Texto enviado pelo leitor João Gil Freitas do blog http://osnaoalinhados.wordpress.com/:
"Finda hoje mais uma cimeira UE-Rússia, reunião regular que duas vezes por ano junta os seus respectivos líderes. Esta é a primeira cimeira depois da adopção do Tratado de Lisboa, e talvez por isso a imagem dos novos altos representantes da UE tenha sido apagada. Nada de surpreendente, como nada surpreende o "banho maria" em que as relações entre Bruxelas e Moscovo estão neste momento imersas. Fala-se em regulação financeira dos mercados internacionais num cenário pós-crise, a que a Rússia parece alinhar com a posição da UE mais por formalismo do que por convicção.
Discute-se o tão propalado regime de liberalização de vistos, uma questão sensível há muito veiculada nos corredores das diplomacias, mas que não encontra saída à vista. Clivagens internas à UE, em que alguns estados não estão dispostos a ver a Rússia ser favorecida nesta matéria em detrimento dos estados signatários da "Eastern Partnership"; a par com questões relacionadas com a introdução do passaporte biométrico e com o problema da migração e segurança a partir das regiões sensíveis do Cáucaso, têm levantado sérios entraves à adopção da medida. A isto acresce a necessidade de ultrapassar algumas práticas passadistas russas que incluem, entre outras, a obrigatoriedade de registo de movimentos dos cidadãos estrangeiros em território russo, têm obstaculizado um eventual acordo. Percebe-se a ânsia russa em liberalizar o regime de vistos, mas isso tem de ser – e bem – associado a um outro sem-número de questões, que a UE não pode deixar passar em claro. A questão arrasta-se desde 2003, já sofreu inúmeros progressos, mas é importante que a UE saiba retirar os dividendos suficientes de um acordo já expectável, mas que favorecerá mais a parte russa do que a parte europeia.
Goradas as hipóteses de entendimentos frutíferos e significativos nestes dois domínios, restam os avanços esperados no âmbito da "Parceria para a Modernização", acordada na cimeira de Estocolmo, em Novembro último, e que prevê o estabelecimento de parcerias a nível empresarial e uma acção mais integrada no campo das altas tecnologias, investimentos de que a Rússia precisa como de pão para a boca.
A juntar a isto, está o mau timing da cimeira. Nada de premeditado porventura, mas embaraçoso; no mesmo dia em que Durão e Van Rompuy apertam calorosamente a mão a Medvedev, a OMON russa (polícia de choque) trata de pôr violentamente termo a várias manifestações da oposição sem assento no Parlamento, acusando-as de contribuírem apenas com um grande vazio de ideias. Lamentavelmente, a UE teima em baixar a cabeça perante uma Rússia autoritária, no mesmo dia de uma cimeira ao mais alto nível, e perante as evidências inequívocas de abusos policiais em catadupa. Em Moscovo e em São Petersburgo a polícia bateu indiscriminadamente e prendeu nesta última cidade mais de uma centena dos trezentos manifestantes. Rostov-on-Don, cidade anfitriã da cimeira, não escapou aos protestos, que mesmo num clima de intimidação, envolveram dezenas de pessoas.
Perante isto, e da parte do Conselho e da Comissão, nem uma palavra. Colocar entraves à liberalização do regime de vistos é um bom sinal, mas não é suficiente por parte de quem aspira a um papel relevante e credível na arena internacional."
3 comentários:
Caro leitor João Gil, estou de acordo consigo no que respeita à inutilidade de cieiras deste tipo. É atirar dinheiro ao lixo.
Mas, em prol, da verdade, deve dizer-se que Vam Rompuy, presidente da UE, manifestou preocupação com as violações dos direitos humanos e das liberdades na Rússia.
“A situação na esfera da liberdade de expressão e as dificuldades que enfrentam no seu trabalho os defensores dos direitos humanos preocupam fortemente a comunidade europeia”, frisou.
Caro José Milhazes, o que diz é verdade. Verifiquei essas mesmas declarações, antes de regidir a minha perspectiva. As palavras de Van Rompuy são exactamente estas e passo a citar:
"On human rights, I expressed our appreciation for recent legislative developments in Russia – the
ratification of Protocol 14 of the European Convention on Human Rights, the expansion of jury
trials nationwide, and the confirmation of the moratorium on the death penalty.
However, the situation for human rights defenders and journalists in Russia is of great concern to
the European public at large. Another matter of concern - which I noted was shared by President
Medvedev - is the climate of impunity, in particular in Chechnya and other areas of the North Caucasus."
http://www.consilium.europa.eu/uedocs/cms_data/docs/pressdata/en/ec/114736.pdf
Quando digo "nem uma palavra", refiro-me aos acontecimentos brutais de ontem, por entender que mereciam uma consideração de um dos responsáveis máximos da arquitectura institucional da UE presentes na ciemeira. Essa declaração é, na minha opinião, modestíssima, superficial e sintomática da fraca expressividade de Van Rompuy. Mas concordo que deveria ter sido mais claro nas minhas palavras.
Caro Jose, transcricao do Gravador de Cabina do Tupolev 154M o acidente de aviacao ocorrido em Smolensk a 10 IV de 2010 http://91.210.209.188/Transkrypcja_rozmow_zalogi_samolotu_Tu-154_M.pdf
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