O leitor António Campos fez-nos o favor de traduzir um artigo de Edward Lucas, publicado na revista The Economist, a propósito do Pacto Ribbentrop-Molotov, cujo 70º aniversário da assinatura será assinalado no Domingo, 23 de Agosto. Amanhã, irei publicar um artigo que escrevi para a Agência Lusa.
"Criminalizar a investigação histórica está errado
Em que medida o contexto determina críticas e elogios? Esta é a questão que os que pretendem efectuar juízos ou fazer observações acerca de Hitler, Estaline ou do clima enfrentam. Levado a extremo, quando cada atributo é analisado isoladamente, a moral e a razão desaparecem. Hitler era bom para os animais. Estaline adorava crianças. Churchill bebia demais. John F. Kennedy era um mulherengo. Estamos no verão e está fresco, portanto o aquecimento global é um disparate.
No outro extremo, quando tudo está ligado, os juízos tornam-se impossíveis, em virtude do receio de deixar de fora eventuais comparações importantes. Porquê queixarmo-nos de Estaline quando podemos escrever sobre Mao? Então e os impérios coloniais do século 19? Estes aniquilaram muitos mais milhões de pessoas do que os regimes totalitários do século 20. Que direito tem um comentador britânico/americano/alemão/chinês/russo de falar sobre a Rússia/Alemanha/China/América/Inglaterra? Esta pode ser uma boa táctica de debate, mas conduz à paralisia mental: quando tudo conta, nada conta.
A resposta tempestuosa a uma recente coluna sobre uma resolução da OSCE equiparando Hitler a Estaline realça a questão. Uma das linhas de ataque usadas foi do tipo “o artigo “esqueceu-se” de mencionar os crimes britânicos”. É certamente verdade que a Grã-Bretanha tem muitas coisas de que se envergonhar sobre o que se passou antes, durante e depois da segunda guerra mundial. O acordo de Munique com Hitler para eviscerar a Checoslováquia é uma delas; outra é a deportação de cossacos e outras forças anti-soviéticas para uma morte certa após a guerra, na Operação Keelhaul. Uma terceira é dada pelas décadas de recusa em aceitar que o massacre de Katyn foi obra dos soviéticos e não dos nazis.
Mas o objectivo do artigo não era debater se a história soviética era mais (ou menos) maldosa do que a britânica. Comparações desse tipo estão pejadas de dificuldades, sendo uma das mais importantes a forma de medir a maldade. Esta não se mede em unidades convenientes (males, giga-males, tera-males) que podem ser facilmente somados para produzir uma folha de cálculo de assassínios e devastação.
O que pode ser claramente afirmado é que a Grã-Bretanha, tal como quase todos os outros países que se dizem civilizados, não criminaliza a investigação histórica. Um australiano que pretenda investigar o tratamento genocida dos Tasmanianos, ou um americano que pretenda escrever acerca dos bombardeamentos de civis alemães poderá mesmo receber uma bolsa de estudo para tal. Ao contrário da Rússia, tais indivíduos não arriscarão passar tempo na prisão. A Resolução da Assembleia Parlamentar da OSCE é admirável, principalmente porque desafia a tentativa do Kremlin de impedir o estudo destes temas históricos.
A resolução da OSCE está aberta a críticas legítimas. John Laughland, historiador britânico no Instituto para a Democracia e Cooperação em Paris (pró-Kremlin), afirmou no canal Russia Today que os políticos são maus historiadores. Ninguém se saiu bem no processo que conduziu à segunda guerra mundial. A Polónia, referiu este historiador, ajudou a desmembrar a Checoslováquia ao anexar a cidade de Cieszyn/Tĕšin. O plano de Hitler de atacar a Polónia é anterior ao pacto Molotov-Ribbentrop, pelo que este acordo, por mais vergonhoso que fosse, não deu a luz verde para a invasão. Laughland argumenta também que as premissas centrais do nazismo eram a guerra e a perseguição racial, enquanto o comunismo soviético não era racista nem expansionista (na época de Estaline).
Estes são, de facto, temas excelentes para os historiadores. Mas tal não significa que os políticos os devam ignorar. O Pacto Molotov-Ribbentrop não é um acontecimento exclusivamente maléfico. Mesmo Putin, nas suas declarações, revela ser um pouco nebuloso quanto aos detalhes do mesmo. Assim, o septuagésimo aniversário do acordo entre Hitler e Estaline é uma excelente altura para o levar à discussão – particularmente em países onde quem o fizer não corre o risco de ir parar à prisão."
Em que medida o contexto determina críticas e elogios? Esta é a questão que os que pretendem efectuar juízos ou fazer observações acerca de Hitler, Estaline ou do clima enfrentam. Levado a extremo, quando cada atributo é analisado isoladamente, a moral e a razão desaparecem. Hitler era bom para os animais. Estaline adorava crianças. Churchill bebia demais. John F. Kennedy era um mulherengo. Estamos no verão e está fresco, portanto o aquecimento global é um disparate.
No outro extremo, quando tudo está ligado, os juízos tornam-se impossíveis, em virtude do receio de deixar de fora eventuais comparações importantes. Porquê queixarmo-nos de Estaline quando podemos escrever sobre Mao? Então e os impérios coloniais do século 19? Estes aniquilaram muitos mais milhões de pessoas do que os regimes totalitários do século 20. Que direito tem um comentador britânico/americano/alemão/chinês/russo de falar sobre a Rússia/Alemanha/China/América/Inglaterra? Esta pode ser uma boa táctica de debate, mas conduz à paralisia mental: quando tudo conta, nada conta.
