terça-feira, maio 25, 2010

Blog dos leitores (Um império que não é rentável)


Texto traduzido e enviado pela Cristina Mestre:


"O fracasso das negociações sobre a união aduaneira da Bielorrússia, Cazaquistão e Rússia é um exemplo clássico de como as ambições políticas de Moscovo entram em sistémica contradição com os seus próprios interesses económicos e o grau real de influência sobre os parceiros, escreve hoje a Gazeta.Ru no seu editorial.

A união aduaneira ainda não nasceu mas já se vê dilacerada por latentes guerras tarifárias. Outro “sonho imperial de Putin”, o de criar até 2012 um espaço económico único na Comunidade de Estados Independentes, parece igualmente inviável.

O jornal compara estes projectos ao retumbante acordo russo-ucraniano que permitiu à Esquadra do Mar Negro permanecer na base naval de Sebastopol até 2042, em troca de importantes descontos no preço do gás russo fornecido à Ucrânia.

“Nenhuma base custa tanto”, admitiu o próprio Putin, aquando da visita a Kiev.

As suas palavras denunciam um defeito sistémico: as ambições geopolíticas e os complexos imperiais da Rússia obrigam-na a pagar somas exorbitantes por projectos que, para além de questionáveis, entram em aberto conflito com os seus interesses económicos.

Os parceiros da Rússia trocam uma participação ilusória em tais projectos por crescentes dividendos económicos. Nem a união aduaneira, nem os descontos em matéria de gás poderão proporcionar a Moscovo aliados leais no espaço pós-soviético. Moscovo terá que alimentar essa lealdade constantemente e, à mínima recusa de satisfazer as exigências financeiras dos parceiros, provocará a estagnação ou mesmo a falência de tais projectos geopolíticos.

As tentativas de brincar aos impérios, para além de não serem rentáveis, nem sequer garantem o alcance do objectivo em si. Em particular, porque a elite russa sabe contar dinheiro e em nenhum caso irá financiar o imperialismo do seu próprio bolso.

Fonte: http://www.gazeta.ru/comments/2010/05/24_e_3372288.shtml

41 comentários:

António disse...

Olá Cristina,

Análise muito interessante. Aliás, alguns comentadores já se apressaram em referir que os acordos com a Ucrânia podem sair demasiado caros face aos potenciais benefícios esperados, pelo simples facto de que a liderança deste país ser susceptível de não se mostrar incondicionalmente leal a Roma e começar a exigir um preço cada vez maior pela vassalagem.
A
verdade é que o tal mundo bipolar (ou multipolar) tão venerado pelos déspotas do século XXI tem destas coisas: cria alternativas para onde os potenciais vassalos se podem virar. E creio ser esse o problema fundamental. Muito mais do que os problemas que uma eventual relutância da elite russa em financiar essas ambições imperiais. A Rússia tem instituído um sistema feudal clássico, na qual a elite deve as suas riquezas e privilégios a uma distribuição arbitrária por parte do Fürher, a troco de subserviência. Sem os favores de Putin, muitos deles proscritos no Ocidente, os oligarcas não são nada. Estou a lembrar-me da humilhação televisiva que Putin impôs a Deripaska no caso da fábrica de alumínio de Pikalevo. Enquanto esta vertical de poder se mantiver, Putin tem os oligarcas pelos tomates a piar fininho. E se aquele quiser que estes percam metade da sua fortuna a alimentar as suas ambições alexandrescas, não lhes restarão muitas alternativas senão ajoelharem-se e beijar a mão de César. E puxarem do livro de cheques.

António Campos

PortugueseMan disse...

...Moscovo terá que alimentar essa lealdade constantemente e, à mínima recusa de satisfazer as exigências financeiras dos parceiros, provocará a estagnação ou mesmo a falência de tais projectos geopolíticos...

O artigo é demasiado ligeiro, roçando apenas a superfície.

Seria interessante, por exemplo que o artigo fizesse uma análise mais profunda do que diz, por exemplo aplicada à Ucrânia.

Se existir um recuo por parte da Ucrânia, devido às suas necessidades não serem satisfeitas, a Ucrãnia vai fazer exactamente o quê?

Onde está a falência do projecto geopolítico?

Então e se a Rússia não mexesse uma palha? A Ucrânia estaria o quê, falida? E quando não houvesse dinheiro para pagar energia, iria a Ucrânia desviar a energia destinada à Europa? e depois? a Rússia cortava de novo a energia? e depois? a Europa deixava de ser abastecida? o FMI parava os empréstimos?

E se a Ucrânia se envolver numa guerra civil, um país por onde transita 80% do gás russo para a Europa?

É a Europa que vai ajudar financeiramente a Ucrânia, um país com mais de 50 milhões de habitantes, quando nem se conseguem entender na melhor solução para um país membro que é a Grécia?

E com a Europa toda embrulhada, devido a uma Ucrânia falida, em que é que isso iria ajudar a Rússia?

Será do interesse da Rússia em ver uma Europa esfomeada por energia, uma Ucrânia embrulhada muito possivelmente num conflito e a Rússia sem alternativas no escoamento da energia com todos os prejuizos associados?

Há interesses geo-políticos? claro que os há, quem não os tem? Agora é pena não se saber o que a Rússia deveria ter antes feito.

Nada? o autor defende o quê? O que se deveria fazer em vez de?

Criticar apenas por criticar...

Jorge Almeida disse...

Concordo com António Campos: O risco dos oligarcas russos não pagarem estas facturas não existe.

Eles estão na mão de Putin.

Todos os oligarcas têm medo de acabar como Mikhail Khodorkovsky.

De resto, o que o artigo descreve não é fenómeno novo. Já nos tempos da Guerra Fria, havia líderes e elites autenticamente "vira-casacas", conforme quem dava mais, se EUA, se URSS. Faziam chantagem com as super potências, e, caso estas não "lhe amparassem o jogo", eles "mudavam de campo". No meio disto tudo, as super potências acabavam de comprar os apoios que recebiam por valores bem maiores do que esses apoios mereciam.

MSantos disse...

É indesmentível a ambição russa de patrocionar e manter o espaço pós-soviético, no entanto temos de ver as razões (geoestratégicas) do ponto de vista russo.

Mesmo que tal seja insustentável (independentemente de o ser ou não) a Rússia tenta criar uma comunidade eslava através de um espaço de investimento e comércio e debate-se com os mesmos problemas de qualquer cenário aonde se tenta instituir um ideal e objectivos comuns a um conjunto de nações soberanas (isto não soará familiar a ninguém?) com a agravante de serem estados jovens desejosos de provar a sua "virilidade" (leia-se independência).

Poderia concordar com a tese do "Imperial" mas aí também teremos de admitir o carácter imperial dos EUA ou até da UE quando aliciaram estes estados para mudarem para o seu quadrante ( e talvez tenham falhado por não terem conseguido concretizar os tais investimentos).

Porque quando se falava de hipotéticos investimentos europeus ou americanos não havia nenhuma nocividade, quando esses mesmos países também tinham sectores carenciados?

E talvez o mundo multipolar venerado pelos déspotas do séc XXI seja preferível ao mundo unipolar controlado só por um déspota mesmo que este tenha uma face aparentemente democrática.

