domingo, novembro 21, 2010

Lev Tolstoi: um profeta de utopias

Publico a minha comunicação na sessão realizada no Centro Cultural de Belém a propósito do centenário da morte de Lev (Leão) Tolstoi.

"Excelentíssimos senhores e amigos, começo por agradecer-vos pelo facto de terem vindo a esta reunião organizada pelo Centro Cultural de Belém.

Fui convidado a apresentar a esta reunião uma comunicação sobre um olhar de Leão Tolstoi sobre a Rússia, tarefa que rapidamente compreendi ser muito difícil, se não impossível, visto que o grande escritor e pensador russo não se preocupou apenas e não tanto dos problemas da sua pátria, mas de toda a Humanidade. As suas ideias filosóficas e morais visam melhorar a Humanidade em geral, e não apenas a Rússia em particular. O aperfeiçoamento moral e espiritual dos russos era, para Leão Tolstoi, parte integrante do aperfeiçoamento moral universal. É a ele que pertence a frase: “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas”.

Tão paradoxais são as ideias do pensador, como iremos ver mais abaixo, como paradoxais são as atitudes das autoridades russas face a ele em diversas épocas.

Pode parecer inacreditável, mas é verdade: em 2008, na Rússia não foram praticamente celebrados os 180 anos do seu nascimento. Mais, nesse ano, por incrível que pareça, três tribunais russos consideraram algumas das suas ideias “extremistas”.

Tolstoi foi acusado de “atiçar a inimizade e ódio contra a religião”, o que fez ressuscitar a luta entre o escritor/pensador e a Igreja Ortodoxa da Rússia que terminou com a sua excomunhão.

Mas é preciso reconhecer que o centenário da sua morte não está a passar despercebido, bem pelo contrário. E simbólico é o facto de, ontem, ter reaberto ao público, depois de obras de restauro, a casa-museu de Tolstoi em Iassnaia Polan, ninho da nobreza onde o conde nasceu.



Na reviravolta moral e ética que irá ocorrer na vida de Tolstoi, sobre a qual nos debruçaremos mais abaixo, o pensador russo dedicou particular atenção ao Cristianismo como uma doutrina moral e as ideias éticas dessa religião são interpretadas por ele de um ponto de vista humanista, como a base da irmandade universal dos homens.

Isto levou-o a analisar o Evangelho e obras teológicas de um ponto de vista crítico, dando essa análise origem a obras como “Estudo da Teologia Dogmática”, “Em que consiste a minha fé” e “O Reino de Deus está dentro de nós”.

Essas e outras obras foram mal recebidas pela Igreja Ortodoxa Russa, pois ele questionava a dogmática cristã, negava a necessidade da existência do corpo clerical e criticava fortemente a aproximação da Igreja em relação ao Estado.

Aqui convém recordar que, desde a época de Pedro o Grande, no início do séc. XVIII e a revolução comunista de 1917, a Igreja Ortodoxa Russa, a mais numerosa no Império, dependia directamente do Governo russo através do Procurador do Santo Sínodo, ou seja, era dirigida por um funcionário leigo. Na era comunista, o Santo Sínodo foi substituído por um Comité Estatal para Assuntos Religiosos. Ou seja, a Igreja estava acorrentada e dominada pelo poder civil, o que era fortemente contestado não só por Tolstoi.

Essas críticas foram bem recebidas por uma parte significativa da intelectualidade russa, mas receberam fortes críticas da Igreja Ortodoxa e levaram a que o Santo Sínodo excomungasse Tolstoi em 1901.

Em 2006, Kirill I, actual Patriarca de Moscovo e de Toda a Rússia da Igreja Ortodoxa Russa, justificou da seguinte forma a excomunhão do escritor:

"Alguns consideram que a Igreja amaldiçoou o grande escritor, como se o tivesse injustamente ofendido. Não é nada disso. A Igreja apenas constatou o que realmente existia" - declarou o clérigo ortodoxo no programa televisivo "A Palavra do Pastor". Segundo ele, "a excomunhão é apenas a constatação do facto de que uma dada pessoa não pertence à Igreja, e isto é particularmente importante compreender no caso da história de Leão Tolstoi".

"O próprio escritor afastou-se da Igreja. E o que ele disse de Cristo, da Igreja, dos sacramentos mostra a sua rotura total com a Igreja" - sublinhou o futuro patriarca, acrescentando: "e visto que muitas pessoas estavam convencidas de que Leão Tolstoi, falando assim e continuando a ser um cristão ortodoxo, lançava grande confusão no seio da Igreja e na vida social".

Deve-se constatar também que tanto o regime czarista que governou a Rússia até 1917, como o regime comunista que ruiu em 1991, nunca ousaram pôr em causa a importância de Tolstoi enquanto escritor, mas levantavam sérias reservas face a Tolstoi enquanto pensador.

O dirigente comunista Vladimir Lénine, no artigo “Lev Tolstoi como espelho da revolução russa”, escrito a propósito da primeira revolução russa de 1905, sublinha, por um lado, o papel do escritor como um denunciador dos maiores males e chagas da sociedade capitalista, mas, por outro lado, considera-o a expressão do pensamento retrógrado dos camponeses russos.

