terça-feira, junho 23, 2009

Cáucaso do Norte pode tornar-se em mais uma Somália


Iunus-Bek Evkurov, Presidente da Inguchétia (república do Cáucaso do Norte russo), encontra-se internado num hospital de Moscovo em "estado muito grave", continuando em estado de coma.

O atentado contra a vida deste político, general e Herói da Rússia, veio mostrar uma vez mais que a "política de pacifícação", realizada pelo Kremlin no Cáucaso, está muito longe de dar resultados positivos, ou mais precisamente, falhou.

Para quem não saiba, o general Evkurov comandou as tropas russas que, em 1999, depois de uma rápida marcha, ocuparam o aeroporto de Pristina, no Kosovo.

A aposta de Moscovo na força militar dura e crua é insuficiente para normalizar a situação no Cáucaso. Ela pode ter efeitos positivos, mas apenas temporários e muito relativos. Tropas e polícias russos concentram os seus esforços na Tchetchénia e o Kremlin até chegou ao ponto de suspender o "regime de operação antiterrorista" nesse território, mas a guerrilha separatista islâmica desfere ataques noutras repúblicas vizinhas do Cáucaso russo: Inguchétia, Daguestão, Ossétia do Norte ou Cabardino-Balcária.

O Serviço Federal de Segurança (ex-KGB) da Rússia, os Ministérios do Interior e da Defesa da Rússia não se cansam de anunciar "êxitos" na luta contra os terroristas, mas o facto é que nem sequer conseguem garantir a segurança de altos dirigentes das repúblicas caucasianas.

Quanto aos dirigentes da guerrilha, funciona o princípio da "matrioska" (boneca russa), ou seja, as forças de segurança matam um cabecilha, mas este é imediatamente substituído por outro, normalmente mais radical e sanguinário do que o antecessor.

A solução destes problemas só pode ser complexa, porque são complexas as raízes deste conflito.

Uma das causas é o nível altíssimo de corrupção no Cáucaso do Norte, onde tudo se compra e se vende, desde o mais simples emprego até aos mais altos cargos políticos. No caso da Inguchétia, os oito anos de presidência de Murat Ziazikov, general do KGB que antecedeu a Evkurov, ficaram marcados por grande aumento desse cancro social. Iunus Bek-Evkurov tentou mexer nesse vespeiro e as consequências estão à vista.

Outro problema é a arbitrariedade dos órgãos de poder em relação aos cidadãos. As pessoas sentem-se completamente desprotegidas, vão parar à prisão sem saberem a razão, o desaparecimento de pessoas, raptos, etc. são fenómenos muito comuns.

Uma das formas de enfrentar a brutalidade do poder, principalmente entre os jovens, é pegar em armas, fugir para as montanhas e juntar-se à guerrilha islamita, que pretende separar o Cáucaso da Federação da Rússia e criar um califado.

Outra das fontes de força humana desse guerrilha é o desemprego, que atinge dimensões catastróficas. Na Inguchétia, o número de desempregados é superior a 50% da população activa. Por isso, a participação na guerrilha ou em grupos de crime organizados é a única fonte de rendimento para muitas famílias.

É importante assinalar que as ligações entre a guerrilha islamita e o crime organizado são outro elemento que Moscovo prefere não ter em conta, preferindo acusar organizações islâmicas estrangeiras de financiar os guerrilheiros, embora não seja segredo para ninguém que muito do dinheiro ganho em negócios escuros e corruptos vai alimentar a guerrilha.

Nesta situação, a Rússia, se não quiser perder definitivamente o Cáucaso, terá de tomar medidas urgentes não só no campo militar, mas também nas áreas diplomática, política e social.

A diplomacia é necessária para contactar e dialogar com aqueles sectores da guerrilha ou da oposição que ainda aceitam sentar-se à mesa das conversações, embora se deva reconhecer que estes sectores são cada vez menos numerosos, mas, mesmo assim, é um meio que ainda pode ser aproveitado.

No campo social e económico, é preciso criar condições em que os cidadãos se sintam seguros e com possibilidade de trabalhar, que a ascensão social não dependa da pertença a este ou àquele clã, mas da competência e do esforço individual.

Trata-se de um trabalho árduo e longo e onde a Rússia deve ter o apoio da União Europeia, pois o Cáucaso faz parte da Europa e a degradação da situação pode transformar essa região em mais um Afeganistão ou Somália, a escolha não é muito grande.

