE, recordando que "no primeiro trimestre deste ano, os fornecimentos de gás russo à Europa diminuiram em 40%, mas que o consumo geral desceu apenas em 3-5%"...

Ora, que fantástica observação de Iakov Urinson. Mais fantástico seria explicar como isso é possível e que países é que reduziram o seu consumo.

...As relações entre Moscovo e a UE degradaram-se seriamente em Agosto do ano passado, devido à guerra entre a Rússia e a Geórgia, e não conseguem voltar à normalidade...

Hum, não concordo.

As relações entre os dois têm sido sempre difíceis, o que se passou em Agosto é apenas mais um dos problemas.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro PM, esses números mostram que a UE começa a comprar mais gás noutras regiões, pois esses dados dizem que respeito a esses países.
Quanto às relações, já houve tempos melhores...

PortugueseMan disse...

Caro JM,

Isso não pode ser. redução de 40% de gás russo onde o consumo geral desceu apenas 3-5%?

Isso é uma afirmação política que precisaria de ser mostrado as fontes desses dados.

Se a Europa tivesse conseguido isso, então neste momento, não precisariam de NordStreams, South Streams, Nabuccos e seja lá o que fôr, nem precisaria de andar a tentar arranjar acordos energétcos com a Rússia.

Eu não acredito em milagres e Iakov Urinson só pode estar a falar de um.

Anónimo disse...

Então era esta a grandeza russa? Pois, bem dizia que ia dar capão...e deu.

Jest nas Wielu disse...

Mais um facto interessante sobre a Rússia, está nau permite que os estrangeiros controlem o seu gás, mas pretende controlar o sistema de gasodutos na Ucrânia e até comprou (através do Gazprom) vários retalhistas na UE, até que os Bruxelas acordaram.

Acordem, europeus, GULAG é frio!

p.s.

neste momento leio o livro do Christo Saprjanov, “Fome de Cão”, a vida dos búlgaros na Sibéria, recomendo muito bastante, em Portugal foi editada pelo Texto Editora.

Ler a introdução em Inglês:
http://litbg.free.fr/authors/all/zaprianov_c/zaprianov_h_exc_2.html

Ler o trecho do romance:
http://litbg.free.fr/authors/all/zaprianov_c/zaprianov_h_exc_1.html

Jest nas Wielu disse...

Ler a introdução em Inglês:
http://litbg.free.fr/authors/all/
zaprianov_c/zaprianov_h_exc_2.html

Ler o trecho do romance:
http://litbg.free.fr/authors/all/
zaprianov_c/zaprianov_h_exc_1.html

Pippo disse...

Onde é que a UE está a comprar gás?

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro Pippo, na Noruega, Norte de África e Nigéria.

Sérgio disse...

Nada de novo, esta posição da Russia a mim não me surpreende, afinal já há muito que ando por aqui a falar em prepotencia, arrogancia, mania das grandezas, argumentos sempre rebatidos pelo nosso meo culpa. E o que têm a dizer a isto, e podem apostar que isto vai piorar. Que se junte à China e depois iremos ver no que isso dá. O que me surpreendeu foi Medvedev defraudar assim tão rapidamente as espectativas que se começaram a gerar em volta desse governante, mas afinal revela-se tratar-se mais do mesmo a que a Russia já nos habituou.

Sérgio disse...

http://pt.euronews.net/2009/05/22/reaproximacao-ao-ocidente-domina-campanha-eleitoral-iraniana/


Parece que só a Russia anda em sentido oposto.

Sérgio disse...

Esta votação é revelativa!

http://pt.euronews.net/noticias/you/

Sérgio disse...

Só tenho pena é que os dirigentes Europeus tenham ido sentir a "grandeza Russa" assim sem qualquer protesto. Não ficava mal a nenhum deles (dirigentes) em recusar-se em ir.

Anónimo disse...

Grandeza? Lá foi Putin ceder à Julinha, que até lhe paga a conta do gás. Ai, estes homens embeiçados pelas trancinhas loiras...

PortugueseMan disse...

Caro Pippo,

Se quiser consultar documentação sobre a energia na UE, sugiro o site da Comissão Europeia.

http://ec.europa.eu/energy/publications/statistics/statistics_en.htm

faça download do documento "EU Energy and Transport in figures" e consulte pelo menos as seguintes páginas:

Na pág. 30 tem os principais fornecedores de petróleo/gás da UE.

