A polícia de choque georgiana lançou uma carga contra militantes da oposição que se manifestavam junto da sede da televisão pública na capital da Geórgia e fez numerosas detenções.
“A carga ocorreu de manhã. A polícia dispersou militantes da oposição perto do edficío da televisão central. Durante a carga uma mulher ficou ferida”, declarou um porta-voz do Movimento Democrático-Geórgia Unida.
Nino Burdjanadzé, uma das dirigentes da oposição ao Presidente Mikhail Saakachvili, acusou a polícia de “ter feito uma provocação, mas terá a resposta devida”.
“A polícia prendeu centenas e centenas de pessoas em Tbilissi e noutras cidades georgianas”, acrescentou Burjanadzé.
Os militantes da oposição continuam no local dos confrontos e recusam-se a abandoná-lo.
“As cargas policiais não nos amedrontam, continuaremos aqui até à última gota de sangue, até que o regime antipopular do Presidente Saakachvili, desapareça”, anunciou umk porta-voz do movimento da oposição Assembleia Popular da Geórgia.
Na véspera, cerca de 6 mil apoiantes da oposição na Geórgia manifestaram-se hoje em Tblissi para exigir a demissão do presidente, Mikheil Saakachvili, que acusam de autoritarismo, constatou um jornalista da France Presse.
Em resposta a um apelo do movimento da oposição Assembleia Nacional, os manifestantes desfilaram pelas ruas da capital com 'slogans' exigindo a saída do presidente, antes de se concentrarem numa praça do centro de Tbilissi.
P.S. Nino Burdjanadzé anunciou que a revolução começou na Geórgia e a oposição convocou para 25 de Maio, dia da independência da Geórgia, uma nova manifestação contra o Presidente Saakachvili. Irakli Okruachvili, antigo ministro da Defesa, que se encontra exilado em Paris, prometeu regressar ao país nesse dia para dirigir os protestos da oposição.
A oposição georgiana está fortemente dividida, o que tem enfraquecido os protestos conta Saakachvili, mas o derrame de sangue em confrontos de rua pode ter consequências muito graves para a Geórgia, país situado na Transcaucásia.
A comunidade internacional tem de estar atenta à situação no país, para que nele não surja um mais um "ponto quente" numa região extremamente complicada.
Depois da conquista da independência, em 1991, o poder presidencial nunca foi transferido por via eleitoral, mas sempre através de "revoluções" e de violência. Os Estados Unidos e a União Europeia têm fechado os olhos quando os "seus filhos da mãe" violam as mais elementares regras democrática, deixando entender que a via eleitoral, transparente e justa, não é a única forma de chegar ao poder.
Essa política de impunidade face aos "seus filhos da mãe" tem resultados péssimos, mas os interesses económicos, militares e políticos falam mais alto do que as lições da História.
Quanto ao Kremlin, este não perde a esperança de ver Saakachvili derrubado, humilhado ou até fusilado ou enforcado nalgum lugar. Para que isso aconteça, está disposto a apoiar qualquer oposição na Geórgia. Porém, é difícil acreditar que Moscovo consiga ganhar as graças dos georgianos enquanto controlar parte significativa do território desse Estado.
22 comentários:
"Porém, é difícil acreditar que Moscovo consiga ganhar as graças dos georgianos enquanto controlar parte significativa do território desse Estado."
Provavelmente Moscovo entregará as duas repúblicas cessecionistas a partir do momento que tenha em Tiblissi um governo que lhe seja benévolo.
Cumpts
Manuel Santos
Quando é com Lukashenko é porque ele é um ditador, tirano, etc.
Cadê o Antonio Campos? hehe
Por sinal, Burdjanadze é antiga "companheira de combate" de Saakashvili, com quem fizeram a "revolução de rosas", enquanto mais um companheiro de armas, Jvánia, morreu há alguns anos numas circunstáncias misteriosas.
No entanto, atual governo da Geórgia faz tudo para estragar aínda mais as relações com a Rússia. Agora faz esforços para incentivar separatismo ou descontentamento dos povos do Caucaso de Norte contra o governo russo. Recentemente criou uma televisão especial que transmite para a região do Caucaso Norte a propaganda anti-russa. Tudo isso quando, segundo algumas das estatisticas, até ao 1/3 da população georgiana vive e trabalha na Rússia (devido a pobreza que reina na própria Geórgia). Eu pessoalmente acho que sem relações normais com a Rússia é impossivel qualquer desenvolvimento da economia georgiana.
