Texto do leitor João Gil
"A (suposta)
entrada em funções da nova Comissão Europeia a 1 de Novembro
próximo será acompanhada pelo olhar atento de várias capitais. Por
motivos diferentes, a Comissão Juncker tornar-se-á num
interveniente e decisor fundamental nas relações internacionais da
União Europeia (UE). Ainda que em matéria de política externa, a
UE seja amiúde percepcionada como um “anão político”, o papel
da Comissão é extremamente relevante para a definição de
objectivos estratégicos de longo prazo e como fonte de pressão
sobre o Conselho e sobre países terceiros sobre tópicos quentes da
agenda internacional.
Através do
cargo de Alto Representante para a Política Externa e de Segurança
e do Comissário para a Política Europeia de Vizinhança e
Negociações para o Alargamento, é esperado da Comissão um papel
mais visível e eficaz na condução dos objectivos consensuais da
política externa europeia. Os perfis dos políticos designados para
o efeito – respectivamente Federica Mogherini e Johannes Hahn –
não são, numa primeira leitura, escolhas que suscitem particular
entusiasmo. Mogherini, cuja ascensão meteórica a levou de um lugar
relativamente obscuro do parlamento italiana até ao cargo de chefe
da diplomacia italiana, e poucos meses volvidos à nomeação para
número dois de Juncker, é acusada de ser conivente para com
Moscovo. Por seu lado, Hahn é um político austríaco relativamente
desconhecido, antigo ministro da Ciência e Investigação,
catapultado pelo seu governo para a Comissão Barroso II para a pasta
da Política Regional. O facto de ter sido direcionado para uma pasta
que no futuro pode ser das que mais crispação criará entre os
Estados-membros (pois dela dependerão as negociações de adesão de
futuros membros, entre os quais pode vir a estar a Ucrânia), pode
significar um sinal de retracção e prudência por parte de Juncker.
Tratando-se
de cargos de elevada carga simbólica, estas escolhas lançam uma
enorme incógnita sobre a capacidade da UE em se impor a Moscovo.
Itália tem sido um dos países que menos apoia posições duras
contra o Kremlin, e a Áustria é um país neutro cujos governos se
abstêm de vincar posição em assuntos internacionais que encabecem
a agenda mediática. Como é óbvio isto não é determinante na sua
acção política, mas é um sinal. Do outro lado da balança está
Donald Tusk, ex-primeiro ministro polaco, cujas posições
relativamente à Rússia são tradicionalmente duras e
até
extremadas.
De resto, a
política de Bruxelas face à Rússia está directamente dependente
da influência que os Estados-membros saídos da órbita soviética
possam assumir. Num clima económico que tem fustigado os
Estados-membros mais antigos e poupado as economias mais a leste,
torna-se crível que o bloco de países que defende uma posição de
dureza face à Rússia ganhe preponderância no Conselho Europeu.
Para mais se considerarmos a crescente importância geopolítica
destes Estados pela proximidade com os actuais maiores focos de
conflito e ameaça à segurança da UE, de que são exemplos o
conflito russo-ucraniano, o “conflito congelado” da Transnístria,
a tensão na Crimeia, os Balcãs, e a segurança e previsibilidade do
fornecimento energético. A isto pode-se acrescentar, na sequência
dos receios que governos como o de Varsóvia, Vilnius ou Talin têm
manifestado publicamente, eventuais provocações ou acções de
ingerência desestabilizadoras nos seus assuntos internos por parte
de Moscovo.
Atingir
consensos numa União alargada é tarefa cada vez mais difícil. Mas
a história da integração europeia atesta que muito daquilo que foi
o progresso deste processo se deveu à acção individual, ao
carisma, força decisória e visão estratégica (de alguns) dos seus
principais líderes. De Juncker espera-se um bom papel de coordenação
e empenho pela unidade e coesão das políticas europeias. No caso
das relações externas, é possível assistirmos a uma tensão
latente entre algumas tendências dentro da Comissão e Donald Tusk,
personalidade interventiva e de quem se espera oposição sistemática
ao Kremlin".
4 comentários:
Justino disse :
“Mogherini, cuja ascensão meteórica a levou de um lugar relativamente obscuro do parlamento italiana até ao cargo de chefe da diplomacia italiana (…) é acusada de ser conivente para com Moscovo.”
Acusada por quem?
Será por ter sido vice-presidente da fundação ITÁLIA-EUA ?
Ainda nem sequer tomou posse e já lhe estão a fazer a folha.
Se comparado o seu currículo com a antecessora Catherine Ashton, ressalte-se que chega ao cargo com maior experiência em diplomacia, coisa que a antecessora não possuía, além de ser mais poliglota, em nítido contraste com a antecessora que pouco mais falava além do inglês ( quanto a palminhos de cara, então nem se fala, ou não se deve falar ).
Antecessora que foi catapulta para altos voos políticos por esse prodígio de precisão e rectidão que dá pelo nome de Tony Blair (B-liar ?).
( Li hoje que um energúmeno inglês foi condenado a um ano de prisão por ter maltratado um cão. Não haverá pena no direito criminal inglês para quem, sob assumidos pretextos falsos, se arvorou num dos paladinos de uma guerra ilegítima que causou e continua a causar centenas de milhares de vítimas no Iraque, para não falar no alarmante "clear and present danger" hoje existente mas cujas raízes remontam àquela guerra ilegítima ?? )
Para mim, se a Mogherini se pautar por reconciliar as actuais posições extremadas e afirmar uma política independente europeia que colha o melhor do atlantismo sem descurar a importância de uma boa relação com a vizinha e europeia Federação da Rússia, também um importante fornecedor de recursos naturais e inegável parceiro económico sobretudo dos países europeus mais próximos, ou seja, caso se revele apenas conivente com a União Europeia, fará a minha admiração.
Pensava que já não publicava artigos enviados por leitores, JM.
Ó Milhaes, pá, estou como o Pippo! Ou é para publicar textos dos leitores ou então... se o diapasão fôr este, bem...
Então dizem os EUROCRATAS NÃO ELEITOS de BRUXELAS, com uma EUROPA DESFEITA (sim, a Grécia faliu hoje outra vez, para os distraidos) que a Rússia isto e aquilo....
É pá mas diz que a UE está putrefacta... mas dizem que vai ter política externa com Sikorsky e restante pandilha dde radicais... mas e política interna, terá????
Só publica aqueles que lhe interessam!
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