Como é sabido, o pensamento de Leão Tolstoi mudou radicalmente durante a sua longa vida. Enquanto jovem, o seu comportamento pouco se distinguia do comportamento dos nobres russos da sua idade. Rafael Lowenfeld, escritor alemão, tradutor das obras de Tolstoi para a língua alemã e um dos seus primeiros biógrafos, escreveu: “Depois das privações de Sevastopol, onde Tolstoi combateu durante a Guerra da Crimeia, a vida da capital era duplamente encantadora para um jovem rico, alegre, impressionável e aberto. Tolstoi gastava dias inteiros e até noites em borracheiras, cartas e festas com ciganos”.

Segundo alguns estudiosos, o processo de revisão radical dos princípios étnicos e morais iniciou-se precisamente depois da sua participação na Guerra da Crimeia, em 1854, onde combateu heroicamente em Sevastopol. É esse o cenário das suas obras reunidas na colectânea “Contos de Sevastopol”.

Regressado a São Petersburgo, em Novembro de 1855, Tolstoi adere ao círculo literário Sovremennik, que reunia famosos homens das letras como Nekrassov, Turgueniev, Ostroksvi e Gontcharov. Ele é recebido como “a grande esperança da literatura russa”, participa em jantares e conferências, vê-se envolvido nas discussões e conflitos entre escritores, mas rapidamente se sente um estranho naquele meio. “Essas pessoas faziam-me enjoar, eu próprio estava enjoado comigo mesmo”, escreveu ele em “Confissões”.

A morte do irmão mais velho Nicolau, em 1860, é outro dos marcos importantes da transfiguração moral e ética do escritor, transfiguração essa que demorou cerca de 30 anos, durante os quais escreveu as mais conhecidas das suas obras “Guerra e Paz”, “Ana Karenina” e “Ressurreição”.

Este último romance é de extrema importância nessa transfiguração moral de Tolstoi, pois é uma espécie de confissão de um dos graves pecados da sua juventude. Dmitri Nekhliudov e Ekaterina Maslova têm protótipos na vida real. O escritor contou ao seu biógrafo Pavel Biriukov sobre os “crimes” que cometeu durante a juventude ao seduzir Gacha, criada de uma das suas irmãs: “ela era pura, eu seduzia-a, ela foi expulsa e perdeu-se”.

Durante essa travessia, Lev Tolstoi começa a preocupar-se cada vez mais com os problemas da Humanidade em geral, considerando que os problemas do seu país só poderiam ser resolvidos nesse contexto.

Não será exagero afirmar que o pensador Tolstoi apresentou soluções para os problemas da Rússia e do mundo nos finais do séc. XIX e início do séc. XX que continuam a ser radicais ainda hoje.

Tomemos, por exemplo, a ideia de Estado do pensador, expressa numa das suas últimas obras: “O caminho da vida”.

Não conhecendo pessoalmente, nem mantendo correspondência com Piotr Kropotkin, Lev Tolstoi tem do Estado uma opinião muito idêntica à de um dos pais do anarquismo. É próxima também a posição face à cidadania: “Não pode um homem que vive no Canadá ou no Kanzas, na Boémia, na Ucrânia, Normandia, ser livre enquanto se considerar, e frequentemente, ter orgulho em ser cidadão britânico, norte-americano, austríaco, russo. Não pode também o Governo, cuja vocação consiste em conservar a unidade de uma união tão impossível e sem sentido como a Rússia, Grã-Bretanha, Alemanha, França, dar aos seus cidadãos a verdadeira liberdade, nem algo semelhante a ela como é feito em todas as engenhosas constituições monárquicas, republicanas ou democráticas”.

Segundo ele, “a principal e quase única razão da ausência de liberdade é a pseudo-doutrina sobre a necessidade do Estado. As pessoas podem ser privadas da liberdade mesmo sem Estado. Mas não pode haver liberdade se as pessoas pertencerem ao Estado”.

E aqui não há excepções, nem para os estadistas mais bem intencionados. Tolstoi é peremptório: “Um estadista honesto e virtuoso é uma contradição interna tal como uma prostituta casta ou um alcoólico sóbrio”.

Quantos dos políticos actuais desmentem esta constatação do pensador russo? – pergunto eu.



Leão Tolstoi cita as palavras de Mikhail Bakunin, outro dos grandes ideólogos e teorizadores do anarquisno: “As mudanças que se colocam agora perante a Humanidade consistem na transição do estado animal para o humano. Esta transição só é possível com o desaparecimento do Estado”.

Mas, ao contrário dos teóricos do anarquismo, Tolstoi recusa liminarmente a violência como meio para acabar com o poder e até a existência do Estado.

Isto levou a que alguns dos estudiosos o coloquem entre os pais do anarquismo, mas, ao contrário dos anarquistas clássicos, Tolstoi vê o fim do Estado no estabelecimento daquilo a que chama o “verdadeiro cristianismo”. Por isso, o seu anarquismo é definido como “anarquismo cristão”.

“A doutrina cristã não prevê destruir nada, nem uma organização sua que substitua a anterior. A doutrina cristã distingue-se de todas as outras doutrinas sociais não porque ela fale de uma ou de outra organização da vida, mas em que consiste o mal e o verdadeiro bem da vida de cada pessoa e, por conseguinte, de todas as pessoas”.

No fundo, para Tolstoi, o Estado deixa de ter sentido de existência se as pessoas seguirem os princípios: “não faças ao outro o que não queres que te faça a ti”, “ama o próximo como a ti mesmo”.

