terça-feira, abril 01, 2014

Jornal russo compara JES a Bokassa


O diário russo "Kommersant" publicou no dia 01 de Novembro de 2006, aquando da visita de José Eduardo dos Santos a Moscovo, o seguinte texto. Aviso desde já que não acrescentei uma palavra ao que escreveu esse jornal.
“Ontem, o Presidente da Rússia (Vladimir Putin) encontrou-se com o seu homólogo angolano, José Eduardo dos Santos, e condecorou-o com a Ordem da Amizade, cerimónia que, segundo os analistas, esteve na origem da visita” – escreve Andrei Kolesnikov, jornalista do influente diário “Kommersant”.
Kolesnikov recorreu à ironia e sarcasmo para descrever a presença do dirigente angolano no Kremlin: “No início das conversações, o Presidente de Angola disse ao Presidente da Rússia: - Nós não viemos apenas pedir-vos ajuda. Ou seja, José Eduardo dos Santos tinha também outro objectivo. O facto é que o principal acontecimento deveria ser a entrega ao Presidente de culto de Angola a Ordem da Amizade. Segundo informações recolhidas pelo “Kommersant” foi decidido condecorar o Presidente de Angola depois de Vladimir Putin não ter visitado esse país durante o périplo por África em Setembro passado”.
Quanto à razão de Putin não ter parado em Luanda durante a viagem entre a África do Sul e Marrocos, o Kommersant escreve: “Avançaram-se numerosas versões. Mas eu considero que isso aconteceu, porque foi proposto a Vladimir Putin fazer uma vacina, sem a qual o voo para Angola e, depois, a viagem para um país mais ou menos desenvolvido, mesmo que a República da África do Sul, simplesmente não teria perspectivas de se realizar. Como se veio a saber, no caso do Presidente Putin, a proposta de que tinha de se vacinar também deu em beco sem saída”.
“Os angolanos – continua o diário russo – ficaram ofendidos por Putin não ter querido tomar a vacina e foi-lhes prometido uma visita do seu Presidente à Rússia para breve. Os que lhes fizeram esssa proposta estavam convencidos de que a viagem à Rússia é um bónus para qualquer estrangeiro”.
Segundo o “Kommersant”, “o Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, que governa o seu país desde 1978 e venceu a guerra pela sua independência, tencionava lutar pela honra do seu país neste caso. Ele exigiu que a sua visita fosse uma visita de Estado”.
“Os diplomatas russos – revela o jornal – sabendo que o Presidente de Angola não podia ter esperanças no mais alto nível da visita, que o dirigente desse país só pode conquistar com um comportamento exemplar ou pelo menos com a envergadura do Produto Interno Bruto do seu país, propôs aos angolanos um compromisso atractivo: a visita não seria de Estado, mas oficial, e Vladimir Putin, como compensação, condecoria Eduardo dos Santos com a Ordem da Amizade. Além disso, subentendia-se que o estatuto dessa ordem era mais ao menos igual ao da visita”.
O jornalista Andrei Kolesnikov constatou, nos corredores e salas do Kremlin que não foi fácil o diálogo entre os dirigentes russo e angolano: “Ao lado, junto à porta de um corredor que conduz a uma casa de banho, trocavam sussuros os assessores dos participantes das conversações, que, de tempos a tempos, entravam na sala: - Não há inimigos mais irreconciliáveis do que os antigos amigos...”
“Pensei precisamente nisso – continua Kolesnikov – ao ver as caras dos dois Presidentes quando entraram na Sala de Malaquite e se sentaram a uma distância de meio metro. Tratava-se de caras de pessoas não muito contentes com a vida. Elas simplesmente não olhavam um para o outro. Elas não trocaram uma só frase durante a meia hora em que foram assinados dez acordos”.
Kolesnikov ficou mais surpreendido ainda quando José Eduardo dos Santos afirmou que para ele era uma grande honra receber “dentro de alguns instantes a Ordem da Amizade”.
“Nunca ouvi dizer que uma pessoa agradeça a outra pela ordem que ainda não lhe foi dada” - comenta o jornalista.
“Quando os Presidentes da Rússia e Angola, finalmente, se levantaram, os membros das delegações e jornalistas fizeram o mesmo. Todos compreenderam que iam assistir a um acontecimento comparável à entrega da mais alta condecoração de Estado por Leonid Brejnev, Secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética, ao imperador da República Centro-Africana, Bokassa”.

7 comentários:

Anónimo disse...

Justino disse :

Diga o “Kommersant” o que quiser , mas convirá também dizer o seguinte:

Segundo o FMI, em 2012, Angola registou a maior taxa de crescimento do planeta.

Por seu turno, os analistas prevêm a continuação desse crescimento económico, no mínimo, por mais quinze anos, crescimento este seguramente superior ao da Federação da Rússia.

