*** José Milhazes, para a Agência Lusa ***
Moscovo, 23 dez (Lusa) - O 20.º aniversário do fim da União Soviética voltou a reacender com novas forças as discussões sobre as causas da desintegração do maior país do mundo a 25 de dezembro de 1991.
Rádios, televisões e jornais prepararam e transmitiram reportagens especiais sobre esse acontecimento, procurando explicar as razões que levaram ao fim da URSS, o papel que tiveram no processo personalidades políticas como Mikhail Gorbatchov, primeiro e último Presidente da URSS, e Boris Ieltsin, primeiro Presidente da Rússia independente.
Os autores do documentário "URSS: a derrocada de um império", transmitido pelo canal NTV, atribuíram as culpas fundamentalmente a Gorbatchov, acusando-o de ceder posições ao Ocidente e de gerir mal os processos internos na URSS.
Embora o antigo Presidente soviético seja um dos principais intervenientes nos acontecimentos, não tem direito a responder às acusações que lhe são feitas. As críticas de Gorbatchov aos atuais dirigentes russos também não contribuem para o aumento das suas possibilidades de se defender.
O primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, continua a considerar a desintegração da União Soviética "a maior tragédia geopolítica do séc. XX", esquecendo-se, tal como a maioria da atual élite russa, que jamais chegaria tão longe na estrutura do poder se o império continuasse a existir.
O lamento pode parecer que o regresso ao passado é tido como alternativa ao atual regime existente na Rússia. Por exemplo, Guennadi Ziuganov, dirigente do Partido Comunista da Federação da Rússia, apresenta a política do ditador comunista José Estaline um exemplo a seguir no séc. XXI. Como se nada no mundo tivesse mudado.
Apresentar essa alternativa depois das mudanças operadas nos setores económico, social e político na Rússia, significa admitir mergulhar o país numa nova guerra civil, como aquela que ocorreu entre 1917 e 1922.
O líder comunista apresenta a aposta na modernização do complexo militar-industrial como uma das formas de a Rússia acompanhar o progresso e competir no campo internacional. Vladimir Putin e o Presidente russo, Dmitri Medvedev, também não parecem estar contra a demonstração de força militar, apresentando o país como uma fortaleza rodeada de inimigos.
Os opositores desta ideia sublinham que a corrida aos armamentos foi uma das principais causas da desintegração da União Soviética.
Tanto mais que a atual direção russa continua a cometer outro erro que já fora fatal para a URSS: a manutenção de uma economia baseada quase exclusivamente nos altos preços mundiais do petróleo e do gás. Isto é tanto mais grave se se tiver em conta que a maior parte da herança industrial e tecnológica soviética está praticamente esgotada.
Perante uma forte onda de descontentamento da classe média e da juventude, que não se veem representadas no atual sistema político, Medvedev apresentou, na quarta-feira, uma série de reformas para permitir e aumentar a participação dos cidadãos.
Resta saber se Medvedev não está a imitar Mikhail Gorbatchov, numa das suas facetas mais negativas, ou seja, na reação tardia aos desafios colocados pela sociedade. E se as promessas não passam disso, sendo apenas lançadas para travar a crescente contestação das mais diferentes oposições.
Lusa/fim
28 comentários:
Se a desintegração da União Soviética é "a maior tragédia geopolítica do séc. XX", então a desintegração do império ultramarino português é a “maior tragédia geopolítica do século XX em África”...
p.s.
pessoalmente, considero como a maior tragédia geopolítica do século XX é a subida do comunismo ao poder, pois comunismo contribuiu para o desenvolvimento do nazismo, etc.
No dia 25 de dezembro de 1991 chegava ao fim a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), acontecimento que anos mais tarde o ex-presidente e agora primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin, chamou de “a maior catástrofe geopolítica do século XX. Fruto de ações políticas e econômicas adotadas na década de 1980, o episódio citado viria a mudar completamente o frágil equilíbrio mundial existente desde o final da segunda grande guerra, alterando da bipolaridade e antagonismo entre as ideologias e interesses de duas superpotências, para a condição perigosa de existência de uma única superpotência reinante. Propagado pela mídia como a vitória inerente da democracia sobre a ditadura e opressão do regime comunista, as conseqüências desde acontecimento mostraria alguns anos mais tarde mais efeitos negativos do que positivos para a ordem mundial e por isto ganhou a projeção de uma catástrofe. Afinal, o firme equilíbrio que antes garantia limites políticos para a atuação dos Estados Unidos não mais existia. Analisar suas conseqüências sem um olhar ideológico é fundamental para a compreensão de fatos recentes.