A resposta tempestuosa a uma recente coluna sobre uma resolução da OSCE equiparando Hitler a Estaline realça a questão. Uma das linhas de ataque usadas foi do tipo “o artigo “esqueceu-se” de mencionar os crimes britânicos”. É certamente verdade que a Grã-Bretanha tem muitas coisas de que se envergonhar sobre o que se passou antes, durante e depois da segunda guerra mundial. O acordo de Munique com Hitler para eviscerar a Checoslováquia é uma delas; outra é a deportação de cossacos e outras forças anti-soviéticas para uma morte certa após a guerra, na Operação Keelhaul. Uma terceira é dada pelas décadas de recusa em aceitar que o massacre de Katyn foi obra dos soviéticos e não dos nazis.
Mas o objectivo do artigo não era debater se a história soviética era mais (ou menos) maldosa do que a britânica. Comparações desse tipo estão pejadas de dificuldades, sendo uma das mais importantes a forma de medir a maldade. Esta não se mede em unidades convenientes (males, giga-males, tera-males) que podem ser facilmente somados para produzir uma folha de cálculo de assassínios e devastação.
O que pode ser claramente afirmado é que a Grã-Bretanha, tal como quase todos os outros países que se dizem civilizados, não criminaliza a investigação histórica. Um australiano que pretenda investigar o tratamento genocida dos Tasmanianos, ou um americano que pretenda escrever acerca dos bombardeamentos de civis alemães poderá mesmo receber uma bolsa de estudo para tal. Ao contrário da Rússia, tais indivíduos não arriscarão passar tempo na prisão. A Resolução da Assembleia Parlamentar da OSCE é admirável, principalmente porque desafia a tentativa do Kremlin de impedir o estudo destes temas históricos.
A resolução da OSCE está aberta a críticas legítimas. John Laughland, historiador britânico no Instituto para a Democracia e Cooperação em Paris (pró-Kremlin), afirmou no canal Russia Today que os políticos são maus historiadores. Ninguém se saiu bem no processo que conduziu à segunda guerra mundial. A Polónia, referiu este historiador, ajudou a desmembrar a Checoslováquia ao anexar a cidade de Cieszyn/Tĕšin. O plano de Hitler de atacar a Polónia é anterior ao pacto Molotov-Ribbentrop, pelo que este acordo, por mais vergonhoso que fosse, não deu a luz verde para a invasão. Laughland argumenta também que as premissas centrais do nazismo eram a guerra e a perseguição racial, enquanto o comunismo soviético não era racista nem expansionista (na época de Estaline).
Estes são, de facto, temas excelentes para os historiadores. Mas tal não significa que os políticos os devam ignorar. O Pacto Molotov-Ribbentrop não é um acontecimento exclusivamente maléfico. Mesmo Putin, nas suas declarações, revela ser um pouco nebuloso quanto aos detalhes do mesmo. Assim, o septuagésimo aniversário do acordo entre Hitler e Estaline é uma excelente altura para o levar à discussão – particularmente em países onde quem o fizer não corre o risco de ir parar à prisão."
19 comentários:
Artigo interessante!
É bom poder ver os vários pontos de vista dum facto histórico que é conhecido como o cúmulo da infâmia e cinismo e está ligado ao desencadear da segunda guerra mundial.
Espero que tenham autorização do The Economist para traduzir o texto. Citar tem-se sempre direito de fazer, traduzir nem sempre se pode.
Muito bem dito, nada a acrescentar!
/Um australiano que pretenda investigar o tratamento genocida dos Tasmanianos, ou um americano que pretenda escrever acerca dos bombardeamentos de civis alemães poderá mesmo receber uma bolsa de estudo para tal. Ao contrário da Rússia, tais indivíduos não arriscarão passar tempo na prisão./
PARTE 1:
Também acho que a História deve ser deixada para os historiadores.
Mas vejamos o seguinte, qualquer investigador que trabalhe num instituto decente tem de apresentar resultados
periodicamente. Esses resultados são medidos em termos de publicações em conferências e revistas científicas.
O processo de selecção e rejeição de artigos é feito obviamente por membros da comunidade. Muitas vezes, mesmo
em áreas politicamente inertes como a Matemática ou a Engenharias, os artigos são aceites ou rejeitados não pela sua qualidade,
mas pelos nomes dos respectivos autores, não devia ser assim, mas muitas vezes é.
Nos últimos 90 anos, a URSS foi vista como a fonte de todos os males (1).
Esta ideia está de tal maneira infiltrada nas cabeças das pessoas cá por estas bandas, que apesar de tanto a URSS como a França e o Reino Unido terem tentado usar a força da Alemanha
para seu proveito próprio, a OSCE só se lembra dos Pacto Molotov-Ribbentrop: antes que me digam que estou a fazer propaganda a favor da versão da História
autorizada pelo Kremlin, aviso já que a teoria de usar a Alemanha como quebra-gelos no ocidente também não me espanta.
