sábado, julho 04, 2009

Moscovo considera inevitável ligação entre redução de armamentos estratégicos e sistema de defesa antimíssil


A Rússia espera um debate sério com os americanos sobre a defesa antimíssil quando da visita do Presidente Barack Obama a Moscovo, anunciou Andrei Nesterenko, porta-voz do Ministério russo dos Negócios Estrangeiros.
“Contamos com um debate muito sério sobre o problema do sistema de defesa antimíssil que está estreitamente ligado às questões da redução das armas ofensivas estratégicas”, acrescentou o diplomata.
No que respeita à redução de armas ofensivas estratégicas, ele frisou que “a consecução de acordos (START) que permitirão substituir o documento que expira em dezembro próximo (START-1) será objecto de uma atenção especial”.
Segundo o diplomata, “os presidentes farão um balanço do trabalho realizado e darão instruções aos peritos”.
A anterior administração dos Estados Unidos projectava instalar um radar na República Checa e dez mísseis interceptores na Polónia até 2013. A Rússia opõe-se a esse plano, não obstante representantes norte-americanos afirmarem que o escudo de defesa antimíssil visa impedir um ataque balístico da parte do Irão e que a Rússia não deve ver nele uma ameaça à sua segurança nacional.
O Tratado START-1, que expira em dezembro próximo, foi assinado pela URSS e os Estados Unidos a 31 de Julho de 1991. Ele obriga cada uma das partes a limitar até 6.000 unidades o número de ogivas nucleares e até 1.600 o dos vectores. Ele prevê também inspecções recíprocas dos lugares de armazenamento e destruição das armas, trocas de informação.
Em 1993, a Rússia e os Estados Unidos assinaram o Tratado START-2 que previa uma redução importante de mísseis balísticos intercontinentais e de ogivas nucleares, mas a Rússia retirou-se desse tratado em 2002 em sinal de protesto contra o abandono pelos Estados Unidos do Acordo de 1972 que proibia a criação de sistemas de defesa antimíssil.
A 24 de Maio de 2002, a Rússia e os Estados Unidos assinaram um acordo sobre a redução dos seus potenciais estratégicos ofensivos até 1700-2.200 cargas nucleares de cada parte até 31 de Dezembro de 2012.
A 1 de Abril de 2009, os Presidentes russo e americano acordaram em Londres relançar as negociações sobre um novo Tratado START.
É precisamente neste campo que o Kremlin espera maiores resultados da cimeira Obama-Medvedev, isto se os norte-americanos aceitarem a ligação entre os dois problemas.
“Recordo que a Rússia e os EUA têm, juntos, 95 pc de todo o potencial nuclear mundial, isso é realmente assim. Mas só poderemos descer mais abaixo do que certo nível se a outra parte não estiver total e completamente segura em relação a esse nível mais baixo. Porque, então, a outra parte também não será tentada a ser a primeira a tentar empregar a arma (nuclear)”, considera Konstantin Kossatchov, presidente do Comité para Relações Internacionais da Duma Estatal (câmara baixa) do Parlamento russo.
Segundo ele, “por isso, essa ligação não surgiu nas nossas cabeças, ela existe objectivamente. E se não conseguirmos manter essa ligação, nós, objectivamente, não poderemos descer abaixo de um certo nível de armamentos estratégicos ofensivos”, acrescenta.
A adminnistração americana compreende que uma importante redução de armamentos estratégicos ofensivos poderá exigir no futuro uma ligação estreita com o problema do escudo antimíssil, considera Dmitri Simes, presidente do Centro Nixon (EUA), numa messa redonda dedicada à cimeira russo-americana.
“A administração Obama não considera que esta questão (a ligação das duas questões) implica uma solução absolutamente unívoca. Actualmente, é preciso prorrogar a acção do tratado START e este processo deve estar terminado antes de Dezembro, quando esse tratado expirar. Formalmente, será difícil impor uma relação entre os armamentos estratégicos e a defesa antimíssil, maspenso que a administração Obama compreende que profundas reduções de armamentos ofensivos estratégicos exigirão o estabelecimento de uma relação com a defesa antimíssil. E não penso que essa ideia seja rejeitada pela administração americana”, sublinha o perito norte-americano.

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