Quanto
mais a União Europeia recua perante a Rússia na sua política face
à Ucrânia, maiores são as exigências do Kremlin, pois Bruxelas
parece ainda não ter compreendido o objectivo final de Vladimir
Putin.
A
fim de acalmar os receios de Moscovo, a União Europeia acedeu à
exigência do Kremlin de adiar para 1 de Janeiro de 2016 a entrada em
vigor da parte económica do Acordo de Associação entre a UE e a
Ucrânia. Além disso, Bruxelas dispôs-se a ter em conta os
interesses económicos russos que, segundo o Kremlin, irão ser
fortemente prejudicados por esse acordo.
Porém,
na sexta-feira, Putin veio exigir que sejam feitas “correções
substanciais” na parte económica do Acordo de Parceria, frisando,
por exemplo, que qualquer mudança das leis ucranianas com vista à
sua adaptação às normas da UE será considerada uma violação dos
acordos com a Rússia e exigirão a tomada de medidas de resposta por
parte de Moscovo.
Durão
Barroso, ainda Presidente da Comissão Europeia, respondeu que o
Acordo de Parceria “é bilateral e não trilateral”, mas o erro
reside no facto de Bruxelas ter permitido, pela primeira vez na
história da UE, que um terceiro país se tenha ingerido nas suas
relações bilaterais.
Na
lógica do Kremlin é simples, se a Rússia teve o direito de ditar o
calendário de aproximação da Ucrânia à UE, também pode, agora,
impor novas condições.
“Agora
surgiu a possibilidade de corrigir os parágrafos do citado acordo,
cuja realização poderá causar considerável prejuízo à União
Aduaneira e às nossas tradicionais relações comerciais com a
Ucrânia”, frisou Putin, numa reunião com os dirigentes da
Bielorrússia e Cazaquistão, países que também fazem parte dessa
união.
No
mesmo discurso, ele afirmou querer “convencer os parceiros [UE] a
renunciarem ao confronto das integrações europeia e eurasiática a
favor do contacto dos dois projetos”.
Porém,
e Moscovo não esconde isso, que esse contacto só é possível no
momento em que a UE reconhecer o antigo território soviético - à
excepção das três repúblicas do Báltico, pelo menos por enquanto
– zona dos seus interesses e domínio exclusivos.
Até
agora, Putin vai levando a melhor: conquistou parte do território à
Geórgia, controla parte do território da Moldávia, ocupou a
Crimeia e prepara-se para controlar o leste da Ucrânia com o
congelamento do conflito nessa região. Por isso, parece não querer
ficar por aqui.
O
conflito na Ucrânia ainda está muito longe do fim e é difícil
prever o que irá restar desse estado no centro da Europa, mas
afigura-se já uma nova vítima da política russa do “estrangeiro
próximo”: o Cazaquistão.
O
Presidente cazaque Nussultan Nazarbaev tem feito arriscados
malabarismo para se aproximar da UE e, ao mesmo tempo, não irritar
Moscovo. Astana anunciou a assinatura de um novo “acordo de
parceria e cooperação com a UE”, mas trata-se de um documento
mais suave do que aquele que foi assinado entre Bruxelas e Kiev.
Mesmo
assim, os políticos russos vão lembrando ao Presidente Nazarbaev
que o Cazaquistão nunca existiu como estado independente até ao fim
da União Soviética, que cerca de um quarto do seu território foi
retirado à Rússia pelos dirigentes soviéticos e oferecido ao
Cazaquistão e que cerca de 25% da população desse país são
russos ou russófonos.
As
semelhanças com a Crimeia podem ser pura coincidência, mas poderão
servir caso o Presidente Nazarbaev decida mudar de ideias.
Nesta
situação, um factor apenas parece ser capaz de travar a ofensiva
política externa russa: a situação económica na própria Rússia.
O rublo desce rapidamente face ao dólar e ao euro, o preço do
petróleo cai nos mercados internacionais, a economia russa está
estagnada e a inflação tende a crescer acima de todas as previsões.
Novas aventuras no campo da política externa poderão ser fatais
para o regime de Vladimir Putin.
P.S.
Chegado a Moscovo, constatei que as sanções que Putin impôs ao seu
próprio povo ao proibir a importação de bens alimentares
ocidentais já estão a dar efeito: a variedade de produtos nas
prateleiras é muito menor, a qualidade desceu e os preços
aumentaram em flecha. Porém, a onda e a propaganda
ultra-patrióticas continuam em alta...
4 comentários:
a União Europeia recua em quê?
a União Europeia recua em quê?
Em relação a este seu artigo,JM, só se me oferece dizer o seguinte: teria sido mais fácil para si construir um artigo suculento e importante com este título "PENTÁGONO DÁ SINAIS DE NÃO ESTAR SACIADO".Um país que tem perto de 1000 bases militares espalhadas por todo o mundo,que anda obcecado com o poder russo e chinês,principalmente o russo,para já,tentando cercá-lo por todos os lados,com mísseis apontados para as maiores cidades russas e sabe-se lá mais para onde e que fez aquela "perrice" quando sentiu os mísseis em Cuba apontadas de bem perto também ao coração da América e que nos pôs bem perto,na altura, de um conflito nuclear gravíssimo.Até entendi os EUA dessa altura.Hoje portanto entendo muito bem os russos.Vamos lá ter a noção correcta da realidade.Não perca tempo,JM, com o mal que os russos querem ao mundo quando pretendem apenas defender-se e cooperar pacificamente com todos os povos do nosso planeta.Os EUA,esses sim, lutam com armas várias, incluindo as financeiras, para terem o controle do mundo pretendendo construir uma ordem universal que passa pela constituição de um governo mundial.Isto nem sequer é segredo.Dizem-no claramente várias pessoas ligadas a sociedades secretas e que são bem conhecidas mesmo em Portugal nas várias conferências que produzem a outros propósitos.Assisti a algumas e digo-lhe já que não foram bem aceites pelas pessoas que assistiam.Preocupe-se antes com isso a não ser que o JM faça parte também desse possível grande banquete.Não me parece contudo.E se julga que lhe vão um dia agradecer,está enganado.Os amigos estão bem definidos.Os que pretendem de fora sê-lo serão ostracizados na devida altura que espero,contudo, que nunca chegue.A hipocrisia é imensa.Arrepie caminho,JM.Pondere no que lhe digo.
"Chegado a Moscovo constatei..."
.
Veni, vidi, vici!
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