A
Ucrânia afunda-se cada vez mais numa guerra civil provocada pelos
separatistas do Sul e Este do país, incentivados e apoiados pelo
Kremlin. O objectivo é bem claro: não permitir a realização de
eleições presidenciais em toda a Ucrânia e fragmentá-la, com
vista a criar estados-vassalos de Moscovo.
Manifestantes
pró-russos manifestaram-se, no último fim de semana, em Donetzk,
Lugansk e Kharkov e o objectivo final é o mesmo: a realização de
um referendo com vista à integração do leste e do sul da Ucrânia
na Rússia. Depois de terem ocupado antes vários edifícios
administrativos, os separatistas de Donetzk anunciaram a criação de
uma República Autónoma e a realização de um referendo para 11 de
Maio sobre a adesão dessa região à Federação da Rússia.
O
Presidente interino da Ucrânia, Alexandre Turtchinov, declarou que
teciona estabilizar a situação no Leste da Ucrânia e promete
medidas duras para travar o separatismo.
“Os
inimigos da Ucrânia tentam jogar a carta da Crimeia, mas não
permitiremos isso”, disse ele numa mensagem à nação, e
acrescentou: “foi criado um centro anti-crise contra os que pegaram
em armas, irão realizar-se medidas antiterroristas”.
Claro
que Moscovo, tal como fez no caso da Crimeia, faz de conta que nada
tem a ver com o conflito, mas vai-o atiçando de todas as formas. No
caso do Leste e do Sul da Ucrânia, o Kremlin até poderá não
enviar oficialmente tropas para essas regiões, mas certamente irão
surgir os “destacamentos de defesa popular” e “homenzinhos
vestidos de verde”, armados até aos dentes, mas sem distintivos
nas fardas. Muitos dos provocadores presentes nas manifestações
separatistas são pessoas vindas da Rússia.
Só
que o actual governo de Kiev não pode recuar mais, arriscando-se a
ser varrido por aqueles que exigem a tomada de medidas militares
duras para travar o avanço russo.
Neste
caso, não se pode excluir que as autoridades ucranianas recorram à
força militar para esmagar o que consideram um levantamento
separatista, pois a polícia local já mostrou não estar muito
disposta a realizar essa tarefa.
O
Kremlin irá protestar com toda a sua força e aumentar ainda mais a
histeria xenófoba no país, bem como apoiar com homens e armas o
separatismo (sob a capa da defesa do direito à autodeterminação),
mas, então, não se deve esquecer que Kiev tem o direito a fazer o
mesmo que as tropas russas fizeram na Chechénia (defender o direito
à integridade territorial). Se Moscovo se aproveita de alguns
precedentes, por exemplo, o do Kosovo, Kiev pode repetir o banho de
sangue “checheno” no Leste e Sul da Ucrânia para manter a sua
integridade territorial.
Vladimir
Putin e a actual elite russa parecem convencidos de que a actual
liderança ucraniana é incapaz de travar o processo de
“federalização” e de que, se não anexarem o Leste e Sul da
Ucrânia, podem, no mínimo, criar aí um ou vários estados
fantoches. Experiência não falta a Moscovo na Transdnístria,
Abkhásia e Osséia do Sul.
Recentemente,
Andranik Migraian, analista muito próximo do Kremlin deixou fugir a
verdade da boca ao pretender criticar aqueles que comparam Putin a
Hitler. Esse politólogo defendeu que, até 1938, Hitler até fez uma
política correcta ao “unir todos os alemães” e os males só
vieram depois. O dirigente do seu país justifica a sua política
externa com a “defesa dos russos” fora das fronteiras russas.
Depois de a terminar, poderá, talvez, ter outros apetites, mas não
fui eu que fiz a analogia e, por isso, fico-me por aqui.
Quanto
à UE e EUA, é tempo de começarem a pensar na forma como evitar a
desintegração da Ucrânia, não a deixar transformar numa espécie
de duas Alemanhas depois da segunda guerra mundial (1939-1945). Se o
permitir, Vladimir Putin irá mais longe, talvez até se engasgar por
não conseguir engolir todas as conquistas. É que o dinheiro russo
não dá para tudo.
17 comentários:
Boa tarde Drº José Milhazes
Gostaria de fazer uma pergunta, o Kermelin poderá mesmo intervir na Ucrania, já que o Putin reservou a opção de intrevir se as coisas ficarem destabilizadas, ou seja, a uma real hipostese de os dois paises entrarem em guerra?
...No caso do Leste e do Sul da Ucrânia, o Kremlin até poderá não enviar oficialmente tropas para essas regiões, mas certamente irão surgir os “destacamentos de defesa popular” e “homenzinhos vestidos de verde”, armados até aos dentes, mas sem distintivos nas fardas...
Não, foi possível fazer isso na Crimeia, mas não será possível usar o mesmo subterfugio nestas regiões.
Ou seja, a única hipótese de entrarem os russos nesta zona, é se os que tomaram o poder, usarem da força para acabar com o separatismo, como foi feito na Geórgia.
