No contexto actual, não se podem censurar os responsáveis pela política monetária russa quando tentam manter as taxas de juro de referência em níveis relativamente baixos. É a sua contribuição para o rejuvenescimento de uma economia debilitada, baseada numa indústria obsoleta e uma dependência crónica da exportação de matérias-primas. Os bancos centrais de outras economias andam a fazer o mesmo, mantendo o custo de capital em níveis reduzidos para estimular o investimento e facilitar a saída da crise. A Euribor a 6 meses anda pelos 1,6%.
No entanto, segundo informações veiculadas pela agência Bloomberg no passado dia 21, as empresas russas estão a usar o baixo custo do crédito em rublos não para se expandirem dentro do país, mas para realizarem aquisições no estrangeiro, o que está a dar origem a uma maciça fuga de capitais. Tal levou a que o Bank Rosii tenha triplicado as suas projecções de outflows de capital, dos iniciais 8,7 mil milhões de dólares para 22 mil milhões em 2010.
Enquanto neste trimestre as empresas russas anunciavam aquisições estrangeiras avaliadas em cerca de 27 mil milhões de dólares, as aquisições no país totalizavam apenas 1,6 mil milhões. Por outro lado, é sintomático que os fundos de investimento tradicionalmente virados para os BRIC invistam muito menos na Rússia do que nos restantes países do quarteto, preferindo ainda assim, apesar de todas as manobras de charme do Kremlin, acções mais caras em economias com crescimento mais rápido. Ao mesmo tempo, o investimento directo estrangeiro caía quase 18% em base anualizada. Não é de surpreender, uma vez que são conhecidas as dificuldades impostas aos investidores na economia russa, já amplamente debatidas neste blog.
Trocando por miúdos: mesmo com o rublo mais barato de sempre (não nos esqueçamos de que, ainda que as taxas nominais sejam mais elevadas do que noutras economias, a inflação coloca as taxas dos empréstimos em valores reais negativos), até as empresas russas preferem expandir-se no estrangeiro e não no seu país.
Daí que se fale já numa reacção oficial a este desequilíbrio abrupto na balança de pagamentos, que passará inevitavelmente pelo aumento das taxas de juro. E aqui vem o dilema: a economia russa está estagnada. O PIB cresceu apenas 2,7% em base anual, depois de ter crescido 5,2% até Junho, mesmo com o barril de petróleo a flutuar na casa dos 84-88 dólares. Sem margem de manobra na política fiscal, será muito mais difícil para o banco central contrariar a desaceleração da débil economia (real, deduzida a exportação directa de matérias primas) do seu país.
Moral da história: enquanto o nosso amigo Robin não se convencer de que tanto os empresários russos como os estrangeiros entendem muito bem a diferença entre palavras e actos, o país continuará o seu passo de caracol a caminho do que já é: uma bomba de gasolina gigante, cujo pobre funcionário não espera viver para lá dos 60 anos.
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