segunda-feira, julho 28, 2014

Atitude para com os mortos mostra maturidade de povo



Primeiro artigo de uma colaboração que comecei com o diário digital Observador.pt.

O comportamento dos povos para com os seus mortos é um sinal de maturidade e de compaixão para com os outros e si próprios. E isso é visível nos momentos trágicos.
Mas para que eu não seja acusado de russófono ou de coisa que o valha, vou traduzir fragmentos de um editorial do jornal eletrónico russo Gazeta.ru. Não se trata de um órgão de comunicação da oposição da Rússia, mas também não é um cego seguidor do Kremlin. Tenta sobreviver numa difícil situação.

O Gazeta.ru começa por escrever que, na Holanda, começam a sepultar as vítimas da catástrofe do avião malaio e acrescenta: “Basta comparar como se despedem das vítimas de tragédias no Ocidente que, segundo a nossa versão, “não tem alma”, e recordar como acompanhámos as vítimas das tragédias russas para compreender muito sobre eles e sobre nós. Os Estados onde não dão valor à vida humana, ficam indiferentes à sua morte. E enquanto for assim, não teremos no nosso país uma verdadeira sociedade civil, não obstante todas as palavras mágicas patrióticas.

O jornal descreve a forma como na Holanda foram recebidas vítimas da catástrofe do Boeing: “Eindhoven, todas as partidas e chegadas foram cancelados no aeroporto. Os comboios pararam, Por todo o país tocam sinos de igrejas. Em Amesterdão teve lugar uma manifestação fúnebre com muitos milhares de pessoas. O país está de luto, que as pessoas demonstram de forma sincera e pública. A catástrofe do Boeing e a morte nela de cidadãos da Holanda é realmente uma catástrofe nacional, sentida por todo um povo de um pequeno reino no centro da Europa”.
Em relação aos EUA, o jornal constata que o mesmo acontece, embora as catástrofes sejam muito mais frequentes.
E na Rússia, perguntamos nós:
No nosso país, continua o editorial, nas palavras estão prontos a defender os russos em todos os mundos ou toda a Humanidade dos inimigos dessa toda Humanidade, mas pouco notam um indivíduo separadamente”.
Para confirmar esta diferença de atitudes, o jornal pede para se comparar as fotos e imagens da Holanda e dos EUA dos funerais das vítimas dos nossos numerosos actos terroristas ou da recente avaria no Metropolitano de Moscovo: “Mesmo em Moscovo, para já não falar da restante Rússia, não houve rasto de dor nacional. Sim, houve um dia de luto. Sim, o Estado prometeu secamente pagar compensações monetários previstas às famílias dos mortos. Mas, em geral, o povo foi afastado da dor “alheia”. A televisão e os mídias públicos também não preferiram focar-se nesse tema “desagradável”, continuando a acusar, como é habitual, o Ocidente de não ter alma e a Ucrânia de fascismo. Flores do local de mais uma tragédia no metro, no aeroporto ou (onde é que, no nosso país, não morreram pessoas nos últimos anos devido a actos terroristas e catástrofes tecnológicas!) o aumento brusco da atividade de doação de sangue por apelo dos médicos são quase os únicos sinais de que na Rússia há verdadeiros cidadãos do seu país com sentimentos humanos normais. Claro que o seu potencial seria muito maior, mas “não é preciso falar do negativo”, gritam os funcionários dos mais diversos níveis que receiam muito qualquer iniciativa de massas a partir de baixo. “Não sublinhem isso e, dentro de uma semana, as pessoas esquecerão”. Em primeiro lugar, do Estado não parte o apelo à união, a inclinar a cabeça”.
E o jornal coloca uma pergunta brutal: “Onde estão as cerimónias fúnebres nacionais por toda a Rússia em memória das vítimas do acto terrorista em Beslan, cujo décimo aniversário se realizará em Setembro?”.
Segundo o editorial, fica-se com a impressão de que os dirigentes do país querem que os cidadãs esquecem o mais rápido possível as tragédias. Mas porquê?”:
Nos dias de verdadeiras tragédias nacionais, a solidariedade une a nação mais fortemente do que as conversas sobre a espiritualidade especial, os “fixadores” e os “valores tradicionais”.
E conclui: “a atitude – histórica, religiosa, tradicional – da nação para com os que morreram inocentes, injustamente, é um sinal importantíssimo da sua grandeza e até da sua existência. Neste sentido, por enquanto não temos uma nação, mas “grupos de pessoas” que vivem neste “território”.
Mesmo que neste editorial se exagere 50%, o que penso não ser assim, a restante metade devia chegar para obrigar os russos a pensar. E nós também...