Se os problemas do Cáucaso, e aqui tenho em vista não só a parte russa, mas também a Geórgia, Arménia, etc., não começarem a ser resolvidos de forma séria e complexa, arriscamo-nos a ter mais um "buraco negro" na Europa.

Mas para que isso aconteça, é necessário que a região deixe de ser uma zona de disputa entre a Rússia, os Estados Unidos e a União Europeia. Ou será que se juntarão esforços apenas quando o Cáucaso se transformar irremediavelmente noutro Afeganistão?





31 comentários:

Nuno disse...

Por que a Rússia não dá liberdade para todos esses povos decidirem seus destinos? Por que na Geórgia era justo fazer isso e na sua própria casa não?

A velha hipocrisia russa.

Anónimo disse...

depois da Sérvia, a Rússia está perdendo mais um velho aliado: Belarus


Belarus warms relations with EU
http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/
8112946.stm


a fuga da Russia continua...

PortugueseMan disse...

Só se a Rússia implodir económicamente meu caro é que pode traçar tal cenário e é coisa que não me parece que vá acontecer.

Cáucaso, está muito longe de dar resultados positivos, ou mais precisamente, falhou.

falhou? que eu saiba ainda estamos a falar de território russo. Não estamos a falar de uma colónia a milhares de quilómetros do país, estamos a falar de território NA Rússia.

Esta é uma zona vital e estratégica, aquilo vai manter-se violento.

Mas para que isso aconteça, é necessário que a região deixe de ser uma zona de disputa entre a Rússia, os Estados Unidos e a União Europeia.

E já sabe que isso é impossível. E como tal a violência irá continuar.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Jorge disse...

Anónimo disse...
depois da Sérvia, a Rússia está perdendo mais um velho aliado: Belarus


Belarus warms relations with EU
http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/
8112946.stm


a fuga da Russia continua...

17:23



Pois é, também notei isso. Aliás, a Rússia tem algum país vizinho menor aliado? Os mais importantes estão fugindo desse país. Parece que ninguém gosta da Rússia.

Zé Carlos disse...

PM

O que você vai dizer quando a Sérvia entrar na NATO? Que a Rússia ganhou mais essa?

Anónimo disse...

A Bulgária também era uma grande aliada dos russos até o final do anos 90. Hoje estão na NATO e na UE.
Nenhum país se sente atraído em ficar na esfera de influência russa.

PortugueseMan disse...

"O que você vai dizer quando a Sérvia entrar na NATO? Que a Rússia ganhou mais essa?"

SE a Sérvia entrar na NATO,
vou dizer o que digo hoje, que qualquer país é livre de entrar na NATO.

SE a Sérvia entrar na NATO, será mais um problema para a Rússia.

Mas eu ando a ver muitos SE's...

Anónimo disse...

a soberba russa:

In April 2009, the Polish Foreign Minister, Radosław Sikorski, suggested including Russia in NATO, although Russia clearly does not intended to join at the moment, preferring to keep cooperation on a lower level. The Russian envoy to NATO, Dmitry Rogozin, is quoted as saying "Great powers don't join coalitions, they create coalitions. Russia considers itself a great power.

http://euobserver.com/13/27890

Zé Carlos disse...

PortugueseMan disse...
"O que você vai dizer quando a Sérvia entrar na NATO? Que a Rússia ganhou mais essa?"

SE a Sérvia entrar na NATO,
vou dizer o que digo hoje, que qualquer país é livre de entrar na NATO.

SE a Sérvia entrar na NATO, será mais um problema para a Rússia.

Mas eu ando a ver muitos SE's...

17:55

Explique-me porque os antigos aliados da Rússia estão se virando para o Ocidente?

PortugueseMan disse...

Porque o mundo Ocidental é o melhor que existe dentro das alternativas existentes.

A NATO é a melhor estrutura de segurança existente.

A Europa o melhor bloco económico.

E todos nós aspiramos sempre a algo melhor.

Anónimo disse...

Medvedev disse no Cairo que a Rússia era um país islâmico!!! Ainda bem que avisa, para eu nunca lá põr os pés. A coisa caucasiana começa a explicar-se.E a quem aproveita?

Raffo disse...

O futuro da Rússia, cedo ou tarde, pode ser a balcanização. Soma-se a crise demográfica, a situação pode piorar porque as regiões islamicas, apresentam crescimento demográfico, enquanto o resto do país está a enfrentar uma grande queda populacional... Situação complicada.

MSantos disse...

Apenas o desenrolar da guerra civilizacional.

