sexta-feira, agosto 12, 2011

Contributo para a História de Portugal (Salazar e o receio do comunismo na Europa) (Parte 1)

Documento do Arquivo do Serviço de Segurança Externa da Rússia:

"COMPLETAMENTE SECRETO
ENVIADO aos Camaradas:
ESTALINE,
MOLOTOV
13/V.1937
O 7º Departamento da Direcção Estatal da Segurança de Estado do Comissariado do Povo para Assuntos Internos conseguiu de uma fonte próxima do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Polónia o seguinte material documental:

Documento
Tradução do polaco
Embaixada da Polónia em Lisboa
Nº1/I-Sov/8. 17/I-1937.
Cópia. Completamente secreto
Ao Exmo. Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros em Varsóvia.

No dia 13 de Março, eu fui recebido por Salazar, o ditador de Portugal de facto, que desde Outubro de 1936 é também ministro dos Negócios Estrangeiros. SALAZAR, desde 1928, ocupa o cargo de Ministro das Finanças e, desde 1932, primeiro-ministro.
A minha visita foi motivada pelo facto de, antes da entrega da minha parte das cartas credenciais, eu dever ser recebido pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros. Dado que Salazar estava sobrecarregado de trabalho e muito ocupado, a minha visita e a entrega de credenciais ocorreram com algum atraso.
A minha conversa com SALAZAR durou mais de uma hora. Quero expor abaixo os momentos mais importantes e caraterísticos dela.
SALAZAR, tal como todas as camadas da população portuguesa que apoiam o estado de coisas existente, receia a infiltração do comunismo e o trabalho de diversão da III Internacional. SALAZAR perguntou-me como é que a Polónia dá resposta às acções da Comintern não obstante o comprimento da sua fronteira comum com a URSS. Depois de caracterizar a situação na faixa fronteiriça e de assinalar a espécie de vacina preventiva através do contacto directo, eu falei-lhe da criação da K.O.P. (Organização Comunista da Polónia), das causas, da organização do trabalho e da constituição pessoal da Comintern, que se tornou o ponto de partida na nossa luta bem sucedida.
Visto que eu tinha sido encarregado pelo Chefe do Estado-Maior e pelo chefe do 2º Departamento de estabelecer cooperação com o Governo português na base de informações sobre a III Internacional,  que prevê também a prestação de ajuda da nossa parte na organização da espionagem e acções de segurança, eu propus a SALAZAR ajuda nesse sentido. SALAZAR recebeu muito bem a minha proposta e disse-me que iria amplamente utilizar essa possibilidade.
Depois, a nossa conversa passou para o tema das nossas relações com a União Soviética, revelando SALAZAR um conhecimento extraordinário da situação. Depois, o primeiro-ministro fez-me perguntas sobre as acções do coronel KOZ.
Ao fazer uma certa analogia com a criação em Portugal da “União Nacional”, ele expôs-me os pontos fundamentais do seu programa. SALAZAR interessou-se muito pela actividade dos partidos políticos no nosso país, pelo papel que eles desempenham na vida estatal, parlamentar, cultural e educativa do país. Eu caracterizei-lhe a situação até Maio de 1926. Eu expus-lhe as bases da nossa constituição e métodos de sua realização na prática.
Depois, passámos para o tema da Espanha. SALAZAR desejou a FRANCO uma vitória rápida e definitiva, sem a qual será difícil criar um governo forte e capaz na nova Espanha. Se vencessem os comunistas, surgiria um sério perigo não só para Portugal, mas também para toda a Europa Ocidental. A este propósito, ele deu-me uma caracterização clara do papel de Inglaterra. A Inglaterra receia o fascismo. Isso explica a sua indecisão e as meias-medidas na questão espanhola. Infelizmente, a Inglaterra, enquanto Estado com sólidas tradições diplomáticas, tem, inicialmente, com base nos erros cometidos, de convencer a sua opinião pública, o que provoca perda de tempo e a evolução dá-se a ritmos vagarosos."

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