quinta-feira, outubro 16, 2014

Kremlin dá sinais de não estar saciado




Quanto mais a União Europeia recua perante a Rússia na sua política face à Ucrânia, maiores são as exigências do Kremlin, pois Bruxelas parece ainda não ter compreendido o objectivo final de Vladimir Putin.
A fim de acalmar os receios de Moscovo, a União Europeia acedeu à exigência do Kremlin de adiar para 1 de Janeiro de 2016 a entrada em vigor da parte económica do Acordo de Associação entre a UE e a Ucrânia. Além disso, Bruxelas dispôs-se a ter em conta os interesses económicos russos que, segundo o Kremlin, irão ser fortemente prejudicados por esse acordo.
Porém, na sexta-feira, Putin veio exigir que sejam feitas “correções substanciais” na parte económica do Acordo de Parceria, frisando, por exemplo, que qualquer mudança das leis ucranianas com vista à sua adaptação às normas da UE será considerada uma violação dos acordos com a Rússia e exigirão a tomada de medidas de resposta por parte de Moscovo.
Durão Barroso, ainda Presidente da Comissão Europeia, respondeu que o Acordo de Parceria “é bilateral e não trilateral”, mas o erro reside no facto de Bruxelas ter permitido, pela primeira vez na história da UE, que um terceiro país se tenha ingerido nas suas relações bilaterais.
Na lógica do Kremlin é simples, se a Rússia teve o direito de ditar o calendário de aproximação da Ucrânia à UE, também pode, agora, impor novas condições.
Agora surgiu a possibilidade de corrigir os parágrafos do citado acordo, cuja realização poderá causar considerável prejuízo à União Aduaneira e às nossas tradicionais relações comerciais com a Ucrânia”, frisou Putin, numa reunião com os dirigentes da Bielorrússia e Cazaquistão, países que também fazem parte dessa união.
No mesmo discurso, ele afirmou querer “convencer os parceiros [UE] a renunciarem ao confronto das integrações europeia e eurasiática a favor do contacto dos dois projetos”.
Porém, e Moscovo não esconde isso, que esse contacto só é possível no momento em que a UE reconhecer o antigo território soviético - à excepção das três repúblicas do Báltico, pelo menos por enquanto – zona dos seus interesses e domínio exclusivos.
Até agora, Putin vai levando a melhor: conquistou parte do território à Geórgia, controla parte do território da Moldávia, ocupou a Crimeia e prepara-se para controlar o leste da Ucrânia com o congelamento do conflito nessa região. Por isso, parece não querer ficar por aqui.
O conflito na Ucrânia ainda está muito longe do fim e é difícil prever o que irá restar desse estado no centro da Europa, mas afigura-se já uma nova vítima da política russa do “estrangeiro próximo”: o Cazaquistão.
O Presidente cazaque Nussultan Nazarbaev tem feito arriscados malabarismo para se aproximar da UE e, ao mesmo tempo, não irritar Moscovo. Astana anunciou a assinatura de um novo “acordo de parceria e cooperação com a UE”, mas trata-se de um documento mais suave do que aquele que foi assinado entre Bruxelas e Kiev.
Mesmo assim, os políticos russos vão lembrando ao Presidente Nazarbaev que o Cazaquistão nunca existiu como estado independente até ao fim da União Soviética, que cerca de um quarto do seu território foi retirado à Rússia pelos dirigentes soviéticos e oferecido ao Cazaquistão e que cerca de 25% da população desse país são russos ou russófonos.
As semelhanças com a Crimeia podem ser pura coincidência, mas poderão servir caso o Presidente Nazarbaev decida mudar de ideias.
Nesta situação, um factor apenas parece ser capaz de travar a ofensiva política externa russa: a situação económica na própria Rússia. O rublo desce rapidamente face ao dólar e ao euro, o preço do petróleo cai nos mercados internacionais, a economia russa está estagnada e a inflação tende a crescer acima de todas as previsões. Novas aventuras no campo da política externa poderão ser fatais para o regime de Vladimir Putin.



P.S. Chegado a Moscovo, constatei que as sanções que Putin impôs ao seu próprio povo ao proibir a importação de bens alimentares ocidentais já estão a dar efeito: a variedade de produtos nas prateleiras é muito menor, a qualidade desceu e os preços aumentaram em flecha. Porém, a onda e a propaganda ultra-patrióticas continuam em alta... 

4 comentários:

Anónimo disse...

a União Europeia recua em quê?

Anónimo disse...

a União Europeia recua em quê?

ANTI-COWBOY disse...

Em relação a este seu artigo,JM, só se me oferece dizer o seguinte: teria sido mais fácil para si construir um artigo suculento e importante com este título "PENTÁGONO DÁ SINAIS DE NÃO ESTAR SACIADO".Um país que tem perto de 1000 bases militares espalhadas por todo o mundo,que anda obcecado com o poder russo e chinês,principalmente o russo,para já,tentando cercá-lo por todos os lados,com mísseis apontados para as maiores cidades russas e sabe-se lá mais para onde e que fez aquela "perrice" quando sentiu os mísseis em Cuba apontadas de bem perto também ao coração da América e que nos pôs bem perto,na altura, de um conflito nuclear gravíssimo.Até entendi os EUA dessa altura.Hoje portanto entendo muito bem os russos.Vamos lá ter a noção correcta da realidade.Não perca tempo,JM, com o mal que os russos querem ao mundo quando pretendem apenas defender-se e cooperar pacificamente com todos os povos do nosso planeta.Os EUA,esses sim, lutam com armas várias, incluindo as financeiras, para terem o controle do mundo pretendendo construir uma ordem universal que passa pela constituição de um governo mundial.Isto nem sequer é segredo.Dizem-no claramente várias pessoas ligadas a sociedades secretas e que são bem conhecidas mesmo em Portugal nas várias conferências que produzem a outros propósitos.Assisti a algumas e digo-lhe já que não foram bem aceites pelas pessoas que assistiam.Preocupe-se antes com isso a não ser que o JM faça parte também desse possível grande banquete.Não me parece contudo.E se julga que lhe vão um dia agradecer,está enganado.Os amigos estão bem definidos.Os que pretendem de fora sê-lo serão ostracizados na devida altura que espero,contudo, que nunca chegue.A hipocrisia é imensa.Arrepie caminho,JM.Pondere no que lhe digo.

Pi-Erre disse...

"Chegado a Moscovo constatei..."
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Veni, vidi, vici!