Seja por excesso de confiança ou por falta de modéstia, mas o dueto Dmitri Medvedev e Vladimir Putin que governa a Rússia está convencido que irá continuar por muito tempo no poder e que a vitória de Putin nas presidenciais de Março de 2012 são “favas contadas”.
E se alguém tivesse dúvidas, hoje foi dado mais um passo importante para que elas desaparecessem. O dia começou com Vladimir Putin a dizer que “é impossível” a revisão dos resultados das eleições parlamentares de 04 de Dezembro e recomendou a oposição a queixar-se nos tribunais que tomarão as medidas adequadas para cada falsificação da contagem de votos.
Tendo em conta a “independência” dos tribunais russos, que consiste no facto de deles nada depender, pode-se imaginar as sentenças dos juízes a favor das queixas da oposição.
Além disso, Putin considera que a oposição não tem qualquer tipo de ideias e não imagina os seus dirigentes a realizarem “trabalho concreto”.
Claro que tinha de fazer de conta que deu ouvidos aos protestos daqueles milhares de cidadãos (na sua maioria jovens e membros da classe média), prometendo que, se for preciso urnas transparentes, arranja-se dinheiro para isso e sublinhando que não quer ganhar as eleições com trafulhices.
Tendo em conta a minha experiência como observador dos processos políticos, estou entre os que consideram que, em eleições presidenciais transparentes, Putin ficará em primeiro lugar. Mas, se não ganhar à primeira volta, vence à segunda porque irá defrontar o dirigente comunista Guennadi Ziuganov e, neste caso, a maioria dos russos, engolindo sapos ou não, vai optar por Putin. A não ser que tenham uma memória muito curta.
Neste momento, não existe qualquer político que consiga disputar a sério as presidenciais com Putin, porque o Kremlin fez a política de terra queimada em relação à oposição, impedido o desenvolvimento de um sistema político e partidário moderno e democrática.
É também verdade que a oposição está extremamente dividida, existindo dentro dela forças como o Partido Comunista ou o Liberal-Democrático que estão prontos a negociar a sua fidelidade com quer que esteja no poder, o importante é que paguem bem e garantam um bom nível de conforto aos dirigentes.
Porém, isso não dá a Putin e Medvedev o direito de, sem esperar a decisão do eleitorado russo, começar uma desenfreada “dança de cadeiras”, como já foi iniciado.
Hoje, Dmitri Medvedev nomeou para vice-primeiro ministro do Governo Vladislav Surkov, que deixa assim o cargo de vice-chefe da Presidência da Rússia.
Surkov, considerado o ideólogo e eminência parda do Kremlin, irá responder no Governo pela pasta da “modernização”. Nas estruturas presidenciais, ele era também vice-chefe da comissão para a modernização.
“Gosto muito desse trabalho”, respondeu Surkov à proposta de Medvedev.
“Espero que agora se dedique directamente a tudo isso, que esse trabalho seja mais visível e com um maior conteúdo”, frisou o Presidente russo, sublinhando que “todos as prerrogativas socioeconómicas estão concentradas no executivo”.
Viatcheslav Volodin, homem próximo de Putin, passou de dirigente do aparelho do Governo para vice-chefe da Administração Presidencial, sendo substituído no primeiro cargo por Anton Vaino, que ocupou até agora o cargo de vice-chefe do aparelho do Governo.
Djakhan Pollieva passou do cargo de assessora do Presidente da Rússia para dirigente do aparelho da Duma Estatal da Rússia.
Na semana passada, Serguei Ivanov, ligado ao clã dos “siloviki” (representantes dos serviços secretos nas altas estruturas do poder russo) passou de vice-primeiro-ministro para chefe da Administração Presidencial.
Serguei Narichkin, outro “silovik”, deixou a chefia da Administração Presidencial e foi eleito dirigente da Duma Estatal (câmara baixa) do Parlamento Russo, reforçando as posições de Putin num órgão onde o seu partido Rússia Unida está pior representado devido ao desaire eleitoral.
Apenas uma pergunta: quem irá realizar e quando serão realizadas as medidas apresentadas por Dmitri Medvedev para modernizar o sistema político russo? Será Vladimir Putin que irá derrubar a “vertical do poder” criada por ele depois de chegar ao Kremlin em 2000?
Por enquanto, a situação na Rússia não faz prever uma “primeira eslava”, mas o desprezo manifestado pelo poder em relação à oposição e à sociedade pode sair caro ao Kremlin, a julgar pela história.
5 comentários:
O sr. José Milhazes não concorda com a dança das cadeiras, mas a vitória de Putin é iminente. Então eu acho aceitável os assessores políticos de Putin e Medvedev começarem á nomear as pessoas para o gabinete do governo, pois isso irá agilizar o processo á partir da eleição de Putin!
Digo isso, porque á partir da data em que Putin voltar á seu trono, já poderá governar, pois seu gabinete já está formado! Isso é inovação...
Boa análise, Milhazes! De fato, difícil acreditar que, no atual contexto político, mesmo em uma disputa honesta e transparente, o Sr. Putin pudesse ser ameaçado por qualquer um dos candidatos oposicionistas. A tragédia da Rússia reside exatamente no fato de que o regime dos "siloviki" ter impedido qualquer mecanismo de renovação da política russa que desse oportunidade para o surgimento de novas lideranças. As que figuram no cenário atual (Zyuganov, Jirinovsky) são coadjuvantes acomodados a esse papel. São os coadjuvantes úteis ao "teatro democrático" implementado por essa casta política subterrânea que governa a Rússia diretamente desde a derrocada do Governo Yeltsin. Pobre Rússia!
"implementado por essa casta política subterrânea que governa"
Os Estados Unidos também são governados por uma casta subterrânea, da qual o seu expoente mais famoso no século xx "Hoover", não se encontra mais vivo, mas a referida casta existe e persiste desde a famosa assinatura da declaração de independência, afinal é uma "democracia", na qual só podem existir "dois partidos". Porém é só continuar com a hipocrisia e seguir os ditames do "Tio Sam" o verdadeiro mandatário das "democracias" européias.
Agora só invertendo : Desde a derrocada da Rússia com o governo Ieltsin.
Wandard, já lhe disse que o que se faz nos EUA não justifica o que se faz noutros lados. Isso é o velho tique do "apanha que é ladrão!"
Sim, Sr. Milhazes, o Sr. disse mas esta é sua forma de enxergar, considerar ou opinar. Minha visão é diferente, e a história se faz não só pelo estudo, pesquisa, observação e acompanhamento dos fatos mas também pela comparação e não pelo isolacionismo destes em detrimento dos interêsses de uma parte ou o favorecimento de outras. Como me dizia minha avó, pau que dá em Chico dá em Francisco.
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