sábado, junho 19, 2010

A sua capacidade de utilizar a palavra simplesmente encanta


A imprensa russa e de países que antes faziam parte da União Soviética dão grande relevo à notícia da morte do escritor português José Saramago.

A obra do Prémio Nobel da Literatura, à exceção do seu último romance “Caim”, está toda traduzida em russo. O romance Evangelho Segundo Jesus Cristo foi traduzido também para ucraniano e estónio.

“Interessei-me muito em ver como é que ele construía as frases de forma surpreendente, são construções de lítio, dentro das quais mergulham diálogos, quando não se compreende quem fala: ou autor ou as personagens. Uma fantástica polifonia do texto”, declarou Alexandre Bogdanovski, tradutor de todas as obras de Saramago publicadas em russo.

Segundo ele, “simplesmente atrai a sua forma de utilizar vivamente a palavra. Ele era um combatente de princípio contra a inércia da língua”.

Comparando as escritas do português Saramago e do brasileiro Paulo Coelho, cuja obra foi também traduzida para russo por Bogdanovski, este afirma: “Estão em pólos opostos. Cada um ocupa o seu lugar: um é difícil, o outro é fácil. Mas devo dizer que as dificuldades na leitura de Saramago não são um martelo que bate na cabeça do pobre leitor. Porque é uma espécie de redemoinho que engole o homem”.

A imprensa russa chama principalmente a atenção para o romance Evangelho Segundo Jesus Cristo.

“A Igreja Católica declarou esse romance um “pasquim contra o Novo Testamento. Os sacerdotes assinalaram que, no livro, Jesus é apresentado como um simples homem, capaz de errar, com desejos e dúvidas”, escreve o diário Kommersant.

“Ele estava descontente com a ordem existente das coisas. Penso que muitos se debruçaram, de uma ou de outro forma, sobre isso: Tolstoi, Dostoevski”, afirma Bogdanovski a propósito do polémico romance.

“A Saramago colocaram-se questões que surgem a todo aquele que lê atentamente as Sagradas Escrituras. São perguntas inevitáveis. Mas ele dá-lhes uma forma aguda, inflamada, quase blasfémica”, conclui o tradutor.

Bogdanovski revelou que brevemente será publicado em russo o último romance de Saramago: “Caim”.

12 comentários:

Hugo Albuquerque disse...

Sem dúvida, um dos grandes, pelo menos, o maior escritor de língua portuguesa do século 20º.

Gilberto disse...

RIP

Grande escritor e grande homem! E comprometido com os trabalhadores.

Vai-se o homem, fica o exemplo.

sergio disse...

Não questiono a qualidade do escritor mas,será que se ele fosse politicamente de direita teria sido laureado com o Prémio Nobel?

Anónimo disse...

"Não questiono a qualidade do escritor mas,será que se ele fosse politicamente de direita teria sido laureado com o Prémio Nobel?"


É óbvio que não. E nós sabemos disso.

Saramago foi um bom escritor. Não o melhor do século XX na língua, como querem alguns megalomaníacos. Guimarâes Rosa e Graciliano Ramos foram muito superiores...

p.s:...E menos canalhas morais.

Espero que Fidel (seu grande amigo), em breve tb o acompanhe.

rs.

Anónimo disse...

Excerto do blog do jornalista Reinaldo Azevedo sobre o tal escritor:


"O espetáculo de ignorância e mistificação que se seguiu à morte do escritor é fabuloso, especialmente em tempos de Twitter, em que as celebridades lamentam o acontecido, dizendo-se muito chocadas. Fiquei tentado a convidar algumas delas a escrever para o meu blog um texto — original!!! — de 20 linhas que fosse sobre o seu “Saramago predileto”. Cheguei a ler e a ouvir depoimentos afirmando que Saramago era anti-religioso, sim, mas jamais se negou ao diálogo. Mesmo? “Diálogo” com quem? Com o papa? Outros o transformaram num dos maiores e mais doces humanistas do século passado e deste. Aí não dá!

