Enquanto Moscovo continua
a jurar que nada tem a ver com a situação interna na Ucrânia, os
“homenzinhos verdinhos”, como são chamados entre os ucranianos
os soldados russos que ocupam a Crimeia, mas que o Kremlin diz ser
“forças de autodefesa”, vão tentando alargar a sua zona de
influência, ocupando novas posições e até minando zonas
fronteiriças com a Ucrânia.
Os novos dirigentes da
República Autónoma da Crimeia sentem-se com as costas tão quentes
que, na quinta-feira, expulsaram dessa península o
vice-secretário-geral da ONU, e, no sábado, correram a tiro com a
delegação da Organização para a Segurança e Cooperação na
Europa, que tentou entrar três vezes na Crimeia.
Claro que este desafio
ousado dos dirigentes separatistas só podia ter sido realizado com a
autorização e apoio das autoridades russas, o que torna ainda mais
grave essas situações.
Serguei Lavrov, ministro
dos Negócios Estrangeiros da Rússia, exige que a OSCE participe na
investigação dos atiradores que dispararam contra os manifestantes
em Kiev e que provocaram as desordens e o derrube do Presidente
Victor Ianukovitch, mas, pelos vistos, não quer que os observadores
dessa organização, de que a Rússia também faz parte, acompanhem a
situação na Crimeia e o referendo a realizar dentro em breve, no
dia 16 de Março.
Como já venho a escrever
há algum tempo, a OSCE só vai ser admitida na região depois da
realização do escrutínio, mas do lado da fronteira ucraniana, tal
como aconteceu na Geórgia em 2008, porque os seus observadores
deverão controlar os desacatos dos “nacionalistas”, “fascistas”,
etc. e não os “pacíficos” habitantes do novo estado
independente.
Os EUA e a UE continuam a
ameaçar a Rússia com sanções, mas continuo a não vislumbrar que
tipo de acções eles poderão fazer que obrigarão o Kremlin a
recuar. Por isso, receio que, depois da Crimeia, venha o Sul e o
Leste da Ucrânia.
Mas continuo a considerar
que, a médio e longo prazo, esta se trata de uma política externa
suicida para Vladimir Putin e o seu regime. Se este não contiver os
seus apetites territoriais, as partes ocidental e central da Ucrânia
poderão aderir à NATO e terá início uma forte corrida aos
armamentos.
Não se sabe também se o
“passeio turístico” das tropas russas na Crimeia continuará na
Ucrânia, ou as tropas de Moscovo terão de enfrentar a resistência
das forças armadas ucranianas, bem como de destacamentos armados.
Além disso, não
faltarão aqueles que irão tentar enfraquecer a Rússia a partir de
dentro, atiçando ideias autonomistas e independentistas em várias
regiões do país.
Duvido que Moscovo tenha
dinheiro para tapar todos os buracos que se irão formar no orçamento
e até que ponto os russos estarão dispostos a apertar o cinto.
4 comentários:
O desenvolvimento sobre a Crimeia esta a crescer de hora para hora John Kerry da um aviso serio a Russia ou a Russia para com escalada militar ou as portas da diplomacia fecham-se uma pergunta que gostaria de fazer será que EUA e UE e a NATO, estarão a apoderar um apoio concreto a Ucrânia, não estou a falar de enviar soldados para o terreno mas sim equipamento ocidental a Ucrânia?
1 - correctamente, os acessos à península estão a ser minados. Aliás, já deveriam estar! Se houver uma tentativa de invasão por parte do exército de Kiev, as coisas poderão correr mal;
2 - os delegados da OSCE foram convidados a entrar na Crimeia? É que se não foram, não tenho bem a certeza que o seu estatuto lhes dê automaticamente livre-trânsito, penso que não;
3 - Se a parte Oeste da Ucrânia aderir à NATO... mas não era isso mesmo que pretendiam os novos senhores de Kiev? A diferença entre o agora e o dantes é que, agora, se Kiev aderir à NATO, se calhar já o fará SEM o Leste e o Sul do país, e muito menos com a Crimeia!
4 - separatistas noutras regiões da Rússia: é possível, mas não basta querer-se a independência, é preciso ganha-la;
5 - dinheiro: mas conhece alguém que o tenha? A diferença é que a Rússia joga em casa. Sai mais barato.
Para verificarmos os valores democráticos europeus e as suas preocupações com a actuação russa na Ucrânia, deixo aqui mais um belo exemplo, numa altura em que se fala de sérias sanções:
France will not halt Russian warship sale despite Ukraine crisis
Despite France’s vocal diplomatic efforts on behalf of Ukraine, Paris still plans to supply Russia with two Mistral-class helicopter carriers to strengthen Moscow’s navy.
The “Vladivistok” helicopter carrier set sail at sunset from the French Atlantic port of Saint-Nazaire for a three-day sea trial. The 22,000-tonne warship is capable of deploying up to 450 soldiers, helicopters and tanks in amphibious assaults...
http://www.france24.com/en/20140306-french-built-warship-destined-russia-crimea-crisis-mistral-test-run/
O primeiro Mistral, já navega e está para entrega ESTE ano.
Só não deve ser entregue este ano, porque fica demasiado mal na fotografia...
Portanto numa altura em que se quer uma posição dura contra a Rússia, com sérias sanções, o que vemos? entrega de material militar desta dimensão e com um impacto gigantesco na capacidade de projectar força no seu quintal, não é suspensa pela França.
Ucrânia? Democracia?
Dinheiro...
Bom, já sabemos como são os franceses, sempre foi uma nação mais amigável para com a Rússia e portanto é natural que entre ucranianos e russos, a sua balança possa pender para os russos.
Mas isto é algo impensável com os ingleses. Estes sempre souberam o que contar vindo dos russos e vão obrigá-los a pagar pelo o que estão a fazer na Ucrânia, com duras sanções.
Ou não...?
UK seeking to ensure Russia sanctions do not harm City of London
Britain is drawing up plans to ensure that any EU action against Russia over Ukraine will exempt the City of London, according to a secret government document photographed in Downing Street.
As David Cameron said Britain and its EU partners would put pressure on Moscow after it assumed control of Crimea, a government document drawn up for a meeting of senior ministers said that "London's financial centre" should not be closed to Russians...
Democracia? Ucrânia?
Dinheiro...
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