sacerdote Gleb Iakunin
O fenómeno da Cova da Iria e a história da Rússia do século XX estiveram ligados por profundos laços políticos e espirituais. Alguns dos sacerdotes e leigos ortodoxos russos depositavam forte esperança em Nossa Senhora de Fátima no combate contra o comunismo.
Em 1975, durante o PREC, quando Portugal vivia uma fase de tenso combate entre as forças democráticas e movimentos comunistas, o sacerdote ortodoxo Glev Iakunin e o historiador e filósofo Lev Reguelson decidiram enviar um “Apelo ao Povo Português” para que não se deixasse enganar pela propaganda do Partido Comunista Português.
“Imploramos-vos que, ao definir o vosso comportamento na vossa edificação político-social do novo Portugal, não se esqueçam da trágica e edificante experiência do nosso país”, escreveram os dois intelectuais.
“Se os comunistas, a título excecional, podem chegar ao poder por via pacífica e democrática, eles, nem na teoria, nem na prática, admitem a possibilidade de ceder esse poder por via pacífica” pelo que a “sua vitória fecha a via a qualquer desenvolvimento político posterior, a qualquer criatividade política”, escreveram no apelo, publicado clandestinamente a 3 de Abril de 1975.
No texto, Glev Iakunin e Lev Reguelson citavam a Mensagem de Fátima, recordando o apelo à conversão da Rússia.
“As nossas gerações foram testemunhas da realização dessa profecia. Com tristeza e preocupação, dirigimo-vos a vós com a pergunta: será que a alma popular de Portugal sofreu uma fratura tão profunda que a Praça Branca de Fátima irá parar às mãos dos inimigos da Igreja, será que os portugueses permitirão fazer sangrar uma vez mais o Coração Imaculado de Maria?”, perguntam os dois ortodoxos soviéticos.
“Encontrando-se numa encruzilhada histórica, o vosso país pode tornar-se para o totalitarismo a chave da Europa, mas pode ser para ele o fatal ponto de viragem, se o vosso povo recusar, com uma decisão profunda do coração, a tentação que Vos é proposta e travar a marcha triunfal do mal de que falou a Imaculada Conceição em Fátima”, concluem.
Este mês, 35 anos depois do apelo, Bento XVI visita Portugal num momento em que o discurso de Fátima se tem centrado mais no diálogo inter-religioso e ecuménico com outras religiões, incluindo a ortodoxa.
4 comentários:
Ó Sr. Milhazes, com o devido respeito aos católicos, essa coisa de praça branca e praça vermelha não passa de «figuras de interpretação» e figuras desse género, isto é, interpretações, podem ser feitas em número ilimitado.
Olhe, no meu entender, Fátima não passa de uma mistificação. No essencial, é um mealheiro electrónico.
Agora se se quiser falar de "espiritualidade", então a coisa passa a ser diferente.
Eu entendo (mas posso estar enganado) que o povo Russo tem um grande sentido de espiritualidade,e, aliás, sempre teve, (veja-se por exemplo, os magníficos cantos ortodoxos, etc.). Em que medida o regime comunista tentou (e, sobretudo, conseguiu) apagar esse sentido de espiritualidade, não sei, apenas sei que, em épocas de perseguição (veja-se o grande terror estalinista), as pessoas, em função da necessidade da sobrevivência, esquecem tudo, e, transformam-se em, digamos assim, animais (veja-se que nessa época, apenas existiam duas coisas, denunciantes, e denunciados, isto é, vítimas dos denunciantes. No entanto, e afinal, ficou demonstrado que o comunismo não conseguiu apagar o »sentido religioso» no ser humano (nem sequer na China, onde a religião foi declarada como o ópio do Povo).
O clero português, na sua esmagadora maioria, e ainda hoje, é profundamente conservador (eu diria mesmo, retrógrado) e, essencialmente, procura é manter as regalias e o privilégios de que usufrui.
Penso que se passa o mesmo com o clero ortodoxo russo (opulência), excepção, claro, aos monges que vivem em relativa modéstia.
Não obstante, quer o povo português quer o povo russo, são profundamente religiosos, no sentido de, sofredores, e crentes em Deus.
Comprimentos.
Ao anónimo das 01.53
Comprimentos, larguras, alturas...
dimensões da religiosidade?
não percebi muito bem o que ARS quer comunicar, de qualquer modo, caso tenha sido um sinal de ateísmo, então deve ser daquelas pessoas que, como o Mário Soares, não acredita em Deus, « acredita nos homens ».
Daí, pergunto eu, qual a dimensão dessa crença?
O problema é que se a Igreja Ortodoxa Russa acerta na análise do que houve naquele país, por outro lado, ela omite um dado importante, que é o fato daquilo ser uma forma de "comunismo" e não o comunismo em si. Ademais, a julgar pela posição retrógrada e reacionária, a elite intelectual ortodoxa só esteja protestando contra a sua liberdade cerceada e não a dos outros, basta ver as suas posições.
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