Tem aí alguns pormenores a ver:

Petróleo: Repare no fornecimento dos 2 maiores fornecedores da UE, e há um em claro declínio. Quem vai compensar a falta de capacidade de produção dum tão grande fornecedor?

A nível do gás, a disparidade na quantidade de fornecimento da Rússia sobre todos os outros é claramente visível.

A nível de produção e importação de energia na UE, veja pág. 54. Poderá constatar o declínio da produção interna e o aumento da importação.

Cruze estas informações com as reservas que cada país possui no portal da energia da UE:

http://www.energy.eu/#non-renewable

Mais ou menos a meio da página tem as não renováveis e escolha para ver as reservas de gás natural e também as de produção.

Verifique o que cada um consegue produzir, quais as suas reservas e qual o seu peso para as importações da UE.

Faça o seguinte exercício: Retire a Rússia da equação.

Pippo disse...

Amigos JM e PM, a minha pergunta era de retórica. Eu bem sei que a UE não tem, de momento, grandes alternativas relativamente à Rússia.
A Europa Central não é grande cliente do N África e a produção norueguesa não é suficiente, o mesmo acontecendo com a da Nigéria.

O que eu esperava era ser surpreendido por alguma revelação, um "fornecedor surpresa", mas não fui.

Portanto, ou a UE inova e passa a consumir energias renováveis as quais possa produzir, ou terá mesmo de engolir a "grandeza" da Rússia.

Sérgio disse...

Qual engolir a grandeza da Russia, invista-se no nuclear.

Sérgio disse...

No biodiesel e etanol.

Pippo disse...

Para se fazer biodisel e etanol são necessários terrenos de cultivo os quais não serão usados para produção alimentar. Valerá a pena produzir-se combustível e passar-se fome?

O nuclear comporta riscos mas é uma boa solução.

Mas só as renováveis é que poderão, eventualmente, permitir a independência dos países que as exploram, desde que haja investimento em I&D.

Pippo disse...

Mas note-se que estas energias não permitem colocar maquinaria pesada a funcionar. Nem maquinaria de fábricas, nem veículos (camiões, navios e aviões)

Wandard disse...

"No biodiesel e etanol."

Sérgio,

O Pippo está certo,são necessárias áreas de cultivo distintas da produção de alimentos e mesmo assim para suprir as necessidades energéticas da europa precisaria de um espaço que o continente não possui. Os americanos por exemplo não possuem solo para a cana de açucar e o etanol de milho não possui a mesma qualidade que o extraido da cana. Tem que se arranjar mais alternativas.

Anónimo disse...

Isto é tudo muito bem dito; mas a Europa meteu-se em bicos de pés e agora as consequências já estão a aparecer. O Norte de África vive na incerteza, a Líbia não abre mão daquilo que considera seu. A Argélia por mais arranjos políticos que façam a situação pouco melhora. Na Nigéria além dos problemas tribais tem problemas sociais tremendos para resolver, a instabilidade é para continuar. A Noruega até certo ponto podia ser uma boa alternativa, mas não tem capacidade de satisfazer as necessidades Europeias nem os governantes Noruegueses estão interessados numa exploração excessiva dos recursos como a realidade o tem demonstrado. Solução seria a Rússia, só que a Europa meteu os interesses da NATO à frente dos seus.