5 comentários:

PortugueseMan disse...

Airlines to push for independent guidance on airspace safety after Ukraine crash

Global airlines will push to get "neutral information" on whether to use or avoid airspace over conflict zones at Tuesday's meeting of the U.N. aviation agency and other airline bodies, a European-based airline industry source said.

Global airlines will push to get "neutral information" on whether to use or avoid airspace over conflict zones at Tuesday's meeting of the U.N. aviation agency and other airline bodies, a European-based airline industry source said.

The meeting is likely to hear calls for wider international powers to intervene when a country fails to monitor threats to its airspace. The Malaysia Airlines crash occurred after Ukraine left open air corridors that lay within the range of the missile blamed for destroying the jet...


http://news.yahoo.com/airlines-push-independent-guidance-airspace-safety-ukraine-crash-220312515.html

Pois é, há aqui problemas graves no que respeita a segurança aérea.

Como é possível confiar num país que está em guerra e que diz que o seu espaço aéreo é seguro?

Como é que se fazem rotas hoje, baseadas nisto?

Talvez se houvesse mais maturidade, não seria necessário ter atitude para com os mortos. Eles estariam vivos.

Anónimo disse...

Estes holandeses tão avançados e fofinhos são os mesmos que vendiam judeus a troco de dinheiro (à espécie ou por atacado)aos alemaes (nazis)

Madame Pompadour

Anónimo disse...

O mesmo não acontece na França por exemplo depois de terem morrido cerca de 55 franceses no desastre aéreo no Mali, nem sequer os corpos foram levantados.
A grande dor tem a ver, amigo Milhazes e você é cúmplice com o espírito anti-russo por cheirar a comunismo.
Eu nem sei como ainda o toleram por lá.
José Corvo

Paulo disse...

Acho que o sr. Corvo, não percebeu que o texto foi escrito por um russo.

O problema prende-se com a frieza dos povos eslavos. Há muita informação na Internet sobre o assunto. A aceitação da morte e a valor baixo que se dá a uma vida, é um problema não apenas da sociedade russa, mas de grande número de sociedades eslavas.

O problema nota-se na Ucrânia, na Moldávia, na Romenia, na Bulgaria, na Sérvia.

Curiosamente nota-se menos nas repúblicas bálticas. Mas claro, normalmente esquecemos que esses países não fazem parte da Russia, embora fizessem parte do império dos czares.

Anónimo disse...

Se formos a ver provavelmente isso é explicado pela historia ancestral da mesma violencia, sobre as pessoas lavada a cabo pelas invasões desde, normandos/vickings (na fundação de kieve sec.IX), depois pela violencia brutal da grande horda dourada durante serca de trezentos anos e mais tarde pelos metodos autocraticos dos proprios czares (incluo o czar estaline)isto ficou para sempre gravado na mentalidade russa muito fatalista e fria.
O facto dos boiardos terem sido afastados dum primeiro embrião de duma (sec.XVII), e tendo isso impedido algum tipo de control de poder sobre as elites autocraticas, levando ao desastre da revolução de 1917.
Isto num pais com o maior potencial de recursos naturais, que nenhum outro emperio teve na historia da humanidade.
Dai a minha opinião que na realidade a Russia é uma trajedia
pois o potencial humano existe mas tal como o nosso pais (temos algumas semelhanças)sempre foi mal governado na maior parte da sua historia.