O futuro da Tchetchénia
Homem armado à paisana
Parque de Grozni, Monumento à amizade dos povos ao fundo
“Posso falar de tudo contigo, pois não tenho nada a esconder, mas desliga o gravador quando quiseres falar de política”, declarou à Lusa Aslambek, pequeno empresário tchetcheno, quando iniciámos a conversa.
Os tchetchenos, tais como outros povos do Cáucaso, são um povo muito hospitaleiro e comunicativo, considerando os pedidos dos seus hóspedes como uma ordem de cumprimento obrigatório, mas, desta vez, foi pedida uma excepção.
“Não peço isso porque receie criticar o Presidente Kadirov, mas a nossa história recente é dramática demais para fazer considerações públicas”, acrescentou Aslambek.
Zurema - uma mulher tchetchena que regressou há poucos anos de um campo de refugiados na Inguchétia, república vizinha da Tchetchénia – concretiza mais essa ideia.
“Eles não se cansam de falar do “síndroma de guerra” dos soldados, mas esquecem-se dos milhares de civis, de pessoas simples que sofreram durante estes anos”, começa ela o seu relato.
“Eu e a minha família tivemos de fugir da Tchetchénia duas vezes e ninguém se lembrou de nós”, continua, e sublinha com emoção: “os canais centrais de televisão (da Rússia) deturpam tudo, não acreditem neles. Apresentam os tchetchenos como uns selvagens, mas isso é uma grande mentira”.
Durante a viagem de avião para Grozni, um oficial das tropas do Ministério do Interior que ía sentado ao nosso lado, preveniu-nos: “Rapaziada, durante o dia, podem passear na cidade, mas não vos aconselho a sair do quarto do hotel durante a noite, a situação é complicada”.
“Eles (soldados russos) têm de justificar a sua presença aqui, por isso inventam. Vai ver que as coisas são bem diferentes”, explica à Lusa um taxista, enquanto nos transporta pelas ruas de Grozni.
O taxista chama a atenção, com um sorriso irónico, para um dos poucos monumentos que sobreviveram às duas guerras na Tchetchénia: o monumento à amizade dos povos. Um tchetcheno e um inguche (tchetchenos e inguches são povos muito próximos) seguem atrás de um russo. Estas três personagens históricas implantaram o poder comunista na Tchetchénia e Inguchétia depois da Revolução de Outubro de 1917.
“O monumento à amizade desses povos resistiu às bombas, mas a confiança entre tchetchenos e russos está longe de ser uma realidade. Duas guerras que provocaram muitos milhares de mortos entre a população civil tchetchena deixaram feridas muito profundas que não sei se algum dia sararão”, declara à Lusa Mukhamad, professor universitário que saiu da Tchetchénia em 1996 para a República Checa e que só recentemente regressou a casa.
“Vim ver o que tudo vai dar...”, frisa com algum cepticismo.
“Não obstante o que foi feito, que é visível em Grozni, ainda falta fazer muito mais. O desemprego é ainda muito grande, principalmente entre a juventude, que viveu a maior parte da sua vida na guerra. A corrupção e o compadrio são um forte travão económico e social”, acrescenta ele.
A prova da corrupção na Tchetchénia não tardou a chegar. Um polícia de trânsito mandou parar o táxi em que seguíamos, alegando que o condutor não tinha virado no lugar certo. O taxista “reuniu-se” a sós com o agente e regressou quase meia hora depois.
“Queria tirar-me a carta de condução por quatro meses e só me safei depois de pagar 400 rublos (cerca de oito euros). Normalmente, levam cem ou duzentos, mas desta vez exagerou, levou-me muito dinheiro”, relatou ele.
A presença militar russa não é visível no centro de Grozni, mas, nos arredores, nomeadamente junto do aeroporto, pode ver-se, por detrás de muros de tijolo, um enorme quartel de tropas do Ministério do Interior da Rússia.
“É fácil sarar as feridas materiais, reconstruir edifícios e ruas, mas as marcas da guerra vão demorar tempo a sair dos corações dos tchetchenos. Sofremos muito”, frisa Zurema.
