sexta-feira, novembro 12, 2010

Futuro da Aliança Atlântica está na aproximação à Rússia

O futuro da NATO está na aproximação com a Rússia, pois, caso contrário, a sua posterior existência deixa de ter grande sentido, disse à Lusa Fiodor Lukianov, redator-chefe da revista “Rússia na Política Global”.
“A NATO foi criada para enfrentar a União Soviética, mas, hoje, ela não existe. Por isso, a única missão que poderá explicar a existência da Aliança Atlântica é a aproximação à Rússia”, considera.
“No interior da NATO há fortes divergências sobre o seu futuro. Os Estados Unidos querem ver nela um mecanismo de apoio europeu à sua política externa, mas o Afeganistão mostra o resultado. A Europa de Leste vê na NATO uma proteção face à Rússia e a Europa Ocidental fala de novas ameaças, mas de forma muito vaga”, precisou.
Segundo o analista, “quanto menos clareza sobre o futuro da NATO existir no interior dessa aliança, tanto mais se tornará necessária a aproximação à Rússia, isto torna-se a razão da sua existência”.
Fiodor Lukianov não espera resultados concretos da Cimeira Rússia-NATO, que irá decorrer em Lisboa a 20 de Novembro, mas sublinha que Dmitri Medvedev, Presidente da Rússia, não irá apenas para “ficar na fotografia”.
“Não se esperam decisões concretas que alterem qualitativamente as relações entre a Rússia e a NATO. A visita de Medvedev a Lisboa terá um carácter simbólico. Em 2008, Vladimir Putin foi à Cimeira da NATO de Bucareste para manifestar o descontentamento face ao alargamento da Aliança ao Leste da Europa. O atual Presidente russo vai para dizer que o seu país quer relações mais construtivas e concretas com a Aliança”, defende Lukianov.
Quanto às áreas de cooperação entre as duas partes, Lukianov considera que “não passam de boatos as notícias sobre a possível participação de tropas russas ao lado das forças da NATO no Afeganistão”.
“A experiência russa é tão trágica que a sua repetição não passaria de um ato de masoquismo”, frisa.
“Além disso”, continua o analista, “há outra razão cínica, mas realista para não enviar tropas para o Afeganistão: A NATO está a perder a guerra, a vitória é impossível. Por isso, temos de pensar nesse país depois da retirada das tropas da NATO”.
Lukianov considera que é preciso elaborar um “sistema de segurança regional”, enquadradando-se nesse esquema as propostas de Moscovo de preparação de pilotos afegãos em território russo e o fornecimento de armamentos.
No que respeita à criação de um sistema de defesa antimíssil (SDA) europeu, o conhecido analista russo é da opinião que “é mais importante a discussão desse problema do que o resultado”.
“Há muitas perguntas a que se deve responder: O que é o SDA? Qual o papel da Europa nesse sistema? A Rússia e os Estados Unidos é que devem responder a essas questões, mas ninguém quer responder, porque as contradições são muitas”, esclareceu.
“Por essas razões, a visita de Medvedev a Lisboa é simbólica, mas ele não vai lá apenas para a foto”, concluiu Lukianov.



2 comentários:

Cristina disse...

A cooperação, pelos vistos já está a acontecer e de forma bastante curiosa. Ora vejam: http://sp.rian.ru/international/20101112/147886264.html

Pippo disse...

Não tem nada de curioso, Cristina. É negócio: os afegãos estão habituados às AK, a Rússia quer exporta-las, alguém as paga... tudo normal. O problema é saber quantas destas armas acabarão nas mãos dos Taliban, pois a polícia afegã tem a mania de virar a casaca.