Só com uma guerra civil (e estamos à beira dela) é que os russos vão entrar e forçar a coisa. Para os russos intervirem, infelizmente terá que haver mortos. E será num contexto onde possivelmente veremos militares ucranianos contra militares ucranianos.
Porque falta ver o que vai acontecer nas bases ucranianas que estão nestas regiões. Ninguém garante que vão obedecer ao poder central, tal como a polícia.
E aqui temos um factor deveras perigoso, as novas forças preparadas à pressa, por quem está no poder e que são obviamente leais, pois partilham dos mesmos ideiais.
Se isto vai pela força, o mais certo é guerra civil e depois disto, os russos terão que intervir. E não vai ser nada bonito.
...Neste caso, não se pode excluir que as autoridades ucranianas recorram à força militar para esmagar o que consideram um levantamento separatista, pois a polícia local já mostrou não estar muito disposta a realizar essa tarefa...
Exacto. só que os que estão actualmente não representam o país e como tal não podem esmagar coisa nenhuma, os outros reclamam tal como eles o fizeram. Se eles mandam alguém e a coisa escalar para mortes, temos uma guerra civil.
Isto é um texto que apenas reflete o ódio do José Milhazes ao Kremlin e daqueles com os quais eu discordei mais de si.
Os ucranianos são os principais responsáveis pela fraguementação do seu Estado porque o seu Estado é um Estado falhado. Uma criação artificial.
Cumpts
Manuel Santos
Mais então estes "separatistas" não têm o mesmo direito que tiveram os herois de Kiev de se manifestarem ??!
"foi criado um centro anti-crise contra os que pegaram em armas, irão realizar-se medidas antiterroristas."
Isto é tão mais hipócrita quando foram os elementos do actual governo da Ucrânia - aos quais o JM, pelos vistos, confere legitimidade! - quem tomou o poder em Kiev pela rebelião e pela violência.
E quando o presidente deposto, mas legítimo, tentou debilmente usar a força para desalojar os rebeldes e anunciou "medidas antiterroristas", foi prontamente criticado pela "comunidade internacional"
Ou seja, a uns é permitido o uso da força e a ingerência nos assuntos internos dos Estados, a outros, tal está vedado e á motivo para críticas.
Como refere, e bem, o PM, caso as novas autoridades ucranianas - que representam apenas, repito, apenas, a sua facção étnica e política - resolvam usar a força para acabar com os tais "separatismos", é bem provável, sim, que a ucrânia caia na guerra civil, e aí ninguém poderá impedir a intervenção dos Estados vizinhos.
Quanto à comparação com a Chechénia, é exactamente o que se passará. E tal como na Chechénia e na Geórgia, "voluntários" ucranianos lutaram ao lado dos terroristas islamitas e guerrilheiros anti-russos, numa guerra civil ucraniana, "voluntários" russos lutarão ao lado dos separatistas russos (e garantidamente, muitos outros "voluntários", desde neo-nazis a contratados, lutarão ao lado dos "verdadeiros ucranianos").
E tudo isto por culpa de quem? Da Rússia? Não, meu caro. Dos "galegos" russófobos e do "Ocidente" que os apoiou na sua "revolta democrática".
Justino disse:
Sem dúvida alguma que não se pode comparar uma Crimeia que já detinha um estatuto de autonomia reforçado com regiões integradas territorialmente na Ucrânia sem aquele estatuto, como é o caso de Donetzk e outras regiões.
O que as torna similares é a preponderância da etnia e língua russas.
Ora, o novo poder imposto pela força em Kiev começou por retirar a língua russa como uma das línguas oficiais da Ucrânia. Se houve uma causa primeira, esta foi a deposição de um governo legítimo ainda por cima marcado por esta hostil e lamentável decisão.
Já dizia o universal Fernando Pessoa que “minha língua é minha pátria”.
Assim sendo, os russo falantes das regiões onde são preponderantes na Ucrânia têm tanto direito, ou mais ainda por estarem sobre o jugo de um poder que não elegeram, de reclamar por um referendo sobre a sua independência, integração noutro país ou maior autonomia, com têm os catalães ou escoceses.
Foi algo que, similarmente, o mundo inteiro aceitou como natural a quando da independência da Eslováquia, neste caso uma deliberação unilateral, a opção mais radical de todas, seguida de um acordo de dissolução.
Defender ou esperar que nada possam fazer senão aceitar o jugo de quem não elegeram e de quem lhes retirou a língua como língua oficial, ou seja, a submissa inércia do niilismo, não me parece nada óbvio, expectável ou até aceitável.
E, a menos que a Federação da Rússia tenha participado na deposição do governo legítimo, o que até agora não vi ninguém afirmar, não vislumbro o motivo porque possam ser considerados como provocadores ou causa primeira da nefasta situação na Ucrânia de que até eram grandes subsistentes a nível de recursos naturais e financeiros.
Estamos longe da guerra civil, caro José Milhazes. Finalmente começamos a ver alguns sinais de cedência por parte das novas autoridades de Kiev, nomeadamente no que diz respeito à salvaguarda dos direitos dos russófonos.