No entanto, o seu “cristianismo” entrou em colisão com a igreja oficial na Rússia, pois, tal como no caso do Estado, o pensador russo não aceita uma igreja estruturada, organizada.

Esta forte contradição fez perder a paciência da Igreja oficial, no caso, a Igreja Ortodoxa Russa, que acabou por excomungar o pensador. Tolstoi não via nessa instituição religiosa a sucessora do Estado, mas o fim deste implicava também o desaparecimento da primeira, pois “a verdadeira fé não precisa de Igreja”. Como está bem explícito no título de um dos seus livros: “O Reino de Deus está em vós”.

Esta visão anti-Estado de Tolstoi prevê a negação de todas as instituições que o constituem e em que ele se baseia: a negação da propriedade privada, dos tribunais, do serviço militar e da violência em geral.

No caso da violência, tal como face ao Estado, Tolstoi recusa-a totalmente como meio de conseguir objectivos políticos, sociais e económicos. Numa das obras já citadas “O Reino de Deus está em vós”, o pensador expôs as bases da sua doutrina de não-violência e de resistência pacífica, que teve seguidores famosos como Mahatma Gandhi e Martin Luther King.

Neste sentido, as ideias do escritor russo aproximam-se também do Budismo, religião que ele conhecia muito bem e estudou profundamente.

“Uma das principais desgraças das pessoas é a concepção falsa de que umas pessoas podem, através da violência, melhorar, organizar a vida de outras pessoas”, escreveu Tolstoi no “Caminho da Vida”.

Palavras visionárias do pensador russo sobre os regimes ditatoriais: comunismo e fascismo, que marcaram o século XX.

Este poder de visão está bem patente na análise que Leão Tolstoi faz da Revolução Republicana de 1910 em Portugal.

O grande escritor e pensador russo, recebeu a notícia com alguma dose de humor.

Valentin Bulgakov, um dos secretários de Tolstoi, escreveu nas suas memórias: “Em Setembro (Outubro segundo o calendário gregoriano) rebentou a revolução em Portugal. Eu contei a Lev Nikolaevitch que, segundo as informações dos jornais, o rei português Manuel, depois de fugir do palácio, esteve duas horas escondido numa adega. Tolstoi observou a propósito: - As revoluções são inevitáveis nos Estados modernos. É como um incêndio, toda a Terra arderá... Chegará a hora e todos eles, esses reis, esconder-se-ão nas adegas!”.

Porém, ao analisar o carácter “relativamente pacífico da revolução em Portugal, Tolstoi assinalou: “No nosso país, se tal coisa acontecer, não terá lugar uma revolução portuguesa”.

Os posteriores acontecimentos na Rússia vieram dar-lhe razão. Em nome da construção de uma sociedade sem classes e de um futuro comunista sem Estado, Lénine, Trotski e Estaline transformaram o seu país num verdadeiro campo de concentração. “Tanto os estadistas como os revolucionários consideram justo e útil matar outras pessoas. Eles têm princípios segundo os quais pensam que podem saber quem é necessário precisamente matar para o bem comum”, sublinha Tolstoi.

Com ideias como estas, certamente que Tolstoi teria sido devorado pelo Moloque bolchevique ou cuspido do seu país, como foram expulsos centenas de cientistas, escritores, filósofos, etc.

Mas voltemos atrás, à medida que a idade vai avançando, o pensador vai radicalizando a sua posição de negação do mundo envolvente, não poupando nada, nem ninguém, incluindo a sua própria pessoa. É o período de obras como “A morte de Ivan Ilitch”, “A Sonata para Kreutzer”, o “Padre Sérgio”, o “Cadáver Vivo” ou o conto “Após o Baile”. Ao mesmo tempo que descreve um quadro da desigualdade social e do modo fútil como as camadas instruídas queimam a vida, Tolstoi continua a colocar perante si e perante a sociedade questões sobre o sentido da vida e da fé, intensifica as críticas a todos os institutos do Estado, nega a ciência, a arte, os tribunais, o casamento, os êxitos da civilização.

No Verão de 1909, um dos visitantes de Iassnaia Poliana, residência de Tolstoi nos arredores de Moscovo, começou a manifestar o seu entusiasmo e agradecimento pela escrita de obras como “Guerra e Paz” e “Anna Karenina”. O escritor respondeu: “isso é o mesmo que ir visitar Edisson e dizer-lhe que o respeito muito porque dança bem mazurka”.

“Dou importância a outro tipo de livros”, acrescentou ele tendo em vista as suas obras de cariz filosófico e religioso.

Em obras suas de crítica cultural e estética: “Sobre a Arte”, “O que é a arte?”, “A escravidão do nosso tempo”, “De Sheakspeare e do drama”, Tolstoi faz uma crítica demolidora de génios como Dante, Rafael, Sheakspeare, Bethoven, etc., chegando à conclusão. “quanto mais nos entregamos à beleza, mais no afastamos do bem”.

Assim Tolstoi chega à renúncia total do que é material: “Tenho nojo da minha vida; sinto-me mergulhado nos pecados, logo que saio de um, entro noutro. Como emendar pelo menos um pouco a minha vida? Há um meio de todo eficaz: reconhecer a minha vida no espírito, e não no corpo, não participar em actos sujos da vida corporal. Se desejares isso de todo o coração, verás como a tua vida começará a emendar-se. A vida era má apenas porque a tua vida espiritual servia a vida corporal.