Por outro lado, olhando para muitas das decisões recentes da União Europeia em relação à Rússia dos nossos dias, vemos que por muito que se tente esconder do "povão" (2)
duas motivações principais estão na sua génese:
1: Ajuste de contas (justo ou injusto, não discuto) entre os Ex-membros do P. Varsóvia e a Rússia, herdeira oficial da URSS
2: O facto de apesar de provavelmente não ter meios financeiros para aspirar de novo a um Império, a Rússia putinista ter deixado de ser tão proveitosa para os grandes grupos ocidentais, nomeadamente
na área da energia, onde se cancelaram acordos vergonhosos consentidos pela administração Ieltsin.
Hércules de Santarém
Notas:
(1) Vou abster-me de tecer mais comentários acerca de tudo o que de nocivo realmente trouxe ao mundo, até porque disso já todos sabemos,
e tenho a certeza que o nosso caro J. Milhazes trabalhará arduamente para nos trazer tudo o resto que for possível.
(2) Aqueles que não têm tempo/interesse para ler de fontes diversificadas como blogs e outras fontes disponíveis na net, e se limitam a absorver o mundo através dos jornais
generalistas que temos, incluindo este, e noticiários como os da Manuela Moura Guedes.
PARTE 2:
A Rússia hoje é responsabilizada por toda a herança soviética, e assim viu transferida para si todos os anticorpos gerados ao longo do séc. XX
no hemisfério ocidental, ao mesmo tempo que era semeada a simpatia pela Europa e EUA, nossos aliados oficiais. A prova disso encontra-se facilmente
em muitos jornais e blogs. Quando algum europeu defende uma posição ocidental, reconhece-se que defende aquilo por convicções, etc. Se,
pelo contrário, se mostrar discordante leva logo o rótulo de anti-europeu, anti-americano, etc. Por outro lado, se alguém critica as posições
de Moscovo, é-lhe igualmente reconhecido esse direito sem mais questões, mas se se manifesta a favor dessas posições, tem imediatamente de levar
um rótulo de pró-Kremlin, sugerindo talvez algo entre-linhas. Este artigo não conseguiu fugir a esse hábito.
Portanto, realmente ninguém irá prender um Historiador por investigar as eventuais virtudes das acções soviéticas, e o seu impacto no desfecho final da guerra,
e isso é absolutamente de louvar. Mas será que não ficará sem sustento, ou pelo menos com a carreira retardada? Perante tantas condicionantes, alguém acha que um historiador com teses contra a corrente dominante tem futuro na área? Verá os seus artigos aceites e devidamente reconhecidos?
Talvez consiga umas publicações.... no Avante!
Um pequeno à parte, soube hoje que um dos autores do atentado ao avião da PanAM, cuja extradição foi pedida à Líbia por mais de 15 anos,
foi libertado e conduzido a casa, contrariamente à vontade dos familiares das vítimas. Vamos ficar atentos a futuros negócios Anglo-Líbios/Euro-Líbios/Americo-Líbios
ou eventualmente ao cancelamento dos projectos de construção da base naval russa na Líbia, para
constatarmos se sim ou não, somos todos manipulados como palhaços pelos "fazedores de opinião" e governantes, à semelhança do que aconteceu quando
nos quiseram contar a história da carochinha como justificação para a invasão do Iraque. Com o tempo descobrimos que as únicas armas de destruição
maciça existentes aí eram as mulheres bonitas :)
Hércules de Santarém
Interessante comentário. Mas seria muito mais interessante se o autor tivesse substanciado algumas das afirmações que fez, para percebermos melhor o seu raciocínio. Nomeadamente:
- seria útil perceber como é que a França e o Reino Unido “tentaram usar a força da Alemanha em proveito próprio” e em que contexto;
-que tipo de “ajuste de contas” os países saídos da esfera de influência da URSS pretendem: compensações financeiras? Sanções internacionais? Anexação de territórios?
-quais os acordos “vergonhosos” entre a administração Yeltsin e grandes grupos internacionais que foram cancelados por Putin;
Por outro lado, o autor do comentário cai de novo na falácia do “nós, os das posições ocidentais” e do “eles, os pró-russos” (ou vive versa), tal como se a guerra fria ainda não tivesse acabado, esquecendo-se de que existem na Rússia centenas de personalidades incansáveis que criticam o regime e estudam objectivamente a história da URSS, nunca lhes tendo passado pela cabeça considerarem-se “pró-ocidente” só porque defendem valores universais de liberdade, democracia e objectividade. A este respeito, recomendo a audição da rádio “Ekho Moskvy”, ainda a emitir através da internet, uma vez que infelizmente o jornal “Novaya Gazeta” é virtualmente impossível de encontrar na Rússia, quanto mais na UE.
A alegação de que quem defende valores contrários ao sistema é relegado para segundo plano é ainda mais surreal. Estou certo de que os observadores que não se limitam a ouvir as notícias no telejornal da Moura Guedes já terão pelo menos ouvido falar em obras tais como “What Happened”, de Scott McLellan, antigo secretário de imprensa da administração Bush, “Fiasco” de Thomas Ricks, sobre o desastre na invasão do Iraque, das obras de Nafeez Ahmed, bem como dos trabalhos de Michael Moore (que até ganhou um Óscar da Academia, veja-se lá), das peças jornalísticas do prémio Pulitzer Seymour Hersh (responsável por revelações, entre muitas, dos massacres de My Lai no Vietname, por Abu Ghraib e pelos planos militares americanos contra o Irão) e dos autores (extremamente críticos do sistema) Naomi Klein, Noam Chomsky e Gore Vidal, estando estes últimos entre os mais respeitados pensadores da actualidade a nível mundial.