O caos que se seguiu foi de proporções catastróficas. A queda no padrão de vida da população, o desaparecimento da hiper-estrutura estatal que supria as necessidades dos cidadãos, a decadência econômica, a perda sobre o controle das forças armadas e o fato de que a Rússia não mais era uma grande potência foi algo extremamente desmoralizante para a população daquele país, tido como herdeiro do Império Soviético. A crise econômica corroeu os pilares da sociedade e a levou ao abismo. Em menos de dez anos, a segunda maior economia do planeta havia desabado para a além da décima quinta posição. Aliado a isto, as forças armadas russas, outrora motivo de orgulho nacional, foram desmoralizadas, abandonadas e sucateadas. As derrotas contra os separatistas chechenos no conflito que durou de 1994 a 1996 agravaram a situação. O estilo de gestão de Boris Yeltsin (1991-1999) possibilitou um aprofundamento da crise, já que este, demonstrando extrema falta de capacidade para governar uma nação, solapou a moral do povo e da própria Rússia, ridicularizou a imagem do país e o levou a um cenário de instabilidade econômica e política, além de submeter os interesses da Federação Russa (FR) aos interesses externos.
A aproximação do fim desta trágica década para o povo russo viu surgir no cenário político um ex-agente do antigo Comitê de Segurança do Estado (Комитeт госудaственной безопaсности, КГБ, ou KGB): Vladimir Putin. A vitória na segunda intervenção na Chechênia, em 1999, permitiu ao então primeiro-ministro Putin ascender ao cargo de presidente. Putin, durante seu governo, conseguiu recuperar não apenas a economia e o padrão de vida da população, mas também o orgulho nacional. Este foi o primeiro passo para a recuperação russa. Depois de quase uma década imerso em um profundo sono repleto de pesadelos, o urso agora dormia tranquilamente.
Após os trágicos eventos de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos da América (EUA), sob o argumento que pregava a necessidade de uma guerra global contra o terrorismo, há uma aproximação entre Moscou e Washington. Enquanto isto há uma recuperação econômica na Rússia, possibilitando a gradual estabilização e posterior recuperação do seu padrão social, econômico e moral. Com o advento da guerra no Iraque, em 2003, há uma clara oposição ao início da beligerância, apresentada principalmente por alemães, chineses, franceses e russos. É possível afirmar que este foi o marco inicial da retomada de firmes posições antagônicas entre a Rússia e os EUA.
O movimento de recuperação russo se tornou mais evidente no último ano do governo Putin, quando foi preparada a transição de poder para Dmitri Medvedev, aliado do ex-presidente. Merece destaque neste período a retomada dos vôos da aviação estratégica da força aérea daquele país e a retirada deste do Tratado de Forças Convencionais da Europa (FCE), que limita a quantidade de equipamentos militares que podem ser permanentemente desdobrados em solo europeu, o que inclui a Rússia ocidental. Com a declaração de independência de Kosovo, província sérvia, em fevereiro de 2008, mesmo sob fortes críticas de Moscou, estava aberta a porta que permitiria o definitivo retorno de Moscou a arena global. A invasão da Ossétia do Sul, república separatista georgiana apoiada pelos russos, por forças de Tblisi em 08 de agosto do mesmo ano e a conseqüente contra-ofensiva russa foram os marcos definitivos do ressurgimento da Rússia e da retomada de firmes posições antagônicas entre esta e o Ocidente, em especial os EUA. O urso, enfim, despertava de seu sono de mais de uma década e meia. Muito foi dito a respeito de um ressurgimento da Guerra Fria. Outros, entretanto, afirmavam a impossibilidade do mesmo devido às características únicas do embate ideológico que marcou o período de 1945 a 1991. De fato, o retorno da Guerra Fria propriamente dita é extremamente improvável. Entretanto, a retomada de um estado contínuo de beligerância entre Moscou e o Ocidente é perfeitamente possível, bastando para isto apenas a adoção de medidas inflexíveis por ambas as partes, o que, com a chegada de Barack Obama a Casa Branca tornou-se menos provável. Para muitos ficou a seguinte pergunta: o que é a nova Rússia?