A sua filosofia e princípios morais, à medida que se iam radicalizando, acabavam por entrar em contradição com a própria vida real de Tolstoi e provocavam conflitos no seio da numerosa família. A sua negação da propriedade privada, por exemplo, foi uma das razões que o leva a romper com a família no fim da vida. Isso provocou forte descontentamento de vários membros da família, incluindo a esposa.

Recusando-se a seguir o princípio do “olha para o que digno, mas não para o que eu faço”, Tolstoi dá o último passo na ruptura com o mundo que o rodeia e abandona o lar e a família.

A sua fuga do lar no fim da vida parece ser a sua última tentativa de materializar as suas ideias, mas faltou tempo. Passou por alguns dos lugares mais sagrados da Ortodoxia russa, mas acabou por não se reconciliar com a igreja, como lhe pediam numerosos amigos.

A 20 de Novembro de 1910, Tolstoi falecia na pequena estação ferroviária de Astapov.

Não obstante as autoridades czaristas terem feito tudo para que o funeral de Tolstoi não se transformasse num acontecimento nacional, vários milhares de pessoas conseguiram chegar a Iassnaia Poliana, para participarem no seu funeral.

Talvez outro paradoxo. A julgar por alguns números, o seu legado intelectual é muito mais procurado fora do que dentro da Rússia. Por exemplo, se a livraria electrónica russa ozon – a maior do país - tem à venda menos de cem títulos de Tolstoi, sendo a maioria livros usados, na amazona.com, em inglês, poderemos encontrar mais de cinco mil títulos.

O sacerdote, filósofo e teólogo ortodoxo Alexandre Men, barbaramente assassinado nos anos 90 do séc. XX, escreveu: “Tolstoi continua a ser a voz da consciência. É a censura viva para aqueles que estão convencidos de que vivem em conformidade com os princípios morais”.

O ditado bem diz que “ninguém é profeta na sua própria terra”. No caso de Tolstoi, a palavra terra deve ser escrita com letra maiúscula, ser sinónimo de planeta.

Não poderia deixar de abordar, antes de terminar a minha comunicação, a Cimeira Rússia-NATO que se realizou ontem em Lisboa. Acho que a data não foi escolhida para que esse evento coincidisse com o dia do centenário da morte do grande pensador russo, mas o facto é que coincidiu.

Falou-se muito de guerra e de paz, talvez mais da primeira do que na segunda, mas o certo é que ouvi numerosas vezes os dirigentes de numerosos países a declarem até à exaustão que “a guerra fria terminou”. Ao conversar com um alto representante de um dos países membros da NATO, perguntei: “Terminou a guerra fria? Outra vez?”.

Ele olhou para mim e acrescentou: desta vez, parece mesmo que sim. Se assim for, e se as relações entre a Rússia e a NATO continuarem a evoluir no sentido da aproximação, da redução do vector militar e do aumento da vertente civil e humanitária na cooperação bilateral, então poderemos alimentar uma esperança muito ténue de que, pelo menos no Velho Continente, algum dos ideais de Tolstoi se concretize.

Obrigado pela atenção.

25 comentários:

MSantos disse...

Pois é!

Dentro do Cristianismo tanto a Igreja Cristã Apostólica Romana como a Igreja Ortodoxa foram sempre garrotes ao progresso humano, ao contrário da Igreja Protestante que sempre permitiu a interrogação e incentivou o livre pensamento. A evolução sofrida por cada país consoante a dominância de cada uma destas igrejas fala por si.

Quanto ao sonho de Tolstoi na abolição do Estado seria mais uma utopia, pois enquanto formos humanos e não evoluírmos para outro estádio, os estados são o garante de os vários povos e culturas manterem a sua identidade e conviverem entre si.

As várias expriências de terras de ninguém falam por si.

Cumpts
Manuel Santos

MSantos disse...

No que respeita à cimeira compartilho o cepticismo dos chineses, embora este não seja honesto.

O tratado START terá de passar a rectificação no congresso dos EUA e isso não será fácil.

Os acordos da cimeira foram obtidos por dois intervenientes moderados, Obama e Medvedev. No entanto ambos são a parte mais fraca dos seus respectivos governos.

A popularidade de Obama cai de dia para dia, tornando cada vez mais difícil a sua reeleição estando já sob fogo cerrado no congresso. Nos EUA cresce cada vez mais um radicalismo neoconservador que provavelmente virá a tomar o poder e até poderá vir algo pior que os famigerados anos Bush.

Medvedev é a cabeça mais frágil da águia bicéfala tendo também na sua retaguarda os radicais do movimento euroasiático e anti-atlantista. Se Putin retomar a presidência russa e a velha guarda vingar, assistiremos a um posicionamento mais inflexível e isolacionista.

Há grande probabilidade de qualquer uma destas partes mais fracas virem a soçobrar e para as coisas mudarem no pior sentido bastará um dos dois.

Cumpts
Manuel Santos

Anónimo disse...

Obrigada Sr. José Milhazes por partilhar connosco a sua excelente comunicação.

Da minha parte "mea culpa" por não ter ído como falei!

Um abraço

Graça Lobato

Anónimo disse...

"Dentro do Cristianismo tanto a Igreja Cristã Apostólica Romana como a Igreja Ortodoxa foram sempre garrotes ao progresso humano,"
Mais um reprodutor de história mal contada! Não se pode resumir este assunto a uma frase dessas, é uma visão nada sistêmica da história.