Já agora, Seymour Hersh não escreve para o “Avante”. Escreve para o “New Yorker”.
António Campos
Tive direito a resposta! Obrigado desde já.
Seguem então os meus comentários:
"...- seria útil perceber como é que a França e o Reino Unido “tentaram usar a força da Alemanha em proveito próprio” e em que contexto;..."
Meu caro, se ainda não se tinha apercebido disto (o que não acredito, pois ninguém que aspira a falar desta época pode manisfestar tamanha falta de interesse), é melhor rever tudo desde o início, mas eu dou-lhe uma ajuda. Este documento,
http://ia311506.us.archive.org/1/items/struggleforgerma007232mbp/struggleforgerma007232mbp.pdf
embora nem sempre fácil de ler, conta tudo desde o início, desde a I guerra, e da forma como as potências vencedoras tentaram fasear a necessária retirada das
tropas alemâs da europa de leste, de modo a impedir que o bolvechismo saltasse para fora das fronteiras russas.
Deixo-lhe aqui um parágrafo extraído da página
87 do documento, para o transportar para o momento histórico retratado no seu post, mas sugiro que tente ler o máximo que conseguir.
"Earlier in the year Chamberlain and Halifax had been able to contemplate with serenity a German invasion of the Ukraine;
now Stalin, with equal serenity, could contemplate German hostilities against Britain and its allies. By virtue of Stalin's victory,
the policy of appeasement had suffered overwhelming defeat. The British guarantee to Poland, although something of the
sort had been mooted during the previous fortnight, is best described as *an improvisation'."
Parte 1
"...-que tipo de “ajuste de contas” os países saídos da esfera de influência da URSS pretendem:..."
Deixo as conclusões para si, com estes dois exemplos:
http://www.baltictimes.com/news/articles/20341/
http://www.guardian.co.uk/world/2005/nov/26/russia.poland
e lembre-se, antes de lhe começarem a sair surrealismos para aqui e para ali, calma. Respire. Eu não disse se achava justos ou injustos,
tais ajustes de contas.
"... -quais os acordos “vergonhosos” entre a administração Yeltsin e grandes grupos internacionais que foram cancelados por Putin; ..."
Pois, hoje como no passado, o poder na Rússia rege-se por pessoas e não por leis. Se me diz que o poder está hoje num punhado de oligarcas
que se aproveitam dos cargos para se tornarem milionários, eu acredito, até porque vivo num país onde isso também não é muito diferente.
Mas a minha questão é: por que razão teve o presidente Ieltsin a necessidade de apelar ao sentimento nacionalista dos russos com um novo assalto à Tchethcénia, motivado por
bombardeamentos terroristas a edifícios em Moscovo, cuja autoria é ainda hoje muito duvidosa? Foi isso que colocou Putin no poder.
Pois, a Rússia do bem amado - por cá (sim por cá, no dito ocidente, se os outros falam de Ocidente, eu também posso falar, pode ser?) - Ieltsin também estava entregue a um
punhado de familiares e aliados que só não foram presos por graves roubos (desvios como se diz cá) até de dinheiro emprestado pelo FMI à Rússia
porque o topo da cadeia deu ordens claras para acabar com os processos, e demitir os responsáveis pelas investigações. De que casos falo eu?
Aeroflot, Bank of New York, Mabetex, Sibneft, etc.
Parte 2
Assassinatos de jornalistas nunca devidamente explicados. Isso não começou ontem, nem anteontem. Lembre-se do caso Vladislav Listyev, nos anos 90.
Quanto ao controlo dos meios de comunicação apresento aqui um extrato de um artigo de Laura Belin, que pode ser acedido na íntegra em:
http://www.tol.cz/look/knowledgeNet/tolprint.tpl?IdLanguage=1&IdPublication=12&NrIssue=13&NrSection=22&NrArticle=4986&ST1=body&ST_T1=knreport&ST_AS1=1&ST_max=1
"... Backroom attempts to intimidate privately owned media were also stepped up in 1999. Foremost among them was the pressure brought to bear on NTV,
the country's most influential private television network. NTV's parent company, Media-MOST, had borrowed several hundred million dollars to create a
satellite network and found itself in deep trouble after the 1998 ruble devaluation. In June 1999, state-owned Vneshekombank demanded the immediate
cash repayment of a huge loan it had issued to Media-MOST the previous year. NTV executives later claimed that during a private meeting with then-Prime
Minister Stepashin and Kremlin Chief of Staff Voloshin, Media-Most head Vladimir Gusinskii was told that his holding company would receive $100 million
if NTV agreed to back the Kremlin during the upcoming parliamentary and presidential elections. Journalists at several Media-MOST outlets complained
in July that high-ranking Kremlin officials were instigating tax inspections and other investigations in order to punish their outlets for critical
coverage. ..."
Hoje, acusa-se (incluindo o Partido Comunista, antes que comece a acusar-me de ser comunista...)
os dirigentes do governo russo são acusados de fraudes eleitorais e campanhas desleais e assim a constituição do parlamento acabe por ser favorável ao Kremlin.