É, ao momento, um país muito atractivo para a emigração portuguesa, muitos deles a retornar.
Com efeito, no ano passado os portugueses a trabalhar em Angola enviaram para Portugal mais de 304 milhões de euros em remessas, um aumento de 12,4% em relação a 2012.

Além disto, Angola é um dos maiores investidores em Portugal.

Portugal só tem a ganhar com uma forte ligação com os países de língua portuguesa e, atrevo-me a dizer, que esta ligação linguística e afetiva de meio milénio pode valer mais que a comparativamente recente ligação que nos une a uma EU de eurocratas que pode estar em ruptura. Para dar só um exemplo, a Alemanha que recentemente tanto criticou as autoridades suíças sobre restrições imigratórias a cidadãos da UE, coincidência ou não, dá sinais claros no sentido de impedir o turismo social para a produção de bebés “made in Deutschland” ou “Wolksbabys” mas sem participação alguma ou certificado da engenharia alemã, abrangendo necessariamente turistas ou emigrantes portugueses, não vá haver uma invasão, a exemplo dos antepassados dos alemães que caíram sobre a Roma imperial.

Há muito, mas muito pior em África, onde Angola e a sua vizinha a sul são, felizmente paras nós, excepções.

Pippo disse...

"01 de Novembro de 2006"???

"Old news, no news" :)

Como é fácil de se constatar, e ao contrário do que o título sugere, o Kommersant não comparou o Zé dos Santos ao Bokassa. O que fez foi comparar a entrega desta condecoração à efectuada por Brejnev a Bokassa.
É "um bocadinho" distinto :)

José Corvo disse...

Compara José Eduardo dos Santos com Bokassa é um verdadeiro disparate e digam o que disserem José Eduardo dos Santos é um homem culto com um percurso escolar feito paulatinamente mas de forma regular no interior de Angola no seio da sociedade luandense de onde saiu e se formou em engenharia de petróleos na Universidade de Baku na ex-União Soviética e. Desde a primeira hora aderente e fundador do MPLA foi responsável também pela criação e segurança da juventude do MPLA. Soube resistir e manter-se fiel aos princípios da Independência e da soberania dos povos contra o colonialismo por muito que isso doesse à sociedade colonial e neo-liberal que se agigantavam contra os desígnios do povo angolano e da sua emancipação e libertação.

Unknown disse...

alguem que chame os bois pelos nomes. e dizer que JES subiu como credode ser "comunista".mas talvez venha de leituras apressadas e pouco cuidadas =corrupção tambem começa por c.

Alberto disse...

Portugal tem interesses importantes em Angola e deve manter com este país as melhores relações, mesmo que tenha de engolir alguns sapos. As coisas são como são.
Agora comentaristas de blogues passarem activamente à defesa de um dos regimes mais corruptos do mundo, uma verdadeira cleptocracia bem encarnada na famílias Santos, é bizarro, ou talvez não. Começo a pensar que devem ser os mesmos que defendem com todos os meios a Rússia imperial e corrupta do Putin. Só pode ser saudosismo. Tem de ser ...

Anónimo disse...

Justino disse:

Defender a manutenção de uma relação afectiva e linguística de meio milénio com Angola e o povo angolano, para além de todos os outros povos e países de língua portuguesa, ou seja, nunca perder uma vocação oceânica onde fomos pioneiros na história universal, é diferente de aprovar ou desaprovar os regimes que neles vigoram, os quais, acima de tudo, constituem problemas internos que, após a independência e na era da globalização e da internet, os próprios povos têm a maturidade de se autodeterminarem.

Se bem me lembro, Portugal e o Brasil, viveram sob ditaduras promovidas por golpes militares, durante uma boa parte do śeculo XX. Mesmo assim, as nações democráticas permitiram que Portugal fosse membro fundador da NATO e membro da OCDE, mais, não deixaram de investir e manter laços fortes com o nosso país, na altura uma das duas únicas ditaduras que permaneciam na Europa ocidental.

Digo mais, algumas das actuais democracias do hemisfério norte só o são nominalmente ou formalmente, havendo até um caso dentro da própria UE, a Hungria.

Terá Portugal de se arvorar de alguma autoridade moral ou qualquer que seja para dar lições de africanismo sob a égide de valores ocidentais a povos africanos que, ao contrário de Portugal, no caso de Angola, até são um exemplo de paz e crescimento económico notável em contraciclo com a economia mundial ?

A chamada "primavera árabe" do norte de África, e bem próxima da "civilização" Europeia, sob a batuta desta, já deu os frutos que todos podem constatar, mergulhando esta parte africana num inverno rigoroso.

Anónimo disse...

Nao ha noticias mais recentes,por exemplo do ano 2000?