PortugueseMan disse...

Relativamente à cimeira ela foi positiva em alguns aspectos.

Portugal ficou bem na fotografia. A cimeira correu bem e Portugal mostra a sua capacidade em organizar eventos de grandes dimensões e mais importante mostra a sua capacidade diplomática, Portugal consegue juntar países onde existem diferenças, atritos a vários níveis. Estou a lembrar-me por exemplo da cimeira UE-África e também da cimeira UE-Rússia. Todos complicados. Portugal consegue estabelecer pontes de comunicação entre diferentes povos.

Também foi positivo para Obama. Obama diz o que pretende no Afeganistão e consegue aproximar a Rússia da NATO, incluido algo muito importante como a permissão de passagem de material bélico por território russo.

Obama mostra-se como um líder capaz de dialogar com outras nações e isso vê-se com o que saiu desta cimeira, datas para o Afeganistão, aproximação entre a NATO e a Rússia e um tom conciliador entre os países europeus.

Medvedev/Rússia, ficaram também bem na fotografia. Esta cimeira da NATO era importante devido à comparência da Rússia, pois a participação dela é essencial em pelo menos dois assuntos, o Afeganistão e o sistema anti-míssil na Europa. A Rússia mostrou-se como um país capaz de dialogar e ajudar uma organização que sempre considerou hostil, compreendendo o mundo tem muitos problemas que necessitam de ser resolvidos em conjunto.

Para a imagem da Rússia no mundo ocidental, esta cimeira muito contribuiu para melhorar essa imagem, depois dos problemas como a guerra do gás e a guerra da Geórgia. E esse é um dos objectivos da Rússia, melhorar a sua imagem junto da opinião pública Ocidental.

Foi uma boa cimeira, todos tiraram algo de positivo dela.

Anónimo disse...

@MSantos 22:30 - Pois mas sem Igreja não havia civilização ocidental ;)

PortugueseMan disse...

Agora a cimeira vista num contexto mais sério, a cimeira teve um saldo negativo.

E teve um saldo negativo, porque de concreto nada se conseguiu, à excepção do acordo de passagem de material bélico pela Rússia.

O facto de Obama ter perdido força e capacidade de levar as suas decisões adiante sem ser barrado pelo congresso, puseram em xeque esta cimeira. Por mim a cimeira só não foi adiada, porque agravaria muito mais toda a situação entre NATO e a Rússia.

Obama promete retirada das tropas em 2014, quando o mais certo é Obama sair em 2012, é uma promessa que ele não pode garantir de maneira nenhuma.

Russia e EUA chegam a acordo numa partilha do sistema antí-míssil, mas não dizem de que maneira vai ser, e o mais importante, ONDE vai estar localizado. O que só pode dizer uma coisa, NADA foi acordado, tudo fica DEPENDENTE para começar pela a aprovação do Tratado START e isso tem que passar pelo o Congresso.

Obama não sabe se o Congresso aprova e vê-se pelos constantes apelos que faz para que seja aprovado. Não sabendo, não pode começar a negociar o sistema anti-míssil, não negociando o sistema, não vai haver qualquer tipo de aproximação à Rússia até se perceber QUEM vai para a Casa Branca em 2012.

Portanto parece-me que vai ficar tudo em banho maria até 2012, ano de eleições tanto nos EUA como na Rússia. 2012 poderá ser um grande ponto de viragem entre as relações entre estas duas potências e elas ou vão melhorar ou vão piorar.

Na minha opinião vão piorar, dado os interesses opostos de ambos. Os EUA estão com problemas cada vez maiores e a Rússia está cada vez mais forte.

Os EUA querem um mundo unipolar onde possam estar no topo, a Rússia quer um mundo onde os EUA não estejam no topo.

Esta cimeira não nos diz que a guerra fria acabou, esta cimeira diz-nos que todos os problemas graves foram varrido para debaixo do tapete. Toda a gente sabe que os problemas estão ali, mas para já vão apenar olhar para o bonito tapete que puseram na sala...

É mau e nada de bom promete para o futuro.

everardo disse...

Caro Milhazes,

Eu não acredito que o presidente Medvedev viajou quase três mil quilómetros a Lisboa para dizer e firmar acordos com velhos inimigos da consciência russa. Eu reprovo sob todos os aspectos. Mas quem sou eu para faze-lo, não é mesmo? Verdade é que esta "parceria" volátil e inesperada, muda mais da metade do todo. Os USA e a NATO sobrevivem de guerras e conflitos regionais longe das "barbas" da América do Norte, portanto, é para eles, um excelente negócio esse "casamento" com a Russia, que será em breve a grande perdedora. Eu até perguntaria que espécie de sonífero terá bebido Putin e seus militares? Que coisa, rapaz!

Um abraço do everardo, de Teresina, Brasil.

Jest nas Wielu disse...

Bem bonito o comunicado (embora exige o trabalho de lê-lo)...

Já que estamos falar sobre a cultura, eis o desenho animado ucraniano “Bazar ou acontecimentos irreais” (Chortkiv, 2010), que consegue captar na perfeição a essência da vida contemporânea na Ucrânia Ocidental (Galiza Ucraniana):

http://www.youtube.com/watch?v=
PQbOb-dWKrw

Anónimo disse...