E agora, pergunto, o que fez Ieltsin quando isso não aconteceu, em 93? Bombardeou o parlamento. Onde estavam os nossos críticos líderes nessa altura? E como ficaram? Calados, afinal a ideia era segurar Ieltsin a TODO o custo, e aproveitar para fazer bons negócios.
Parte 3
Mais um artigo como contribuição para o por vezes tão raro exercício do contraditório:
"The West let Russia down, and it's a shame," said Meadowcroft, a former British MP and veteran of 48 election-monitoring missions to 35 countries.
In a recent telephone interview with The eXile, Meadowcroft explained how he was pressured by OSCE and EU authorities to ignore serious irregularities in Boris Yeltsin's heavily manipulated 1996 election victory, and how EU officials suppressed a report about the Russian media's near-total subservience to pro-Yeltsin forces.
Up to the last minute I was being pressured by [the OSCE higher-ups in] Warsaw to change what I wanted to say," said Meadowcroft. "In terms of what the OSCE was prepared to say publicly about the election, they were very opposed to any suggestion that the election had been manipulated."
In fact, he says, the OSCE and the West had made its mind up about how wonderfully free and fair Boris Yeltsin's election was before voting even started."
Extraído de http://www.exile.ru/articles/detail.php?ARTICLE_ID=14536&IBLOCK_ID=35
Se quiser, vá até este página http://www.sublimeoblivion.com/blogs/darussophile/russophobe-myths para concordar ou discordar com o que lá é escrito.
Mais uma vez, calma. Eu não dei a minha opinião acerca do conteúdo.
Parte 4
Vamos aos negócios,
"...The oil deals which were done by Western companies in Russia in the 1990s treated Russia like a Third World country.
Russia was weak economically and politically chaotic. From the time of his re-election as Russian President in June 1996 to the time he
stepped down on December 31, 1999, Boris Yeltsin was concerned with just one thing: ensuring that, after his time as President finished,
he and his family (not just his relatives, either, but “family” in the widest sense of the word) would be safe for life from prosecution.
...
So, if all is fair in love, war and business, the Western oil companies perhaps cannot be blamed for taking advantage of Russia’s weakness
to put in place deals which were hugely favourable to them. But on that same principle, can a resurgent Russia really be blamed for wanting
to re-negotiate terms now that it is strong?
...
The law forbids foreign investors from holding 50pc or more of any company engaged in “strategic sectors”. On the face of it, there is a certain
logic in this. No country would allow foreigners, for example, to control its defence interests
But this law goes way beyond defence. A total of 42 sectors are listed as “strategic”, covering natural resources, aviation, the media,
communications and nuclear facilities (as well as defence). Any TV or radio station which broadcasts to more than half of Russia’s population is
“strategic”, as is any large-scale printing or publishing activity."
Stephen Dalziel, executive director, Russo-British Chamber of Commerce, July, 29, 2008
Mas há mais fontes, descanse:
http://useconomy.about.com/od/worldeconomy/p/Russia_economy.htm
http://business.timesonline.co.uk/tol/business/industry_sectors/natural_resources/article3101431.ece
http://www.ecoshock.org/2006/10/sakhalin-natural-gas-fight-get-used-to.html
Parte 5
Acrescente-se ainda que a actual administração russa pretende (começou a) retomar as relações privilegiadas que alguns países como Angola, Cuba, e outros da América Central
tinham com a URSS, e a Gazprom não pára de crescer....
"... Por outro lado, o autor do comentário cai de novo na falácia do “nós, os das posições ocidentais” e do “eles, os pró-russos” (ou vive versa),
tal como se a guerra fria ainda não tivesse acabado, ... "
Ai sim? Então é melhor informar a administração americana disso, porque ainda hoje mantém restrições no comércio com a Rússia. Restrições herdadas da Guerra Fria.
Sim, mais um artigo para ler:
"Russia Calls Dropping Jackson-Vanik Priority For U.S."
MOSCOW (Reuters) -- Russian Foreign Minister Sergei Lavrov has said that dropping the 1974 Jackson-Vanik amendment that restricts trade would be a
priority for the United States administration, Itar-Tass reported. Russia has repeatedly complained that the United States has kept in place trade
restrictions, some of them dating back to the Cold War years, such as the Jackson-Vanik amendment, which tied trade relations with the Soviet Union to the rights of religious minorities to emigrate."
http://www.rferl.org/content/article/1771363.html
Podia também falar dos alargamentos da NATO para Leste, e de necessidade da inclusão dos "estrategicamente bem colocados" países bálticos na aliança
para nos protegermos do Irão e da Coreia do Norte. Portanto, o "nós" e o "eles" só não é realidade para que não quer.
"... Estou certo de que os observadores que não se limitam a ouvir as notícias no telejornal da Moura Guedes já terão pelo menos ouvido falar em obras tais como ..."
É verdade, o problema é que os outros, os que ficam por aí são suficientes para eleger uma maioria eleitoral, por isso, o facto constatado por si não
me tranquiliza.
Parte 6
Parte 7:
Quando fala do Michael Moore, sim ele ganhou um oscar, mas podia falar também das manobras para tirar a palavra aos opositores da Guerra durante essa cerimónia.
