Chipre: Primeiro-ministro russo considerou imprevisível e inconsequente proposta da EU para solucionar problema de sistema bancário

O primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, considerou hoje “imprevisível” e “inconsequente” o esquema proposto pela União Europeia para resolver a crise no sistema bancário cipriota.

“Parece-nos que o esquema proposto para resolver os problemas financeiros provoca, suavemente falando, surpresa pela sua imprevisibilidade e inconsequência, já foi várias vezes sujeito à revisão”, declarou ele, numa conferência “Rússia-União Europeia: possibilidades e parceria”, que decorre em Moscovo.

Medvedev defendeu que o plano de saneamento do sistema bancário cipriota deve ser discutido por todas as partes interessadas, incluindo a Rússia.

“Penso que o posterior plano de normalização em torno do Chipre da União Europeia deverá ser analisado com a participação de todas as partes interessadas, incluindo estruturas russas”, acrescentou.

Antes, numa entrevista a órgãos de comunicação russos e estrangeiros, Medvedev ameaçou reduzir a participação do euro nas reservas russas se a gestão da crise financeira em Chipre lesar os interesses do seu país.

A perspetiva de um imposto excecional decretado pela União Europeia para os depósitos bancários em Chipre, constituídos em grande parte por fundos russos, “é uma razão para refletir” sobre o euro, declarou o primeiro-ministro russo numa entrevista concedida a meios de comunicação europeus e publicada hoje no portal do Governo de Moscovo.

“Se tal for possível em Chipre, porque não será possível em Espanha, Itália ou noutros países que sofrem problemas financeiros?”, questionou.

Medvedev salientou que “entre 41 % e 42 % das reservas [russas] são em euros e a proposta [europeia relativa a Chipre] não é somente imprevisível, mas inadequada”.

Na conferência Rússia-União Europeia, o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, deixou o caso delicado do Chipre para o fim do seu discurso.

No início, Durão Barroso esforçou-se que a Rússia foi e é parte integrante da Europa, defendendo a criação de um espaço comum entre Lisboa e Vladivostoque.

O presidente da Comissão Europeia enumerou toda uma série de poetas, músicos, escritores, pintores e bailarinos russos para provar que a Rússia faz parte integrante do Velho Continente: Pasternak, Tsvetaeva e Akhmatova, Dostoevski e Tolstoi, Mussorsgki e Chostakovitch, Nuriev, etc.

(Esta parte do discurso foi ouvida por Medvedev com um sorriso irónico nos lábios).

Ao terminar o seu discurso, Durão Barroso abordou a crise no sistema bancário cipriota, sublinhando que a União Europeia irá ter em conta as apreensões russas ao resolver esse problema.

“Eu conheço os interesses da Federação da Rússia neste campo e claro que nós, Comissão Europeia, realizamos consultas com a Federação Rússia há já algum tempo”, declarou.

Segundo Durão Barroso, era necessário tomar medidas para corrigir o sistema financeiro cipriota, “que está exageradamente inflacionado, é oito vezes superior ao PIB desse país”.

O presidente da Comissão Europeia reconheceu que a Rússia não foi avisada das medidas tomadas pela UE, porque a decisão foi tomada “muito cedo, no sábado de manhã”.

“A Rússia não foi informada sobre a decisão dos membros da Comissão Europeia sobre o Chipre, mas disso também não sabia a comunidade europeia”, justificou.

“O encontro terminou no Sábado de manhã, muito cedo. Foi tomada uma decisão de compromisso entre os países membros do Eurogrupo”, acrescentou.

Porém, Durão Barroso frisou que a UE está pronta a ouvir a Rússia, frisando que irá abordar o tema nos encontros com os dirigentes russos.