E relativamente ao sistema feudal da oligarquia russa só peca por ser mais significativo e descarado.

Ou será que nas democracias ocidentais é o mercado puro e a pluralidade política que imperam honestamente, sem influências, intromissões, sem máfias na sombra?

Ou tudo isto já é aceitável quando se chama "lobby"?

Por último: Cristina, não concordo com o PM. Acho que fez uma síntese correcta clara e completa do artigo. Evidentemente que não vejo o negativismo do autor e em tudo o resto subscrevo o que disse o PM, em especial a última frase:

"Nada? o autor defende o quê? O que se deveria fazer em vez de?"

Cumpts
Manuel Santos

António disse...

Ó Manuel Santos, numa pessoa tão versada em geopolítica espanta-me tanta ingenuidade sobre as intenções do Kremlin relativamente ao que considera ser a sua "esfera de influência". Se a intenção fosse "criar um espaço de investimento e comércio", as nações supostamente candidatas correriam a agregar-se em torno de uma ideia com vastos benefícios potenciais, tal como aconteceu com as nações recentemente libertadas do espaço soviético, que mal puderam esperar para aderir, de livre e espontânea vontade, à União Europeia, e especialmente, à NATO. Será muito mais lógico pensar que os líderes das nações potenciais entrantes nessa "comunidade" não achem muita piada à sua provável despromoção de presidentes a "region managers" enquanto tiverem alternativas mais vantajosas. Só nações moribundas como a Ucrânia oferecem potencial para caírem no conto do vigário.

Aliás, não é preciso ser muito esperto para entender que não são os economistas os com maior influência nestas posturas. Ao contrário do racional económico que esteva na origem da criação da CEE e depois da UE, este projecto expansionista tem um NPV claramente negativo e, como refere o artigo, mesmo o sucesso geopolítico é duvidoso. O que diz logo de caras que são os falcões imperiais que estão a forçar a parada, e não quem faz as contas.

E caro Manuel Santos, felizmente para si, para mim e para centenas de milhões de outros, temos vindo a ser dominados pelos "déspotas" escolhidos em eleições livres, que por mais lobbies que sirvam, ajudaram-nos a nos mantermos livres da União Soviética no pós-guerra sem termos que enterrar metade do PIB na criação de exércitos sobredimensionados e ajudaram-nos a consolidar as nossas democracias e economias, que nos deram prosperidade suficiente para andarmos aqui a barafustar livremente em blogues e a ler livros online através de uma ligação de banda larga. Não me parece que os ocidentais, por mais problemas que enfrentem neste momento (e que não chegam aos calcanhares dos problemas que os russos têm que engolir diariamente) estejam com grande vontade de depor os tiranos que os governam.

Ao final do dia, há indícios de que os accionistas da empresa chamada Rússia SA já perceberam que ganham muito mais dinheiro se aplacarem os grunhidos imperiais e começarem a dormir com o império do mal (e dos lobbies) ocidental. Um documento surripiado (intencionalmente, aposto) ao ministério dos negócios estrangeiros russo e publicado na edição russa da Newsweek parece dar crédito a esta tese. Tendo entendido a crescente marginalização da Rússia no plano internacional e a desesperada necessidade de influxos de capital e know-how estrangeiros em nome da badalada modernização, o novo plano de acção internacional reavalia prioridades e tem tudo a ver com apaziguamento e estreitamento de relações económicas com os inimigos bálticos e os gigantes da UE, para além dos grandes clientes de armamento tais como a China, a Índia e a Venezuela. Foi aliás surpreendente o silêncio com que os russos acolheram a recente entrega na Polónia de uma bateria de mísseis Patriot, o que parece sustentar a tese da nova face russa no mundo.

Curiosamente, os grandes beneficiários dos recentes negócios ao abrigo desta nova atitude "business-friendly" na politica externa russa têm vindo a ser não mais do que as empresas e os bancos controlados directamente pelo estado. Mais uma vez, quem ganha são os accionistas da Rússia SA, e não os seus empregados.

António Campos

Felipe Pinheiro disse...

Manual Santos disse:
"(...)
E talvez o mundo multipolar venerado pelos déspotas do séc XXI seja preferível ao mundo unipolar controlado só por um déspota mesmo que este tenha uma face aparentemente democrática.
(...)
Ou será que nas democracias ocidentais é o mercado puro e a pluralidade política que imperam honestamente, sem influências, intromissões, sem máfias na sombra?
(...)"

Perfeito. Concordo plenamente com a opinião do Manuel Santos.

O que se vê na Rússia é uma cópia do modelo político ocidental, só que com suas vísceras mais à mostra.

Nos EUA e Europa (os "modelos"), há pouca ou nenhuma diferença entre os grandes partidos que se alternam no poder. Os partidos "socialistas" que conquistaram o poder na Europa são tão neoliberais quanto qualquer partido conservador.

A grande mídia, que se auto-entitula imparcial e independente, é patrocinada pelo grande capital, e, portanto, subserviente a ele. Este mesmo grande capital financia campanhas políticas, e, portanto, controla muitos políticos.

Que democracia é esta? Um dos pilares básicos de uma democracia é a isonomia (igualdade de condições) entre as diferentes ideologias e lideranças políticas. No entanto, no atual modelo ocidental, tem-se poderosos grupos midiáticos que impõem sua ideologia (que é a mesma de seus patrocinadores) à grande massa, enaltecendo políticos aliados, e satanizando os opositores. É campanha político-partidária 365 dias por ano, que tem influência direta nas eleições. Sem contar que as campanhas políticas para eleições são determinadas por quem tiver mais dinheiro. A isto se chama plutocracia, e não democracia.

Um exemplo claro, no campo da geopolítica, é a forma de tratamento completamente desfavorável que a grande mídia dá ao Irã, e seu presidente, Ahmadinejad (que não tem armamento nuclear, nem promove guerras), acusando-o de ameaçar a paz mundial, ao passo que EUA e Israel são tratados como modelos a serem seguidos.

PortugueseMan disse...

Caro MSantos,

...Por último: Cristina, não concordo com o PM. Acho que fez uma síntese correcta clara e completa do artigo...

Quando li isto, fiquei a pensar que acha que estou a fazer algum tipo de crítica à Cristina.

Não estou. O JM indica que é um texto traduzido e enviada pela Cristina e acho muito bom que ela faça estas traduções, permite a quem leia português o acesso a mais informação, a informação que existe em russo.

Portanto eu não concordo é com o artigo, que nada tem a ver com a amabilidade da Cristina em nos presentear com estas traduções.

É útil porque se vê o que se diz por lá e é útil porque se pode debater e discutir e ver as várias perspectivas sobre o mesmo assunto, como o demonstra as quatro opiniões colocadas.

Cumprimentos,
PortugueseMan

João Gil disse...

O que mais me intriga no meio desse acordo é o papel da UE. A sua oferta de política externa relativamente a Kiev não parece ser suficiente para que a Ucrânia encete as reformas internas necessárias tendo um estado mais transparente e democrático.
O objectivo inicial da UE era o de evitar novas linhas divisórias no continente europeu, mas não é certo que o consiga, já que a Rússia tem demonstrado capacidade para não perder este "grande jogo" com a UE relativamente, por exemplo, à Ucrânia. Alguém se lembra das célebres palavras de Zbigniew Brzezinski sobre a Ucrânia, "the ultimate geopolitical goal"? Pois é, já lá vão largos anos. Mas confirma-se.