Já que fala no Chomsky, esse grande senhor, estamos de acordo, mostro-lhe mais um exemplo da hipocrisia do Ocidente. O tratamento dado a Ceausescu, um dos mais
autoritários dirigentes da Europa de Leste, que manteve o seu povo na mais pura miséria física e mental, cultivava o culto da personalidade, e que por sinal foi o único que foi fuzilado
com a queda do regime. Esse senhor recebeu condecorações na Dinamarca e Reino Unido, porquê? Pergunte aos autores dessas distinções, que como pessoas idóneas que certamente serão, lhe tirarão todas as dúvidas.
O artigo do senhor Chomsky está neste endereço: http://www.chomsky.info/interviews/20020416.htm
Já agora, estudar o extermínio dos aborígenes da Austrália, não é tão complicado como estudar factos que ocorreram praticamente ontem. É necessária uma distância
histórica, para se esquecerem as paixões. E acha que qualquer jovem aluno de Doutoramento se atreve a fazer uma tese potilicamente incorrecta, por exemplo, para estudar as
eventuais relações entre os "Ceausescos" e a actual família real ou governo britânico, e pedir uma bolsa no Reino Unido? Talvez sim, talvez não.
Como nota final, obviamente não nego o superior interesse do conhecimento da verdade, mas hoje em dia, quem tem mais meios define o que é "a verdade", e é por isso que eu acho que não devemos aceitar nada sem começar por duvidar.
Cumprimentos,
Hércules de Santarém
Parte 1
O pressuposto fundamental para uma discussão proveitosa é que haja um mínimo de honestidade intelectual subjacente. Se começamos a brincar com as palavras e a confundir alhos com bugalhos, não se chega a lado nenhum.
Para começar: convém clarificar que, ao usar a força da Alemanha no tal “proveito próprio”, os aliados estavam além disso a ter em consideração o proveito da própria Alemanha e da Europa central e ocidental como um todo, ao impedir uma possível ocupação soviética de uma parte significativa do continente. Aliás, no final da guerra, o desespero da Alemanha era tal que os seus soldados lutavam com muito mais convicção na frente oriental do que na frente ocidental, sendo também sobejamente conhecidas as tentativas alemãs de estabelecer uma paz separada com os aliados ocidentais, por forma a conter mais eficazmente o avanço do exército vermelho.
Sabemos agora muito bem o que é que os países anteriormente ocupados pela URSS pensam dos seus “libertadores”.
É interessante referir que o empenho de Churchill numa solução justa para a Polónia era de tal forma intenso que o fez mesmo solicitar, ao seu estado-maior, de forma quase paranóica, um estudo de viabilidade de uma possível ofensiva das potências ocidentais, juntamente com a Polónia e o que restava do exército alemão, para obrigar militarmente Estaline a cumprir as promessas que fez em Yalta relativamente à independência deste país.
Equiparar iniciativas de auto-defesa contra os objectivos da Comintern, contrários à vontade da esmagadora maioria da população europeia, a uma política egoísta que merece ser sancionada pela OSCE ao nível do pacto Molotov-Ribbentrop é, além de intelectualmente desonesto, um monumental tiro no pé. Com efeito, será em grande medida devido às acções “em proveito próprio” das potências ocidentais relativamente à Alemanha que nos é permitido neste momento manter uma discussão pública deste tipo sem um de nós ir parar à cadeia.
Quanto aos “ajustes de contas”: na minha terra, um “ajuste de contas” neste contexto significa a procura de uma compensação por um mal (real ou imaginário) causado por uma parte terceira. Mas talvez isso signifique outra coisa noutros sítios. Não consegui identificar qualquer coisa desse tipo nos exemplos citados, que reflectem nada mais do que as aspirações legítimas de países previamente ocupados pela URSS ao reconhecimento dos seus interesses e à reposição de factos relevantes do ponto de vista histórico.
Parte 2
Na mesma linha, teríamos que afirmar que os insistentes pedidos polacos para a desclassificação dos documentos relativos aos massacres de Katyn, Kharkov e Mednoye, ou o reconhecimento do Holocausto não são mais do que tentativas de “ajustar as contas” com o agressor. Se enveredarmos por essa lógica, vamos acabar por ter de considerar até que a simples menção de um mal passado incómodo constitui um “ajuste de contas”.
Quanto ao resto, não é mais do que a táctica habitual de tentar desviar a atenção para os males dos outros para não se discutir o que verdadeiramente está em causa. Cabe apenas dizer que até a injustiça percebida dos acordos firmados com a administração Yeltsin tem que ser enquadrada no seu devido contexto: a Rússia da altura era um país fraco, com infra-estruturas (tanto ao nível da prospecção como do transporte) decrépitas e o sector dos hidrocarbonetos (bem como todos os outros) estava pelo menos 30 anos atrasado relativamente a outros países industrializados; o cumprimento das leis e o sistema judicial eram uma miragem. Tudo isto tornava a Rússia num mercado de risco extremamente elevado, ainda que atractivo. Seguindo o mesmo raciocínio, teríamos então que aceitar que a habitual partilha de rendimentos proposta pelas empresas de capitais de risco, que chega a exigir 80% dos lucros que as startups que apoia possam vir a gerar, é “vergonhosa”.
