terça-feira, outubro 08, 2013

«Eichmann em Jerusalém» de Hannah Arendt

 

«Eichmann em Jerusalém – Uma reportagem sobre a banalidade do mal», de Hannah Arendt, acaba de chegar às salas de cinema portuguesas.





Hannah Arendt, um filme de Margarethe von Trotta, em exibição nos cinemas UCI e Medeia Monumental, baseia-se na história da investigadora de origem judia que acompanhou para o New Yorker o julgamento em Jerusalém do criminoso de guerra nazi Adolf Eichmann e que trouxe, de acordo com as palavras de António Araújo, na introdução da obra, «um novo idioma» ao discurso sobre o Holocausto.

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Hannah Arendt, um nome fundamental na filosofia política do século XX, judia, assiste ao famoso julgamento em Jerusalém do criminoso de guerra nazi Adolf Eichmann, capturado na Argentina depois da guerra. Arendt nasceu em Hannover, em 1906. Estudou teologia com Rudolf Bultmann, na universidade de Marburg, onde conheceu Martin Heidegger, personalidade marcante na sua trajectória intelectual. O mesmo sucederá com Karl Jaspers, que Arendt encontra em Heidelberg. Com a subida dos nazis ao poder, torna-se activista do movimento judaico. Após a invasão alemã de França, onde vive depois do seu casamento com Heinrich Blücher, é internada num campo de concentração no sul deste país. Consegue fugir e, no caminho para o exílio, passa por Lisboa e chega aos Estados Unidos. Em Nova Iorque, iniciará uma nova fase da sua vida, assinalada pela publicação de obras como The Origins of Totalitarianism (1951), The Human Condition (1958), Between Past and Future ou On Revolution (1968). Em 1960, depois de assistir ao julgamento de Eichmann, edita os artigos que escreveu em livro, que provocou um escândalo, agora publicado em português. Veio a falecer em Nova Iorque, em 1975.

“O julgamento iniciou-se a 11 de Abril de 1961 (…) desenrolou-se ao longo de quarto meses, com cerca de cento e quarenta e quarto sessões que terminaram em 14 de Agosto de 1961 (…) Adolf Eichmann foi julgado culpado de todas as acusações de que era alvo – e, em consequência, condenado à morte. Foi a primeira – e única – condenação à morte na história do Estado de Israel” (Introdução de António Araújo e Miguel Nogueira de Brito). Eichmann é enforcado na prisão de Ramleh a 31 de Maio de 1962.

“Eichmann em Jerusalém marca o início do esforço de Hannah Arendt em articular racionalmente o seu desejo de sujeitar ao juízo e ao direito dos homens os actos praticados pelos artífices e executantes da Solução Final (...) a substituição do “mal radical” pela “banalidade do mal” insere-se justamente nesse esforço (...) [Arendt] não procurou identificar um tipo representativo do criminoso nazi responsável pelo Holocausto (…) mas compreender filosoficamente um facto com que foi confrontada e sobretudo discorrer sobre as condições que devem verificar-se para que uma tragédia como o Holocausto não volte a repetir-se (…) em lugar de uma simples iteração do ódio,  a sua reflexão sobre o caso individual de Eichmann levou-a a interessar-se pelos contornos morais da participação das pessoas respeitáveis, daquelas que em outras circunstâncias seriam porventura normais, e se o continuassem a ser fariam talvez a diferença” (Introdução de António Araújo e Miguel Nogueira de Brito).

“Foi como se, naqueles derradeiros minutos, recapitulasse a lição que nos ensinou este longo estudo sobre a maldade humana – a lição de uma realidade terrível, que se situa além daquilo que as palavras podem exprimir e o pensamento pode conceber: a banalidade
do mal.” (in Eichmann em Jerusalém – Uma reportagem sobre a banalidade do mal, ed. Tenacitas, 2003).

Para Arendt, Eichamann “was not stupid […] it was sheer lack of discernment (…) that predisposed him to become one of the greatest criminals of that period.” Eichmann’s crimes were not the result of his stupidity or of his wickedness: they were, rather, a reflection of his insensitivity to evil (…) For her the “Eichmann case”, and all post-war “cases” pose one of the more complex moral issues of all time: the question of the nature and mechanisms of judgment. In fact, Nazism was such a radical new phenomenon that men did not have rules or codes to deal with it and, as such, they had to be guided solely by their own judgments (…) no rules existed for the unprecedented. The meticulous application of Eichmann in the detailed fulfillment of the bureaucratic rules might be a possible answer to the lawlessness that was introduced by the Holocaust. The bureaucratic zeal was the counterpart of the lack of critical judgment (…)
She acknowledges the impression caused by Eichmann’s empty personality: “The deeds were monstrous, but the doer - at least the very effective one now on trial -was quite ordinary, commonplace, and neither demonic nor monstrous. There was no sign in him of firm ideological convictions or of specific evil motives, and the only notable characteristic one could detect in his past behaviour […] was not stupidity but thoughtlessness (…) the “Eichmann case” was related, mainly, with the power of judgment, with the “ability to tell right from wrong, beautiful from ugly (…) In truth, what made the Holocaust so terribly unique was its ability to convert the “radical evil” in a reality accessible and achievable by men as ordinary as Adolf Eichmann. The “banality of evil” is not, contrary to what many critics said, a concept that relativizes the Holocaust and exonerates the authors and executors. It is, rather, the unsettling denouncing of the unlimited wickedness of ordinary men (…) essentially, the address to ordinary men, like all of us, is the definitive proof that the work of Hannah Arendt maintains an uncomfortable and disturbing freshness. Unfortunately.”

António Araújo, in
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