E o nosso descanso eterno quando vem???

Cristina disse...

Afinal, ninguém quer falar de Tolstoi?

MSantos disse...

Caro anónimo das 02:06

Acertou!

Estou a reproduzir coisas que li e concordei, em especial o que vem descrito na magistral obra de David Landes, "A riqueza e a pobreza das nações".

Em livros como este, o ponto de vista é apresentado de uma forma muito sistémica.

Também podemos recorrer ao senso comum e ver por nós próprios quais os países onde a ciência, progresso e bem estar progrediram mais rapidamente e quais os outros onde tudo isto foi refreado, subsistiu a cultura do medo e foram sempre mais propensos a regimes totalitários e sofrimento.

Porque não expõe as suas razões e pontos de vista de uma forma mais concreta?

Cumpts
Manuel Santos

MSantos disse...

Caro anónimo das 11:10

Sem Igreja o pensamento ocidental seria difrente.

Se seria melhor ou pior nunca o saberemos.

E o que pús a debate foi a ICAR vs Igreja Protestante

Cumpts
Manuel Santos

MSantos disse...

"Na minha opinião vão piorar, dado os interesses opostos de ambos. Os EUA estão com problemas cada vez maiores e a Rússia está cada vez mais forte.

Os EUA querem um mundo unipolar onde possam estar no topo"

Caro PM

Pessoalmente não estou muito de acordo com esta afirmação pela razão que não podemos abarcar todo o povo norte-americano no pensamento vigente.

Os elementos que defendem esta política estão mais activos, mais radicalizados e claro, cada vez mais controladores, em especial o grande poder económico, não querendo dizer que sejam a maioria.

Em contrapartida há muitos americanos que aceitam a multipolaridade e estarem a par de outras nações sem ímpetos de "liderança divina" e voltarem-se mais para o seu próprio país para resolverem os gravíssimos problemas que também assolam os EUA.

Mas estes últimos são mais passivos e alheados e neste tipo de confrontos geralmente ganha aquele que mais anseia pela vitória.

E os problemas igualmente ou pior, gravíssimos da Rússia também podem vir a comprometer o fortalecimento desta.

Cumpts
Manuuel Santos

PortugueseMan disse...

Caro MSantos,

...pela razão que não podemos abarcar todo o povo norte-americano no pensamento vigente...

É verdade, mas isso aplica-se a qualquer democracia, nem todos estão de acordo, mas existiu um número suficiente que permitiu um conjunto de acções em nome de um todo.

Podemos pensar que realmente nem toda a gente pensa assim, (e o facto de Obama ter sido eleito, reflecte um pouco isso), mas temos que ver o país e as suas acções.

...Em contrapartida há muitos americanos que aceitam a multipolaridade e estarem a par de outras nações sem ímpetos de "liderança divina" e voltarem-se mais para o seu próprio país para resolverem os gravíssimos problemas que também assolam os EUA...

Os problemas que assolam os EUA serão bem mais graves, quando deixar de existir um mundo unipolar.

Como acha que ficarão os EUA, num mundo onde são os maiores importadores de energia e o dólar deixar de ser moeda de referência?

E porque é que ainda é a moeda de referência? Porque eles têm a capacidade (força) de impôr a sua vontade. No dia em que não conseguirem defender a sua moeda, eles vão por ali abaixo.

...E os problemas igualmente ou pior, gravíssimos da Rússia também podem vir a comprometer o fortalecimento desta...

A Rússia não é um mar de rosas, mas é inegável o seu crescimento e tem uma vantagem sobre os EUA. Eles são auto-suficientes energeticamente e ganham muito dinheiro na exportação de energia. A Rússia não precisa de escarafunchar o planeta à procura de petróleo e de "amaciar" todos aqueles países relutantes em vender-lhes energia.

Os EUA estão a gastar muitos recursos para se manterem no topo e temos países no seu encalço.

Eu vejo mais problemas no futuro para os EUA que na Rússia. O caminho da Rússia, é um caminho ascendente, essa é a tendência.

Para um país como os EUA que estão no topo e habituados a viver no topo, só têm um caminho e já estão a percorrê-lo, e ninguém gosta de andar de cavalo para burro.

Na minha opinião os EUA já estão numa fase descendente e vão tornar-se cada vez mais agressivos à medida que a sua qualidade de vida piora.

Um país habituado a ser líder, em fase descendente e em cima duma pilha de armas como a que eles têm, é na minha opinião deveras perigoso.

Cumprimentos,
PortugueseMan

Jest nas Wielu disse...

2 Cristina

Se ninguém o leu, como podem falar?...

Pippo disse...

Lamento que se esteja a discutir geopolítica em lugar de se discutir a vida e a obra deste grande autor da literatura universal.

Muito gostaria eu de falar de Tolstoi, mas só lhe conheço duas obras, lidas há uns 8 anos, "Os Cossacos" e "Prisioneiro no Cáucaso".
Creio que a primeira obra terá um certo tom autobiográfico e é a que eu mais gostei. SE não estou em erro, a trama era mais ou menos a seguinte:

Um jovem oficial da aristocracia russa (jovem Tolstoi?) parte para aventura nas terras selvagens no “Cordão” do Terek. O checheno é o eterno inimigo, e os cossacos, valentes, orgulhosos, belos (e Velhos Crentes!), são os fronteiros.
Enquanto os restantes oficiais e soldados da Divisão Caucasiana se integram na população, convivem, embebedam-se e casam-se com as cossacas, o jovem oficial mantém-se à margem, observando e copiando de forma dandy e algo ridícula as indumentárias dos seus hóspedes, convencendo-se da sua própria importância. Mas se os cossacos gostavam dos russos, ou pelo menos de alguns deles, quem eles admiravam eram os chechenos, inimigos de morte mas valentes, e a quem copiavam os hábitos, as roupagens e as formas de combater.

