Anna AKHMÁTOVA (1889-1966)
Nascida perto de Odessa, passou grande parte da sua vida em Leninegrado. Casada com um oficial branco, fuzilado durante a guerra civil, não aceitou imediatamente a revolução, embora se recusasse a abandonar a Rússia. Se bem que pertencesse à União dos Escritores Soviéticos, os seus livros editavam-se pouco. Praticamente, só a partir dos anos 60 granjeou fama como poeta lírico. Em 1965 foi-lhe atribuído o prémio internacional Etna Taormina, da Academia Italiana, e o título de doutor “honoris causa” pela universidade inglesa de Oxford.
Poeta de um lirismo trágico, tanto pelo modo de sentir como pelas circunstâncias da sua vida, Akhmátova é uma das mais representativas continuadoras da tradição da poesia clássica russa, cujas infinitas possibilidades soube explorar.
A tradução do poema abaixo publicado é do meu saudoso amigo José Sampaio Marinho.
Nascida perto de Odessa, passou grande parte da sua vida em Leninegrado. Casada com um oficial branco, fuzilado durante a guerra civil, não aceitou imediatamente a revolução, embora se recusasse a abandonar a Rússia. Se bem que pertencesse à União dos Escritores Soviéticos, os seus livros editavam-se pouco. Praticamente, só a partir dos anos 60 granjeou fama como poeta lírico. Em 1965 foi-lhe atribuído o prémio internacional Etna Taormina, da Academia Italiana, e o título de doutor “honoris causa” pela universidade inglesa de Oxford.
Poeta de um lirismo trágico, tanto pelo modo de sentir como pelas circunstâncias da sua vida, Akhmátova é uma das mais representativas continuadoras da tradição da poesia clássica russa, cujas infinitas possibilidades soube explorar.
A tradução do poema abaixo publicado é do meu saudoso amigo José Sampaio Marinho.
A MULHER DE LOTH
E a mulher de Loth olhou para trás
e transformou-se em estátua de sal.
E ia o justo atrás do enviado divino,
Enorme e claro, pela montanha de pez.
Mas algo à mulher disse num tom cristalino:
Ainda não é tarde, olha mais uma vez
As torres ígneas da tua natal Sodoma,
A praça onde cantaste, o pátio onde fiaste,
As vazias janelas da casa sem dona,
Onde o marido amado com filhos brindaste.
Olhou. Paralisados pela dor mortal,
Seus olhos mais não viram do que a noite escura,
E o seu corpo ficou de transparente sal
E os pés ágeis cravaram-se na terra dura.
Quem entre os homens tal mulher lamentará?
Não será ela a perda menor a chorar?
Só o meu coração jamais esquecerá
A que perdeu a vida por um só olhar.
E a mulher de Loth olhou para trás
e transformou-se em estátua de sal.
E ia o justo atrás do enviado divino,
Enorme e claro, pela montanha de pez.
Mas algo à mulher disse num tom cristalino:
Ainda não é tarde, olha mais uma vez
As torres ígneas da tua natal Sodoma,
A praça onde cantaste, o pátio onde fiaste,
As vazias janelas da casa sem dona,
Onde o marido amado com filhos brindaste.
Olhou. Paralisados pela dor mortal,
Seus olhos mais não viram do que a noite escura,
E o seu corpo ficou de transparente sal
E os pés ágeis cravaram-se na terra dura.
Quem entre os homens tal mulher lamentará?
Não será ela a perda menor a chorar?
Só o meu coração jamais esquecerá
A que perdeu a vida por um só olhar.
7 comentários:
Excelente poema. A fazer jus ao ditado: "A curiosidade matou o rato".
Pessoalmente prefiro a história da Medusa: essa transformava ela os outros em estátuas, sobretudo homens, como é sabido. Digamos que é o oposto da mulher de Lot, um tipo de poder feminino esmagador.
Enfim, mitologias...
Só uma duvida...Se o poema é traduzido de russo para portugues como é que pode rimar na mesma?
Leitor Anónimo, nisso reside a arte de tradução de poesia de uma língua para outra. É muito difícil, mas alguns conseguem. José Sampaio Marinho era um dessses.
Não deixa de ser uma arte confesso.Mas não deixa de ser verdade que deturpa um bocado o poema,pois muda palavras.E a palavra no poema é tudo,é ela que caracteriza o poeta e o seu sentimento na altura.
Seria justo dizer que o nome verdadeiro da poetisa é Anna Gorenko, de origem ucraniana, portanto.
Caro Jest, isso não é importante, pois escrevia em russo, trata-se de uma poetisa russa. Nasceu em Odessa. Por acaso, não tem raízes judias?
Para mim, o importante é que se trata de uma grande poetisa.
Pois, mas se ela nasceu sendo ucraniana, é justo e correcto mencionar este facto histórico.
Ex.: a imprensa portuguesa menciona os raizes portugueses do Sam Mendes (Beleza Americana), J-Key (cantor), etc.
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