Maquiavel disse...

Quanto à Rússia e a manutençäo do pseudo-império, enquanto houver mercado para o pitrol, há sempre dinheiro. E quanto mais o preço do pitrol subir, mais facilmente se financia o pseudo-império. Baseado num sistema feudal clássico, o que mostra que os russos näo aprenderam nada.

O que finou a URSS foi andar a "sustentar mandriagem" dos seus países satélites, parece até que exportando comida que depois faltava nas lojas soviéticas.
Além disso, eram "investimentos" descomunais em projectos de defesa que depauperaram totalmento o erário público.
Depois apareceu o bom do Gorbatchyov, que quis refundar o sistema por dentro. Já näo dava.

Interessante, ou näo, 20 anos depois e temos os EUA a cair nos mesmo erros, até com o seu Fuganistäo no Iraque. Tristeza.

Cristina disse...

Obrigada pelas palavras de incentivo.
A minha ideia foi mostrar o que se escreve na Rússia, onde existe uma imprensa muito rica e muita gente a pensar de forma original.
A intelectualidade russa é muito diversificada e pluralista nas opiniões e julgo que é interessante para nós saber o que eles pensam, para que não tenhamos só a visão oficial ou a dos nossos meios de comunicação. A verdade é que, tal como em qualquer outro país, há muitos jornalistas e intelectuais na Rússia a analisar de forma crítica o Governo, a linha seguida pelo país, etc. Julgo que isso é um sinal de vitalidade. É preciso conhecer o que os próprios russos escrevem, como vêem o seu país, o seu futuro. Só acedendo a várias fontes de informação podemos ter uma opinião mais próxima da realidade.

PortugueseMan disse...

Cristina,

A minha ideia foi mostrar o que se escreve na Rússia, onde existe uma imprensa muito rica e muita gente a pensar de forma original.

É uma ideia excelente. Continue.

Só acedendo a várias fontes de informação podemos ter uma opinião mais próxima da realidade.

É o que digo sempre às pessoas. Concordo a 100%.

Cumprimentos,
PortugueseMan

PortugueseMan disse...

Caro JM,

Saiu uma notícia que considero bastante interessante:

Russian Defense Ministry plans to order An-124, An-70 transport aircraft

The Russian Defense Ministry intends to order An-124 and An-70 military transport aircraft under the new state arms procurement program for 2011-2020, ...


...He said the Airborne Troops had ordered 40 An-70s aircraft, but he did not specify the number of An-124s ordered by his military unit...


http://en.rian.ru/russia/20100526/159163128.html

O que me chama aqui a atenção é a ordem dos 40 An-70.

Isto para mim é sinal de que a Antonov terá que passar de alguma forma para controlo russo e por isso a encomenda é feita agora.

Este avião tem andado com muito azar, ao que tudo indica o avião é bom e responde aos requesitos para que foi criado, mas... é aqui que reside o problema, o avião foi criado para atender as necessidades da URSS/Rússia.

A falta de dinheiro e os problemas políticos deixaram este avião em dificuldades. Se a Rússia não compra, mais ninguém compra. Os EUA têm os seus próprios aviões de transporte e não vai comprar aviões à Ucrânia e a Europa está a desenvolver um avião semelhante que é o A400M.

A Antonov tem um bom avião e não tem ninguém para vender excepto a Rússia.

A Rússia está muito interessada (sempre esteve), neste avião, mas não pode ficar dependente da Ucrânia para o fornecimento dos aviões, dada as opções políticas ucranianas, tanto as passadas, como as actuais e futuras.

A Rússia não tem a certeza se poderá contar sempre com este fornecedor e não pode ficar dependente dele.

Se agora as verbas estão a ser disponibilizadas para avançar e se de facto vão efectuar uma encomenda de 40 aviões, temos após longos anos de espera o arranque do fabrico deste avião e que é tão importante para a Antonov.

Só que para mim esta é mais uma indicação de que a Antonov vai mudar de mãos. A única maneira da Rússia depender destes aviões de transporte é estando no controlo da empresa.

E este será um dos (muitos) preços a pagar pela Ucrânia para beneficiar de uma ajuda energética.

Pippo disse...

Em primeiro lugar, desejo felicitar a Cristina Mestre por, mais uma vez, nos presentear com um artigo made in Rússia. É bem a prova do seu empenho no blog e da liberdade de expressão que se vive em terras moscovitas (apesar de tão frequentemente questionada por aqui).
Quanto ao artigo em si, eu não seria tão peremptório em afirmar que a Rússia, prosseguindo os seus sonhos imperiais, deu um passo maior do que a perna.
Como já foi debatido aqui, a troca da base naval de Sevastopol pelo gás foi uma troca caríssima. O próprio Putin o reconheceu. Contudo, lembro-me bem que já o nosso colaborador PM afirmava que por detrás deste acordo devia estar “algo mais” que ainda não tinha sido divulgado. Hoje sabe-se que para além da base, Moscovo irá obter importantes dividendos económicos, nomeadamente através da participação em empresas ucranianas no campo da aeronáutica, construção naval, etc.. Em suma, adivinha-se a integração das economias ucraniana e russa, o que é desejável, e o que a Rússia investe hoje pode bem vir a dar lucro amanhã. É como que um Plano Marshall no qual os principais investidores serão os russos.
Há quem alvitre que um futuro governo poderá tentar inverter a actual política ucraniana. É possível. Contudo, pacta sunt servanda, os acordos entre Estados devem ser cumpridos, sob pena de repercussões graves. Estará a Ucrânia de 2015 capaz de suporta-las? Duvido.
E duvido porque, entre ’91 e 2010, no auge da sua pujança económica, nem os EUA nem a EU foram competentes a ponto de modernizar a Ucrânia, investir no país e catapultar a sua economia, apesar dos recursos ucranianos, nomeadamente industriais e intelectuais, e do feroz independentismo de Kiev face a Moscovo. A Ucrânia apostou no Ocidente e tramou-se. Hoje está no estado em que está, e só não está pior porque a Rússia não o quer, dado que lhe vendeu gás a preço de irmã e agora pagou, e bem, por um arrendamento e pelo acesso ao mercado ucraniano. Foi a Rússia quem resolveu o problema de Kiev, e não o incapaz – se bem que mui democrático (ou assim nos dizem) - Ocidente.
Mas o impacto dos recentes acordos russo-ucranianos podem ser melhor avaliados nas palavras algo amargas de Robert Kagan (um Republicano que, naturalmente, critica a política de Obama face à Rússia):

As anyone who ever shopped for a rug knows, the more you pay for it, the more valuable it seems. The Obama administration has paid a lot. In exchange for Russian cooperation, President Obama has killed the Bush administration's planned missile defense installations in Poland and the Czech Republic. Obama has officially declared that Russia's continued illegal military occupation of Georgia is no "obstacle" to U.S.‐Russian civilian nuclear cooperation. The recent deal between Russia and Ukraine granting Russia control of a Crimean naval base through 2042 was shrugged off by Obama officials, as have been Putin's suggestions for merging Russian and Ukrainian industries in a blatant bid to undermine Ukrainian sovereignty. (…) So at least one effect of the administration's "reset" has been to produce a wave of insecurity throughout Eastern and starting to fear they can no longer count on the United States to protect them from an expansive Russia. And for this the administration has gotten what? Yet another hollow U.N. Security Council resolution. Some observers suggest that Iran's leaders are quaking in their boots, confronted by this great unity of the international "community." More likely, they are laughing up their sleeves ‐‐ along with the men in Moscow.
Robert Kagan, “A hollow ‘reset’ with Russia” in Washington Post, 25 May 2010).