E quanto a Abkházia e a Ossétia do Sul, se não fosse a loucura de Saakashvili, provavelmente a Rússia nunca teria reconhecido a sua independéncia.
Leitor MSantos, espero sentado, porque vai ter de esperar muito. Penso que isso não aconteceria nem se os georgianos aceitassem juntar-se à Deferação da Rússia.
Blogger MSantos disse...
"Porém, é difícil acreditar que Moscovo consiga ganhar as graças dos georgianos enquanto controlar parte significativa do território desse Estado."
Provavelmente Moscovo entregará as duas repúblicas cessecionistas a partir do momento que tenha em Tiblissi um governo que lhe seja benévolo.
Cumpts
Manuel Santos"
Não acho. O reconhecimento da independéncia dessas repúblicas foi um passo muito sério. E a Rússia, ao declarar essa independéncia uma vez, não pode de repente desistir de tudo o que fez.
Alem disso, atualmente as republicas mencionadas só podem ficar parte do território georgiano á força, só depois de uma guerra, do emprego de forças armadas por parte da Geórgia. Porque quanto na Abkházia, tanto na Ossétia do Sul houve conflitos muito brutais entre abkhazes e ossetas de uma parte e georgianos de outra. As pessoas esmagavam uns aos outros com os tanques, fuzilavam uns aos outros só devido a nacionalidade deles, e, finalmente, quase todos os georgianos foram expulsos da Abkházia (à exepção das regiões da fronteira com a Geórgia). Há lá aínda hoje muitas casas georgianas abandonadas, muitas nas ruinas.
Anónimo russo, o que aconteceu na Abkházia e Ossétia do Sul tem um nome: limpeza étnica!
Caro MSantos,
Concordo com o JM, não haverá retorno de território, por motivo nenhum.
...Quanto ao Kremlin, este não perde a esperança de ver Saakachvili derrubado, humilhado ou até fusilado ou enforcado nalgum lugar. Para que isso aconteça, está disposto a apoiar qualquer oposição na Geórgia. Porém, é difícil acreditar que Moscovo consiga ganhar as graças dos georgianos enquanto controlar parte significativa do território desse Estado...
Humilhado, fuzilado ou enforcado eu concordo que o Kremlin deseje algo do género.
Afastado é que talvez não. Duvido muito que vá existir um governo que tenha simpatias pela Rússia.
Uma situação instável beneficia a Rússia. Um novo governo de cara lavada, pode abrir o tema da NATO à baila de novo. A Geórgia continua a ser indispensável para o acesso ao Cáspio/Ásia Central, fazendo o bypass da Rússia.
"Blogger Jose Milhazes disse...
Anónimo russo, o que aconteceu na Abkházia e Ossétia do Sul tem um nome: limpeza étnica!"
Exato. Houve limpezas etnicas feitas como por parte dos georgianos, tanto por parte dos abkhazos. Mas, com certo apoio da Rússia, dos grupos tchetcehnos que colaboravam com os serviços secretos russos, sob comando de Bassaev (que se tornou mais tarde terrorista número um, sem brincadeira nenhuma) e dos grupos dos representantes dos povos adigue do Caucaso do Norte a Geórgia perdeu finalmente. Mas seria errado pensar que os georgianos mostravam mais humanismo que os abkhazos. O regime ultra-nacionalista que estava no poder na Geórgia no início dos anos 90 têve tempo de fazer muitas coisas "maravilhosas", inclusive, se não me engano, limpezas étnicas na Ossétia do Sul.
È curioso, mas, se não me engano, até os arménios da Abkházia participaram no conflito do lado de abkhazos. Deviam ter razões para isso.
"Blogger Jose Milhazes disse...
Anónimo russo, o que aconteceu na Abkházia e Ossétia do Sul tem um nome: limpeza étnica!"
