domingo, novembro 03, 2013

Bruxelas e Moscovo na luta pela Ucrânia


No fim de Novembro, se nada acontecer de extraordinário, a Ucrânia assinará um acordo de parceria com a União Europeia, que abre novas possibilidades de aproximação entre Kiev e Bruxelas.

Disse “se nada acontecer de extraordinário”, porque Moscovo está a fazer todos os possíveis para travar esse processo e não se pode excluir a possibilidade do Kremlin tirar “algum coelho da cartola” para fazer gorar essa iniciativa.

Na mesma reunião, a realizar em Vilnius, capital da Lituânia, a UE deverá também assinar acordos de parceria com a Geórgia e a Moldávia. Bruxelas tinha conseguido acordar um acordo semelhante com a Arménia, mas Moscovo obrigou os dirigentes arménios a darem marcha atrás. Bastou a ameaça de que a Rússia podia mudar a sua política em relação ao problema de Nagorno-Karabakh, enclave arménio no Azerbaijão, para fazer os arménios mudarem de ideias. Além disso, empresas russas controlam setores económicos vitais da Arménia como a energia elétrica e as tropas russas têm uma base militar nesse país da Transcaucásia.

Mas voltemos à Ucrânia. As pressões económicas e políticas russas sobre os ucranianos foram tão descaradas e brutas (deste a proibição de venda de chocolates ucranianos no mercado russo até às dificuldades criadas pelas autoridades alfandegárias russas aos produtos ucranianos na fronteira, sem esquecer a “cartada” do gás) que, como acontece frequentemente, tiveram o resultado contrário. Praticamente todas as forças políticas ucranianas, a começar nos liberais-laranja, passando pelo Partido das Regiões (que alguns analistas continuam a considerar erradamente um partido pró-Moscovo), e a acabar no partido nacionalista de extrema-direita “Liberdade” .

Apenas os comunistas ucranianos se manifestam contra a aproximação da Ucrânia e da Europa, posição bem recompensada por Moscovo.

No espaço post-soviético, Vladimir Putin continua a comportar-se como um elefante numa loja de porcelana, continuando a insistir nas ameaças e sanções económicas e outras para obrigar os países vizinhos a integrarem-se na União Aduaneira ou na União Económica Euroasiática. Mas, mesmo tendo em conta a profunda crise económica, política e social que atravessa a Europa, a UE continua a ser um modelo de integração mais atraente.

Mas a brutalidade da política externa do Kremlin face aos vizinhos não é a única razão para o afastamento dos vizinhos. Moscovo também pouco tem a propôr no campo económico, além de petróleo e gás. Ora, no caso da Ucrânia, este país tem feito todos os possíveis para se libertar da dependência energética em relação ao vizinho.

Mais, a própria economia russa está a entrar numa crise profunda com consequências imprevisíveis, o que não torna a Rússia ainda menos atraente para os vizinhos.

Por outro lado, seria importante que a UE tivesse ainda capacidade de responder às simpatias ainda nutridas por ela por países como a Ucrânia, Moldávia e Geórgia. Bruxelas deixou escapar oportunidades numa situação económica e política mais desafogada (basta recordar a “revolução-laranja” na Ucrânia em 2004)...

4 comentários:

Anónimo disse...

A Ucrânia será livre! A Ucrânia sempre quis ser livre. Pode perguntar a qualquer ucraniano da Galícia o que eles pensam da Rússia. Eles sentem ódio da Rússia. A Rússia é uma tirania para eles!

Ricardo disse...

Veremos se dessa vez a Ucrânia tem mais sorte, pois a tal revolução laranja foi tão desastrosa que seu líder nunca mais se recuperou do tombo. O mesmo vale para Geórgia, Saakashvili se tornou um cadáver político

Anónimo disse...

"Eles sentem ódio da Rússia. A Rússia é uma tirania para eles!"
Provavelmente você nunca ouviu falar da Crimeia onde seus habitantes apesar de ucranianos, falam russo, tem parlamento próprio pró-Rússia, assistem a TVs russas, recebem apoio financeiro de Moscou e se sentem mais russos que ucranianos.

Anónimo disse...

"Provavelmente você nunca ouviu falar da Crimeia onde seus habitantes apesar de ucranianos, falam russo, tem parlamento próprio pró-Rússia, assistem a TVs russas, recebem apoio financeiro de Moscou e se sentem mais russos que ucranianos."

Foi a própria Rússia que concedeu a Criméria a Ucrania, nao há nada de errado nisto.