Recebi de um amigo russo que vive em Portugal a seguinte missiva: "O 70º aniversário de carreira – é, de facto, um acontecimento notável e feliz, ainda por cima quando se chega a ele de boa saúde, cheio de energia. E é de felicitar a grande actriz Eunice Muñoz, que aparece no cartaz do espectáculo no Centro Dramático de Oeiras, junto com a Maria José Pascoal.
O que não encaixa neste ambiente festivo, é o nome da peça. Ainda por cima, comédia (!!!???) de José Sanchis Sinisterra, como eu soube há pouco – O Cerco a Leningrado. Não discuto a qualidade da peça, nem da encenação, não é minimamente de meu interesse. Talvez até seja um espectáculo maravilhoso!
O autor é livre a escolher o nome para a sua peça, e o teatro é livre de levar à cena seja o que entender. Mas o título de ser tão insensível, carregado de tanto cinismo, acompanhado de duas caras sorridentes e felizes no cartaz!..
Admito que pouco se sabe em Portugal sobre este desastre humanitário de escala nunca antes vista na História da Humanidade, o cerco mais longo (872 dias), que custou a vida a cerca de um milhão e quinhentos mil habitantes, 3 vezes mais do que a população actual da cidade de Lisboa! É desnecessário descrever os pormenores desta catástrofe, quem quiser, pode informar-se sobre este episódio infeliz da histórica.
Para o Centro Dramático de Oeiras, bem como para o Sr. Sinisterra, deixo aqui as minhas sugestões para as futuras encenações cómicas, com os respectivos cartazes a produzir: Os Fornos de Auschwitz, Queda das Torres Gémeas, ou mesmo, O Crucifixo, ¿Y porque no?"
P.S. Da última vez que estive em Portugal, e como resido em Oeiras, dei conta desse cartaz e fiquei muito surpreendido com o contraste entre o rosto feliz das actrizes e o nome da peça "O Cerco a Leninegrado".
Como não vi a peça, pedia a algum dos meus leitores que a tenha visto de me resumir o conteúdo, pois não quero acreditar que se possa colocar uma comédia no Cerco de Leninegrado.
2 comentários:
O Cerco de Leninegrado conta a história de duas mulheres que há 20 anos vivem fechadas num antigo teatro agora ameaçado de demolição. O nome provém de uma peça de teatro escrita pelo marido de uma e amante de outra, que as duas mulheres querem levar à cena e com isso salvar o teatro da ruína. Portanto, é uma metáfora sobre a resistência.
http://www.maru-jasp.org/Doc/DosCerco.pdf
Caros leitores, o leitor José Mendes explicou a situação, que acho normal. Mas não retiro o post para que não fiquem dúvidas nas pessoas que fizeram a mesma pergunta. Aconselho também a consultar: http://www.maru-jasp.org/Doc/DosCerco.pdf
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