Com a recuperação econômica, a Rússia obteve as ferramentas necessárias para a completa reestruturação da honra nacional e de parte da influência que era exercida pela então União Soviética na época da chamada Guerra Fria (1945-1989). O meio mais efetivo e rápido de demonstrar recuperação foi a adoção de uma política externa que alguns apontam como agressiva, embora o mais adequado seja chamá-la de condizente, se levados em conta os interesses russos. Com a recuperação da sua máquina militar, Moscou acredita poder reconquistar ao menos parte da influência soviética.
"Moscovo procura também não perder zonas de influência estratégicas como a Ásia Central e a Transcaucásia. Receando a continuação da presença dos Estados Unidos na região depois da retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão em 2014, o Kremlin tenta não permitir a criação de novas bases militares e fechar a já criada por Washington no Quirguistão."
Posicionamento correto. A base do Quirguistão já está com seus dias contados. A presença da Otan na Ásia Central já passa a ser um sonho distante, oas americanos sabem disso e vêm tentando com seus aliados europeus constantemente desestabilizar o governo da Rússia. Não vão conseguir e preparem-se para os próximos anos.
Parabéns ao povo russo pelo seu hino:
Rossiya -- svyashchennaya nasha derzhava,
Rossiya -- lyubimaya nasha strana.
Moguchaya volya, velikaya slava --
Tvoyo dostoyanye na vse vremena!
Chorus:
Slav'sya, Otechestvo nashe svobodnoye,
Bratskikh narodov soyuz vekovoy,
Predkami dannaya mudrost' narodnaya!
Slav'sya, strana! My gordimsya toboy!
Ot yuzhnykh morey do polyarnogo kraya
Raskinulis' nashi lesa i polya.
Odna ty na svete! Odna ty takaya --
Khranimaya Bogom rodnaya zemlya!
Chorus
Shirokiy prostor dlya mechty i dlya zhizni.
Gryadushchiye nam otkryvayut goda.
Nam silu dayot nasha vernost' Otchizne.
Tak bylo, tak yest' i tak budet vsegda!
Excelente!
Não é o próprio artigo, mas sim o comentário do Wandard.
A Rússia não tem uma única conquista, nem nada do que se orgulhar nesses 25 anos(e não 20) do fim do chamado socialismo real.
É o país dos oligarcas e da claptocria.
"Ahh, mas fez um acordo com a Quirguisia e com o Cudumundistão".
Piada.
O máximo que o país aspira com a nomeklatura cleptocrata que aí está é se vender um pouquinho mais caro para o Ocidente(que os "liberais").
Da indústria ao social, a Rússia sí piorou, e continuará a piorar, a não ser que haja mudança significativa de rumos.
Simplesmente porque as riquezas do país vão para a lista russa da Forbes.
É simples.
Não tem muito trololó nem blá blá blá.
Caro Wandard, eu seu texto ou textos seguem uma lógica de clara propaganda. Até parece tudo bem, mas, dizendo a, você acaba por não dizer b.
Até vou aceitar a sua análise como certa, mas gostaria que não se esquecesse de alguns pormenores muito importantes.
Não querendo defender Boris Ieltsin, apenas gostaria de lembrar que a sua passagem pelo poder coincidiu com um preço muito baixo dos hidrocarbonetos nos mercados mundiais. Quando Putin chega ao poder, os preços começaram a subir e hoje estão acima de 100 dólares por barril. Como a Rússia, tal como a URSS, é "petrodependente", já pode tirar alguma conclusão.
Quanto à recuperação das forças armadas, do prestígio e orgulho nacional, etc., etc.,você volta a ser tendencioso e a embarcar na pura propaganda. Olhe, por exemplo, para os foguetões que caíram no ano corrente!
Putin está a cometer o mesmo erro que cometeu Brejnev: não aproveitar o dinheiro vindo do petróleo e gás para a modernização das infraestruturas do país. Olhe para o que se passa nos outros paises BRICS, onde o desenvolvimento científico é mais do que visível, o que não acontece na Rússia.