Pippo disse...

PM, não podemos também descartar a hipótese de uma progressiva deslocalização da fábrica Antonov para território russo, nomeadamente dos departamentos que lidam com tecnologia de ponta. A Ucrânia ficará com parte da empresa no seu território mas a parte que interessa ficará "segura" em mãos russas.

Tudo, claro, na óptica do "business as usual"

MSantos disse...

António Campos

Primeiro que tudo e pondo de lado o seu tom irónico, não sou versado ou especialista (como alguém já alegou que seria uma pretensão minha) nas áreas em que costumamos discutir, apenas alguém interessado nestes assuntos e que arrisca a ter opiniões mesmo sem ter toda a informação e/ou formação.
A minha única pretensão em ser especialista é na minha área profissional e será essa mesma área a julgar se o serei ou não.

Também não referi que seria o objectivo da Rússia establecer essa comunidade económica per se mas sim um meio para construir uma imensa comunidade eslava com objectivos supraeconómicos.

E olhe que aqui, se houver verdadeiros valores por trás (que já sabemos que muitas vezes não os há) acho que é a forma correcta de fazer as coisas.

O seu racionalismo económico, como muito bem disse, ou a economia por si só foi a principal razão do descalabro do Ocidente nos últimos 20 anos.

Já reparou que quando os EUA e a Europa lutavam pelos valores da liberdade e democracia contra o jugo comunista tudo corria bem, havia progresso económico e social e toda a gente sentia que se rumava a um futuro melhor?

Depois veio o tal racionalismo económico e tudo foi por água abaixo, apareceram sucessivos divisionismos e quezílias, o nível de vida dos países ocidentais começou a decrescer, houve perda de valores e até de legitimidade moral.

Já sei: você vai-me dizer que vivemos no melhor dos mundos possíveis e aí eu digo-lhe que devia dizer isso a muita gente e que cada vez é mais.

Mas talvez pelo facto de eu ter tido a felicidade de já não pertencer à geração dos 1000€ (com tendência para descrescer para os 600, para já) e ter conhecido outra realidade talvez eu esteja a ser ingénuo mesmo.

Concordo em absoluto consigo quando diz que tivémos a felicidade de ter os tais "déspotas" (que não são comparáveis aos de hoje em dia) a defender-nos da URSS.
Mas António Campos, há uma coisa que você precisa de saber: a URSS já não existe mais, o comunismo tornou-se uma caricatura e só é ameaçador para os desgraçados que tiveram o azar de nascer em meia dúzia de países, se tanto.

E os nossos déspotas de agora são líderes fracos, medíocres, sem a grandeza dos de outrora que tinham princípios e valores acima da economia por si só. Estou a lembrar-me de Jacques Delors ou até aquele actor de cinema que inicialmente muito conservador acabou por fazer dois mandatos brilhantes mantendo o estado social mesmo contra a sua ideologia: Ronald Reagan.

Quem é que você me vai apontar nos de agora? Angela Merkl? Tony Blair?

E vamos torcer para que os hábitos do imperialismo russo sejam apenas investidas económicas.

Cumpts
Manuel Santos

MSantos disse...

Caro PM

As minhas desculpas pela minha má interpretação.

Pelo que compreendi, o texto publicado não é o texto original mas sim uma síntese feita pela Cristina e que na minha opinião está muito bem feita.

E subscrevo o PM:

Cristina, por favor, continue!

Cumpts
Manuel Santos

MSantos disse...

Pippo

Como na maioria das vezes, concordo a 100%.

Cumpts
Manuel Santos

MSantos disse...

Caro João Gil

Na minha opinião, o que falhou na aproximação dos EUA à Ucrânia foi não terem concretizado o tal "plano Marshall", ou seja, havia grandes promessas, as expectativas estavam lá no alto mas força dos jogos políticos ucranianos e da crise económica que depauperou os países investidores, a Ucrânia não viu um centavo e para agravar, a Rússia cortou-lhe os subsídios do gaz.

Resta agora à Russia aprender a lição e não ficar pelas palavras.

Cumpts
Manuel Santos

MSantos disse...

Caro PM

Relativamente ao An-70, se os russos o souberem explorar têm um mercado gigantesco até mesmo no Ocidente.

Estamos a falar de um avião análogo ao velhinho e ultra-conhecido C-130 Hercules (em que já tive a infelicidade de andar e é uma autêntica tarimba) que representa um mercado de cerca de mil e tal aviões.

O A400M é um embróglio, o C-17 americano é um avião muito caro que já vai cair noutro patamar assim como o IL-76.

Cumpts
Manuel Santos

anónimo russo disse...

Graças a deus, a Rússia atual não está a ser governada por esses "grandes analiticos" que gostam tanto de derramar a sua histeria nos seus artigos e gritar do "imerialismo" do "regime sangrento" etc. Seria interessante saber com quem devia a Russia estreitar os laços se não com a Belorússia e a Ucrânia, em primeiro lugar. Os países onde todos (alem, provavelmente, do Oeste da Ucrânia) falam russo e que, no fundo, são a mesma nação. Imperialismo é construir algumas alianças em africa ou em outros lugares distantes. Construir alianças entre os países mencionados é a necessidade vital (em primeiro lugar para esses mesmos países). Quanto à Ucrânia, muito provavelmente existem acordos (económicos) de que aínda não se fala.
Por sinal, o comércio externo da minha "oblast" (região, provincia) é a 25% constituido pelo comercio entre esta e a Ucrânia. E ouvir depois de tudo isto estes gritos do "imperialismo russo"... Isto não é o "imperialismo", é a politica que qualquer estado que pretende defender os seus interesses (economicos, em primeiro lugar) deve realizar.

anónimo russo disse...

P.S.
Realmente, na Rússia existem opiniões diferentes. Só que neste blog por alguma razão são publicadas opiniões ou traduções quase iguais e sempre muito "criticas". Como se fossem escolhidas de propósito. Tendo em conta que pelo menos uma parte dos leitores aqui nem sempre entende muito bem o que se passa, não é dificil imaginar o que podem pensar ao ler frases como "sonho imperial de Putin" ou de mais alguem.

PortugueseMan disse...

Caro Pippo:

PM, não podemos também descartar a hipótese de uma progressiva deslocalização da fábrica Antonov para território russo...

Sim, essa é a minha ideia. Se neste momento podemos considerar que na Ucrânia está a casa-mãe e na Rússia a filial, o futuro será a inversão destes papeis.

