quinta-feira, março 18, 2010

O Muro de Berlim caiu, mas a desconfiança continua



Não obstante o Muro de Berlim ter caído há mais de vinte anos e a Administração de Barack Obama ter proclamado o “recarregamento” das relações com a Rússia, os políticos russos continuam a olhar com desconfiança para com a política norte-americana face ao seu país.

Uma das principais razões da irritação dos políticos russos consiste em que Washington deixou de olhar para Moscovo como para um parceiro igual na arena internacional.

“A direção russa não tem uma conceção do mundo estratégica. Ela enerva-se pelo facto de a Rússia ser ignorada, ser considerada “antiga superpotência””, defende Nikita Zagladin, analista do Instituto de Economia e Relações Internacionais de Moscovo.

Segundo uma fonte diplomática da Lusa na capital russa, “face à “política de desigualdade”, Moscovo tenta conservar a sua influência, mesmo que à custa de alianças com regimes como o venezuelano ou iraniano”.

“Isso leva a que a Rússia responda com o “não” a quase todas as propostas norte-americanas, nomeadamente no que diz respeito à segurança europeia, às sanções contra o Irão”, sublinha a mesma fonte.

Além disso, Moscovo exige que a comunidade mundial reconheça o antigo espaço soviético como “zona de especiais interesses”, recebendo com irritação declarações como a que Hillary Clinton, Secretária de Estado norte-america, fez à revista russa The New Times: “Para nós é inaceitável a posição sobre esferas especiais de influência, isso são ideias do séc. XIX. Apoiamos completamente a decisão da NATO de realizar uma política de portas abertas para com a Geórgia e a Ucrânia.

“No fundo, apenas a cooperação bilateral com vista à normalização da situação no Afeganistão avança, mas, mesmo assim, com alguns atritos”, sublinha a fonte diplomática.

As relações económicas entre os dois países são uma das provas mais evidentes dos problemas e divergências existentes. A quota dos Estados Unidos no comércio externo russo é inferior a 04 por cento, enquanto que a da Rússia em igual sector norte-americano é ainda menor: menos de 01 por cento.

Moscovo queixa-se de as relações económicas serem travadas pela existência de reminiscências da “guerra fria” como a emenda Jackson-Vanik, aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos em 1974, que limitava o comércio com os países do “bloco socialista” que impediam a emigração dos judeus para Israel.

“Há muito que não existe a URSS, ninguém dificulta a liberdade de emigração e de crença. Não obstante, essa emenda obsoleta, absurda, continua em vigor e, no fundo, é um instrumento político”, refere Ruslan Kondratov, deputado da Duma Estatal (câmara baixa) do Parlamento russo.

Segundo ele, esse é um dos obstáculos à adesão da Rússia à Organização Mundial de Comércio.

“Claro que estamos prontos a cooperar e desenvolver as nossas relações com os Estados Unidos, mas essa cooperação não deve ser unilateral. A Rússia quer ser ouvida, e o mais importante, que sejam levados em conta os seus interesses”, conclui Kondratov.

No que respeita aos russos comuns, a sua atitude face aos Estados Unidos melhorou muito depois da eleição de Barack Obama para o cargo de Presidente dos Estados Unidos. Segundo um estudo do Instituto de Sociologia Levada, realizado em Janeiro passado, 54 por cento dos russos “olham muito bem e bem” para os Estados Unidos; 31 por cento “olham mal e muito mal” e 15 por cento “de forma indiferente”.

No final da guerra entre a Geórgia e a Rússia, em Agosto de 2008, 55 por cento dos russos olhavam “mal e muito mal” para os EUA; 31 por cento “bem e muito bem” e o número de “indiferentes” era o mesmo.

6 comentários:

HAVOC disse...

O bloqueio feito pelos Estados Unidos contra a entrada da Rússia na Organização Mundial do Comércio é a prova de que os americanos querem o desmantelamento da Rússia.

Os principios da OMC sãoa não descriminação, reciprocidade e a transparencia. Então para os Estados Unidos, a Rússia está no mesmo patamar do Iraque e do Irã, pois são os países não membros de maior expressão.

É inaceitável a Rússia ficar de fora desta organização que trata das regras de comércio entre todas as nações.

MSantos disse...

Apesar de todos os tiques soviéticos da Rússia de hoje, as posturas norte-americanas/ocidentais não ajudaram nada como foi, mesmo quando a Rússia deixou de ser uma ameaça militar, os EUA usaram e abusaram da sua condição de superpotência única e dominante, veja-se o caso das campanhas juguslavas e das mais recentes guerras no Golfo Pérsico.A NATO cresceu sucessivamente até às fronteiras russas e só parou quando os russos disseram basta e deram um murro na mesa, em Agosto de 2008.

Acho que é muito forçado dizer que Moscovo tem alianças com Caracas ou Teerão dado haver unicamente muito pragmatismo nestas relações. Será óbvio que a Venezuela e o Irão serão os trunfos da Rússia caso a política de cerco e inimizade atinja graus críticos. Serão portanto uma espécie de reservas estratégicas e o caso venezuelano é evidente pois poderá permitir colocar a aviação estratégica russa mesmo no quintal americano.

Relativamente às afirmações de Hillary Clinton estas revestem-se de uma monumental hipocrisia pois cada vez mais a América conservadora está a reavivar a doutrina Monroe. Pior ainda: o establecimento da zona de influência norte-americana no médio oriente e Ásia central.

Isto obviamente para lá das tendências "naturais" dos russos olharem o domínio americano com desconfiança.

Mas a verdade é que essa desconfiança é recíproca.

Cumpts
Manuel Santos

PortugueseMan disse...

Embora o artigo sugira apenas uma desconfiança por parte da Rússia, esse desconfiança é mútua.

Todos têm interesses, mas o que tem acontecido nos últimos anos, mostra que a Rússia tem estado a ganhar força e é aqui que os atritos crescem, os EUA não aceitam um novo player, mas a realidade está a bater-lhes à porta.

E o que estamos a ver hoje é o resultado da "fricção" entre duas grandes potências.

E como sempre são os peões deste jogo de xadrez que vão sofrendo as consequências deste braço de ferro.

Jorge Almeida disse...

Portuguese Man,

o verdadeiro player alternativo aos EUA na cena mundial não é a Rússia. A Rússia, actualmente, assim como o Irão, Coreia do Norte e Venezuela, são "marionetas" a mando da China.

PortugueseMan disse...

A Rússia, actualmente, assim como o Irão, Coreia do Norte e Venezuela, são "marionetas" a mando da China.

Marionetas chinesas? o que o faz dizer isso?

HAVOC disse...

Eu acho que a Rússia tem que entrar com tudo que tem, onde acha que tiver que entrar!!!

Seja por bem ou por mal... Seja por diplomacia ou com bombas, NUCLEARES!

Passar por cima, pisar, esmagar e dilacerar... Tudo o que tiver pela frente!!! O norte da Ásia, o Pacífico Norte e a Europa Central e Oriental é da Rússia!!!!