Mas o cerne da questão não é este. Mesmo admitindo que a negociação dos recursos energéticos russos não tivesse corrido da forma mais vantajosa para o povo russo, seria legítimo esperar que uma eventual “reparação das injustiças passadas” através da repudiação de acordos anteriores e da apropriação de activos transaccionados, tivesse resultado numa volta da situação para melhor.
Mas tal não aconteceu. A “renacionalização” do “sector estratégico” dos hidrocarbonetos não foi mais do que uma maciça transferência de propriedade com benefícios duvidosos. Para além de ter desmembrado a Yukos, uma empresa altamente rentável, orientada para a expansão e com critérios de gestão e de contabilidade transparentes de nível internacional, Putin fez da Gazprom, o melhor exemplo desta “reforma” do sector energético, o seu projecto pessoal. Os resultados? Neste momento, a empresa é incapaz de suprir até o mercado doméstico, tendo que recorrer a depósitos em países na Ásia central (muito brevemente a preços de mercado) para complementar as suas próprias reservas. Em 2003, a Gazprom gastava menos de mil milhões de dólares em aquisições de gás a terceiros. Em 2007, foram gastos 15 mil milhões (mais de 25% dos custos operacionais da totalidade da empresa). Aliás, estes mesmos custos operacionais revelam o aumento chocante da ineficiência da empresa: ainda que a actual produção em volume da Gazprom se situe a níveis de 1999, estes custos triplicaram desde 2003. Não se percebe portanto como é que o nível de endividamento da empresa passou de 13 mil milhões de dólares em 2000 para uns astronómicos 62 mil milhões em 2007 se tanto a produção como a produtividade continuam a baixar.
Parte 3
Mas pior ainda é o facto de que nos últimos anos termos vindo a assistir a uma série de maquinações obscuras que resultaram, nas palavras de Boris Nemtsov e Vladimir Milov, “na transferência de activos avaliados em mais de 60 mil milhões de dólares para entidades externas controladas por amigos de Putin (Gazprombank, Sogaz, Sibur, Gazprom-Media e Gazfond), bem como o desvio de fundos no valor de 20 mil milhões de dólares sob o pretexto de adquirir acções na Sibneft (revelando-se ela própria um rotundo fracasso de gestão) e em conluios envolvendo a empresa de trading Rosukrenergo. O valor perdido pela Gazprom nestas transacções é aproximadamente igual ao custo de desenvolver as novas jazidas de Shtokman, Bobanekovo e diversas outras, que seriam fundamentais para desenvolver o mercado do gás na Rússia”.
Quem beneficiou? Seguramente não a população russa, muito pelo contrário, até por que é ela que paga a factura. É caso para afirmar então que os tais acordos vergonhosos da era Yeltsin deram origem a maquinações vergonhosas que beneficiaram um punhado de neo-oligarcas em detrimento da população em geral.
Para mais detalhes sobre esta questão, é obrigatória a leitura do relatório de Nemtsov e Milov, intitulado “Putin e a Gazprom”, relatório esse cuja divulgação foi virtualmente censurada na Rússia, uma vez que o sector das comunicações/media é considerado “estratégico”. Não é difícil de entender porquê.
Quanto ao resto, os comentários têm até piada. Não é à toa que Chomsky, uma dos mais raivosos críticos da política americana, chama a este país “o mais livre do mundo”. Os conspiracionalistas anti-ocidentais habituais acabam por cair no ridículo ao usarem “contra-exemplos” publicados em media de primeira linha em sociedades livres, em si mesmos exemplos de que a imprensa é totalmente livre e aberta, para contraporem (mais uma vez tentando pateticamente desviar a atenção do problema) à podridão do outro lado.
De uma vez por todas: convém entender que já toda a gente percebeu que a administração Yeltsin foi desastrosa para a Rússia e que as eleições de 1996 foram fraudulentas. O que convém perceber é que, dez anos volvidos, o desastre continua.
António Campos
PARTE 1
Meu caro senhor,
Não me leve a mal, mas quando comecei a ler a sua resposta lembrei-me logo
do Dr. Pacheco Pereira, com a sua famosa frase "Mas essa não é a questão essencial". Porquê? Já vai ver.
"Para começar: convém clarificar que, ao usar a força da Alemanha no tal “proveito próprio”, os aliados
estavam além disso a ter em consideração o proveito da própria Alemanha e da Europa central e ocidental como um todo"
Concordo, o povo checo que foi ocupado pelos alemães também concordarão e até celebram anualmente
os acordos de Munique.
"Aliás, no final da guerra, o desespero da Alemanha era tal que os seus soldados lutavam com muito mais
convicção na frente oriental do que na frente ocidental, sendo também sobejamente conhecidas as tentativas alemãs
de estabelecer uma paz separada com os aliados ocidentais, por forma a conter mais eficazmente o avanço do exército vermelho.
"
Meu caro, como deve saber, contrariamente ao que aconteceu na frente ocidental, a Alemanha
conduziu uma guerra de aniquilação na frente oriental, considerando os eslavos uma raça inferior, sub-humana,
seguindo alias uma ideia historicamente bastante disseminada em alguns grupos europeus.
Graças à brutalidade das suas acções, as tropoas alemãs, que tinham sido inicialmente recebidas como
libertadoras pelas populações oprimidas por Stalin e seus partidários, passaram rapidamente
a ser vistas como ocupantes ilegítimos, e a inspirar a mobilização popular para a resistência
à ocupação.