Eu digo por que não gosto da LITERATURA de Saramago e desprezo — o verbo é esse — a sua ideologia e seu silêncio cúmplice diante de regimes totalitários. Já à democracia ocidental, que afinal lhe deu fama, prestígio e fortuna, nunca dispensou uma só palavra de apreço. Escritores, como ele próprio, que têm o ofício que ele tinha, estão encarcerados em Cuba. Estavam encarcerados na União Soviética e nos países da Cortina de Ferro. E ele estava lá, não vendo razões para renunciar a seu “comunismo hormonal” nem para deixar de ser comunista. O que mais era preciso?
Não! Eu não gosto do escritor. Acho seu texto desagradável e superficial sua visão sobre, vá lá, a humanidade e a cultura porque presa a dogmas que cegam. Mas eu o respeito o bastante para não tentar fazer de “José” um homem que “José” nunca foi. Laureado com o Nobel, não se tornou mais generoso nem mesmo com aquilo que desconhecia, negando-se a aprender. Chegou a criticar o governo Lula em 2004 nestes termos em entrevista à BBC:
“Aplaudi, apoiei, todos nós aplaudimos e festejamos a vitória (de Lula). Mas, neste momento, sou bastante crítico, sobretudo com a política econômica, com esse acordo com o FMI que ele aceitou e que tinha uma condição fundamental que é o pagamento da dívida externa. Se isso se converte em prioridade, é claro que os problemas sociais vão ser postos em segundo plano”.

O “humanista” Saramago atacava justamente aquela que era, e ainda é, a única virtude do governo Lula. Que um comunista veja o mundo pelo avesso, disso estou certíssimo. Fazer de Saramago um humanista ou “homem do diálogo”, aí já estamos no terreno da mistificação e da boçalidade.
Não! Eu não gosto das idéias de Saramago. E não gosto dos livros de Saramago. Nos dois casos, disse por quê. Desconheço uma maneira decente de gostar do que ele pensava. Mas já li bons textos de admiradores de sua obra. Melhor assim! A pluralidade é um dos traços que distinguem o mundo que Saramago adorava odiar. Mais uma evidência do seu erro.

Que descanse em paz! Não saúdo, obviamente, a sua morte nem vou publicar eventuais comentários que enveredem por aí. Lamento é a burrice e a mistificação embevecidas que precisam inventar um Saramago que nunca existiu para defender, sem reservas, o que existiu. Vale uma das máximas de Voltaire: “O segredo de aborrecer é dizer tudo”. Pois não…"


Ítalo Almeida

Anónimo disse...

Muito interessante este último comentário do Ítalo.
Reflecte totalmente aquilo que sempre pensei. Julgo que o escritor Saramago é indissociável do político Saramago e este último só pode ter o apoio de comunistas intolerantes.

Anónimo disse...

Saramago sem duvida foi o melhor escritor da língua portuguesa! Foi uma grande perda mas suas obras ficam !

MSantos disse...

Gostaria de afirmar que mais uma vez Saramago promove a polémica e o debate mas infelizmente os comentários detratores que aqui se fazem ouvir primam apenas e tão só pela mais primária ignorância.

Toda a gente é livre ou não de gostar. Eu pessoalmente nem sei se gosto pois nunca li nenhum livro dele.

Mas é um facto indescutível que tal como há pessoas de direita que são literalmente abjectas, Saramago sendo comunista era um homem bom e um verdadeiro humanista.

Tal facto é reconhecido mesmo por personalidades pertencentes à direita.

Obviamente que a direita tacanha e revanchista não perdoa o facto de um comunista e/ou um ateu poder conter algo de bom e numa apreciação primária demoniza e estirpa qualquer réstia de humanidade áqueles que entende como seus inimigos.

E infelizmente e reciprocamente, determinada esquerda também sucumbe a estes pecados.

Cumpts
Manuel Santos

Anónimo disse...