Eles estão a anunciar uns 4 AN-70/ano, a construção deverá ser partilhada, com 2 para cada país. Isto vai dar trabalho aos ucranianos e entrada de dinheiro. De seguida irá ser feito gradualmente a transição.

E a meu ver é positivo para a Ucrânia. Eles não têm capacidade de investimento, nem mercado para os seus aviões, estão demasiado ligados à Rússia.

Mas a Rússia tem a capacidade (e dinheiro) de levantar a Antonov e deseja-o, pois a Sukhoi e a Antonov são as marcas mais apelativas no mercado, capazes de puxar pelo o resto.

Havendo encomendas, haverá trabalho para os ucranianos.

PortugueseMan disse...

Caro MSantos,

Sim, o potencial do An-70 é enorme.

Será mais barato, será alternativa para países que não querem depender de material americano e será também uma alternativa à versão europeia por este ser também mais caro.

O que falta fazer? A Rússia comprá-los primeiro, só depois de os fabricar e equipar a sua força aérea é que outros países irão começar a equacionar as compras.

A Rússia vai precisar de uns anos para ver algum tipo de encomenda vinda do exterior penso, até lá está dependente da sua capacidade económica de conseguir levar todos estes projectos em simultâneo para a frente, o que já é na minha opinião uma coisa impressionante.

António disse...

Parte 2

Juntamente com a menção de Reagan, a sua referência a Delors (cujo trabalho fundamental, ao contrário do que diz, teve sempre objectivos puramente macroeconómicos: a criação do mercado único e da moeda única) deu-lhe, inadvertidamente, a razão para os sucessos ou fracassos dos sistemas político-económicos que achamos que fazem sentido no papel: a eficácia de uma determinada "ideologia" está fundamentalmente dependente da competência dos que a implementam no terreno. Não basta a ideologia ser boa. E é por isso que assistimos aos altos e baixos que são inerentes aos sistemas democráticos e aos mercados que os sustentam. E não a qualquer conspiração tirânica dos actuais líderes ocidentais para dominar o mundo à custa da penúria das classes trabalhadoras. Se quisermos continuar a ser livres e a ter oportunidade de despedir quem nos governa, são coisas com que infelizmente temos que viver.

Talvez seja o não compreender ainda esta realidade que leva o Manuel Santos (que subscreve claramente uma ideologia com pendor socialista), senão a apoiar, pelo menos a cair no bicefalismo bizarro de servir amiúde (pelo menos neste blog) de apologista de um regime que, em todas as suas vertentes, é de extrema-direita, assemelhando-se praticamente em tudo ao de Salazar, ou a outros ainda mais malignos: a trindade Deus-Pátria-Autoridade, corporativismo feudal , autoritarismo, manipulação dos meios de comunicação, desrespeito total pelos direitos humanos e completa indiferença face às necessidades sociais da população. Quase como se, para derrotar os seus inimigos, não tivesse o menor problema em mandar as suas convicções às urtigas, apenas porque os inimigos dos seus inimigos seus amigos são.

António Campos

António disse...

Caro Manuel Santos,

Já agora, esclareça-me por favor sobre o que pensa que seriam os tais objectivos "supraeconómicos", e qual a sua relevância e/ou benefícios que pensa incidirem sobre as populações visadas. Fiquei curioso.

Depois, ainda não consegui perceber porque é que o Manuel Santos e tantos outros continuam a insistir no tal "descalabro do Ocidente nos últimos 20 anos" e no declínio do nível de vida do ocidente. A que se refere? Crescimentos económicos de um dígito? Crescimento zero? Crise financeira? Quando o Manuel Santos se decidir um dia a ler a história económica da segunda metade do século XX, a tal época de prosperidade e crescimento que refere, constatará, ao contrário do que agora pensa, que as economias ocidentais sofreram nessa altura tantos ou mais choques recessivos do que os que estão a sofrer agora. Talvez seja interessante ler um bocadinho sobre a estagnação-inflação dos anos 70 e a profunda recessão de 1982 nos Estados Unidos, o choque petrolífero de 1973, o crash de 1987 e os crashes bolsistas de 1973 e 1974, que afectaram o mundo inteiro e, em especial, o Reino Unido, deixando-o em recessão profunda e com aumentos vertiginosos da inflação e do desemprego. E também perceber um bocadinho as verdadeiras causas da actual crise, que já lhe tentei explicar aqui há uns meses, mas parece não ter adiantado grande coisa. A este respeito, recomendo-lhe então a leitura dos trabalhos do economista Charles Calomiris. Talvez ele lhe consiga explicar o que eu não consegui.

Confesso que achei a sua referência aos mandatos "brilhantes" de Reagan uma das mais cómicas que já fez, tendo sobretudo em conta a sua cruzada quixotesca contra o neoliberalismo. Quando tiver oportunidade de ler umas coisitas sobre o que se costuma chamar "Reaganomics", aperceber-se-á de que a política económica de Reagan, o maior partidário da "sabedoria dos mercados" (e também a de Margaret Thatcher, que aliás também fez sair o país de uma recessão) não podiam epitomizar melhor o neoliberalismo clássico: encolhimento e desintervencionismo governamental, redução drástica dos impostos, redução da despesa pública, desregulamentação (por acaso já iniciada pelos democratas de Carter) e controlo da oferta monetária para reduzir a inflação. Além disso, também não percebo onde é que foi buscar a ideia de que Reagan apoiou de forma significativa o "estado social". De facto, em consonância com os seus princípios económicos, este presidente era absolutamente contra a socialização dos cuidados de saúde e da assistência social universal, sendo totalmente a favor da iniciativa privada nos cuidados de saúde e do voluntariado das contribuições sociais. Tentou até extinguir o "ministério" da educação, criado por Carter, não tendo conseguido apenas porque o Congresso o bloqueou. Cortou expansões do financiamento do programa Medicaid e de outros programas de assistência social. Se tiver paciência, explique-me lá então, caro Manuel Santos, porque é que considera brilhante a actuação de um presidente que fez precisamente tudo aquilo que você agora brada aos quatro ventos terem sido as causas do tal descalabro ocidental.

António Campos

António disse...

Caro João Gil,

A oferta de política externa da UE nunca poderia ser atraente para um país onde a política foi integralmente privatizada há muito. Encetar reformas significaria, por exemplo, que o parlamento deixasse de ser o que agora é: um local onde os grandes empresários lutam para defender os seus interesses, ignorando a população. A viragem para leste significa essencialmente a garantia da manutenção deste status-quo.

As elites polacas combateram a corrupção e realizaram reformas que transformaram o seu país num dos mais atraentes para o investimento externo em toda a Europa. A Turquia vai pelo mesmo caminho. Em contraste, as elites ucranianas limitaram-se a seguir a lógica soviética da perpetuação de uma elite corrupta de insiders, agora disfarçada de democracia. Contra isso, dificilmente a UE poderia lutar. E é exactamente neste ambiente que o Kremlin se sente à vontade.

Como já alguém referiu neste blog, as transformações têm que vir de dentro, não de fora. Talvez nunca saibamos completamente o porquê, mas foi Yushschenko, e não o Ocidente, que perdeu a batalha pela Ucrânia.

António Campos

Maquiavel disse...

