quinta-feira, março 01, 2012

À ESPERA DE SEGUNDA-FEIRA EM MOSCOVO


Tenho acompanhado na Rússia numerosas campanhas eleitorais, mas nunca vi uma tão injusta, desequilibrada e suja como a que termina amanhã. Os três principais canais de televisão russos não pouparam esforços para provar que não existe alternativa a Vladimir Putin. 
Este é o único candidato perfeito, sem pecado nem mácula, é omnipresente e omnipotente e, como se podia ler num cartaz em forma de coração: "Putin ama-nos a todos!". E Deus, desculpem, queria dizer, Putin, responde com a mesma moeda aos seus filhos. 
Uma idília quase perfeita não fosse a oposição vendida ao estrangeiro, os espiões, os norte-americanos, a maçonaria, o capitalismo e o imperialismo internacionais, Lénine e Trotsky, Gorbatchov e Ieltsine, que mais não fizeram ou fazem do que tentam destruir e oprimir a Rússia.
Passei a saber muita coisa nova e desconhecida. Por exemplo, segundo o canal de televisão NTV, a Revolução Democrática de Fevereiro de 1917 na Rússia, que derrubou o czar Nicolau II, foi a primeira "revolução laranja" no mundo, cuja experiência foi utilizada depois na Ucrânia em 2004, na Geórgia e nos países árabes, na Primavera passada! Claro que os autores do "documentário" não duvidam que todas essas revoluções foram dirigidas e financiadas a partir do estrangeiro!
Mas enganam-se aqueles que pensam fazer o mesmo agora na Rússia, insensatos! O país é dirigido por um grande dirigente que é o garante da estabilidade e da segurança. No discurso incendiário que Vladimir Putin pronunciou perante milhares de adeptos no Estado Olímpico de Moscovo, ele foi buscar os exemplos das guerras da Rússia contra Napoleão e Hitler para mostrar que só ele pode resistir ao invasor. Fica-se com a impressão de que, se a guerra entre a Rússia e outros países não começou, pode começar a qualquer momento.
E isto todos os dias, em proporções intragáveis. Os candidatos da oposição calcularam que mais de 70% do tempo de antena pertenceu a Putin, mas a Comissão Eleitoral da Rússia diz que está tudo legal.
A oposição russa afirma que, depois de uma campanha eleitoral assim, em que os cidadãos são ideologicamente violados, é difícil esperar um escrutínio limpo e transparente. Por isso, decidiu convocar manifestações de protesto para segunda-feira no centro de Moscovo.
Diz o povo português que "o futuro a Deus pertence", mas, neste caso, acho que dele pouco ou nada irá depender. nestas paragens Por isso, esperemos que o poder e a oposição não ultrapassem o risco fatal do confronto. Um sinal positivo consiste no facto de a oposição e o poder terem chegado a um acordo sobre o local dos protestos.
Mas, mesmo se tudo correr na maior das normalidades, o que eu sinceramente desejo, Putin começará um mandato de seis anos bastante fragilizado do ponto de vista político e social. A sociedade russa, ou melhor, parte dessa sociedade, acordou e já não vai em cantigas, está farta da corrupção, da arbitrariedade do poder, etc. 
E essa parte da sociedade recorda que Putin já se encontra no poder há 12 anos, tempo suficiente para fazer muito mais do que aquilo que foi feito.
Vamos ver...

1 comentário:

Wandard disse...

Sr Milhazes,

Existe alguma estatística que tenha sido obtida através de pesquisa por um instituto idôneo e imparcial, que mostre a tendência de quantos milhões de russos são seguidores aoposição.