Tal como a Rússia devia dar todo o apoio ao Ocidente a combater o fundamentalismo islâmico no Afeganistão, também o Ocidente deveria apoiar a Rússia nesta guerra, caso contrário ruirão não só as torres físicas mas também as dos nossos valores civilizacionais.

Cumpts
Manuel Santos

Gilberto disse...

Perfeito o seu texto, caro Milhazes.

Falou tudo. :)

A Russia está num beco sem saída. A crise está a afunda a economia do país, e quando faltar recursos para o combate no qual a Russia equivocadamente se propõe, a coisa vai virar um verdadeiro caos.

Da Chechenia, a Russia já se retirou, deixando a batata quente na mão do Kadirov, que está cada dia mais maluco e nem Putin está respeitando mais. Putin, aliás, virou refém do Kadirov nessa questão do Cáucaso.

Ainda no ano passado quando ele(Kadirov) matou um rival do clã Yamadaev a poucos metros do Kremlin, e o Putin ficar com cara de bunda sem ter o que dizer, eu pensei algo como "Já era, é questão de tempo para o Cáucaso ir p saco de vez".

Sem falar no assassinato de Potitkovskaya, que já está claro que foi gente do Kadirov.

Ramzam Kadirov faz o que quer o Putin não tem culhões para dar um pio.

A Russia só está colhendo o que plantou.

Wandard disse...

"Ou será que se juntarão esforços apenas quando o Cáucaso se transformar irremediavelmente noutro Afeganistão?"

Sr. Milhazes,

Os dois últimos jogadores mencionados há muito vem fazendo elevados esforços para resolver os problemas da região com a construção de pipelines e demais projetos de como extrair os hidrocarbonetos e levá-los em direção a seus países, esforço que já foi empreendido no Iraque sob a manta da vingança do 11 de setembro e o combate à Al Qaeda. Por hora os Estados Unidos e aliados estão mais preocupados com a crise nas eleições Iranianas, afinal ter ao alcance a segunda maior reserva de petróleo do mundo é fundamentalmente mais importante do que os problemas do Cáucaso.

Anónimo disse...

Terroristas há e tarados religiosos, mas há muitos mais bandidos , tipos que se armam em terroristas para meter dinheiro ao bolso. Lembro-me sempre do filme Die Hard 1 com Bruce Willis, onde os #terroristas# queriam era viver dos 10% roubados.Portanto, desconfiem da política e pensem no dinheiro.

Anónimo disse...

Penso que essa crise pode ser o começo do fim da Rússia autoritária, racista e tradicionalmente detestada por todos à sua volta...

Talvez a esperança de que se torne enfim uma federação, com ampla autonomia para suas regiões e repúblicas, além de dar independência aos povos que realmente queiram ser livres.

Que os direitos humanos, O IMPÉRIO DA LEI, o respeito e a proteção à todos as pessoas sejam a meta desse país.

Que um dia a Rússia não seja mais ODIADA, mas sim respeitada como uma grande nação, de um povo correto e democrático.

Raphael Tsavkko Garcia disse...

Se existe guerrilha islâmica e radicalismo muçulmano na região a culpa é inteiramente da Rússia e de seu genocídio contra os povos da região. O movimento nacionalista original e a guerrilha separatista original (na Chechênia) não tinham viés islâmico radical e sim nacionalista, Checheno.

Foi a constante batalha e as derrotas sofridas que acabaram por radicalizar e o ódio foi canalizado para a religião, além disso, com o islamismo foi possível conseguir apóio da Arábia saudita e outros interessados na idéia de aumentar sua área de influência.

A Rússia hoje paga por seus crimes e a situação deve piorar ainda mais. Agora a solução é difícil, reprimir e destruir as minorias ou permitir um "califado" na região?

A saída mais fácil, a da independência para repúblicas que poderiam ser parceiras (Chechênia, Ingushetia, Daguestão, etc) não parece mais viável, ao menos no caso da primeira e terceira da lista.

Anónimo disse...

Mais um cenário negro. O autor tem lágrimas de crocodilo… Analise tão profundo que nem Gorbachev consiga fazer.

Anónimo disse...

Nos olhos do mundo Portugal e apenas uma marioneta de EUA tal como Barroso e mais um pudel do Bush depois do encontro dos Açores…

Vladimir Ulianov disse...

Mais um dos efeitos perversos do colapso induzido da URSS.

Só serviu para isto: aumento da corrupção, aumento das máfias, dos crimes e dos separatistas manobrados.

Ciro disse...

Tudo mudará com a explosão na península coreana e o restabelecimento de Teerã. ACORDEM! São outros os tempos.

Jest nas Wielu disse...