O chefe da Roscosmos (sublinho que não sou eu a afirmar) disse que na Agência Espacial Russa trabalham jovens com menos de 30 anos e velhos com mais de 60, daí os problemas na área espacial. Por este andar, a Rússia deixará de pertencer aos BRICS dentro de 10-15 anos.
Você, talvez propositadamente, esqueceu-me da chaga da corrupção. Acredita mesmo que é possível aumentar o orgulho nacional e o prestígio internacional estando no 134º da tabela internacional da corrupção ao lado de países como a Costa do Marfim? Não brinque com pessoas inteligentes.
E deixe de comparar a Rússia a um urso, está fazer um belo favor aos inimigos desse país. A Rússia é um país europeu, com uma população culta e preparada, que o pode transformar num dos grandes centros de influência no globo, mas para isso é necessário que o poder não queira fazer dos russos um rebanho de carneiros, mas veja neles cidadãos.
Antes de abandonar o cargo, Medvedev promete anular toda uma série de medidas, tomadas por Putin, com vista a reforçar o seu poder: devolver a eleição direta dos governadores, facilitar o registo de partidos políticos, etc.
Não haja isto estranho?
Mas Medvedev promete tudo isso para 2013 e, sendo assim, os russos terão de aguentar com este parlamento até 2016 e com o presidente a eleger em Março até 2018. Se for Putin, receio que não haja paciência para o aturar tanto tempo, a não ser que ele realiza na prática muitas das promessas que não cumpre: modernização das infraestruturas, liberalização do sistema político a todos os níveis, combate sério à corrupção.
E que não se meta em corridas aos armamentos, porque pode levar a Rússia ao mesmo lugar onde foi levada a URSS.
Apenas lhe deixo mais uma pergunta: você sabe que na Rússia não existem autoestradas? Depreendo que seja brasileiro e, pelo que sei, o Brasil tem autoestradas. A lista pode ser continuada. Um abraço.
...Quando Putin chega ao poder, os preços começaram a subir...
Meu caro, qual foi a média dos preços no primeiro mandato de Putin?
Olhe, por exemplo, para os foguetões que caíram no ano corrente!
Vamos ver por outra perspectiva. Você disse aqui no passado (2009) que o Bulava era um falhanço, tal como o GLONASS.
Nessa altura ambos os programas tinham os seus problemas. E você referia como exemplos da falta/perda da capacidade da Rússia.
O último lançamento do Bulava em 2009, foi um fracasso. Nessa altura de um total de 12 testes, 7 falharam, o que dava uma taxa de insucesso superior a 50%. O que era mau e isso foi usado amplamente por quem queria demonstrar a perda de capacidades da Rússia.
Só que desde esse último falhanço em 2009, todos os lançamentos seguintes foram efectuados com sucesso e já foram lançados mais 7, 6 dos quais este ano.
Se em 2009, os problemas do Bulava representavam o estado da Rússia, hoje, que aparentam ter resolvido os problemas do míssil representa o quê? que o estado da Rússia se agravou de tal maneira que só conseguem resolver os problemas por mero acaso?
Isto é obra de quem? de engenheiros com diplomas falsos?
...Olhe para o que se passa nos outros paises BRICS, onde o desenvolvimento científico é mais do que visível, o que não acontece na Rússia...
Sabe qual dos BRICS participa no avião civil mais moderno do mundo?
...O chefe da Roscosmos (sublinho que não sou eu a afirmar) disse que na Agência Espacial Russa trabalham jovens com menos de 30 anos e velhos com mais de 60, daí os problemas na área espacial...
É estranho ele ter aberto a boca para falar, e não a abriu, para agir. Se ele acha isso, porque é que permite sequer os lançamentos? Devia falar menos e agir mais. Por muito menos correram com o anterior e de forma muito ingrata na minha opinião. Uma das asneiras de Medvedev, essa de correr com o Perminov.
Quanto á corrupção, esse é realmente um problema. e será por muito tempo.