António, a sua ingenuidade é aflitiva!

Um das coisas que se reconhecem a Reagan e Thatcher foi que, reduzindo o peso do Estado na Economia, fizeram o défice público crescer em flecha. Paradoxo: menos Estado, mas mais perdulário!?!

Além de que a 1.a medida de Reagan foi meter os EUA de propósito numa recessäo para controlar a inflaçäo, por via da reduçäo da massa monetária em circulaçäo: eu aprendi-os no meu MBA.

MSantos disse...

Caro António Campos

Pela análise que faço do evoluir da situação do actual governo russo, o objectivo final é constituir uma espécie de nova União Soviética, composta pela Rússia, Ucrânia, Bielorussia e Cazaquistão com uma série de antigos estados soviéticos aliados na zona sul, tais como a Quirguízia, Azerbeijão etc que constituam uma zona "buffer" que isole este espaço das nações problemáticas e do islamismo. Já referi isto em tempos idos.

Sobre benefícios e propósitos dos russos não me interessam pois estou a constatar uma realidade abstraindo-me de julgamentos (compreendo que isto para si seja difícil).

Quando refere que eu e tantos outros insistimos no tal descalabro já temos uma grande evolução na sua análise. Contrariamente ao que afirmou à tempos atrás, já não sou um caso isolado (talvez não seja o único a olhar o céu).

Obviamente que me poderá apresentar dados macroeconómicos que confirmam verdadeiramente o seu ponto de vista mas tudo se passa ao nível macro em que os benificiários continuam a ser as grandes empresas e os detentores de capital ou investidores. De certa forma o povo, o homem da rua, a família normal de classe média, todos estes, tirando a ilusão criada do crédito fácil, perderam sempre poder de compra e estão a ganhar cada vez menos.O fosso entre ricos e pobres é cada vez maior. A riqueza é cada vez mais concentrada e menos destribuida.É exactamente a diferença entre rendimento médio (que vocês apontam) e mediano (que as pessoas sentem).Você aqui como técnico versado no assunto compreenderá muito bem.

Como é posssível que você não admita isto? Ou é daqueles que está acima disto e vira a cara para o lado?

Até os neoliberais/neoconservadores mais convictos mas com alguma decência têm algum pudor e alguma vergonha quando se aborda esta realidade.

A estagnação dos anos 70 foi a grande desculpa aproveitada pela escola friedmanita para levar ao extremo o "laissez faire". No entanto o Nobel da economia Paul Krugman desmonta totalmente a pretensa inviabilidade do sistema económico até então demonstrando que a crise dos 70 foi um conjunto de infelizes coincidências aliadas a uma grave crise energética. Tudo isto é explicado no seu livro "A consciência de um liberal". Aí também é demonstrado como o mesmo empregado de hoje ganha cerca de 12% menos que ganhava em 1970, trabalhando mais horas por dia, produzindo mais.

Essa vossa pretensão das verdadeiras causas da crise, em que foi falta de ainda mais liberalismo económico, excesso de intervenção estatal (para rir), tudo isto a subverter o sacro-santo mercado faz lembrar o discurso dos comunistas que justificavam a queda do comunismo com o facto de aqueles países terem sido pouco comunistas, a centralização da economia devia ter sido maior etc tudo também a subverter o sistema marxista.

É de facto muito engraçado este paralelismo e ao fim ao cabo revela uma mesmíssima honestidade, isto para ser simpático.

(CONTINUA)

MSantos disse...

PARTE II

Quando me referi a Reagan foi no aspecto humano e não no que defendia pois este era um homem, tal como Gorbachov, que punha os seus principios humanos acima das suas convicções políticas. No mesmo livro que referi acima e noutras obras que já li, constatei que Reagan com o andar dos anos e através das consequências das políticas que defendia tinha a capacidade de mudar e corrigir e não só por bloqueio do Congresso.

É apenas uma questão de considerarmos as pessoas pela sua grandeza intrínseca, independentemente do quadrante político. Como esperava, e dado isto para você ser um conceito totalmente anómalo, você foi lá direitinho!

E fez bem em mencionar Tatcher que ao contrário de Reagan já não possuia a tal consciência de princípios a sobrepor-se à sua côr política fazendo o seu país saír da recessão como muito bem disse, à custa de uma nova classe de desempregados e desenraízados endémicos que ainda hoje subsiste.

Tal como Churchill, Tatcher foi uma boa primeira-ministra para a guerra e para a confrontação, mas pouco mais do que isso.
Existem muitas obras que pôem a nú o "lado negro" destas duas personagens míticas.

Contarariamente tem o Presidente Kennedy que foi um estadista completo, brando para obter a paz mas quando foi necessário teve-os bem grandes, no sítio, para ter sido o único a vergar a União Sovética cara a cara, contrariando a análise básica do grotesco e primário Kurochev e dos Republicanos.

E sobre a sua análise sumária dos principais propósitos de Delors, qualquer biografia ou wikipedia poderá esclarecer que Delors era muito mais do que isso.


Relativamente à sua análise que faz da minha personalidade e das minhas tendências políticas e até da minha alegada simpatia com o regime russo, pois que hei-de dizer?!

Subverto os meus princípios para apoiar inimigos dos meus inimigos?

Penso que sejam claras para a grande maioria das pessoas que acompanha este blog e isso basta-me.

Mas para si é tudo a preto e branco, não é mesmo, António Campos?

Cumpts
Manuel Santos

MSantos disse...

Maquievel

Focou um aspecto importante:

Nas economias de pendor neo ou ultra-liberal aparecem sempre as grandes empresas sedentas das obras públicas.

Ao fim ao cabo é como seja um paradoxo: o Estado privatiza tudo e subcontrata tudo e depois temos um sector privado totalmente dependente das adjudicações estatais, isto claro, com uma grande dose de "lobbys" e muita corrupção à mistura.

No nosso país temos o "bom" exemplo das parcerias público-privadas.

O caso da guerra do Iraque também foi um bom exemplo em que um dos falhanços na implementação do tal regime democrático resoltou na grande revolta, em especial no sector da construção iraquiano que foi totalmente afastado para dar trabalho a construtoras americanas e aliadas para os trabalhos de reconstrução.

Paralelamente ao destacamento militar, marcharam também, as empresas privadas de segurança que se vieram a revelar um sorvedouro de dinheiros públicos além de todos os enredos tenebrosos em que se viram envolvidas.

O caso mais infame é o da obscura BLACKWATER em que o seu CEO é um fanático religioso que encarou a campanha iraquiana como uma cruzada.

Estes casos apenas são a ponta do iceberg do obscuro mundo dos "mercados livres e de investimento".

Cumpts
Manuel Santos

António disse...

Caro Maquiavel,

Surpreende-me que tenha afirmado possuir um MBA (ou se calhar é daqueles a quem faltam só "duas cadeiras" para o acabar), uma vez que este tipo de pessoas fazem tradicionalmente o trabalho de casa antes de fazerem afirmações que crêem ser consequentes. Se tivesse lido o meu post com um pouco mais de atenção, teria percebido que os meus comentários se destinaram unicamente a comparar a avaliação exuberantemente positiva de um comentarista relativamente a uma política que, nas outras circunstâncias todas, considera a fonte de todos os males do mundo.