Andrey Ilarionov 8ex-conselheiro do Putin) sobre a preparação russa da guerra na Geórgia em 2008. Sr. Ilarionov está dizer, que a Rússia prepara estes dias a 2ª guerra georgiana. Geórgia sabe, por isso está dinamitar os pontes, retirar o exército da fronteira, acções que os putleristas classificam como “preparativos para a guerra”. Que ricos preparativos…
http://www.novayagazeta.ru/data/2009/066/17.html

Anónimo disse...

Para piorar a Russia enfrenta uma dura crise económica:

Banco Mundial prevê que economia russa recue 7,9 por cento em 2009
24.06.2009 - 13h40
Por Lusa
O Banco Mundial prevê uma queda de 7,9 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) russo em 2009, ou seja, quase o dobro da sua previsão anterior, enquanto o desemprego poderá chegar aos 13 por cento da população activa da Rússia, lê-se num relatório hoje publicado.

A recessão profunda da economia mundial e a queda da produção "terão um impacto mais grave do que o previsto na economia e no sector social russos", sublinha o Banco Mundial que previu, no fim de Março, uma descida de 4,5 por cento do PIB na Rússia.

"O PIB poderá sofrer uma queda de 7,9 por cento em 2009, não obstante os preços do petróleo voltarem a subir", considera agora o Banco Mundial.

Este organismo financeiro internacional constata também a redução substancial do fluxo de investimentos directos. Os investimentos estrangeiros directos foram de cerca de 3,2 mil milhões de dólares no primeiro trimestre de 2009, representando uma descida de 43 por cento em comparação com igual período de 2008.

"No fim do primeiro trimestre de 2009, a dívida externa dos sectores estatal e privado baixou para os 454 mil milhões de dólares, contra um número recorde de 547 mil milhões em Outubro de 2008", sublinha o relatório.

"As medidas tomadas para estimular a economia, bem como o aumento progressivo dos preços do petróleo e a descida da inflação poderão criar condições mais favoráveis no segundo semestre e a economia russa poderá retomar um crescimento moderado em 2010", prevê o relatório.

"A médio prazo, tendo em conta a dinâmica económica actual e uma previsão de crescimento de 3,5 por cento em 2011 e 2012, o PIB só deverá atingir o nível anterior à crise no terceiro trimestre de 2012", acrescenta o documento.

O Banco Mundial mantém o nível de inflação da Rússia entre os 11 e 13 por cento.

O relatório chama também a atenção das autoridades russas para os efeitos negativos da recessão nas camadas sociais mais desfavorecidas e uma classe média ainda frágil. O número de pobres poderá subir para 24,6 milhões, ou seja 17,4 por cento da população, enquanto os desempregados podem chegar a 13 por cento.

"Esta previsão reflecte tanto a diminuição geral do número de empregos, como as mudanças estruturais nos vários ramos da economia. O mais alto nível de desemprego poderá registar-se na indústria transformadora, construção e comércio a retalho", lê-se no relatório, que sublinha que as cidades que dependem de uma ou de poucas empresas sentirão particularmente o aumento do desemprego.

"A Rússia encontra-se frente a uma tarefa difícil: fazer face, simultaneamente, às consequências sociais de uma crise mais importante do que o previsto, controlar as finanças públicas e tomar medidas para apoiar a economia", conclui o Banco Mundial.

http://economia.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1388417

António

Anónimo disse...

Tomara que comece pelo Cáucaso a desfragmentação da Rússia.

Aí sim, renascerá como país democrático, realista, decente e respeitador dos outros povos.

General Orlov disse...

Este tópico, e todos os comentários poderiam se chamar "quem mente mais sobre a Chechênia".


Primeiramente, deve ser ressaltado que o Autor exagera dramaticamente a situação, esquecendo-se que já há alguns anos os rebeldes não são capazes de intentar qualquer ato terrorista ou operação militar de envergadura.

Ora, assassinatos de líderes ou autoridades ocorrem em todo o mundo, até na Europa Ocidental.

Quem quiser saber a verdade sobre o conflito na Chechênia, bem como suas origens históricas, pode acessar meu blog:

http://generalorlov.blogspot.com/

Raphael Tsavkko Garcia disse...

Generalzoinho" prepotente, não?

José Marques (Bruxelas) disse...

