terça-feira, junho 01, 2010
OUTONO EM SÍGULA (Andrei Voznessenski)
Para os amantes da poesia, fica aqui mais uma tradução de um poema de Andrei Voznessenski, realizada pelo meu saudoso amigo José Sampaio Marinho:
"OUTONO EM SÍGULA
Já no estribo do vagão
Eu digo adeus,
Adeus, Verão,
Está na hora,
Pregam janelas e portas
Na casa de campo agora,
Adeus,
Meus bosques de folhas mortas
Vagos e tristes ficaram,
Qual caixa de acordeão
Cuja música levaram,
Somos homens
Vagos também,
Deixamos tudo,
é assim a vida,
Muros,
mulheres,
a mãe,
A ordem estabelecida,
Adeus, mamã,
Junto à janela
És crisálida lunar,
O teu dia foi de afã,
Vem-te sentar,
Salve, amigos e inimigos,
Good bye,
De mim agora
Meu longo silvo saídos,
E eu de vós me vou embora,
Pátria, digamos adeus,
Serei estrela, salgueiro,
Mas não choro e mais não quero
Que aquilo que a vida deu,
No tiro ao alvo de 10
Eu queria fazer 100,
Enganava-me, obrigado,
Mas obrigado também
Porque o génio penetrou
A transparente omoplata
Como na luva
esponjosa
O punho rubro de um primata,
“Andrei Voznessénski” – um nome
Nada mais que um nome, um grito,
Contra a tua face insone
Ser apenas “Andrezito”.
Obrigado por no bosque
Me teres interrogado,
Levando pela coleira
A cadela fraldiqueira,
Obrigado,
Obrigado pelo Outono,
Por me teres explicado
O acordar cedo do sono,
As festas que infame invade
Um disco sem qualidade,
Obrigado,
Mas eis que agora partes, partes,
como o comboio tu partes,
Dos meus poros vagos partes,
Um do outro separados,
Em que é incómoda a casa?
Sei que nos repetiremos
Nos amigos, no rocio,
Neste e noutro viveremos –
“Natura teme o vazio”,
Obrigado pelas folhas
Dispersas, milhões virão,
Segundo a lei – obrigado,
Uma mulher pela encosta vai,
Como ígnea folha atrás do vagão...
Salve, gritai!
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2 comentários:
Bom dia sr. Milhazes, desculpe a minha ignorancia, o que sera uma SÍGULA? Obrigado
Sígula é uma localidade russa.
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