domingo, fevereiro 27, 2011

O que será que preocupa mais os dirigentes russos no Médio Oriente e Norte de África?


O ministro russo da Defesa, Anatoli Serdiukov, não exclui que os levantamentos populares numa série de países do Médio Oriente e Norte de África possam refletir-se negativamente na cooperação técnico-militar entre a Rússia e esses países.

“Na realidade, isso preocupa-nos. Gostaríamos que os contratos assinados fossem cumpridos e realizados”, declarou Serdiukov aos jornalistas.

Segundo ele, em alguns países árabes mergulhados em convulsões sociais poderão ser revistas as questões da cooperação técnico-militar.

Segundo fontes militares citadas por agências russas, Moscovo poderá sofrer prejuízos da ordem dos 8 mil milhões de euros, mas peritos independentes sobem esse número para 17 mil milhões.

Nos últimos anos, a Rússia tem desenvolvido contatos no campo da exportação de armas com a Arábia Saudita, Egito. Líbia, Iemen, Marrocos, Kuweit e Qatar.

Fonte militar citada pela agência Interfax considera que as sanções do Conselho de Segurança da ONU contra a Líbia poderão causar graves prejuízos na exportação de armas russas.

“Hoje, com esse país há acordos de cooperação técnico-militar no valor de cerca de 2 mil milhões de dólares. Além disso, encontra-se na fase final a preparação de contratos sobre o fornecimento de aviões e meios de defesa anti-aérea no valor de 1,8 mil milhões de dólares”, acrescentou a fonte.

A Líbia pretendia adquirir na Rússia cerca de 20 aviões de combate, sistemas de defesa anti-aérea S-300 “Favorit”, várias dezenas de tanques T-90C. 

P.S. O ministro da Defesa da Rússia não esconde o que o preocupa, ao contrário de dirigentes de outros países que agora tentam fazer passar a mensagem de que nada tinham a ver com regimes como o do coronel Khadafi.
Se, nas relações entre Estados, não há moral (e esta grave crise no Médio Oriente e África do Norte provou isso uma vez mais), mas, fundamentalmente, existem interesses /económicos, políticos, geopolíticos, etc., etc.), porque razão é que não se reconhece isso abertamente?
Num mundo assim, em que os maiores países dão frequentemente exemplos de que os seus interesses estão acima de qualquer moral e de quaisquer direitos humanos, que poderão fazer países pequenos como Portugal?
Não será demais exigir que Portugal se comporte como uma espécie de "santinha imaculada" na Europa e no mundo?
Claro que seria bom que as regras morais se sobrepusessem aos interesses na política internacional e interna, mas não será para breve. O homem tem por costume repetir mais os mesmos erros do que as virtudes.     

11 comentários:

MSantos disse...

Mas andará tudo a dormir?

Só agora acordamos?

Em 1989 houve um massacre numa praça chamada Tianamen e depois disso tornámos a China como exemplo de empreendedorismo e "competitividade".

E agora indignamo-nos com a realpolitik seguida pelos nossos governos com as ditaduras do norte de África?

Tenham dó!

Cumpts
Manuel Santos

PortugueseMan disse...

Caro JM,

Este seu artigo parece mais dirigido a Portugal.

O que andam a dizer por aí acerca de Portugal sobre esta situação?

Acho estranho que nós sejamos referência para o que acontece no Médio Oriente/Norte de África.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro PM, o meu artigo aborda um problema comum a praticamente todos os países do mundo. Falei de Portugal porque é um exemplo conhecido por grande parte dos leitores do blog e onde tem lugar um debate sobre isso, a julgar pelo que li na imprensa.
Acho que é hipocrisia especular com um tema como estes. Os países têm interesses nas relações internacionais e os seus dirigentes raramente se preocupavam com princípios morais.

PortugueseMan disse...

Meu caro,

Dado a nossa situação económica, a guerra política está mais que ao rubro.

Tudo serve de tópico de conversa.

Se não é a Líbia é o Chavez se não é o Chavez é o preço da gasolina, é as greves, os aumentos, os cortes, a Argélia, Marrocos, o euro, a Merkel...

Cada um berra para seu lado.

O ditado aplica-se: "Casa onde não há pão..."

Se esta instabilidade chega à Arábia Saudita, o preço da gasolina vai disparar a SÉRIO. Se chegarmos a este ponto, vai ver como as pessoas se esquecem rápidamente dos valores morais.

Vai ser tudo a pedir que metam lá ditadores, que façam o que fôr preciso, que os "metam na linha", mas façam baixar o preço da gasolina para atestar o carro...

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro PM, raras vezes acontece, mas, desta vez, estou plenamente de acordo consigo.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro PM, raras vezes acontece, mas, desta vez, estou plenamente de acordo consigo.
No entanto, muitos vão continuar a fazer de conta que defendem princípios morais, direitos humanos, etc.

PortugueseMan disse...

E agora com todos estes últimos acontecimentos, podemos retomar um tópico já esquecido.

A necessidade da diversificação de fontes de energia por parte da UE.

Com a instabilidade crescente no Médio Oriente e África, a Geórgia já teve uma guerra, o Irão é o que se vê, o Iraque idem, e se paises como o Egipto, Líbia, Tunísia, Argélia se envolverem em conflitos internos, para onde é que a EU que continua a crescer em termos energéticos se pode virar?

De todos, o fornecedor mais estável é a Rússia, mas com as guerras do gás e as guerras políticas, e o grito de diversificação de fontes de energia, que até perdoaram o Khadafi e passou a ser o amigo do Ocidente, estão a mostrar uma situação mais instável no que toca a fornecimento de energia.

Os atritos causados entre a UE e a Rússia, à custa da Ucrânia, Geórgia e países Bálticos, gerou não só a necessidade de diversificação de fontes de energia por parte da UE, como gerou a necessidade da Rússia aumentar a sua carteira de clientes.

O facto da Rússia ter acelerado a sua expansão para a Àsia, colocou a situação energética europeia numa posição mais delicada e foi a própria UE que contribuiu para isso.

A Rússia pode perder contratos militares, mas vai ter uma posição cada vez mais forte à mesa das negociações, seja qual fôr o tópico.

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro PM, volto a concordar consigo, mas espero é que os meios conseguidos pela Rússia com o aumento do preço dos combustíveis sejam bem geridos e não tornem a economia do país ainda mais dependente do preço dos hidrocarbonetos. Como dizem os especialistas russos, facto reconhecido pelos governantes, o país é hidrocarbonetodependente, em alegoria à toxicodependência.

PortugueseMan disse...

Caro JM,

Você já conhece bem a minha opinião sobre isso. A meu ver a Rússia está a investir brutalmente em vários sectores para fazer o arranque necessário.

Vai levar anos (muitos) e muito, mas muito dinheiro.

E também haverá muita corrupção, com tanto dinheiro a circular...

Da Rússia, de Portugal e do Mundo disse...

Caro PM, e você conhece a minha opinião, resta esperar para ver. Isto se ainda cá estivermos.

PortugueseMan disse...

Também o espero. E com saúde meu caro.