Já em Moscovo, posso dizer que regressei pessimista quanto ao futuro do meu país. Os meus amigos russos que me acompanharam na visita ao Norte: Póvoa de Varzim, Caxinas, Porto e Barcelos perguntaram-me várias vezes: como é possível levar à falência um país tão bonito, com um clima e um povo fantásticos?
Respondi apenas que o problema de Portugal seja o mesmo da Rússia: as élites políticas dos dois países são medíocres, cleptomaníacas e egoístas. Os nossos políticos são fabricados nas juventudes partidárias e muitos deles nunca trabalharam na vida real a não ser fazer política.
Mas os encontros com as pessoas leva-me a acreditar que nem tudo está perdido.
Entrei num café (não fixei o nome, apenas me recordo que tinha publicidade do vinho Porto Cruz) perto das caves do Vinho do Porto em Gaia para beber umas águas e a dona pronunciou:
- Acaba de chegar Abramovitch!
Olhei para o lado e só depois entendi que ela se dirigia a mim. Trocámos um dedo de conversa.
- Vim comprar o Futebol Clube do Porto!, respondi eu, o que provocou um largo riso no seu rosto.
Ela disse-me que gostava muito de São Petersburgo, pois lera o romance "Crime e Castigo" de Fiodor Dostoevski e esperava um dia visitar os lugares palmeados pelas personagens dessa obra.
Recomendei-lhe a visitar essa cidade na noite de São João, em Junho, na época das "noites brancas".
- Nessa altura, não posso, pois tenho de vender sardinhas assadas na Noite de São João. Não posso fechar o café, retorquiu ela.
- Não faz mal, pode ir noutra altura, acrescentou.
Os meus amigos russos aproximaram-se e a conversa continuou amena...
3 comentários:
É mais simples colocar culpa nas elites do que no povo para explicar o fracasso de uma nação quando comparada com a qualidade de vida de outra. No Brasil aprendi a dividir a culpa entre o eleitorado e os políticos; está longe o tempo em que descia o porrete somente nos últimos.Em 2001 percebi que as Casas Legislativas Brasil afora eram o retrato médio da qualidade moral e intelectual do indivíduo. Também assim deve ser Portugal; assim também deve ser a Alemanha. Isso é válido principalmente para as nações em que a democracia permite o livre estudo e a livre expressão, visto que qualquer um pode pesquisar e desenvolver qualidades intelectuais e políticas capazes de influenciar minimamente,mas influenciar positivamente, parte do conjunto social. Uma nação vai praticar sempre uma Política Econômica que represente , guardando a devida proporcionalidade de influência entre classes socias, uma linha de pensamento que vige em seus indivíduos - a reação do operário alemão a Política Fiscal do governo depois da crise de 2008 serve, no geral, como exemplo.
A sanha gastadeira na Política Fiscal tem como fim a sedução do eleitor por causa do precioso voto que é fator de poder político para pessoas e instituições; isso é bem reconhecido na História da Política Econômica dos países. Aqui, como em Portugal hoje, a coisa fica balançando, pois o povão é avoado e não sabe o suficiente para se posicionar em suas preferências partidárias.
Quando uma liderança política compreende que tem que haver uma restrição fiscal semestres a fio para o equilíbrio das Contas Públicas, tudo quanto é organização põe-se a clamar contra o arrocho, contra o desemprego, contra isso e aquilo, etc. e tal. Penso que a expansão fiscal só se justifica em traumas sociopolíticos graves; fora essas anomalias não se deve ter dó ou piedade, pois a ação necessária deve se pautar pela tecnicidade visando o equilíbrio. O que não for feito agora vai ter que ser feito com maiores sofrimentos pois.
A moeda moderna foi a maior revolução dos últimos tempos, pois traduzida em sistemas financeiros complexos e eficientes, em créditos e investimentos, naturalmente perseguindo o lucro, dinamizou a atividade econômica possibilitando uma riqueza média entre pessoas, nunca antes experimentado na História. Mas ela não é uma coisa milagrosa,ou aleatória ao pensamento objetivo, material e lógico. Seu uso tem que ser, como tudo nesse mundo, com equilíbrio.
Caro J.Brail, estou completamente de acordo e considero que cada povo tem o governo que merece.
"Não existe almoço de graça"
"Profetas são os que conseguem prever o óbvio"
Duas frases clichês, mas que se aplicam perfeitamente nesse caso.
A conta chegou.
Portugal vendeu sua soberania a Bruxelas.
Agora vendeu o que restava ao FMI.
A tendência é continuar de joelhos. A não ser que haja uma Revolução.
Enviar um comentário