Seja como for, como provavelmente sabe, a avaliação das políticas económicas de Reagan continua a ser extremamente controversa. Em qualquer dos casos, se se informar convenientemente, descobrirá que, deduzindo os gastos em defesa (que são compatíveis com a conjuntura de Guerra Fria da época, um dos períodos mais tensos), mesmo com a salvação dos Savings & Loans com dinheiros públicos, a despesa pública per capita na era Reagan cresceu apenas muito ligeiramente. E mesmo se incluirmos os gastos em defesa, acabar 8 anos de mandato com um défice de 3,1% do PIB deveria fazer inveja a muitos países europeus nos tempos que correm.

Outra coisa que um MBA bem informado deveria saber é que a tal contracção da massa monetária que refere (que neste caso foi conseguida à custa de um maciço aumento das taxas de juro) foi, contrariamente ao que afirmou, introduzida não por Reagan, mas por Paul Volcker, democrata e presidente da Reserva Federal, no último ano do mandato de Jimmy Carter, como medida de combate ao longo período de estagnação-inflação e consequente elevado desemprego que se fez sentir na década de 70. Aliás, os mais ferrenhos Keynesianos argumentam que foi essa mesma contracção, que fez descer o PIB nos dois primeiros anos da década de 80, em conjunto com os consistentemente baixos preços do petróleo até aos anos 90, a verdadeira razão para o forte crescimento do PIB da era Reagan.

Portanto, caro Maquiavel, não se esqueça de me dizer onde é que fez esse tal MBA, para eu ter a certeza que não o recomendo aos meus amigos.

António Campos

Wandard disse...

"felizmente para si, para mim e para centenas de milhões de outros, temos vindo a ser dominados pelos "déspotas" escolhidos em eleições livres, que por mais lobbies que sirvam, ajudaram-nos a nos mantermos livres da União Soviética no pós-guerra sem termos que enterrar metade do PIB na criação de exércitos sobredimensionados e ajudaram-nos a consolidar as nossas democracias e economias, que nos deram prosperidade suficiente para andarmos aqui a barafustar livremente em blogues e a ler livros online através de uma ligação de banda larga".

Caro Antonio,

E quem pagou a conta por esta "liberdade e prosperidade", países da América Central e do Sul, da Ásia e da África não só através da exploração econômica dos Estados Unidos bem como através das 136 guerras que esta nação provocou e quantas vidas custou?

Ver sob uma vertente parcial não é a enxergar a realidade como um todo.

Abraço,

Maquiavel disse...

Antonio, saiba V. Exa. que o meu MBA foi tirado com distinçäo (3,8 em 4) no Instituto de Empresa, tipo o mais conceituado na Europa. Só.

Sei muito bem que o início foi com Volcker, mas também sei que ele foi corrido do Fed por Reagan quando se atreveu a näo escalar o medida de controlo da inflaçäo para o resto da teoria económica do neoliberalismo.
Como disse Stiglitz "Paul Volcker, the previous Fed Chairman known for keeping inflation under control, was fired because the Reagan administration didn't believe he was an adequate de-regulator".

Foi lá metido o fanático desregulador Greenspan, que agora até já fez actos de contriçäo.

3,1% de défice até nem parece muito à primeira vista, mas para que se saiba esse foi o valor mais baixo de todo o consulado Reagan, batendo nos 5% nos 4 anos em que o PIB americano mais cresceu. Foi nesse período que se verificaram os maiores défices públicos em % do PIB em tempo de paz. Basta ver
http://www.washingtonpost.com/wp-srv/special/politics/budget-2010/deficit.gif
Nada muda o facto de durante os anos do "republicanismo de Estado mínimo" o défice público atingir as %s mais elevada do PIB.

Tentar depois misturar a contexto da Guerra Fria para justificar isto é risível, se tivermos em conta que a escalada foi criada precisamente por Reagan com a sua Guerra das Estrelas, numa altura em que a URSS estava já de pantanas, deixando de ser verdadeira ameaça com Gorbatchov.

Para finalizar, a contracção da massa monetária que refere NÄO foi "conseguida à custa de um maciço aumento das taxas de juro", antes foram duas medidas complementares, que eu aplaudo. Aliás, se Volcker tivesse continuado no Fed outro galo cantaria nesta altura... a proposta da Regra Volcker é disso prova!

António disse...

Caro Wandard,

Ainda que não seja este o fórum adequado para uma discussão destas, acho que devo dizer pelo menos o seguinte: o perigo de fazer afirmações genéricas como a que acabou de fazer é o de descontextualizar a discussão e potencialmente induzir em erro quem está menos informado na matéria. Ou seja, se não foram acompanhadas de contexto, afirmações deste tipo arriscam-se a não serem mais do que demagogia e propaganda.

Concordo que muitas das intervenções americanas no exterior não foram de todo motivadas por altruísmo nem pela promoção de valores democráticos ou pela defesa das liberdades individuais. Tal é do domínio público e só alguns fanáticos de extrema-direita (e/ou atrasados mentais) é que não concordariam à primeira. Mas para nos alinharmos na íntegra com a sua afirmação (de que "a conta da liberdade e prosperidade foi paga pela exploração de países do terceiro mundo pelos EUA", o que me parece uma acusação extremamente séria), teríamos primeiro que ter em conta o impacto concreto dessas mesmas acções, tanto nos Estados Unidos como no resto do mundo ocidental e nos países presumivelmente afectados. Teríamos pois que ter uma resposta fundamentada a perguntas do tipo: qual foi o impacto no PIB americano (e nos países terceiros) dos seus interesses comerciais em países do terceiro mundo? Quais foram as intervenções americanas motivadas pela defesa dos seus cidadãos residentes nestas áreas? Quais foram as intervenções americanas que tiveram efectivamente carácter humanitário? Quais foram as destinadas a obliterar o surgimento de focos pró-soviéticos? Qual o mal nesses países que foi efectivamente auto-infligido e exclusivamente resultante de conflitos internos? E muitas outras.

Como calcula, é uma análise demasiado complexa para que nos precipitemos a fazer acusações tão sérias e abrangentes como a que fez. Admito que o caro Wandard já a tenha feito e que esteja conveniente e exaustivamente informado para afirmar o que afirmou. Se for esse o caso, teria o maior prazer que partilhasse essas informações comigo, talvez noutro fórum mais adequado. Como disse alguém um dia, "só os idiotas é que não mudam de opinião".

António Campos

António disse...

Caro maquiavel, se você fosse coxo, seria muito mais difícil apanhá-lo. Aliás, pelas coisas que diz, e como se contradiz, torna-se bastante fácil. Pena para si é que os três mais conceituados MBAs na Europa (INSEAD, LBS e IESE), e a maioria dos outros, aplicam esquemas de classificação relativos, nos quais três percentagens fixas da turma recebem uma classificação de A, B ou C em função do aproveitamento, ou onde é usada uma gaussiana centrada em 2,5 com um desvio padrão de 1. Azar.

O único MBA que dá "distinções" é o da Universidade da Praia de Carcavelos.

António Campos

Anónimo disse...