O Nabucco já não patina escorrega para trás. A Rússia negoceia com a Turquia para o fornecimento de gás através do Corrente Azul que de certeza será para no futuro atravessar o Bósforo e abastecer o Sudeste da Europa. Constrói o Corrente Norte e o Corrente Sul. A Comissão Europeia acena com somas avultadas para ajudar as __(escravas)__ a fugirem do harém Russo por a porta da Parceria Oriental. E agora? Os Europeus cada vez mais combinam para não combinar nada nas reuniões que fazem. A Europa é pobre em recursos , tem uma grande capacidade tecnológica para a manufactura de matéria prima que não dispõe. E o tempo de ir abastecer-se onde pretendiam estipulando os preços pertence ao passado. É auto suficiente em produtos agrícolas é verdade, mas são altamente subsidiados, com a abertura dos mercados tem que abrir as portas aos outros produtores, segundo as previsões o Brasil em 2020 é o maior produtor mundial de cereais, a preços competitivos. A Rússia está a incrementar a toda a velocidade a produção de cereais por sinal vão realizar uma feira em Julho sobre o tema. A China precisou apenas de 20 anos para ultrapassar alguns dos países mais desenvolvidos em muitas áreas da tecnologia e a tendência é para aumentar.
As chamadas energias alternativas todas elas por enquanto ainda não são competitivas em relação aos combustíveis fosseis. Com um retorno do investimento muito prolongado.
A produção está a concentrar-se na Ásia. Alguns dos dirigentes Europeus não era para ter previsto isto e medir as consequências de uma politico agressiva contra a Rússia em beneficio de um cadáver politico que governa a Ucrânia?
No tempo que existiam diferenças politicas e ideológicas ainda seria admissível este tipo de comportamento, mas tratando-se de dois sistemas políticos e ideológicos com a mesma matiz qual a razão deste confronto? A Europa a caminhar desta forma não vai longe, e alguns lideres Europeus já o perceberam!
Só que agora as desconfianças vão manter-se por muitos e bons anos. Em resposta à instalação do sistema DAM na Polónia a Rússia vai modernizar os super mísseis Voevoda (líder ou comandante creio) com um alcance de 16000 km podem transportar até 10 ogivas de 750 kilotoneladas cada, protegidas por um enxame de engodos.
Portanto a resposta só podia ser esta. Lá vão gastar somas astronómicas para se tentar proteger-se de mais esta ameaça

PortugueseMan disse...

Caro JM,

Reparou que a Rússia está a tentar entrar também na Opel?

Magna-Russia bid for Opel praised

BERLIN–Magna International emerged yesterday as a favourite to acquire General Motors Corp. unit Opel after top German officials said the Canadian car parts group had submitted a better plan than rival bidders Fiat and Belgian-listed private equity investor RHJ International.

At a briefing in Berlin, Magna co-chief executive Siegfried Wolf laid out its Opel plan for the first time, confirming it aims to team up with Russian partners but leave existing GM Europe managers to run the new group...


http://www.thestar.com/article/639100


Apesar de estarmos numa situação económica mundial má de onde a Rússia também não escapa, vemos tentativas de aquisições de empresas de vários sectores.

A Opel, a Qimonda, e a Aeroflot que está a tentar adquirir uma companhia europeia, como a italiana ou a checa.

A política de aquisições no exterior continua activa, mesmo nestes tempos.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro PM, eu espero por aquisições concretas. Sabe que a Aeroflot não conseguiu ainda adquirir nada. Quanto à Qimonda, as coisas parecem estar muito incertas...

PortugueseMan disse...

Mas elas também existem caro JM.

Embora seja importante a aquisição em si, considero igualmente importante a disponibilidade em investir. E isto a Rússia claramente está a demonstrá-lo.

Depois não se pode esquecer do seguinte, estamos a falar de companhias de dimensão importante no seu sector e estamos a falar da Rússia.

Apesar de a Rússia demonstrar que tem dinheiro para investir, vemos que o maior problema não é monetário mas sim político, permitir ou não que a Rússia entre na empresa X.

A Rússia pode não conseguir alcançar o seu objectivo, mas não é por falta de dinheiro.

Recordo por exemplo a aquisição da Rússia de uns 5% da indústria militar europeia (EADS) da qual faz parte a Airbus e que gerou bastante desconforto em alguns sectores, vindo a público que tal aquisição não lhe dava uma palavra a dizer sobre a empresa, apesar de ter práticamente o mesmo que a Espanha e esta tem voto na matéria.

Estamos a falar da Rússia e toda a gente é muito sensível a este país. Se fosse um outro a querer investir não haveria problemas, como rápidamente vemos com todos os outros que tentam adquirir em concorrência com a Rússia.

Jest nas Wielu disse...

Historiadores russos Viktor Suvorov (autor dos livros “Icebreaker”, “Aquário”) e Alexander Minkin discutem a questão: “Quem será nomeado pelo Kremlin como o(s) falsificador(es) mor da história em prejuízo da Rússia”. Suvorov acha que ele será o falsificador – mor :-)
http://www.svobodanews.ru/content/transcript/1736807.html

p.s.
quem quiser criticar Suvorov, peco primeiro ler pelo menos 1 romance seu, depois falaremos.

Jest nas Wielu disse...

http://www.svobodanews.ru/content/
transcript/1736807.html

Anónimo disse...

essa merda de UE deveria respeitar os russos...isso sim que é povo...não essas merdas de europeus água-com-açúcar