Homem armado à paisana
Parque de Grozni, Monumento à amizade dos povos ao fundo
“Posso falar de tudo contigo, pois não tenho nada a esconder, mas desliga o gravador quando quiseres falar de política”, declarou à Lusa Aslambek, pequeno empresário tchetcheno, quando iniciámos a conversa.
Os tchetchenos, tais como outros povos do Cáucaso, são um povo muito hospitaleiro e comunicativo, considerando os pedidos dos seus hóspedes como uma ordem de cumprimento obrigatório, mas, desta vez, foi pedida uma excepção.
“Não peço isso porque receie criticar o Presidente Kadirov, mas a nossa história recente é dramática demais para fazer considerações públicas”, acrescentou Aslambek.
Zurema - uma mulher tchetchena que regressou há poucos anos de um campo de refugiados na Inguchétia, república vizinha da Tchetchénia – concretiza mais essa ideia.
“Eles não se cansam de falar do “síndroma de guerra” dos soldados, mas esquecem-se dos milhares de civis, de pessoas simples que sofreram durante estes anos”, começa ela o seu relato.
“Eu e a minha família tivemos de fugir da Tchetchénia duas vezes e ninguém se lembrou de nós”, continua, e sublinha com emoção: “os canais centrais de televisão (da Rússia) deturpam tudo, não acreditem neles. Apresentam os tchetchenos como uns selvagens, mas isso é uma grande mentira”.
Durante a viagem de avião para Grozni, um oficial das tropas do Ministério do Interior que ía sentado ao nosso lado, preveniu-nos: “Rapaziada, durante o dia, podem passear na cidade, mas não vos aconselho a sair do quarto do hotel durante a noite, a situação é complicada”.
“Eles (soldados russos) têm de justificar a sua presença aqui, por isso inventam. Vai ver que as coisas são bem diferentes”, explica à Lusa um taxista, enquanto nos transporta pelas ruas de Grozni.
O taxista chama a atenção, com um sorriso irónico, para um dos poucos monumentos que sobreviveram às duas guerras na Tchetchénia: o monumento à amizade dos povos. Um tchetcheno e um inguche (tchetchenos e inguches são povos muito próximos) seguem atrás de um russo. Estas três personagens históricas implantaram o poder comunista na Tchetchénia e Inguchétia depois da Revolução de Outubro de 1917.
“O monumento à amizade desses povos resistiu às bombas, mas a confiança entre tchetchenos e russos está longe de ser uma realidade. Duas guerras que provocaram muitos milhares de mortos entre a população civil tchetchena deixaram feridas muito profundas que não sei se algum dia sararão”, declara à Lusa Mukhamad, professor universitário que saiu da Tchetchénia em 1996 para a República Checa e que só recentemente regressou a casa.
“Vim ver o que tudo vai dar...”, frisa com algum cepticismo.
“Não obstante o que foi feito, que é visível em Grozni, ainda falta fazer muito mais. O desemprego é ainda muito grande, principalmente entre a juventude, que viveu a maior parte da sua vida na guerra. A corrupção e o compadrio são um forte travão económico e social”, acrescenta ele.
A prova da corrupção na Tchetchénia não tardou a chegar. Um polícia de trânsito mandou parar o táxi em que seguíamos, alegando que o condutor não tinha virado no lugar certo. O taxista “reuniu-se” a sós com o agente e regressou quase meia hora depois.
“Queria tirar-me a carta de condução por quatro meses e só me safei depois de pagar 400 rublos (cerca de oito euros). Normalmente, levam cem ou duzentos, mas desta vez exagerou, levou-me muito dinheiro”, relatou ele.
A presença militar russa não é visível no centro de Grozni, mas, nos arredores, nomeadamente junto do aeroporto, pode ver-se, por detrás de muros de tijolo, um enorme quartel de tropas do Ministério do Interior da Rússia.
“É fácil sarar as feridas materiais, reconstruir edifícios e ruas, mas as marcas da guerra vão demorar tempo a sair dos corações dos tchetchenos. Sofremos muito”, frisa Zurema.
11 comentários:
que "belo quadro" de um pseudo "estado de legalidade" sr. Milhazes.
Se as perspectivas de futuro para os jovens são inexistentes (falta de empregos, de segurança, etc.) como se amanham eles aí?
Recebem subsídios?
