quarta-feira, março 12, 2014

O jogo da morte



"por: Sergei Loiko, fotógrafo
tradução: Dmytro Yatsyuk, jornalista e blogueiro

Eles estavam sentados no campo de futebol, como os prisioneiros da guerra do filme do Aleksei German, cansados, condenados, traídos e abandonados...

Os soldados ucranianos que não chegaram a receber as ordens para atirar contra os homens verdes não identificados, armados até os dentes, que, sem disparar um único tiro, ocuparam o seu aeroporto militar.

Os vencedores russos olhavam com o desdém indiferente aos ucranianos vencidos através das miras de suas espingardas automáticas, das metralhadoras, dos lança-granadas e das espingardas de precisão.

Estava tudo muito quieto, triste e de alguma forma partindo o coração, até que um soldadinho trouxe de algures a rasgada bola de futebol amarela.

As caras dos prisioneiros se iluminaram. Eles saltaram e começaram passando a bola se dividir em equipas.

Aquele menino alegre, com uma cabeleira farta, que achou a bola, correu o mais próximo até o soldado russo com metralhadora e gritou: “Rapaziada, vamos jogar, a Rússia contra Ucrânia!”

“Para trás!” grunhiu o soldado mascarado, parecido simultaneamente com o guerreiro da Guerra das Estrelas do exército do Darth Vader e com a Tartaruga Ninja.

O menino parou, como se recebesse um murro no estômago, deixou cair por um segundo o seu sorriso sardento, mas de repente, recuperando o fôlego, balançou o cabelo avermelhado e novamente gritou alegremente: “Bem, nós, vós aplicaremos a derrota técnica!”

Por um segundinho, as nuvens sobre este funeral em massa de amizade fraterna quase desapareceram e o sol branco brilhou, apenas com um olhinho...

“Para trás, caralho!” gritou o soldado russo, e, de repente, todos nós, russos, ucranianos, buriatos, gregos, britânicos, japoneses, judeus e outros, que estavam em redor, ficamos no fundo da nossa comum ravina de Babi Yar, sobre a qual estava se elevar a figura sem rosto do soldado – libertador russo, vindo a terra ucraniana para lutar contra o fascismo.

Soldado baixou a arma, virou a cara. Nós saímos do buraco. Os ucranianos começaram o futebol. Os jornalistas, de bom grado, começaram filmar todo este movimento.

E apenas um, vivido e grisalho repórter, que estava sentado em cima de uma pilha de pneus velhos, que viu nesta vida mais guerra do que é mostrado no cinema, virou a cara e os seus ombros estremeceram..."

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