No momento mais dramático, o mais belo e valente dos cossacos, noivo da mais bela das cossacas, é morto em combate. Toda a aldeia chora esta morte e o jovem oficial russo, que pensava ser a paixão da rapariga, vê-se confrontado com o facto dela não lhe ligar nenhuma. Ela usava-o para fazer ciúmes ao recém-falecido, mas nem para isso ele prestava, de tão irrelevante que era!

Desiludido, o jovem aristocrata faz as malas e volta para a sua terra, bem mais a norte. Na aldeia poucos notam a sua partida, enquanto um outro oficial russo, esse sim amado pelos cossacos, convive com a sua nova família.

MSantos disse...

Caro PM

Quando me referia existirem norte-americanos a aceitarem viver entre outros povos como iguais podíamos incluir em particular pensadores, políticos e filósofos. Mais aqueles que têm a capacidade de liderar nações.

Eu pessoalmente não concordo com o seu raciocínio de que a América para se manter como super-potência necessita do controlo económico através do Dólar pois é esse mesmo pensamento altamente nocivo dos neoconservadores/neoliberais que está a arrastar a América para a desgraça e o resto do mundo com ela.

Repare: eles poderão continuar a armar exércitos equipados com tecnologia de vanguarda, impondo a sua vontade a tudo e a todos. Mas que servirá isso quando a miséria cresce exponencialmente, onde cada vez mais camadas da população estão devotadas ao ostracismo, exclusão e pobreza extrema.

Com a história da liderança mundial eles apenas estão a fugir do enorme problema crescente que o falhanço do sistema económico-financeiro que se impuseram a si e à quase totalidade do mundo causou.
É uma fuga em frente.

A continuarem assim virá o dia em que terão de chamar o seu imenso exército espalhado no mundo para pôr ordem na casa.

Sobre o dólar focou um assunto importante pois ainda há meses discutíamos por aqui em como iria ser gradualmente substituido e agora é a pretensa moeda de substituição que luta pela sobrevivência.

Isto demonstra a vitalidade e convicção no combate que estas forças têm e a história já nos demonstrou que aqueles que os substimam geralmente dão-se mal.

Sobre a Rússia, eu não me atrveria a fazer esse prognóstico pois o maior crescimento tem sido no aumento de poder militar atarvés dos dividendos dos hidrocarbonetos que continuam a ser o seu garante.

Se a linha mais moderada e aberta do presidente Medvedev vingar acredito que a Rússia continue em crescimento.

Mas se o primarismo isolacionista e de cerco de Putin prevalecer será a estagnação a vencer com todas as suas consequências e mais uma vez passarão por uma nova expriência de colapso.

Cumpts
Manuel Santos

MSantos disse...

E peço desculpa a todos por estar aqui a falar destas coisas quando o principal assunto é o escritor Tolstoi.

Nunca li Tostoi assim como não li muitos grandes escritores, apenas comentei no ínicio o tema visto e apresentado pelo José Milhazes.

Fiquei a saber que era um livre pensador, humanista e libertário e geralmente nutro simpatia por estes pontos de vista.

O meu grande problema é a escassez desse bem precioso que é o tempo.

Como os dois últimos parágrafos do texto versam um tema que é mais do meu conhecimento foi neles que me foquei e peço desculpa por isso.

Cumpts
Manuel Santos

PortugueseMan disse...

Caro MSantos,

Eu concordo consigo, que a actuação dos EUA está a arrastar a América e o resto do mundo, mas também sou da opinião que para os EUA se manterem no topo, tal como eles estão, só à base da força.

E é pelo o facto de Obama estar a contrariar isto, tentando conciliação, aproximação e negociação que ele já está de saida, mal tendo aquecido o lugar.

Negociar implica também ceder e isso não é compatível para com quem deseja estar no topo da pirâmide, quem está no topo não negoceia, impõe. Se Obama transmite uma imagem mais positiva da América para o exterior, para o interior ele transmite fraqueza e num país daqueles isso paga-se caro.

E para um país importador de energia como eles são, necessitam de um dólar forte, caso contrário os custos energéticos farão implodir o país.

É uma fuga para a frente, eu considero isso mesmo. Todos os planos que eles andam a fazer para relançar a economia estão a falhar, ano após ano, falam de recuperação económica e no entanto não conseguem sair do atoleiro, a cada ano que passa a situação está a piorar.

E porquê? devido ao dólar. A maior ameaça do dólar é uma moeda alternativa a nível mundial. Isso surgiu com euro, apesar de na altura se duvidar da capacidade da moeda crescer desta maneira. Em poucos anos a moeda cresceu de tal forma que passou a rivalizar com o dólar. Existe alguma outra moeda que tenha feito tal proeza?

O que fez Saddam? Passou a vender petróleo em euros, quando o petróleo está agarrado aos dólares. o dolar é forte, porque é a moeda do petróleo e assim terá que permanecer no interesse dos EUA.