Até a intransigente Julinha Malvada (perdoe-se-me, a Dra. Yulia Tymochenko), numa viagem relâmpago a Donetsk para começar a bater o Sr. Petro Porochenko na campanha eleitoral que já está na estrada, defende que a antiga «Lei das Línguas» deve ser mantida, salvaguardando-se a língua russa como língua regional. Vamos ver se chega, pois os últimos pedidos era o russo como língua nacional ucraniana.
De igual modo a Sra. Tymochenko já defende a descentralização (eleição dos governadores e maior autonomia das regiões/oblasts) como forma de satisfazer as justas aspirações das populações. A Julinha sabe trabalhar!!! Ainda vai aparecer como a campeã dos direitos dos russófonos.
Estamos, pois, muito longe da guerra civil. A própria Rússia não lhe interessa, de momento, uma situação que leve ao agravar das sanções e que fazia perigar o delicado equilíbrio entre os «Siloviki», de um lado os políticos e do outro lado os oligarcas. Se os primeiros podem rir das sanções, os segundos já torcem o nariz (em casa já devem ter rasgado muitas fotos do Sr. Vladimir P.).
Para já mantém-se a alavanca da federalização, para acabarem todos por concordar numa ampla regionalização, com o russo como língua nacional.
Escrever que a Rússia quer levar a Ucrânia à guerra civil é uma afirmação deveras corajosa. Donde vem essa certeza?
Continuo sem perceber porque é que a guerra civil é "provocada pelos separatistas do Sul e Este do país".
Porque é que os nacionalistas "ucranianos" não dão aos ucranianos do Leste o estatuto autonómico como eles pretendem, ou mesmo a independência?
Será que uns têm o direito de mandar no todo?
E não me venham com a conversa do "na Rússia não há federalismo". Esse argumento é similar ao usado na URSS de que "nos EUA lincham os negros".
O título do seu artigo dispensa o resto do texto que não é senão um panfleto com levantamento de suspeitas favoráveis às suas "previsões" e um apêlo à intervenção estrangeira na Ucrânia: "Quanto à UE e EUA, é tempo de começarem a pensar na forma como evitar a desintegração da Ucrânia...".
Como cidadão está no seu direito de especular à vontade, mas isso retira-lhe credibilidade como jornalista.
O Sr. José Milhazes parece viver num outro planeta, tal a interpretação que faz dos factos.
Para o Sr. José Milhazes foi a Rússia que lançou a Ucrânia no caos, quando nós todos sabemos que quem fez isso foram os EUA e a UE ao apoiarem os extremistas do Oeste.
Para o Sr. José Milhazes a repressão policial em Kiev feita por um presidente eleito era repugnante, mas no Leste do pais feita por um governo não eleito de fantoches aos serviço dos americanos essa mesma repressão já é aceite.
Kiev até já tem milhares de mercenários americanos da Blackwater/Greystone no Leste do pais, o que demonstra bem a inépcia e a falta de poder que este pseudo-governo tem no pais, já não manda em nada e tem que recorrer a mercenários estrangeiros conhecidos pelas atrocidades feitas no Iraque.
http://www.voltairenet.org/article183147.html
Mas sobre isto do Sr. Milhazes nem uma palavra.
antonio mp, onde é que eu apelei a uma intervenção estrangeira na Ucrânia? Você deve ler com pouco cuidado, volte a ler o texto com mais atenção.
António MP, o JM não apela à intervenção estrangeira (Ocidental) na Ucrânia; o que ele apela é a (mais) ingerência Ocidental nos assuntos internos da Ucrânia, nomeadamente para impedir, seja via sanções, seja à bruta e a tiro, que os ucranianos possam decicir, em seu pleno direito, separar a sua terra da metade Oeste controlada pelos "galegos".
O que interessa é que Ucrânia tem é de ser livre e democrática! E quem não concordar com esta Liberdade (ou Svoboda!) e esta Democracia, leva no toutiço ou vai tirar um retrato contra a parede, "ukranian style"!
Percebe agora a diferença?
Lol sr milhazes lol
O sr tá completamente minado !
Quando o José Milhazes suscita a necessidade de a UE e EUA "começarem a pensar na forma como evitar a desintegração da Ucrânia...", isto tem todo o aspecto de um apêlo à intervenção estrangeira. Politicamente, parece não ter outra leitura.
Mas é claro que o faz como cidadão do mundo e não como militar ou dirigente político. Graças a Deus.
O sr Milhares deve se preocupar com o seu país Lusitano ao invés de falar tanta besteira... a responsabilidade por Portugal estar na merda é dos portugueses, idem a responsabilidade na Ucrania. O povo da Ucrânia é responsável pelos seus próprios atos. Tenhamos uma visão menos distorcida da realidade....ou então a desgraça consumista americana mostrará seus tentaculos.... falsa liberdade e democracia.
Anónimo, tem vergonha de assinar? Eu sei quem é! Guarde os seus conselhos para si e deixe de "bufar".
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