Estava
eu aqui a organizar os meus arquivos e notas quando deparei com um artigo
escrito por mim e publicado jornal Público em 1988: “KGB aceitou solicitação de
Cunhal e preparou seguranças para o PCP”.
Este
artigo trouxe-me à memória as revelações recentemente feitas por Zita Seabra,
na SIC Notícias, sobre os sistemas de escutas instalados nos aparelhos de ar
condicionado da defunta FNAC, empresa ligada ao PCP e uma das fontes de
financiamento dessa força política.
As
reacções não se fizeram esperar e todos os argumentos foram bons para criticar
aquela senhora que teve coragem de mudar radicalmente de ideias políticas.
Tendo
em conta os cargos ocupados por Zita Seabra na hierarquia do PCP, ela sabe do
que fala, mas para que os que acham que ela inventou esse episódio, deixo aqui
alguns documentos dos arquivos do Partido Comunista da União Soviética para que
meditem e tirem conclusões.
Em
Março de 1976, Álvaro Cunhal, então Secretário-Geral do PCP, foi a Moscovo
representar esse partido no XXV Congresso do PCUS e aproveitou a ocasião para
pedir aos dirigentes soviéticos apoio “na preparação de quatro camaradas em
questão de segurança dos edifícios do Partido Comunista (dois especialistas na
descoberta e liquidação de aparelhos de escuta e dois na descoberta e
neutralização de explosivos”.
Escusado
será dizer que o pedido foi prontamente satisfeito.
Em
Maio de 1980, Octávio Pato, em nome da direcção do PCP, fez “um pedido de
aquisição para o PCP de tecnologia especial de produção estrangeira com o
objectivo de garantir a segurança do partido”.
Coloca-se
a questão: os comunistas portugueses não confiavam nos aparelhos Made in USSR
ou tentavam esconder os autores da instalação de meios de escuta?
Seja
como for, a direcção do Partido Comunista da URSS satisfez mais um pedido do
PCP, concedeu cerca de três mil dólares americanos para o KGB (serviços
secretos soviéticos) adquirir esses meios no estrangeiro e entregá-los aos
comunistas portugueses.
3 comentários:
Olá. falou-se muito por aqui dessa senhora que, segundo a tua opinião "teve coragem". Conhecia-a pessoalmente e não partilho essa qualidade nessa senhora. Já na altura, na UEC, muitos criticavam o seu oportunismo. Não sou contra a mudança de ideias de ninguém, bem pelo contrário. Mas sobre os aparelhos, também se falou muito, até do intenso ruído que eles faziam e impossibilitavam qualquer escuta aceitável.
Em 1988, o jornal Público nem sequer existia.
Enviar um comentário