Os políticos não tiram lições da História, por muito trágicas que elas sejam. Essa "qualidade" é também muito própria dos dirigentes da Rússia. Em 2004, tentaram impor ao povo da Ucrânia o seu candidato a Presidente da República e recebeu como resposta uma "revolução laranja" e a vitória do candidato que não era apoiado por Moscovo.
Hoje, volta a cometer o mesmo erro na Ossétia do Sul, uma região separatista da Geórgia que proclamou a sua independência, em Setembro de 2008, com o apoio das tropas russas.
A Ossétia do Sul "independente" é sustentada, em cerca de 90 por cento, por meios financeiros vindos do Orçamento da Rússia e, por isso, o Kremlin julgou ter o direito de impor aos ossetes do sul os seus dirigentes. No passado Domingo, na segunda volta das eleições presidenciais, poucos eram os que imaginavam que o candidato "aconselhado" por Moscovo: Anatoli Bibilov não seria o vencedor da contenda.
Mas os "ingratos" dos ossetes do sul, imaginem só!, votaram maioritariamente pela líder da oposição: Alla Djioeva, que, além disso, é mulher, numa sociedade extremamente machista. Os 16% de diferença entre os dois candidatos não convenceram Moscovo, nem o clã corrupto de Eduard Kokoiti, atual Presidente da Osséria do Sul, e, por isso, o Tribunal Supremo anulou o escrutínio porque os "apoiantes de Djioeva violaram a lei eleitoral".
A antiga professora e ministra da Educação da Ossétia do Sul autoproclamou-se Presidente e foi acusada de ser apoiada pela Geórgia, porque, como disse Eduard Kokoiti, "a televisão georgiana transmite em directo o que se passa em Tskhinval", capital da Ossétia do Sul.
Qualquer pessoa minimamente inteligente sabe que Alla Djoieva não pode ser pró-georgiana devido às más relações entre os dois povos, nem ser anti-russa, tendo em conta que a Ossétia do Sul só é "independente" porque Moscovo quer.
O que será necessário fazer para que numa região como o Cáucaso, onde a mulher tem um papel secundário na vida política, uma mulher seja eleita presidente?
Na segunda feira, participei num programa da rádio Russkaia Slujba Novostei, onde foi abordado este conflito. Um ouvinte, que me pareceu ser um ossete, disse: "No passado, as mulheres ossetes, alanas, combatiam em pé de igualdade com os homens".
A julgar pela coragem de Alla Djioeva, o ouvinte tem razão. E talvez por isso Moscovo não consiga fazer com que a maioria dos habitantes da Ossétia do Sul não "engula o gigantesco sapo".
A propósito, os ossetes são descendentes dos alanos, parte dos quais saíram do Cáucaso, atravessaram toda a Europa e formaram , no séc.V, um reino em parte do território hoje pertencente a Portugal. Dizem que foram eles os construtores da muralha de Lisboa,cujos restos se vêem por baixa da Igreja de Santa Lúcia, e que a eles se deve o nome de Alenquer (O Templo dos Alanos).
Talvez o espírito guerreiro se tenha conservado em Alla Djoieva.
4 comentários:
Moscovo faria melhor em baixar a guarda e aceitar as coisas tal como elas são. Assim, em lugar de ter no território um dirigente subserviente e impopular, teria uma líder como aliada.
Politiquices!
Pelo que li de alguns jhornalistas que conhecem a região.
Não se trata de nada "pró ou contra" Moscou.
Trata-se de uma disputa interna, de clãs.
E é, Gilberto.
Na minha opinião, O Kremlin é que não deveria meter-se nessas confusões, pois arrisca-se a perder legitimidade de uma forma totalmente gratuita.
Penso que ninguém tem dúvidas de que os ossetinos são pro-russos. Para quê então tentar "forçar a barra"?
Repito: politiquices!
Onde é a Igreja de Santa Lúcia?Como sou lisboeta, e de tal nunca ouvi falar, gostava de saber.
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Quanto aos Alanos, pois andaram por aí, mas já eram. O mesmo não se pode dizer dos russos e seus agentes , que estão para ficar.Já nem na Ossétia do Sul os estão para aturar, só podem mesmo vir para esta cauda da Europa. É o Fado!
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