As palavras do primeiro presidente (!) Georgiano Gamsakhúrdia, 1991:
«Осетинский народ — мусор, который надо вымести через Рокский тоннель. Мы пойдем по Осетии и пусть осетины либо покорятся и станут грузинами, либо, если они так любят русских, уходят из Грузии в Россию»
"O povo osseta é lixo que é preciso varrer atraves do tunel Rokski... etc. etc. etc."
Foram os nacionalistas georgianos que começaram.
Caro MSantos, duvido muito que as independências da Ossétia do Sul e da Abkházia venham a ser "revertidas" em favor da Geórgia, mesmo com um governo "amigo da Rússia" no poder. É que na política e nas RI as coisas mudam de um dia para o outro, e hoje podemos ter um Xá do Irão amicíssimo dos EUA e amanhã já lá temos um Ayatollah inimigo... penso que está a ver o paralelismo... :o)
O que poderá ocorrer é um referendo nessas duas minúsculas Repúblicas a favor da integração plena da Federação Russa, mas até nisto duvido que a Rússia tenha interesse. Já bem lhe basta a carga política do reconhecimento unilateral das independências, quanto mais ter de suportar o fardo da "anexação" de territórios supostamente dependentes de um Estado terceiro.
Quanto à questão em apreço, ou seja, o nosso mui democrático "son of a bitch", nas palavras do F.D.Roosevelt, enviei ao JM um artigo interessante saído no National interest acerca do Sr. Saakashvili e da sua forma de fazer política.
É a tal coisa: se fosse um Lukashenka ou um Putin, uiui, quantos viriam aqui dizer e acontecer! Mas como "Saakashvili may be a son of a bitch, but he's our son of a bitch", já se sabe como é...
Saudinha, que é o que é preciso! :o)
Caros PM, JM e AR
Penso que se houvesse uma posição irredutível nesse aspecto, as repúblicas seriam integradas na FR.
Dado a independência prática das duas ser zero, porque o não foram e continuam numa espécie de terra de ninguém?
Poderá dar-se o caso que a Rússia esteja à espera de um governo benévolo na Georgia para celebrar um acordo de décadas, como é o caso da base de Sebastopol, que manteria a Georgia aliada russa e manteria o seu território fechado a by-pass energéticos.
Nessas condições as repúblicas cessecionistas dariam uma óptima moeda de troca.
Mas posso estar enganado.
Cumpts
Manuel Santos
1. "MSantos disse...
Caros PM, JM e AR
Penso que se houvesse uma posição irredutível nesse aspecto, as repúblicas seriam integradas na FR.
Dado a independência prática das duas ser zero, porque o não foram e continuam numa espécie de terra de ninguém?"
No caso da Abkházia não tenho nenhuma certeza que eles quisessem ficar parte da Rússia. Por sinal, depois do ano 1993, conseguiram construir algo semelhante a um estado, com a polícia, exército e a burocracia, e até funcionava, pelo que me pareceu.
2. "Poderá dar-se o caso que a Rússia esteja à espera de um governo benévolo na Georgia para celebrar um acordo de décadas, como é o caso da base de Sebastopol, que manteria a Georgia aliada russa e manteria o seu território fechado a by-pass energéticos.
Nessas condições as repúblicas cessecionistas dariam uma óptima moeda de troca."
Isso não parece viavel, por muitas razões. Inclusive porque a Rússia não pode brincar com o seu prestigio no Caucaso, ora ajudando alguns povos, ora os deixando no lixo.
"Isso não parece viavel, por muitas razões. Inclusive porque a Rússia não pode brincar com o seu prestigio no Caucaso, ora ajudando alguns povos, ora os deixando no lixo."
È preciso ter em conta que a maior parte dos ossetas vive na Ossétia do Norte. Segundo eu entendo, é um povo sem quaisquer ambições separatistas, um povo não islamico, que "não tem para onde fugir" da Rússia e que pode ser considerado o aliado mais fiel da Rússia no Caucaso.
Caro MSantos,
...Penso que se houvesse uma posição irredutível nesse aspecto, as repúblicas seriam integradas na FR.
Dado a independência prática das duas ser zero, porque o não foram e continuam numa espécie de terra de ninguém?...
