O ícone de Nossa Senhora de Kazan é uma das imagens de maior devoção para a Igreja Ortodoxa Russa que resistiu ao regime soviético enquanto símbolo anticomunista, tendo chegado a ser acolhido no Santuário de Fátima durante cerca de 20 anos.
Em agosto de 2004, o cardeal Walter Kasper, Presidente do Conselho Pontífico para a Promoção da Unidade dos Cristãos, devolvia ao patriarca russo Alexis II o ícone de Nossa Senhora de Kazan, que esteve em Fátima entre 1970 e a década de 90.
Segundo a lenda, o original desse ícone de Nossa Senhora teria aparecido milagrosamente na cidade de Kazan em 1579, tendo recebido o seu nome dessa cidade que havia sido conquistada pouco antes aos tártaros pelos russos.
A imagem foi um dos símbolos mais venerados nos momentos em que a Rússia viu a sua independência em perigo: na libertação de Moscovo e da Rússia das tropas polacas (1612), na Batalha de Poltava entre russos e suecos (1709) ou invasão do país pelas tropas de Napoleão (1812).
O original do ícone não chegou aos nossos dias, tendo sido roubado do Templo de Nossa Senhora de Kazan, em São Petersburgo, em 1904.
A cópia que chegou a Fátima é datada dos séculos XVII ou XVIII e constitui uma obra-prima da arte sacra ortodoxa. O ícone está decorado por dezenas de pedras preciosas e pérolas, um sinal de que se tratava de uma imagem muito venerada da Rússia e é considerada a obra herdeira do ícone original.
Levado da Rússia para o Ocidente depois da revolução comunista de 1917, o ícone passou pela Inglaterra e terminou a sua viagem nos Estados Unidos, onde a instituição católica Exército Azul o adquiriu por três milhões de dólares.
A peça foi enviada para Portugal, para ser entronizado na capela bizantina da Domus Pacis (sede internacional do Exército Azul), onde chegou no dia 21 de Julho de 1970.
A imagem de Nossa Senhora de Kazan ficou em Fátima até que se concretizou uma das promessas das Aparições: a consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Jesus e o fim do comunismo.
Em 1993, o ícone foi entregue ao Papa João Paulo II para o devolver à Igreja Ortodoxa Russa. Chegou a ser agendado um encontro entre o Papa polaco e Alexis II na Áustria em 1996, mas o momento foi suspenso porque o patriarca russo acusou a Igreja Católica de fazer “proselitismo” na Rússia.
Entretanto, falharam também as tentativas de organização de uma viagem do Papa à Rússia para entregar o ícone.
O Vaticano chegou mesmo a acordo com o Governo da república russa da Tartária, para que o avião papal fizesse escala durante a viagem à Mongólia no final de 2003 para devolver o ícone à igreja de Kazan mas a hierarquia ortodoxa recusou a ideia.
Entretanto, João Paulo II não realizou o seu sonho de visitar a Rússia e de devolver o ícone pelo que aceitou enviá-lo através de um dos seus cardeais.
No processo diplomático, a Igreja Ortodoxa Russa procurou desvalorizar a importância simbólica do ícone e o próprio patriarca Alexis II afirmou que se tratava de uma “fraude”, considerando que o Papa não precisava de visitar a Rússia para devolver uma cópia.
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