Sr. Milhazes bom dia,
Na verdade trata-se de um artigo bem extenso que possui uma análise profunda da Rússia desde o fim da União Soviética até o período atual, como costuma acontecer a todos os correios eletrônicos(e-mail) que envio para o senhor nunca serem recebidos ou encontrados, pois os envio para o endereço que consta no blog, imaginei que ocorreria do condensado deste trabalho nunca ser publicado, desta forma enviei somente algumas partes separadas para não ultrapassar o limite de caracteres permitido a cada comentário.
Primeiramente a sua "colocação" quanto à Russia deixar de fazer parte dos BRICS nos próximos 10-15 anos, contrasta com todas as estatísticas e análises econômicas e financeiras existentes, sendo que algumas como a da IMF apontam a Rússia como 5ª economia do mundo em 2020, mas não vou ficar aqui discutindo índices e muito menos exemplificando fontes como costuma ocorrer este não é o meu trabalho e muito menos o motivo de tecer comentários neste espaço, primeiro que minhas fontes de pesquisas são diretas e não baseadas nas opiniões de outrem.
Sou brasileiro sim, com duas descendências diretas européias uma delas com cidadania. O Brasil, sim, tem autoestradas (rodovias) extemamente mal conservadas, cheias de remendos horríveis, bastante vagabundos e pontilhadas de buracos(tudo para a constante recuperação e lucro das empreiteiras), várias destas rodovias foram entregues recentemente á iniciativa privada (pedágios), para que passem a ter manutenção, pois o nosso governo não tem recursos para isso, afinal, o dinheiro não tem como sobrar depois que passa para todos os bolsos alheios, termina faltando para a educação, segurança, saúde, infraestrutura e defesa. E claro, primeiro as rodovias foram consertadas com dinheiro público e depois entregues à iniciativa privada, como tudo ocorre por aqui. Manifestações do povo não ocorreram porque não existe oposição, e manifestações como a da Rússia e em outros países ocorrem através da manipulação dos políticos que não estão fazendo parte da divisão do bolo e se utilizam de elementos infiltrados, por vezes os estudantes que possuem objetivo e habilidade política, viram presidentes das associações estudantis, comunitárias, depois vereadores, deputados...... E após estarem com seu emprego e mordomias garantidas votam os aumentos dos impostos, o fator previdenciário, os pedágios...... Para o povo não se ligar, tem educação de baixo nível, bolsa família, tem carnaval, tem futebol, cerveja e pagode.
O Brasil passou por uma liberalização do sistema político, emancipação de cidades.... O que significou a criação exarcebada de partidos políticos e o aumento indescritível da corrupção e gastos do governo para sustentar esta nababesca estrutura e um enorme volume de municípios que não possuem renda e vivem as expensas do erário público, ou melhor da onerosa carga de impostos que o Brasileiro paga, ganhando tres vezes menos que um americano e pagando pelo mesmo produto que estes pagam 3, 4, 5 vezes mais. Pagamos mais caro no Brasil por produtos similares vendidos na Argentina e no Chile por exemplo e não temos nada de retorno, não temos segurança, educação nem saúde, o básico.
Quanto à Rússia, os governos Gorbatchev e Ieltsin, foram tão desastrosos quanto o de Brejnev nunca fui a favor do regime soviético, nunca fui simpatizante de regimes comunistas, não possuo ideologia política e muito menos nunca fui iludido com o que ocorria por trás da cortina de ferro, mas jovens como o senhor foram adeptos no passado como diz a expressão portuguesa do "ideário comunista", conheço alguns que assim como o senhor foram para a URSS, lá se formaram e depois se desiludiram com o regime.
Quanto à Medvedev, ele tem suas ambições políticas, porém ele não tem a força nem o apoio necessário para andar pelas próprias pernas, não teria o apoio de Sergei Ivanov por exemplo e o Sr. até mais do que eu deve saber o poder que esta figura do governo russo possui, por fim o Medvedev não possui mais poder que Putin e isto é ponto pacífico.
