domingo, janeiro 24, 2010

Blog dos leitores


Texto enviado pelo leitor António Campos:


"Uma pequena vitória

Oleg Kozlovsky é um dos heróis políticos da Rússia moderna. Com apenas 25 anos, recentemente casado e pai de uma bebé de meses, este estudante de doutoramento em ciências políticas sacrificou uma carreira pacata, e porventura lucrativa, num qualquer canto do apparat (a aspiração da maioria dos jovens russos actuais), em prol de uma luta pelo estabelecimento de uma sociedade livre e democrática no seu país. O seu currículo na batalha pela criação de uma sociedade civil funcional como contrapeso às crescentes tendências autoritárias do Kremlin remonta a 2001, quando se juntou à SPS (União das Forças Justas), tendo depois participado no movimento conhecido como “Moscovo: Livre escolha”. Em 2005, funda o movimento “Oborona”, uma das poucas organizações políticas juvenis não patrocinadas pelo Kremlin. Kozlovsky tem sido um dos organizadores das famosas Marchas dos Dissidentes e, tal como muitos dos oposicionistas activos, foi preso mais de 20 vezes pela sua participação nestas manifestações.

Em 2007, foi ilegalmente alistado no exército (como estudante, teria direito a adiamentos) e só foi desmobilizado (dois dias depois das eleições presidenciais de 2008) após uma ruidosa campanha de protesto civil em seu apoio. Tal como acontece com muitos jovens activistas dos direitos humanos na Bielorrússia, o alistamento “punitivo” no serviço militar é prática comum na Rússia.

Foi de novo preso em Maio de 2008, pela sua participação numa Marcha dos Dissidentes, e sentenciado a 13 dias de prisão, tendo iniciado uma greve de fome em protesto.

Recentemente, na véspera de uma viagem aos Estados Unidos, Kozlovsky solicita a renovação do seu passaporte, que lhe é recusada por tempo indeterminado pelo FSB, que alega a necessidade quixotesca de “verificar se o mesmo terá tido acesso a segredos de estado durante o seu serviço militar”. Mesmo informado pelo Serviço Federal de Migração (FMB) de que “não vale a pena lutar com o FSB: eles ganham sempre”, Kozlovsky decide usar todos os meios legais à sua disposição para reclamar os seus direitos. Ao mesmo tempo, inicia uma campanha no seu blog e no Twitter, que resulta em centenas de comentários e links em mais de 60 blogs, local e internacionalmente. Daí a tornar-se notícia nos meios de comunicação convencionais é um passo.

Repentinamente, Konstantin Romodanovsky, director do FMB, aparentemente não muito desejoso de ser publicamente responsabilizado pelas ilegalidades do FSB, ordena que o problema seja imediatamente resolvido. O passaporte é emitido em menos de 24 horas.

Num período em que o Kremlin, desesperado por investimento estrangeiro e luz na ribalta internacional, gasta milhões em campanhas de relações públicas e lobbying na tentativa de restaurar a sua credibilidade, esta pequena história demonstra o poder da sociedade civil contra os abusos do clã dirigente. O protesto, caso o regime não se decida por fechar todos os canais de comunicação ainda abertos a todas as vozes (leia-se, internet), transformando o país numa espécie de Coreia do Norte eslava, conduzirá invariavelmente a uma sociedade mais justa.

O caminho não será fácil. Ainda há pouco, indagado sobre as inúmeras queixas contra a recente fraude eleitoral publicadas por bloggers, Putin respondeu: “50% da internet é pornografia. Porque haveríamos de prestar atenção à internet?” Mas o regime vai relutantemente percebendo que a sua sobrevivência no longo prazo é incompatível com o isolacionismo, tanto interno como externo. O desenvolvimento económico e a “lukashenkização” da Rússia são antónimos, especialmente numa economia tão fragilmente dependente dos preços internacionais das matérias-primas. E cada vez mais surgem Kozlovskys por toda a Rússia, determinados em usar todas as aberturas, por mais pequenas que sejam, para conseguir o que o regime professa mas não segue: o respeito pelos seus direitos.

Será esta pequena vitória uma luz ao fundo do túnel? Talvez. Mas não há dúvida que é um exemplo a seguir."

13 comentários:

Ricardo disse...

O que sempre me pergunto é: os russos querem mesmo uma democracia? ou mesmo uma democracia nos moldes do odicente? A democracia nós moldes Yeldsin não parece trazer saudades a nem russo.

Anónimo disse...

Parabéns!
Óptimo artigo. Pode não ser politicamente correcto, mas é original!

HAVOC disse...

O maior herói da Rússia moderna, para mim particularmente, chamase Vladimir Zhirinovsky!!! Este indivíduo, membro do parlamento russo, deveria se tornar o próximo presidente da Federação Russa. Um político extremamente popular na Rússia, principalmente nas camadas mais pobres e entre os nacionalistas. E ainda líder do Partido Democrático Liberal, uma força importante na política russa.

Um sujeito formador de opinião,com idéias sensacionais, como a idéia de retomar o Alaska e mandar pra lá os impuros dos ucranianos.Uma pessoa visionário que sonha um dia que os soldados russos possam lavar as suas botas nas águas tropicais do Oceano Índico e vestir uniformes militares de verão. Em 2008, ele sugeriu que a Rússia explodisse bombas atômicas no Atlântico Norte em um esforço de afundar o Reino Unido!!!

Realmente, seria um excelente presidente!! No estilo Czar!!!

Anónimo disse...

Grande herói.

Anónimo disse...

"Alone Hunter" e suas paranóias...
Lamentável o tal tipo de pensar.

Anónimo disse...

Boa, ALONE HUNTER!

E para completar o arranjo era ter Sarah Palin como presidente dos Estados Unidos.

Bruno disse...

Esse Vladimir Zhirinovsky, é de facto um "génio". Em tempos falou que a Rússia tinha direito histórico em anexar a Finlândia e Suecia. Ao menos acho que tinhamos risada garantidade durante uns anos.

Jorge Almeida disse...

Alone Hunter, deixe-se de tolices, e veja lá se sabe responder a esta:
Como é que Putin sabe que “50% da internet é pornografia”?

Será que terá ido ver?

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vasco disse...

Alguém me sabe explicar o que se está a passar na Ucrânia...especialmente depois da noite passada?...

Anónimo disse...

Antonio Campos,

Este Oleg Koslowski é o mesmo que tem comentários/artigos postados em um site Polaco?

Anónimo disse...

Caro anónimo, não faço ideia. No entanto, o activista mantém um blog em inglês com bastante informação e links para outros sites, assim como perfis no Facebook e no Twitter.

olegkozlovsky.wordpress.com

António Campos

Anónimo disse...

Jhirinovskiy ainda dispõe de outros atributos importantes que aqui foram esquecidos. Refrescar os adversários políticos com uns copos de água nos debates televisivos.
Como o fez a Boris Nimtzov. Não faltam qualidades a este “génio”!