Pode comprar este livro (baratinho até) para se informar melhor acerca disso, caso precise:
http://www.amazon.com/War-Annihilation-Genocide-Eastern-Unnumbered/dp/0742544818
Portanto, compreende-se o stress alemão a vislumbrar uma mais que provável vingança russa. Infelizmente,
e como ainda hoje acontece, a maior parte das vítimas são inocentes, e o povo alemão
acabou por ser a maior vítima.
Portanto penso que a este respeito estamos conversados.
PARTE 2:
"Com efeito, será em grande medida devido às acções “em proveito próprio” das potências ocidentais
relativamente à Alemanha que nos é permitido neste momento manter uma discussão pública deste tipo sem
um de nós ir parar à cadeia."
Aceito que o senhor tenha essa convicção, mas como já dizia o grande físico dinamarquês, Niels Bohr, -
"Prediction is very difficult, especially about the future." - não me vou pôr a
imaginar realidades paralelas, e como seria hoje o mundo, se isto ou se aquilo. Talvez muitos povos com histórias igualmente trágicas
discordem de si, até nas Américas.
"Quanto ao resto, não é mais do que a táctica habitual de tentar desviar a atenção
para os males dos outros para não se discutir o que verdadeiramente está em causa."
Cá estamos nós a definir "a questão essencial", uma vez mais.
"Mas o cerne da questão não é este.", e outra ainda mais descarada.
"Para mais detalhes sobre esta questão, é obrigatória a leitura do relatório de Nemtsov e
Milov, intitulado “Putin e a Gazprom”, relatório esse cuja divulgação foi virtualmente censurada na Rússia, uma vez que o sector das comunicações/media é considerado “estratégico”.
Irei ler certamente, porque, apesar de nem todos fazerem como eu,
gosto de diversificar as fontes, porque não me satisfaço com meias-verdades simpáticas.
"Quanto ao resto, os comentários têm até piada. "
Também achei graça e já vai ver porquê.
"Não é à toa que Chomsky, uma dos mais raivosos críticos da política americana,
chama a este país “o mais livre do mundo”.
Raivosos críticos? Não sei se tem conhecimento, mas o senhor Noam Chomsky é um dos mais ilustres
cientistas vivos, com uma obra admirável em múltiplas áreas do conhecimento que lhe dá pelo menos o
crédito de acharmos que ele não fala à toa. Por isso, sugiro que modere os termos em que se
refere ao senhor.
Parte 3:
Por outro lado, sugiro-lhe também que enquadre as declarações do senhor e não use apenas os termos que lhe parecem
mais agradáveis à sua "filosofia".
O que ele disse foi isto:
" The United States is a *formal democracy*, but only in part a functioning democracy.
It is perhaps the most free country in the world, but there is a huge gap between public
opinion and public policy on many crucial issues -- and on many of these, I think public
opinion is far more sensible and if followed, would lead the way to a better world. I won't
review the reasons, discussed to an extent in Interventions and in more detail elsewhere:
recently in my book Failed States. Also in Benjamin Page and Marshall Bouton, The Foreign
Policy Disconnect, who show that public opinion tends to be coherent and fairly stable over
time. Sometimes government-media propaganda dupes the public -- on Saddam and 9/11, to take
a dramatic example. We know the means very well: huge government-media propaganda exercises,
which do have detectable effects. But quite often the public is not duped and continues to
oppose the policy decisions of the government, the media, and elite opinion, as public
opinion studies reveal. "
Fonte:
http://www.chomsky.info/interviews/200711--.htm
Portanto, parece-me a mim que na sua cabeça há uma grande confusão
entre o que é um pais livre e o que é um país democrático.
As duas coisas não são forçosamente sinónimas.
Realmente, o provérbio está certo: "O peixe morre pela boca."
Toda esta discussão começou, entre outras coisas, porque eu disse
que quem discordava da visão ocidental era denominado "anti-europeu","anti-americano", etc.,
ao que o senhor prontamente respondeu que não. Afinal, eu não devia ter dito isso, devia antes dizer
"Os conspiracionalistas anti-ocidentais ", tal como o senhor disse.
FINAL da NOVELA:
Já agora, lembra-se deste seu comentário, aqui neste post?
"... esquecendo-se de que existem na Rússia centenas de personalidades incansáveis que
criticam o regime e estudam objectivamente a história da URSS, nunca lhes tendo passado
pela cabeça considerarem-se “pró-ocidente” só porque defendem valores universais de liberdade,
democracia e objectividade. "
Já viu que o mesmo se pode dizer das pessoas cá do ocidente que criticam as decisões ocidentais.
Será que na realidade elas não gostam dos seus países? Têm as pessoas o direito
de lhes chamar "conspiracionalistas anti-ocidentais"?
"De uma vez por todas: convém entender que já toda a gente percebeu que a administração Yeltsin foi desastrosa para a Rússia e que as eleições de 1996 foram fraudulentas."
Claro, convém não lembrar isso. Mas eu também posso dizer que até pelo esforço que os "media oficiais"
têm feito nos últimos 50 anos, senão mais, também toda a gente já sabe que a URSS foi
uma ditadura sanguinária, e assim sendo, vamos falar antes de futebol, porque está aí o mundial não tarda nada.
Meu caro, coerência precisa-se, urgentemente.
Cumprimentos,
Hércules de Santarém
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