Caro José Milhazes,
Tenho sempre prazer em ler o seu Blog. Sempre tive uma grande admiração pelo povo russo e pela Rússia... pelos políticos é outra coisa, mas também é essa a opinião que tenho sobre os políticos portugueses e belgas, aonde vivo. Estou casado com uma cidadã cazaque, de etnia russa, há já 6 anos, e conheço um pouco da Ucrânia e do Cazaquistão.
Uma das coisas que notei no Cazaquistão são as diversas aldeias à volta de Almaty, aonde dantes existiam comunidades inteiras de outras etnias, tipo bairros sociais à volta de Lisboa. Eram aldeias de judeus, de alemães do Volga, turcos, coreanos, gregos, tchetchenos, etc. Hoje as coisas mudaram, já que a maioria dos judeus, alemães, gregos, russos, ucranianos, têm regressado ao país dos seus antepassados.
Uma coisa que notei, quando lá fui a 1a vez, em 2003, foi que mais ou menos todos estavam integrados na sociedade cazaque. Aquilo não é nenhuma democracia, mas é o que se pode ter naquele pais, por enquanto. Mas havia um povo que não se integrava, que tinha conflitos com todos os vizinhos, e que todos os outros detestavam: os tchetchenos! Já sei que alguns dos comentadores de por aqui me vão chamar de racista, mas sinceramente, não me interessa, agora uma coisa é certa: os tchetchenos, pelo menos os que vivem no Cazaquistão e aqui na Bélgica, parece que atraem chatice, são agressivos desde que acordam até se deitarem, estão sempre em conflito com toda a gente. Não confio neles e faço minhas as palavras dos cazaques com quem contactei: são mafiosos, quase todos, a grande maioria!
Cumprimentos.

Pippo disse...

JM,

A existência de actos terroristas não implica que a guerrilha esteja a vencer a guerra. Ao contrário das forças estatais, ao movimento insurgente não lhe é necessário destruir o inimigo para vencer, basta-lhe existir e fazer-se sentir.
Tal como a ETA realiza actos terroristas, os movimentos terroristas islâmicos no Cáucaso fazem-se sentir através do terror. A diferença é que estes não telefonam primeiro a avisar, como o fazem os bascos.

Para este tipo de luta, as acções mais eficazes são as dos serviços secretos, com acções militares pontuais. A solução dos problemas sociais também permite retirar argumentos aos insurgentes. Contudo, a questão da independência não é sequer plausível para Moscovo, no que, aliás, é uma atitude comparável a qualquer outros Estado: nenhum País admite a secessão de qualquer parte do seu território, seja a Rússia, os EUA, o RU, o Brasil...

Resta referir que, pelo que foi noticiado (três ataques, incluindo a um orgão jucicial), é possível que a isto não sejam alheios interesses de grupos de crime organizado. E recordo sempre o destino do Gen. Dalla Chiesa que, depois de destruir as Brigadas Vermelhas, foi incumbido de eliminar a Máfia em Palermo... a sua missão durou 100 dias, ao fim dos quais foi brutalmente assassinado.

Pippo disse...

Agora uma outra nota.

JM, a sua comparação com a Somália é infeliz.

O caso da Somália deriva de vários factores: implosão do Estado e da sua autoridade/poder coercivo; existência de uma sociedade clânica que luta por recursos escassos; incapacidade de comprometimento no terreno de uma força superior.

Estes factores não estão presentes na Rússia e só estão parcialmente presentes no Cáucaso.

Em primeiro lugar, não há um dasaparecimento do Estado no Norte do Cáucaso.
O único período em que isso ocorreu foi, precisamente, durante a independencia da Chechénia entre 1997 e 1999. A república fragmentou-se e assistiu-se a um crescente domínio dos Jihadistas na vida política e social do território.
Presentemente, nem a Rússia se está a fragmentar (apesar do desejo de muitos dos que aqui escrevem), nem no Cáucaso se assiste a uma evidente degradação do aparelho estatal.

A clanização da sociedade chechena é conhecida e certamente é similar ao restante Cáucaso do Norte. Contudo, até que ponto os poderes locais se substituiram ao poder estatal? Que eu saiba, pouco ou nada. Houv, isso sim, uma apropriação do Estado por várias famílias (por exemplo, os Kadirov), mas essa realidade não é estranha à dos outros países.

Por fim, quanto à incapacidade e falta de vontade de uma entidade mais poderosa, seja ela interna ou externa, em intervir em permanência no terreno, penso que os 18 mortos norte-americanos do Black Hawk Down contrastam com os milhares de mortos russos na Chechnénia. As vontades e consequências são igualmente contrastantes e falam por si: os EUA abandonaram a Somália com o rabo entre as pernas, enquanto a Rússia esmagou a resistência e impôs a sua autoridade.