E com esses subsídios, pagarão a protecção (fornecida pela polícia corrupta e pelas prósperas mafias locais)?
Nem só de pão vive o homem.
No Cáucaso existem várias culturas que são um tesouro da humanidade.
Os chechenos são um desses exemplos. Não é só a língua chechena que é única, mas também vários costumes deles são únicos.
Que falem russo não é problema, mas o checheno como a maioria das línguas caucasianas é especial e único a nível mundial. É preciso preservar culturas como essas.
Nem só de pão vive o homem.
No Cáucaso existem várias culturas que são um tesouro da humanidade.
Os chechenos são um desses exemplos.
Logo,
os Chechenos vivem de cultura ... (risos) :D
Belas chechenas da foto ;)
“Eu e a minha família tivemos de fugir da Tchetchénia duas vezes e ninguém se lembrou de nós”, continua, e sublinha com emoção: “os canais centrais de televisão (da Rússia) deturpam tudo, não acreditem neles. Apresentam os tchetchenos como uns selvagens, mas isso é uma grande mentira”.
Não quero dizer nada de mau, mas não há fumo sem fogo. Por sinal, já há muito que pouco apresantam os tchetchénos (os canais televisivos).
Quem é português ou russo tem o direito de falar a sua língua materna no seu próprio país.
Os chechenos já falavam checheno antes de haver sequer russos (ou portugueses).
Será que os chechenos também, têm o direito a falar e exprimirem-se em checheno na Chechénia?
Anónimo disse...
Quem é português ou russo tem o direito de falar a sua língua materna no seu próprio país.
Os chechenos já falavam checheno antes de haver sequer russos (ou portugueses).
Será que os chechenos também, têm o direito a falar e exprimirem-se em checheno na Chechénia?"
Ontem, quando comprava bilhetes numa estação aqui, estavam na fila ao meu lado uns tchetchenos. Testemunho: falavam thcetchéno e as vezes russo. . Quanto à antiguidade dos tribos tchetchenos, eram não mais antigos que alguns tribos eslavos, talvez. (posso me enganar).
Sorte têm os que verdadeiramente percebem este poema checheno!
Traduzido nunca é o mesmo! Por si só ele já é um comentário.
"Ламанах духдуьйлу шал шийла шовданш
Шиэн бекъачу кийрана Ӏаббалца ца молуш,
Ӏин кӀоргиэ буьйлш, мела муж муьйлуш,
Варшан йистиэ йолу маргӀал сийна буц
Шиэн оьздачу зоьрхана буззалца ца юуш,
Орцал лахабуьйлуш, сема ладуьйгӀш,
Иччархочун тоьпуо лацарна, кхоьруш,
Дехачу диэгана буткъага мотт хьоькхуш,
Мокхазан бердах куьрана га хьоькхуш,
Попан орамах торгӀала тӀа детташ,
Лергаш дуьхьал туьйсуш, кур аркъал туьйсуш,
Гу лекха буьйлуш, гӀелашка ва гӀергӀаш,
Масаниэ сай лиэла гӀелашца ва боцуш!
Вай биэн дац, ва кӀентий, аьлар ца хуьлуш?"
Cumprimentos. NAX
Há dois mil anos já havia chechenos e os outros povos caucasianos, mas somente tribos eslavas, e não a nação russa diferente das outras nações eslavas. O mesmo se aplica de resto aos portugueses que tal como os russos não existiam durante e antes da época do Império Romano.
Anónimo disse...
Há dois mil anos já havia chechenos e os outros povos caucasianos, mas somente tribos eslavas, e não a nação russa diferente das outras nações eslavas. O mesmo se aplica de resto aos portugueses que tal como os russos não existiam durante e antes da época do Império Romano.
Até hoje, quando se fala "tchetcheno", fala-se de um representante dos tribos tchetchenos, de vários grupos, teips etc, mas não de uma "nação" no sentido moderno da palavra. Não entendo tchetcheno, mas dizem que há varios dialectos. Pelo menos, no sec. XIX tudo aquilo era um conjunto de tribos, no fundo. Sim, as linguas caucasianas são antigas.
Para se compreender a mentalidade tchetchena recomendo vivamente a leitura da obra de Leão Tolstoi. Hadji-Murat.
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