A Rússia é contra a ingerência militar na situação da Líbia, declarou hoje aos jornalistas Serguei Lavrov, ministro russo dos Negócios Estrangeiros.
“Não consideramos a ingerência externa, tanto mais militar, um meio de resolver a crise na Líbia. Devem ser os próprios líbios a resolverem os seus problemas”, disse ele.
Segundo o ministro, a posição russa face à Líbia continua a ser a mesma anunciada pela direção da Rússia.
“Ela consiste na necessidade de travar imediatamente a violência, antes de tudo a violência contra a população local, e fazer a situação enveredar pela via política. É indispensável que a crise seja resolvida por via política e para isso é necessário parar o derramamento de sangue”, acrescentou.
Lavrov frisa que os crimes contra a população civil na Líbia não devem ficar impunes.
“Apoiamos os esforços da comunidade mundial com vista a prestar ajuda humanitária às pessoas que se viram em dificuldades devido aos acontecimentos na Líbia. Enviamos ajuda humanitária em aviões para o Ministério para Situações de Emergência. Apoiamos a iniciativa do secretário-geral da ONU no sentido de nomear um representante especial seu para questões humanitárias na Líbia”, concluiu.
A admistração norte-americana examina “todas as opções”, incluindo militares, na rise líbia e repete os seus apelos à demissão do coronel Khadafi.
O influente senador republicano John McCain e o senador democrático John Kerry pronunciaram-se pela criação de uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia para reduzir a margem de manobra do regime de Khadafi.
A Líbia mergulha cada vez mais num mar de sangue da guerra civil, sem fim à vista. Enquanto a comunidade internacional estuda a forma ou formas de travar o conflito, este alarga-se e faz aumentar rapidamente o número de vítimas.
As tradicionais sanções da ONU parecem não obrigar Khadafi a abandonar o poder em Tripoli, o que faz aumentar a tentação de intervenção externa no conflito. Mas tendo em conta as posições diferentes dos membros do Conselho de Segurança da ONU face ao conflito, é difícil dislumbrar uma forma de intervenção aceite por todos.
A posição de Moscovo de deixar aos próprios líbios a solução do conflito na Líbia é pouco convincente, visto que ela apenas provocará o alargamento da guerra civil e o aumento do perigo de desintegração territorial da Líbia.
Uma intervenção militar direta no conflito poderá ter também efeitos catastróficos, por isso talvez não seja tão má a ideia da criação de zona de exlusão aérea sobre a Líbia, apoiada por todos os membros do Conselho de Segurança. Mas para isso é necessário que as grandes potências não ponham em primeiro lugar os seus interesses mesquinhos na região.
3 comentários:
...por isso talvez não seja tão má a ideia da criação de zona de exclusão aérea sobre a Líbia, apoiada por todos os membros do Conselho de Segurança. Mas para isso é necessário que as grandes potências não ponham em primeiro lugar os seus interesses mesquinhos na região.
Hum,
Ultimamente, ouve-se falar muito na aplicação de uma zona de exclusão aérea, mas eu francamente não vejo qual a vantagem que isso irá trazer para a resolução do conflito.
E será sempre visto como intervenção externa, o que será considerado por muitos a verdadeira causa deste problema.
Agora, intervenção directa ninguém o quer fazer, uma zona de exclusão em nada vai ajudar os que lá estão, o tempo vai passando e o que realmente se está a passar é que vão ter que ser eles próprios a ter que resolver o problema.
A Rússia se mantem coerente na sua política externa de evitar ao máximo intervenções militares que já se tornaram um vicio no ocidente e no qual quase sempre acaba com mais mortes de inocentes.
Uma ingerência externa seria sempre perigosa, não só em termos militares, pois iria comprometer meios e vidas num conflito alheio e com resultados imprevisíveis, como, sobretudo em termos políticos, pois apoiar a facção (rebelde) daria argumentos à facção de Kadhafi. Além disso, que rebeldes são estes, o que será que eles pretendem, quais são as suas filiações políticas?
Quanto à possibilidade de se impor uma zona de exclusão aérea, ela comporta algus problemas, a começar pela classificação dos potenciais alvos terrestres onde estariam localizadas armas de defesa anti-aérea.
Uma operação de imposição de uma zona de exclusão aérea tem de começar pela eliminação da ameaça das armas AA (SEAD ou "suppression of enemy air defenses"). E o problema é que, quando aqueles meios são ligados, eles devem ser imadiatamente destruídos com mísseis anti-radiação, pelo que não é possível verificar se os meios são pro-governamentais ou rebeldes, ou se estão locallizados perto de civis, etc.
Ora, é quase certo que esses alvos estarão colocados junto a escolas, hospitais, prédios de habitação, etc., por isso, das duas uma: ou os pilotos são impedidos de disparar nessas condições (e neste caso, serão alvos fáceis, com todas as consequências nefastas); ou então disparam, e nesse caso teremos malvados cruzados cristãos a matar pacíficas criancas árabes e muçulmanas inocentes.
Portanto, a outra única opção seria a da vertente terrestre, ou seja, ou armar os rebeldes, ou comprometer efectivos no terreno.
A primeira opção seria a melhor, mas os resultados desejados poderiam não ser alcançados em tempo útil pois os meios teriam de ser adquiridos e expedidos e provavelmente teria de haver algum treino prévio antes do seu empregos pelos rebeldes.
A intervenção directa seria mais complicada. Sem querer entrar nas suas diversas modalidades (mais ou menos limitada, etc.) e nas complicações do "pós-intervenção", bastar-nos-ia saber responder à questão "Quem iria para lá?".
Iriam os europeus? Para quê, para serem vistos como "colonialistas" e "cruzados"? Ou seriam para morrerem pelos gás ou pelos lindos olhos dos líbios? Duvido que alguém queira morrer pelos olhos dos líbios, e quanto ao gás... dê por onde der, o gás virá sempre, e se calhar a preços mais cómodos pois, de momento, as facções não se podem dar ao luxo de negociar.
Deveriam então intervir os árabes? Mas... quem iria? Duvido que marroquinos, argelinos, sauditas, jordanos ou sírios queiram intervir. Egícios e tunisinos poderiam intervir (e ao Egipto sobram-lhe meios para isso mas... será que os líbios veriam com bons olhos uma intervenção egípcia ou tunisina? E será que estes países quereriam intervir?
A intervenção poderia sempre recair sobre os mesmos (os EUA), mas duvido muito que esta Administração (ou outra qualquer, diga-se de passagem) queira meter-se noutro potencial vespeiro. Já bem lhes bastou o Iraque e o Afeganistão, que é um lodaçal.
Temos quem, então? Talvez a Turquia, que é um país muçulmano, tem potencial militar e está desejosa de se afirmar ainda mais na cena do Médio Oriente. Seria um cenário inovador e extremamente interessante sob o ponto de vista político, mas altamente improvável face às dificuldades do "pós-intervenção" e sobretudo à impossibilidade que o país tem para a projecção de meios.
Assim sendo, alvitro a possibilidade de se vir a armar os rebeldes e de termos uma situação de guerra civil mais prolongada, com a "comunidade internacional", nomeadamente os países árabes e europeus, a impor um acordo entre as partes. A recusa deste acordo por parte de Kadhafi fará aumentar o apoio à faccão rebelde até que, mais cedo ou mais tarde, esta acabará por ganhar.
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