O Pippo já respondeu a esta questão e eu partilho da opinião dele:
...Já bem lhe basta a carga política do reconhecimento unilateral das independências, quanto mais ter de suportar o fardo da "anexação" de territórios supostamente dependentes de um Estado terceiro...
Parece que nem a Rússia vai reconhecer a independência fraudulenta dos dois países que ela usurpou da Geórgia! eu tenho certezo que quem financia esses protestos é o Kremilin.
Tem razão anónimo das 2:11.
Acerta quando diz que quem financia os protestos é o Kremlin. Mas falha quando não diz que quem segura a Geórgia são os EUA e a CE.
Sabe qual foi o financiamento da CE para a Geórgia em 2009? À vista foram 816 milhões de €.
É um jogo que todos querem participar e ninguém quer perder. Mas há uns que têm mais legitimidade que outros. Está de acordo?
A Rússia conseguiu recuperar a sua influência na área da antiga-URSS, o Kremilin reverteu todas as revoluções coloridas. Carta de mestre de Putin e também má vontade do Ocidente que não deu a devida importância ao fato da Rússia recompor-se com império novamente. Esse Ocidente é miuto covarde mesmo, aos poucos ele permite a Rússia ganhar ainda mais poder e ameaçar toda Europa. Esse Barck Obama é um banana mesmo! Ele não tem política para região. Na cabeça dele, de Sarkozy e Merkel a Europa do Leste é da Rússia. O Continente já foi dividido.
Anónimo Anónimo disse...
"A Rússia conseguiu recuperar a sua influência na área da antiga-URSS, o Kremilin reverteu todas as revoluções coloridas. Carta de mestre de Putin e também má vontade do Ocidente que não deu a devida importância ao fato da Rússia recompor-se com império novamente. Esse Ocidente é miuto covarde mesmo, aos poucos ele permite a Rússia ganhar ainda mais poder e ameaçar toda Europa. Esse Barck Obama é um banana mesmo! Ele não tem política para região. Na cabeça dele, de Sarkozy e Merkel a Europa do Leste é da Rússia. O Continente já foi dividido."
A Rússia não ameaça a Europa mais que alguma Inglaterra. O problema é que há grande falta da informação objetiva e imparcial sobre a Rússia disponivel às pessoas do hemisfério ocidental.
@Anónimo_russo
O problema não é só esse. O problema é que há aqui quem muito fale do "bicho papão" que é uma Rússia com um poder crescente, como se ela se fosse apoderar de toda a Europa. Falam aqui das interferências no Cáucaso, ou do "cerco energético" à Europa, ou ainda das tentativas de captar know how às empresas Ocidentais...
Esquecem-se que existem hoje outros poderes bem mais castradores para a Europa:
Por exemplo, os EUA controlam a nossa economia (a presente crise nasceu da especulação imobiliária norte-americana), têm o nosso know how (quantas empresas europeias não têm sido compradas pelos norte-americanos!), fazem guerras às portas da Europa, patrocinando limpezas étnicas e crimes de guerra (o Kosovo vem-me à memória, não sei bem porquê...) e apoiam "democratas" caucasianos como o Saashkavili e o Aliyev, por exemplo.
Ah, mas como são os EUA, que são um país democrático e um Estado de Direito, não faz mal;
A China rouba descaradamente o nosso know how através da reverse engeneering, rouba-nos os contratos de fornecimentos e prestação de serviços com países terceiros (construção civil, etc.), rouba-nos o petróleo, e por via de salários ridículos e de toda uma espécie de dumpling social, destruiu as indústrias europeias e o nosso modelo social "não concorrencial".
Ah, mas como a China é "uma economia em crescimento" e é "a potência do futuro" contra a qual deixou de haver Guerra Fria desde os anos 70, não faz mal.
A Rússia tem o azar de ter uma classe política "muito corrupta" mas que não ordenou massacres como o da Praça Tiananmen; tem o azar de não se ter envolvido em guerras sem ser dentro do seu espaço próprio; ter o azar de não ser um país "em crescimento" e "liberal" que impede que um seu cidadão receba a porcaria de um prémio Nobel; ...
Enfim, é tudo uma questão de percepção.
Pippo, estou de acordo.
Enviar um comentário