Os EUA nos últimos anos, tiveram uma série de problemas graves de controlo do dolar e do controlo do fluxo energético e na minha opinião o controlo de ambos é necessário para manter um país daqueles no topo.

Os EUA falharam no controlo do Iraque.

Falharam no Afeganistão.

Falharam no controlo da energia, pois os chineses estão a captar a maior parte seja em que parte do mundo fôr.

Falharam na abertura de um corredor para o Mar Cáspio via Geórgia/Azerbeijão e posterior acesso à Àsia Central.

Estão a perder influência para a China com destaque especial para a América do Sul e Continente Africano.

O dolar começou a ficar ainda mais ameaçado quando os bancos centrais de diversos países começaram a diversificar as suas reservas, substituindo o dólar por outras divisas.

Em relação à sobrevivência do euro, o que estamos a assistir é a uma batalha, e neste momento existe uma matilha a tentar apanhar os elementos mais fracos de rebanho. Objectivo? desintegração da UE e da sua moeda.

SE o euro desaparecesse, qual será a moeda que mais vai beneficiar com o seu desaparecimento? o dolar.

Sempre que há problemas na zona euro, rapidamente surgem as vozes que são contra a UE, contra o euro, que os países deveriam sair, etc e isto não tem acontecido nos últimos meses, é a conversa recorrente nos últimos anos.

Relativamente à Rússia, eu não tenho essa divisão de diferenças entre Medvedev/Putin, acho que ambos estão a funcionar em sintonia.

Se Medvedev dá um ar de mais moderado, Putin está mesmo atrás dele para lembrar que a moderação não passa da linha traçada. E se entrar em 2012 um Republicano, vamos muito possivelmente ver um Putin mais activo.

Cumprimentos,
PortugueseMan

PortugueseMan disse...

Caro MSantos,

Grão a grão...

China, Russia quit dollar

...China and Russia have decided to renounce the US dollar and resort to using their own currencies for bilateral trade...

...Chinese experts said the move reflected closer relations between Beijing and Moscow and is not aimed at challenging the dollar, but to protect their domestic economies...

...The two countries were accustomed to using other currencies, especially the dollar, for bilateral trade...


http://www.asiaone.com/Business/News/Story/A1Story20101124-248833.html

MSantos disse...

"E para um país importador de energia como eles são, necessitam de um dólar forte, caso contrário os custos energéticos farão implodir o país."

Caro PM

Eu não concordo com isto. Se houvesse vontade, os EUA tinham força anímica e económica para continuarem a serem uma grande potência e até um melhor país sem a primazia do dólar.

O problema é que o pensamento de domínio foi instalado nas últimas décadas e efectivamente os EUA tornaram-se ultradependentes do petrólio e por consequência, do dólar forte como moeda de câmbio.

E sobre os falhanços todos que aponta e que concordo, vamos ver como acaba a história pois eles, EUA, são especialistas em dar a volta por cima.

Também não concordo com a sua benévola visão da relação Putin-Medvedev pois o confronto é demais evidente (a não ser que seja uma maskirovka, como os russos lhe chamam) mas estou de acordo quando diz que se os EUA tomarem a força em pontas, Putin irá prevalecer.

Cumpts
Manuel Santos

MSantos disse...

Sobre o seu último post, PM:

A China não terá gostado nada do que se passou na cimeira da NATO pois face a uma parceria NATO-Rússia qual o vilão que resta? (não considerando os habituais tigres de papel).

Isto representa uma ofensiva frontal aos EUA.

E para confirmar a tese de que existe um confronto entre Putin e Medvedev repare bem:

Medvedev vem a Lisboa anunciar uma parceria histórica com a NATO.

Poucos dias depois, Vladimir Putin assina com o premier Chinês um acordo que é uma das maiores ofensivas económicas ao dólar.

Não acho que seja boa política afrontar e encurralar os EUA pelo que a passagem ao SDR teria sido mais aconselhável.

Cumpts
Manuel Santos

PortugueseMan disse...

Caro MSantos,

SE houvesse vontade, o mundo seria diferente. Mas a realidade é a que vivemos, e neste mundo ainda não foi encontrado uma alternativa séria para o petróleo, e o mundo está a consumir cada vez mais energia, incluindo os EUA. Agora imagine o dólar a metade do valor e a importar petróleo como eles importam, o que acontece à economia deles?

...Não acho que seja boa política afrontar e encurralar os EUA pelo que a passagem ao SDR teria sido mais aconselhável...

Mas a China e a Rússia estão juntas, para acabar com o mundo unipolar. E estão a fazê-lo não por meios militares mas por meios económicos. Nesta perspectiva faz todo o sentido o que estão a fazer, enfraquecer o dólar, enfraquece os EUA, tendo como consequência directa o enfraquecimento da sua estrutura militar.

Agora o que acha você que os EUA podem fazer contra uma China e uma Rússia juntas numa decisão destas?

Eles não são o Saddam, e não são países possíveis de serem "libertados"...

MSantos disse...

Sem dúvida PM!

O problema é a alta probabilidade de os EUA virem a ter uma liderança fanática nos próximos anos e se sentirem encurralados.

Mas atenção, mesmo em situações destas conseguiram sempre reviravoltas surpreendentes como tal será melhor ainda não lhes encomendar o caixão.

Cumpts
Manuel Santos