Acerca da "conceitualidade" do Instituto de Empresa:

http://rankings.ft.com/businessschoolrankings/european-business-school-rankings

O IE é o 5º melhor da Europa (à frente do IESE) e o 6º melhor do Mundo.

João Gil disse...

Caro MSantos,

Creio que em relação ao comentário que teceu a um comentário meu, referia-se à UE e não aos EUA, pois as minhas palavras referiam-se à primeira e não aos segundos.

Permita-me discrodar em parte, pois creio que a crise económica, acentuada nos últimos meses, não pode funcionar como explicação para o facto de a UE não ter sido mais resoluta e firme nas suas intenções para com a Ucrânia. A meu ver, a UE não soube aproveitar a "janela de oprtunidade" inesperadamente surgida em 2004/2005 com as eleições presidenciais e com a "Revolução Laranja". Nessa altura, podia e devia ter actuado de forma bem diferente, não apenas com promessas questionáveis e até um pouco ocas. A intenção era boa, o caminho estaria definido, mas não houve corangem. Infelizmente.

Hoje, as repercussões disso estão à vista, e a Ucrânia continua a balançar perigosamente entre os dois campos, sendo o futuro um grande ponto de interrogação.

Peço também desculpa pelo atraso deste comentário, mas só agora vi que tinha feito um comentário dirigido a mim.

Wandard disse...

"Como calcula, é uma análise demasiado complexa para que nos precipitemos a fazer acusações tão sérias e abrangentes como a que fez. Admito que o caro Wandard já a tenha feito e que esteja conveniente e exaustivamente informado para afirmar o que afirmou. Se for esse o caso, teria o maior prazer que partilhasse essas informações comigo, talvez noutro fórum mais adequado. Como disse alguém um dia, "só os idiotas é que não mudam de opinião"."

Caro Antonio,

Estou plenamente de acordo, que este espaço realmente não é adequado para levarmos adiante a discussão a respeito deste assunto, que possui nuances e detalhes bastante profundos e extremamente exclarecedores. Sim, as informações já foram exaustivamente investigadas, e detalhe, a maior parte das conclusões é visível, bastando viajar aos respectivos locais que todos poderão ter a oportunidade de vislumbrar a realidade, já outras depreenderam tempo, persistência e interêsse pessoal na busca.

Infelizmente minhas atividades encurtaram bastante meu tempo disponível. Mas quando possível terei enorme prazer em compartilhar.

Quanto ao que comentei, não houve o objetivo de descontextualizar nem induzir em erro que está pouco atualizado ou desconhece a matéria, pois é exatamente contra isto que luto em relação ao que hoje fazem os meios de comunicação, que se utilizam geralmente do desconhecimento dos leigos, em assuntos que não pertencem aos seus interesses rotineiros, acabando bombardeados por reportagens e notícias montadas conforme os interessados por trás o querem.

Isto no Brasil ocorre diáriamente e em relação à "História" sempre foi via de regra, como exemplo hoje temos realidades a respeito da 2ª guerra que ficaram fora do acesso do público por sessenta anos.

Hoje se conhece a verdade das atrocidades americanas no Iraque, como ocorreu no Vietnã, porém hoje toda e qualquer notícia, que não seja que a coligação matou 3 dezenas de insurgentes e perdeu somente 4 homens ou nenhum não sai sem aprovação dos aliados, o que contrasta com o número de caixões e soldados desajustados que voltam para casa. Vários jornalistas independentes já foram coagidos e subtraídos do seu material. Estes são casos visíveis, que envolvem o terceiro mundo, que envolvem as potências ocidentais, e que mostram que a tranquilidade, a prosperidade, a banda larga, tem alguém pagando o preço. O Iraque hoje é vergonhosamente assaltado, a estrutura do país está no chão, Saddam era o mal, mas a invasão aliada se tornou um câncer. Para finalizar quem apoiou Saddam chegar no poder? E quando foi que ele se tornou um problema?

Grande abraço,

António disse...

Caro Wandard, peço desculpa se não me fiz entender convenientemente. Não afirmei que a sua intenção seria a de fazer demagogia. Apenas disse que, sem contexto, afirmações graves como a que fez poderiam ser interpretadas de forma simplista, o que, dada a gravidade da acusação e sem uma análise conveniente, faz mais mal do que bem.

Quanto ao Iraque, não podia estar mais de acordo consigo. Agora que o Ocidente (e especialmente os contribuintes americanos), para além dos habituais abutres da indústria da guerra, tenha ganho alguma coisa, tenho as minhas sérias dúvidas.

Na verdade, há outros países do terceiro mundo a lucrar muito mais com a guerra do que propriamente o ocidente. Há 3 semanas estive na Jordânia e pude assistir a isso em primeira mão. Nem imagina o boom económico que o país está a sofrer, inundado com o dinheiro da guerra.

António Campos

MSantos disse...

Caro João Gil

Efectivamente tem toda a razão. Cada um de nós mencionou a entidade que cada um interpretou estar ao comando das negociações com a Ucrânia.

Vou-lhe explicar porque mencionei os EUA mesmo inconscientemente.

Pela minha parte devo dizer que nunca revi os interesses da Europa na eventual integração da Ucrânia na UE. A Ucrânia tem um povo que na sua maioria é irmanado com o russo. A sua mentalidade é muito próxima da da russa. A sua estrutura económica, social, estrutural está embebida na russa.

Penso que a mesma razão pela qual a Turquia não deve ser integrada é a mesma razão da Ucrânia. São povos e países cuja matriz cultural e social não estão de acordo com os europeus que temos na parte ocidental do continente.

A Polónia sim, já é um país com um pensamento tipicamente europeu ocidental.

Ponho de lado o chauvinismo tradicional dos que dizem "não correspondem aos valores europeus" porque quando refiro isto não estou a dizer que a matriz europeia é a ideal ou melhor, ou a que estes países deveriam seguir.

É apenas diferente, tão só.

Se esses países têm problemas e correcções a fazer, são eles que têm de encontrar o próprio caminho.

A última década foi infelizmente muito pródiga em catastróficos resultados de exportações de modelos.

Neste processo, os principais interessados sempre foram os Estados Unidos, que na sua estratégia global ainda vêem a perigosidade do grande bloco euro-asiático de dominância russa como a principal ameaça à sua hegemonia global (independentemente de o ser ou não).

Se reparar, nações como a França, Alemanha ou até Itália estiveram sempre mais preocupadas em manter os grandes negócios e parcerias comerciais com a Rússia do que própriamente a integração ucraniana e que toda a gente sabia que ia ser um pesadelo.

Obviamente os países europeus com ressentimentos ou medos da ameaça russa aliaram-se aos Estados Unidos nesta contenda.

O grande problema da eventual intgração ucraniana na UE é que seriam necessárias quantidades astronómicas de dinheiro, e isso nos dias de hoje é um luxo inacessível, mesmo até para um país como os EUA.

Em resumo: troquei inconscientemente a sua UE pelos EUA porque pessoalmente nunca vislumbrei uma UE única neste processo.

Mas obviamente tudo isto é apenas a minha opinião.

Cumpts
Manuel Santos

Anónimo disse...

"A última década foi infelizmente muito pródiga em catastróficos resultados de exportações de modelos."

Sábia afirmação!