O comparativo da Rússia à um urso não é depreciativo e sim representativo, assim como me refiro à "águia careca". O povo russo é sim culto, preparado e muito mais politizado que o povo brasileiro, conheço-os muito bem pois lá tenho muitos amigos, e é por conhecê-los muito bem que contesto vossas opiniões. O Senhor tratou a Rússia como um país europeu, é interessante ouvir isso de um europeu, apesar de já ter lido testemunhos referente á isso no seu blog de outros portugueses, mas cresci convivendo com estrangeiros, sendo a maior parte de europeus e era muito evidente da parte destes sempre excluírem a Rússia como parte da Europa, e não obstante isso continuo vendo atualmente esta exclusão ocorrer por parte dos vossos líderes europeus, que seguem cegamente a cartilha dos Estados Unidos, ou o Sr. como pessoa culta e inteligente que é, também corrobora no sentido do escudo antimíssil ser para proteger a Europa de ataques da Coréia do Norte e Irã?
Tenho plena consciência, que a Rússia precisa se modernizar e melhorar vários de seus índices. Vencer a corrupção e obter melhoria de vida para a população, mas sinceramente não desejo que a Rússia se torne um fiasco como o meu país, que não possui sequer uma marca de automóvel e muito menos uma indústria militar ou espacial própria, o um único Prêmio Nóbel que pode se dizer que este país poderia ter é um filho de britânicos nascido em Petrópolis em 1915, Nóbel em Medicina em 1960, que teve o direito de sua cidadania recusada pelo Presidente Salgado Filho, porque não retornou para cumprir o serviço militar, tornou-se cidadão britânico (Peter Brian Medawar).
A boa vontade externa e o liberalismo no sentido de "ajudar", "modernizar" e "democratizar" a Rússia foram bem latentes nos anos 1990. Entre um gole e outro o Sr. Ieltsin vendeu o país, cedendo a tudo o que a Águia Careca e seus aliados determinavam e o resultado todos sabemos.
Abraço,
Caro PM, pior que o cego é aquele que não quer ver. Espero que os dirigentes russos tenham o discernimento para compreender isso. As últimas nomeações como a de Dmitri Rogozin para dirigir o complexo militar-industrial deve-se a quê?
Se considera o SuperJet o avião civil mais moderno, ele teve ontem problemas quando ia levantar voo de Minsk para Moscovo. E não se esqueça que cerca de 70% dos componentes desse aparelho são de fabrico francês e alemão. Olhe que por este andar a Rússia transforma-se numa linha de montagem das multinacionais para preencher o seu próprio mercado.
...Caro PM, pior que o cego é aquele que não quer ver...
Plenamente de acordo meu caro, a sua resposta é exactamente o reflexo disso. O que você diz do SuperJet por exemplo, é errado muito errado.
Pelo facto de você saber que existiu ontem um problema com o superjet, já indica para que lado pende a sua opinião.
Não há avião não que tenha problemas, e por dia existem muitos incidentes com qualquer tipo/modelo de avião.
Se quer realmente VER as coisas tal como são na realidade, que tal ir ver os registos de operacionalidade do superjet e níveis de consumo por exemplo? já existem, afinal ele já anda aí a voar.
E volto a dizer uma vez mais, o avião é RUSSO. Mas é como diz, quem não quer ver...
Quanto ao avião mais moderno do mundo é o Boeing 787 eu não estava a falar do SuperJet, o SuperJet é um pequeno avião que tem como missão principal abrir o mercado aos novos aviões russos que aí vêm...
Relativamente ao 787, vou colocar aqui algumas partes de uma entrevista que saiu este mês ao chefe da Boeing na Rússia, Sergei Kravchenko:
...Today he is in charge of more than 2,000 scientists, programmers and engineers — Boeing's largest operation outside the United States. He is proud to say Russian engineers played a crucial role in developing some of Boeing's biggest projects, including the 787 Dreamliner — some components of which are only made at the company's plant in the Urals...
...When I started, the office was many orders of magnitude smaller, and a huge number of our employees working here were Americans. Not anymore. And we have people who are fully integrated, fully trained, local employees in executive positions. The same is true for the engineering, technology, finance, sales and airline support managers and directors. So in 20 years we have been able to create a local Boeing and this is the key to our success in Russia...
...People stay in Russia; they continue to be employed by Russian institutes or engineering services companies; they pay taxes in Russia. Our projects supported universities and helped to maintain the Russian educational tradition in aerospace. Experts working for us are still Russian citizens, they don't emigrate, they enjoy working on really big technology challenges, and in doing this they develop new knowledge, which they can apply to Russian programs as well...