Afinal quem é este Ítalo de Almeida para passar um atestado de demência aos milhões de leitores de Saramago? Se está traduzido em mais de 40 línguas. Por acaso leu algum livro de Saramago? Se leu diga o que não lhe agradou? E no que acha em que o Comité Nobel errou em atribuir-lhe o prémio? E não errou noutros casos com menos divulgação mundial? Não basta insinuar , têm que dar provas.
A prova está em que quando a pobreza de espírito e a nobreza da ignorância são em demasia as pessoas tornam-se intolerantes a tudo que esteja para além daquilo que lhes foi inculcado.
Julga-se com direito a ser um católico empedernido até aos subterrâneos da estupidez. E quer negar a outrem a coragem em não concordar com o que foi estabelecido durante séculos pela bainha da espada, pelo terror e pela negação da verdade.
Ou está esquecido da inquisição? Do conluio entre a igreja e os sistemas reinantes mais retrógrados e repressivos que existiram durante dois milénios? Dos sucessivos escândalos havidos no seio da igreja? Como os casos de pedofilia noticiados recentemente, que nem uma ponta do icebergue chegam a ser, são mais as crateras da Lua vista a partir da terra.
Saramago ou outra pessoa tem o mesmo direito em ser ateu e fazer criticas à doutrina da igreja e à sua actuação, como qualquer outro tem o direito em fazer a opção religiosa que muito bem entender.
Já lá vai esse tempo do silencio imposto pela fogueira. O que têm a fazer hoje , sem direito à arrogância habitual de outros tempos, é quando os ateus ou aqueles que os criticam estão errados e faltam à verdade, é defenderem as vossas convicções com factos, e não recorrer a misticismos como sempre o fizeram.
Ou os seguidores da religião ignoram que a ciência já explica muitos fenómenos que em tempos eram atribuídos aos poderes divinos?

Afinal o que sabe este Ítalo de Almeida de Saramago para lhe inspirar tanto ódio? Parece ser alguém que se move apenas pela cegueira e pelo rancor gratuito. Oh criatura parece que ainda não compreendeu que a religião já não está imune às criticas.


Quando desfere essa avalanche insultuosa contra alguém de dimensão Mundialmente reconhecida e respeitada , ignora que Saramago era um homem tolerante? Quando da publicação do livro Caim assisti a um debate televisivo entre ele e o padre Carreira das Neves (também já velhote) professor de teologia, em que cada um esgrimiu e defendeu os seus argumentos. Sabe qual foi o resultado disso? Ficaram tão amigos que Saramago tinha-o convidado para ir passar férias este verão em sua casa nas Ilhas Canárias.
Saramago como muitos outros vultos da literatura Portuguesa e Mundial, construiu o seu futuro: Portanto não será remexendo o lixo espalhado pelos seus inimigos e detratores que deixa de ser lido e recordado. Porque esses brevemente estão esquecidos, apodrecendo na imundície que espalham.

ARS disse...

Graças a Deus sou inteiro(tanto de direita como de esquerda).
E por falar em Deus, o conceito de Saramago: "O homem inventou Deus e depois escravisou-se-lhe" é tão notável e evidente que custa a crer que seja original. Será mesmo?
Conheci-o brevemente, era homem de trato agradável e simples.
Quanto a ser o maior escritor de lingua portuguesa do século XX, claro que será... para alguns.

Anónimo disse...

P/ o anônimo que vomitou palavras contra mim:


YASSER ARAFAT, conhecido terrorista e assassino, tb levou um prêmio Nobel.

E sim, já li uns dois livros do referido amigo de ditadores, (Saramago). Não gostei.

Achou ruim o que eu escrevi?

Não dou a mínima.

é o meu DIREITO.

Ítalo Almeida

MSantos disse...

Anónimo das 4.54

Subscrevo o que referiu.

Muito bem observado o encontro (relativamente recente) entre Saramago e o padre Carreira das Neves que me sensibilizou particularmente sobre o carácter humanista de ambos e me comprovou a ideia que tenho de que podemos ter homens de convicções opostas, desde que estes sejam bons e humanamente grandes qualquer diferendo será secundário e ultrapassável.

O padre Carreira das Neves e Saramago são um bom exemplo que dá gosto ver.

Cumpts
Manuel Santos