...We would certainly never have thought in the early 1990s that there could be thousands of Russian scientists, engineers, and software programmers working for us and developing the most advanced American commercial airplanes....
http://www.themoscowtimes.com/mobile/article/qa-boeing-chief-rejects-cold-war-mentality/449993.html
Recomendo a leitura integral da entrevista. Para quem ache que é possível existir coisas positivas na Rússia.
Quem fôr pior que os cegos, não se dê ao trabalho.
...Por este andar, a Rússia deixará de pertencer aos BRICS dentro de 10-15 anos...
Meu caro, todos os anos ouço algo parecido, os anos passam e a coisa teima em não ser como os prognósticos de alguns...
Olhe por exemplo o que se diz hoje:
Brasil é já a sexta maior economia do mundo, à frente da Inglaterra
O Brasil deve ultrapassar a Grã-Bretanha e tornar-se a sexta maior economia do mundo no final de 2011, segundo projecções do Centro de Pesquisa Económica e de Negócios, avança a BBC.
A queda da Grã-Bretanha no ranking das maiores economias vai continuar nos próximos anos, com a Rússia e a Índia a empurrar o país para a oitava posição, escreve a BBC com base no relatório...
http://sol.sapo.pt/inicio/Economia/Interior.aspx?content_id=37180
Caro PM, estamos de acordo. Os cientistas russos trabalham para a Boeing, o que é um excelente sinal, mas a aviação civil russa está a desaparecer. A Rússia está a desindustrializar-se.
...mas a aviação civil russa está a desaparecer...
não não e não meu caro.
Está a aviação civil russa hoje pior do que em 2000? não.
Está a aviação civil russa hoje pior do que em 1990? não.
A aviação civil russa está numa curva ascendente e enquanto o governo continuar a investir na sua indústria ela dentro duns anos dará os seus frutos.
E neste contexto continuo a dizer que o papel do SuperJet é crucial para a indústria russa. pesa sobre ele a responsabilidade de que os russos podem fabricar um avião competitivo.
Aproveito para corrigir o link da entrevista que forneci, este é o mais correcto:
http://www.themoscowtimes.com/business/article/qa-boeing-chief-rejects-cold-war-mentality/449993.html
Milhazes está absolutamente correto em tudo que escreveu aqui.
Só nominou fatos.
"Está a aviação civil russa hoje pior do que em 2000? não."
Sim, está.
A indústria automobilística idem.
Indústria naval, idem.
"Está a aviação civil russa hoje pior do que em 2000? não."
Sim, está.
E está porque...?
Caros PM e Gilberto, nesta discussão há um pormenor muito curioso: as pessoas que vivem na Rússia têm uma opinião muito mais pessimista (ou mais realista?) do que a dos que olham para a realidade russa a partir de outros lugares.
Caro JM,
Você não pode falar por todas as pessoas que vivem na Rússia...
Da mesma maneira que não pode fazer o mesmo por todas as que não vivem aí...
E atenção que os aspectos positivos que foco, não os invento eles estão ai, para quem os quiser ver.
Caro PM, peço desculpa se me exprimi mal, mas tinha em vista os leitores deste meu blog.
ah, realmente não tinha percebido isso.
Mas olhe que havia um frequentador do seu blog, o russo anónimo, que a meu ver vivia na Rússia e não partilhava a visão negativa que muitos têm por aqui.
"Milhazes está absolutamente correto em tudo que escreveu aqui.
Só nominou fatos"
"Descobri agora uma nova onipotência além de Deus."
"Caros PM e Gilberto, nesta discussão há um pormenor muito curioso: as pessoas que vivem na Rússia têm uma opinião muito mais pessimista (ou mais realista?) do que a dos que olham para a realidade russa a partir de outros lugares"
Os amigos que tenho, russos e estrangeiros que aí vivem, possuem opiniões completamente diferentes dos residentes estrangeiros que frequentam este blog, que interessante.
Wandard, são opiniões, eu não obrigo ninguém a aceitar a minha opinião. Se calhar. o mal é dos amigos que se escolhe.
Neste ponto não escolhi os que querem o mal para a Rússia.
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